A Folha e o Som escrita por BastetAzazis


Capítulo 9
Suna: Parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/8063/chapter/9

Abri os olhos, assustada. Não havia mais ninguém a minha volta. Um bunshin?, pensei comigo mesma. Claro, aquela era a técnica mais famosa do Hokage... Vermelha de vergonha e agradecendo por estar sozinha, corri para o meu quarto.

o.O.o

Capítulo 9: Suna – Parte 2

Passei o resto do dia trancada no meu quarto. Queria minha mente livre de qualquer preocupação para refletir sobre o acordo de paz entre as vilas ocultas e, principalmente, as palavras do Mizukage, mas claro que era impossível. Meus lábios ainda formigavam com o simples roçar dos lábios dele, meu coração palpitava de raiva ao descobrir que tratava-se apenas de um bunshin, e minha cabeça não parava de fazer suposições.

Eu ainda estava surpresa com as minhas ações. Não entendia a sensação de traição e decepção quando ele não me apoiou contra o Mizukage, que mais tarde se transformou na fúria que me fez atacá-lo, nem o pesar ao ouvi-lo me tratar como uma criança, sempre relembrando que conhecia meus pais. Constatei, surpresa, que era a proximidade dele que trazia aquele frio na barriga, que eu só havia sentido antes com o Kaito, e quando fechava os olhos, tentando afastar qualquer pensamento malicioso sobre o antigo companheiro de time dos meus pais e atual líder de Konoha, a única imagem que vinha à minha mente eram os olhos azuis me encarando assustados, e depois se fechando para que nossos lábios se encontrassem.

E então ele desapareceu, me deixando ainda mais confusa. Afinal, desta vez, ele também havia se inclinado para me beijar. Mas então, minha mente respondia que não era ele, era um clone, e a lembrança de que ele era o Hokage me fazia ter a certeza de que aquilo não passava de uma fantasia infantil. Talvez fosse só a minha imaginação mesmo, afinal, Naruto Uzumaki jamais se atreveria a pensar em mim como uma mulher. Por mais que meu pai tivesse cortado seus laços com Konoha, o Hokage sempre deixara bem claro que ainda o considerava um irmão, o que, aos olhos dele, fazia de mim praticamente alguém da sua família.

Ainda sem entender meus sentimentos, passei o dia seguinte tentando me concentrar no treinamento dos meus irmãos. Depois da reunião dos Kages, virou uma questão de honra os três representantes do Clã Uchiha deixarem Suna com o nível chuunin. Entretanto, por várias vezes tive que me repreender ao me pegar distraída, ainda lembrando dele, até desejando engolir o meu orgulho e procurá-lo para tentar esclarecer o que ocorrera no dia anterior.

Ando e Yusuki estavam lutando entre si para aprimorar suas técnicas, enquanto Yori treinava a manipulação do chakra subindo em árvores. Eu estava tão distraída, que não percebi que Ando havia tentado usar um chidori pela segunda vez consecutiva, que Yusuki desviou com um golpe rápido do seu taijutsu. A técnica ainda exigia muito para um genin utilizá-la com freqüência, e meu irmão acabou caído no chão, quase sem forças.

- Ando, seu baka! – os gritos de Yusuki me despertaram. – O otousan e a oneesan já falaram para você não usar essa técnica duas vezes seguidas! Você acha que vai se tornar um chuunin se cair sozinho no meio da luta?

Eu fui correndo até onde Ando estava caído, sem coragem de censurá-lo, apenas concentrada em usar uma das técnicas da minha mãe para acelerar a recuperação do chakra depois do esforço que os chidoris exigiram dele. Segundos depois, Yori estava ajoelhado ao meu lado, usando a mesma técnica. Em poucos minutos, Ando já conseguia se levantar, ainda que com dificuldade.

- Pode deixar – ele resmungou, fazendo sinal para que nós o deixássemos. – Eu posso voltar para o alojamento sozinho.

