Nation: A garota da capa vermelha escrita por Alina Black
Após o almoço com Sarah, seguimos para o jardim real, que era um verdadeiro refúgio de paz e beleza. As árvores antigas formavam um arco natural acima de nós, suas folhas criando um som suave quando o vento passava por elas. Os arbustos cuidadosamente aparados emolduravam caminhos de pedra que serpenteavam por entre canteiros de flores de todas as cores e tamanhos. O perfume das flores era delicado, misturando-se com o ar fresco, enquanto pequenos riachos corriam em meio às pedras, criando uma melodia calma e constante. As lumínias escarlates, rosas vermelhas exclusivas de Quilay, se destacavam em contraste com o verde intenso das folhas ao redor.
Sarah segurava minha mão com delicadeza enquanto caminhávamos lado a lado. Havia algo na presença dela que me acalmava, que me fazia sentir que estava em segurança. Desde minha chegada a Quilay, Sarah havia se mostrado carinhosa e compreensiva, algo que eu não esperava encontrar em um lugar tão distante de casa.
— Eu compreendo a confusão que você sente, minha criança — disse ela, sua voz suave como a brisa que nos rodeava. — O chamado do lobo... é algo difícil de descrever, mas eu sei que é avassalador.
Hesitei por um momento antes de perguntar:
— Eu realmente sou obrigada a retribuir a Jacob?
Sarah parou de caminhar e se virou para mim, seus olhos me encarando com uma doçura e sabedoria que eu raramente via.
— Você sente essa obrigação, Renesmee?
As palavras dela me atingiram com força. Eu queria responder, mas não sabia o que dizer. Meus sentimentos estavam tão embaralhados que era difícil separá-los.
— Eu... eu não sei o que sinto — admiti, sentindo meu rosto esquentar.
Sarah sorriu suavemente e tocou meu rosto com uma mão gentil.
— Permita-se compreender esses sentimentos, minha criança. Às vezes, o coração precisa de tempo para se ajustar ao que a mente já sabe. — Ela fez uma pausa antes de perguntar com uma leve curiosidade em seu tom. — Você já se apaixonou por alguém?
Senti meu rosto ficar ainda mais quente e desviei o olhar, embaraçada.
— Não — respondi rapidamente.
Sarah ergueu uma sobrancelha, claramente percebendo minha hesitação.
— E o que te impede de se apaixonar?
Fiquei em silêncio, sem saber como responder. Era uma pergunta simples, mas a resposta parecia complexa demais para ser expressa em palavras.
Sarah, no entanto, parecia compreender meu silêncio. Ela olhou para o céu por um momento, como se estivesse considerando algo, antes de perguntar:
— Existe algo que você deseja mais do que qualquer coisa?
Minha mente foi imediatamente para Bella. Estava há tanto tempo longe de Hummam, longe dela. A preocupação com o que poderia estar acontecendo em casa era constante. O medo de que algo acontecesse à minha verdadeira mãe nunca desaparecia.
— Sim — respondi finalmente, minha voz um pouco mais firme.
Sarah sorriu, um sorriso cheio de compaixão.
— Então peça a Jacob. Diga-lhe o que deseja.
Balancei a cabeça, duvidando.
— Ele não fará isso.
A rainha apertou minha mão com um carinho que me fez sentir acolhida.
— Minha criança, você tem um grande poder sobre o rei mais poderoso do mundo. Por você, ele é capaz de qualquer coisa.
As palavras dela ficaram na minha mente, reverberando com uma força que eu não conseguia ignorar. Será que eu realmente tinha esse poder? Será que Jacob faria qualquer coisa por mim? Enquanto continuávamos nosso passeio pelo jardim, eu me perdia nessas perguntas. Talvez, como Sarah sugeriu, eu tivesse nas mãos a oportunidade de proteger Bella, de garantir que nada de mal lhe acontecesse.
Talvez.
Depois do almoço, passei o restante da tarde na biblioteca, seguindo a sugestão de Claire. Ela insistiu que, mesmo eu não sendo uma Quileute, era crucial que eu conhecesse as histórias dos antepassados, entender as lendas e tradições que moldavam o reino onde eu agora me encontrava.
