Sonhos de Julho escrita por Renan
Hoje eu sonhei que eu e minha melhor amiga de infância, Manuela, estávamos vivendo juntas num prédio meio luxuoso numa realidade que lembra os jogos da franquia GTA. Estávamos no nosso apartamento olhando dinheiro e moedas de ouro que tínhamos num baú e numa mesa. Estávamos animadas. Ah, e não éramos crianças como no sonho anterior.
— Amiga, acho que a gente vai longe com isso tudo. – disse ela.
— Dá pra gente se mudar pra França! – falei, animada.
— Dá pra ir pra Coréia ver show do BTS! – ela ama BTS. Ou amava, não sei.
— Prefiro do Simple Plan. – respondi.
— Sabe o que eu acho que você prefere? – perguntou ela, num tom quase malicioso.
— O quê?
— Financiar um jogo de marcar encontro com o Todoroki!
Cobri com as mãos meu rosto quase inteiro abaixo dos olhos e ela riu, enquanto eu meio envergonhada segurava o riso. Ela foi a única pessoa pra quem já contei sobre um certo crush que tive nesse personagem de Boku no Hero Academia. Às vezes acho que ainda tenho.
— O importante é a gente ficar junta. Ou junto? Não sei como fala. Você entendeu. – disse ela, que nunca foi muito boa em português.
— Sim! Nada de uma abandonar a outra.
De repente, ela olhou na direção da janela e foi ver se tinha algo errado, comecei a ouvir barulho de sirene de viatura.
— Os tiras estão chegando! – disse ela, parodiando dramaticamente frase de dublagem de filme antigo.
— Será que descobriram como conseguimos esse dinheiro? – perguntei, pressupondo que foi de forma ilegal, embora o sonho não tenha mostrado o que fizemos exatamente.
— Não importa. Vamos mostrar pra eles o que nós temos.
Descemos juntas de elevador até o térreo, muito bem armadas. Não lembro da gente ir pegando as armas nem nada, os sonhos às vezes cortam essas coisas irrelevantes. De qualquer forma, quando chegamos lá embaixo os policias estavam começando a entrar.
— Fogo! – disse Manuela, apontando e começando a atirar.
Atiramos juntas e logo conseguimos matar todos os policiais, que demoraram pra começar a revidar, mas não nos atingiram. O alívio durou pouco, porque logo começaram a chegar outros com uniformes que cobriam o corpo todo. Era possível ouvir barulho de helicóptero vindo de fora.
- Estamos só começando! – disse ela, excitada e trocando a arma que tinha em mãos por uma metralhadora. Fiz o mesmo.
Mesmo com máscaras e corpos cobertos, os outros policiais chegando não conseguiam nos acertar, mas nós conseguíamos acertá-los. Chegava a ser engraçado como alguns caíam fácil sem derramar nenhuma gota de sangue enquanto com outros jorravam apesar do tanto de proteção. Nossa munição acabou bem na hora que não vinha mais nenhum. A entrada estava cheia de corpos e tinha uma quantidade razoável de sangue nas paredes e no chão.
— Acho que não sobrou polícia na cidade. – disse ela, se aproximando de mim. – Vamos voltar a fazer planos? Qualquer coisa a gente sai pela janela ou por alguma porta nos fundos e pega logo um avião.
Antes que eu pudesse responder, um carro lá fora chegou freando alto. De lá saíram cinco homens, vestidos mais ou menos como os últimos.
— Bem, é hora do gran finale! – disse Manuela, empolgada, pegando uma shotgun (escopeta em português, se não me engano).
— Oh, shit! Here we go again! – respondi, imitando o jeito de falar de um personagem de GTA San Andreas, enquanto jogava a metralhadora longe.
A metralhadora que eu joguei bateu na cabeça de um dos cinco homens, que ficou meio atordoado. Manuela deu um tiro certeiro na barriga de outro deles. Eu peguei minha shotgun e atingi na altura da cabeça mascarada do que tinha sido acertado antes pela metralhadora que eu joguei.
— Head shot! – gritou Manuela pra mim, sorridente.
Tinham restado três. Dois deles estavam armados e pareciam os mais resistentes até ali. O do meio estava desarmado e parecia tranquilo.
— Tem que acertar três vezes pra matar! – disse Manuela, meio desesperada, atrás de um móvel.
Tínhamos conseguido acertar dois tiros em cada um daqueles dois, mas estávamos com medo de sair de trás dos móveis de novo. Nos olhamos de longe e combinamos mentalmente de sair e atirar juntas quando ela contasse até 3.
— Um, dois... três! – contou ela.
Ao mesmo tempo, conseguimos atingir os dois, que voaram quase dois metros pra longe, passando por cima dos poucos degraus que levavam pra parte do térreo que estávamos. Mas Manuela tinha sido atingida no peito. Ignorei o único sobrevivente, que não parecia representar perigo, e fui até ela, preocupada.
— Manuela, você tá bem?!
— Sim, eu estou. Mas acho melhor eu ir pra um hospital daqui a pouco. Vou até num hospital de outra cidade e você fica aqui, ou então eu me trato aqui e você vai viajar. – respondeu ela, com a mão no peito.
— Mas nós não combinamos que íamos ficar juntas?! – questionei, com raiva.
—Ah, mudança de planos. Acontece. – respondeu, com um meio-sorriso, sem olhar pra mim.
Ia dar mais bronca nela mais tarde, mas naquele momento me preocupei mais em apontar a shotgun pro único que tinha restado, que estava a um metro e meio de mim.
— Você está perdido. – respondi, tentando ficar calma.
— Para com isso. – disse ele, tirando sem pressa o que lhe cobria a cara.
Eu tinha achado aquela voz assustadoramente familiar. Perdi a firmeza na forma como segurava a arma e a abaixei. Olhei pra ele com um certo medo.
— O que nossos pais iam dizer? – questionou ele, enquanto finalmente revelava seu rosto.
— I-irmão?
Fiquei meio chocada. Naquele momento me caiu a ficha de que aquilo só poderia ser um sonho. Meu irmão nunca foi policial, mas mesmo se tivesse sido ele não poderia estar ali pra fazer algo.
— Mas... mas você não estava...? Mas você está... – fui dizendo, sem saber organizar palavras direito.
Ele puxou uma arma pequena do bolso enquanto me olhava de forma meio melancólica e atirou na minha barriga.
Cai no chão, vendo as coisas ficarem mais cinzas. Mas aí eu acordei.
Chorei um pouco quando acordei, pois eu realmente não esperava esse final. Em retrospectiva, penso que gostei de grande parte do sonho porque tinha causado uma certa adrenalina, e foi legal agir como se estivesse brincando com a Manuela de novo, mas os momentos finais não foram bons.
Vou tentar ser fiel ao que falei ontem e evitar fugir da proposta de só contar os sonhos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Não inclui violência nos avisos pq tudo acontece em sonhos, me avisem se acharem que devo incluir assim msm