- Ah, ah! Só porque você não consegue copiar o meu taijutsu, vai desistir, é? – Yusuki ainda o provocou.

Ando virou-se para ele instantaneamente, ativando o Sharingan, mas eu podia ver que ele estava esgotado.

- Yusuki! Ando! Vocês já treinaram o suficiente por hoje, e já está escurecendo – eu intervi. – Já está na hora de todos vol...

- Amisa-chan?

Eu parei instantaneamente e arregalei os olhos assim que ouvi a voz do Naruto atrás de mim.

- Espero não estar atrapalhando o treino, mas precisava falar com você – uma pausa, e ele pigarreou –, sobre a reunião de ontem.

Eu ainda fiquei estática, sem saber o que fazer ou dizer. Foi o Ando quem quebrou o silêncio entre nós, depois de me analisar com olhos desconfiados.

- Quem é você? – ele perguntou, movendo os olhos estreitos para o Naruto, logo atrás de mim.

Foi só então que reagi, lembrando que meu irmão, mesmo sem saber, estava ameaçando um Kage.

- Este é o Hokage, Ando – eu o recriminei. Virando-me para o Naruto, continuei: – Me desculpe pelo meu irmão, Hokage-sama, parece que ele ainda não aprendeu a dar o devido respeito a um Kage de outra vila.

Ele simplesmente me respondeu com uma risada.

- Não se preocupe, Amisa-chan. É um privilégio conhecer de antemão os irmãos Uchiha. – ele disse, fixando o olhar nos meus irmãos. - Aposto que este ano teremos um recorde nas apostas. Os senhores feudais estão muito curiosos para ver as habilidades de vocês.

Aquilo inflou o orgulho dos meus irmãos, que acabaram reverenciando o Hokage e seguindo para o alojamento, nos deixando sozinhos no pequeno oásis que usávamos para os treinos. Eu os acompanhei com o olhar, até ter certeza que estavam longe o suficiente para não me ouvirem.

- E então? – perguntei, encarando o Naruto. – Parece que estamos sozinhos. O que você queria falar comigo?

Tentei parecer o mais séria possível, mas por dentro, meu corpo tremia em expectativa.

- Eu queria lhe pedir desculpas – ele respondeu, também sério.

Eu arregalei os olhos. A maneira como ele foi tão direto me assustara. Não sabia se estava pronta para discutir um beijo no bunshin do homem parado à minha frente.

- Por um momento, eu... – ele continuou, a voz dele começando a falhar, denunciando que ele também não estava tão à vontade no assunto – eu me esqueci de onde estávamos, ou até mesmo do que estava fazendo. Eu...

- Não era você – joguei na cara dele, virando-me em seguida para encarar o belo pôr-do-sol de Suna.

- E isso só torna tudo ainda mais complicado – ele insistiu.

Eu fiquei quieta, ainda de costas para ele. Ouvi um suspiro longo e, depois, senti uma mão segurando meu braço.

- Por favor, Amisa – ele continuou, puxando meu braço para me fazer virar para ele. – Não quero que você pense que aquilo foi uma brincadeira.

Nós estávamos próximos um do outro novamente, ele me encarando com olhos suplicantes que só faziam meu coração bater ainda mais forte. Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos e não deixar que a proximidade dele me fizesse perder a cabeça mais uma vez.

- E o que foi, então? – tentando ao máximo me manter séria.

- Eu... Eu não sei – ele respondeu, e eu sabia que estava sendo sincero. – Quando mandei aquele bunshin atrás de você, minha intenção era apenas tentar convencê-la a voltar para a reunião. Mas eu devia saber que jamais a convenceria a voltar.

Ele não falou mais. Por um instante, achei que ele estava prestes a levantar a mão que estava no meu braço até o meu rosto, mas o momento passou, e ele continuava parado na minha frente, apenas me encarando com aqueles profundos olhos azuis. Eu sustentei o olhar dele, esperando que ele continuasse com sua explicação, o que só aconteceu depois de um suspiro irritado, e foi a vez dele virar as costas para mim.