O ambiente da biblioteca era silencioso e solene, com paredes cobertas por estantes de madeira escura repletas de livros antigos. A luz do sol filtrava-se através das janelas altas, criando um brilho suave que iluminava o local. Sentei-me em uma das poltronas de couro, com o livro escolhido por Claire no colo, e mergulhei nas histórias antigas de Quilay. As palavras e os mitos contidos nas páginas começaram a se misturar com as minhas próprias preocupações.
Minha mente ainda estava presa à conversa que tive com a rainha Sarah mais cedo. O que ela disse sobre Jacob, sobre o poder que eu supostamente tinha sobre ele, continuava ecoando em minha mente. Eu não queria me casar. Queria ser livre, seguir meu próprio caminho. Mas sabia que a liberdade que desejava tinha um preço que talvez eu não estivesse disposta a pagar. Quando Edward se tornasse rei, Irina seria coroada rainha, e eu sabia que então ninguém poderia proteger Bella. Edward era covarde demais para fazer isso, sempre se escondendo atrás de sua posição e poder.
Terminei de ler o livro e o devolvi à estante, sentindo uma mistura de inquietação e resignação. Saí da biblioteca e fui caminhar pelo jardim, tentando encontrar um pouco de paz. Mas meus pensamentos continuavam a me atormentar. A paisagem ao meu redor era serena, mas dentro de mim havia uma tempestade.
Ao me aproximar do meu quarto, encontrei Seth no corredor. Ele estava parado, esperando por algo ou alguém. Quando me viu, sorriu timidamente, e eu retribuí o sorriso.
— Olá, Seth — cumprimentei, tentando esconder a confusão que sentia.
— Renesmee — ele respondeu, sua voz carregada com um toque de formalidade que eu não esperava.
— Você não me procurou mais — comentei, tentando quebrar o gelo.
Seth suspirou e balançou a cabeça.
— Eu não posso mais ficar a sós com a prometida do Rei.
Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Havia uma distância crescente entre nós que eu não conseguia aceitar.
— Sinto muito — murmurei, sabendo que essa nova realidade era inevitável, mas odiando-a mesmo assim.
— Já tivemos essa conversa, certo? — Seth disse, tentando suavizar a situação, mas sua voz tinha um tom de melancolia.
Eu forcei um sorriso, tentando não mostrar o quanto aquilo me machucava. Então, na tentativa de mudar o assunto, perguntei:
— Tem notícias de Hummam?
Ele hesitou por um momento antes de responder.
— Seu pai já sabe que você está em Quilay. Está esperando uma explicação de Jacob.
Senti um calafrio percorrer minha espinha. As palavras dele eram como uma ameaça velada de algo que eu temia profundamente.
— E... você acha que isso pode causar uma guerra? — perguntei, tentando manter minha voz firme, mas sem sucesso.
Seth suspirou novamente, o peso da situação visível em seus olhos.
— Não sei, Nessie. Depende de como Jacob lidar com isso.
— E Emmett? Você falou com ele? — continuei, tentando me agarrar a qualquer pedaço de normalidade.
— Não — ele respondeu simplesmente, sua voz agora tomada por uma nota de tristeza.
Nosso momento de introspecção foi interrompido quando Jacob apareceu no corredor. Ao vê-lo, meu coração começou a bater mais rápido. Havia algo na presença dele que mexia comigo de maneiras que eu ainda não conseguia entender completamente.
— Eu... vou deixá-los a sós — disse rapidamente, sentindo um misto de alívio e apreensão. Antes de entrar no meu quarto, ouvi a voz de Jacob me desejando boa noite.
— Boa noite, Majestade — respondi, minha voz soando mais formal do que eu pretendia. Fechei a porta atrás de mim, sentindo o peso do dia sobre meus ombros.
Enquanto me encostava na porta do quarto, senti um nó de frustração se formar dentro de mim. As palavras de Sarah, a distância crescente entre mim e Seth, a presença perturbadora de Jacob... tudo isso se misturava, criando uma confusão que eu não sabia como resolver.
Talvez Sarah estivesse certa. Talvez eu tivesse o poder de mudar as coisas. Mas, naquele momento, o que eu mais queria era escapar da pressão que parecia vir de todos os lados, se enraizando cada vez mais na minha mente e no meu coração.
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