- Eu não sei o que deu em mim – ele repetiu, o tom da sua voz parecia mais urgente, entretanto. – De repente, era como se estivesse brigando mais uma vez com o cabeça-dura do Sasuke, e depois... Humf! Você se parece demais com a... – ele parou de repente e se virou novamente para mim, as mãos nos cabelos como se estivesse desesperado.

- Será que você pode parar com essa mania insistente de me comparar com os meus pais? – gritei para ele, sentindo que meus olhos começavam a se encher de lágrimas. – É a minha mãe que você vê cada vez que olha para mim? É isso? – completei, lembrando das palavras do Kankurou e sentindo meu estômago revirar de nojo dele.

Ele arregalou os olhos ao ouvir aquilo. A expressão dele se deformou, como se as minhas palavras tivessem se chocado fortemente com o rosto dele. Ele pareceu ofendido, mas eu não vi mais nada depois que ele deu um passo largo na minha direção e me agarrou pela cintura. No instante seguinte, senti os lábios dele novamente nos meus.

Pega de surpresa, não consegui me defender, ou mesmo impedir que ele tomasse a minha boca e que as mãos dele na minha cintura me empurrassem até sentir minhas costas batendo levemente num tronco de árvore. Foi um beijo quente, muito diferente do leve roçar de lábios do dia anterior, e eu me entregava facilmente, deixando que os toques dele me fizessem esquecer das últimas palavras.

Quando finalmente nos separamos, as mãos dele subiram para o meu rosto, e ele disse num sussurro:

- Você consegue me fazer perder a cabeça, Amisa...

Eu estreitei os olhos para ele. Minha cabeça ainda confusa com todas as emoções que ele fazia crescer em mim, lutando contra a idéia nojenta de que ele estivesse atraído por mim apenas por causa de uma semelhança com a minha mãe.

- Me larga! – eu insisti, tentando me desvencilhar do corpo dele que me pressionava contra a árvore. – Eu não quero nada com você e com essa mania de ver os meus pais em mim. Isso é... é... doente!

Ele sorriu, ainda me segurando perto dele.

- Você ainda não entendeu que eu só faço isso para não deixar que eu me esqueça quem você é?

Minhas feições se apaziguaram ao ouvir aquilo, embora meus olhos se arregalaram, surpresos e ainda em dúvida do que ele queria dizer.

- Desde que você chegou em Suna que eu estou nesse dilema – ele continuou, a voz ficando cada vez mais suave. – Há semanas que tenho que conviver com o desejo impossível de tê-la nos meus braços.

Meus olhos ficaram ainda mais surpresos. Eu tinha parado de lutar contra a pressão do corpo dele sobre o meu, meu coração batia cada vez mais forte, e minha mente deixava se convencer pelas palavras macias dele.

- Desde que você chegou em Suna – a voz dele continuava, na mesma cadência doce – que eu entendi por que há dois anos você não saía da minha cabeça.

As lágrimas de raiva e decepção que antes invadiram os meus olhos voltaram, mas agora eram de alegria e uma esperança renovada. Ainda parecia impossível que aquilo não fosse um genjutsu, mas a sensação do toque dele nos meus lábios me dizia que era bem real.

- Eu nunca... – comecei, balbuciando. – Você... jamais deixou...

- Shhh... – ele me interrompeu, pressionando os dedos sobre meus lábios. – Eu... Isso... jamais deveria ter acontecido. Eu perdi a cabeça, de novo.

O olhar dele havia entristecido, e embora ele dissesse que aquilo era um erro, seu corpo continuava próximo do meu.

- Não – protestei. Num minuto eu estava sonhando, no outro, tudo se transformava num pesadelo. – Você não pode vir aqui, me beijar desse jeito, e depois pedir para esquecê-lo. Eu passei dois anos evitando pensar em Konoha, evitando pensar em você. – Sem perceber, eu havia levantando a voz a ponto de gritar, os olhos estreitos, brigando com ele. – Eu achava que era uma ilusão tola de criança, mas você acabou de mostrar que não, que sente o mesmo por mim!

- Amisa... – ele respondeu com um suspiro – você mesma disse que não é mais uma criança. Procure entender...

Eu franzi o cenho, mostrando que nem o tom doce na voz, nem o toque suave das mãos dele no meu cabelo, me convenceriam tão facilmente.

- Eu estou aqui como líder de Konoha – ele continuou –, enquanto você está representando o seu pai, como líder do Som. Um encontro como esse, com os líderes de todas as vilas ocultas, numa tentativa de aliança jamais aconteceu antes. Muitas vilas ainda têm alguns desentendimentos entre si, como o Som e a Névoa. Vários líderes aqui não confiam totalmente em mim, ou no Gaara. Você pode imaginar a confusão que um simples boato sobre um relacionamento entre nós poderia causar? Uma acusação de que eu a seduzi para trazê-la para o nosso lado poderia causar uma guerra sem precedentes.

Enquanto ele falava, eu tentava, em vão, procurar algum argumento contra aquilo. Não era justo. O que nós sentíamos um pelo outro estava muito além de brigas mesquinhas por poder entre as vilas. Entretanto, eu também estivera envolvida o suficiente nas questões políticas da minha vila para saber que ele estava certo. Sem coragem de admitir isso em voz alta, eu simplesmente baixei a cabeça quando ele terminou de falar.

Em silêncio, ele levantou meu rosto com a mão dele em meu queixo, e nossos olhares se encontraram, ambos entristecidos.

- Sem contar – ele recomeçou –, que seria como se eu estivesse traindo a confiança do Sasuke e da Sakura.

Com a referência aos meus pais, franzi o cenho novamente, o que o fez se explicar:

- Tenho certeza que eles ainda pensam em você como uma criança, como qualquer pai.

Eu já estava farta de ouvi-lo usar os meus pais como desculpa, e talvez também decepcionada demais para sequer pensar no peso das minhas palavras.

- E como você pode saber disso? Você não tem filhos!

Os olhos dele escureceram, e ele se afastou repentinamente de mim assim que minha resposta chegou aos seus ouvidos. A noite havia acabado de cair em Suna, e eu mal podia ver a expressão dele quando ele soltou um suspiro cansado e falou:

- Acho melhor deixá-la agora, antes que alguém nos veja. – A voz dele soava mais amarga, e eu apenas encarei espantada enquanto ele se retirava.

\o/\o/\o/\o/\o/

Na manhã seguinte, estava ainda mais distraída no treinamento dos meus irmãos, o suficiente para eles não fazerem questão da minha presença durante a tarde, quando aconteceria mais uma reunião entre os chefes de cada vila, na esperança do Kazekage e do Hokage de aumentarem suas alianças. Eu segui para a sala onde começaria a reunião, mais preocupada com o líder de Konoha que com qualquer tratado político entre as vilas ocultas, imaginando qual seria a reação dele quando nos encontrássemos novamente.

Não houve mais provocações do Mizukage, e eu permaneci calada o resto da tarde, deixando os demais líderes discorrerem sobre acordos diplomáticos enquanto minha cabeça viajava até a noite anterior. Aos poucos, os Kages e outros líderes foram se retirando, discutindo entre si questões próprias de suas vilas. Distraída, mal percebi que restava apenas eu e o Naruto na sala, com a exceção de alguns grupos que discutiam reservadamente em algum canto. Ele caminhou até onde eu estava e, parando na minha frente, numa distância segura, disse:

- Fico feliz que você tenha decidido participar das negociações.

O tom dele era sério, sem deixar margens para definir se ele estava realmente feliz ou se aquilo era apenas uma formalidade. Como resposta, apenas assenti com a cabeça, antes de tornar a conversa mais íntima.

- Me desculpe se eu o ofendi de alguma forma ontem a noite, eu não...

Ele me interrompeu com um gesto da sua mão e, com a voz num tom baixo, continuou:

- Por favor, Amisa, será melhor para nós dois se esquecermos o que aconteceu ontem. – Eu arregalei os olhos para ele e tentei replicar, mas ele não me deixou. – Também seria prudente evitarmos de nos encontrar sozinhos.

- Mas... – tentei responder, meus olhos se enchendo de lágrimas e a garganta se fechando, impedindo minha voz de sair.

Os olhos dele finalmente tornaram-se mais serenos, entretanto, como se para corroborar com o que ele acabara de dizer e impedi-lo de tornar-se mais afetuoso, o Raikage apareceu de repente atrás dele, pedindo sua atenção. Eu simplesmente os deixei sozinhos, voltando pensativa para o meu quarto, entendendo a enorme distância que nos separava.

Entretanto, ainda não me conformava em ter que desistir de um amor que sempre neguei e que finalmente havia descoberto que era correspondido. Também não entendia como ele conseguia me ignorar depois do que aconteceu entre nós, nem imaginar o porquê daquela reação tão repentina depois que mencionei o fato dele não ter filhos. Concluí que, se quisesse diminuir a distância entre nós, precisava começar descobrindo mais sobre o passado dele, e em Suna, talvez a única maneira seria através da Matsuri.

No dia seguinte, vendo que meus irmãos estavam se virando muito bem sem mim, aproveitei para me aproximar dela. Matsuri e Gaara tinham dois filhos, um menino de seis, Roga, e uma menina de quatro anos, Kin. Era comum encontrá-los com a mãe entre os locais destinados para o treinamento dos aspirantes a chuunis, também treinando os primeiros truques ninjas. Não foi difícil começar uma conversa com ela, e sem que nem eu mesma percebesse, o assunto logo chegou onde queria. Roga nos interrompeu, querendo mostrar para a mãe um novo truque que aprendera com o “Naruto-ojisan”. Depois que o garotinho de cabelo vermelho usou um Kakuremino no Jutsu para se camuflar próximo a algumas árvores, eu aproveitei para comentar:

- Não sabia que Suna e Konoha eram tão próximas. O Naruto-sama parece muito íntimo de vocês.

- Ah, sim. O Gaara e o Naruto são amigos há muito tempo – ela respondeu. – E o Naruto tem um carinho muito grande pelas crianças. A filha dele teria quase a mesma idade do Roga, se tivesse sobrevivido.

Aquela notícia me deixou atônita. Não consegui esconder minha surpresa, nem mesmo deixar de averiguar mais sobre aquilo.

- Ele teve uma filha? – indaguei.

Matsuri assentiu com a cabeça. Depois, vendo que eu ainda continuava intrigada, continuou:

- Pobre, Hinata. Eles eram o casal mais feliz que conheci. O Naruto teve que lutar muito contra a família dela para que o casamento dos dois fosse aceito pelos Hyuuga, o que só aconteceu quando ele se tornou Hokage, e depois... aconteceu aquilo...

Eu devia estar com a expressão ainda mais confusa, sem entender exatamente todas aquelas informações, porque ela fez uma pausa pequena e depois começou a explicar:

- Isso foi mais ou menos dois ou três anos depois que seus pais deixaram Konoha. Ele ficou muito abatido ao constatar que havia perdido os dois melhores amigos e vinha muito a Suna naquela época.

Eu baixei a cabeça ao ouvir aquilo, e meu coração pareceu pesar em meu peito ao pensar num jovem Naruto, a mesma expressão de decepção com o meu pai como eu já presenciara certa vez. De certa forma, me senti um pouco culpada, como se tivesse herdado a responsabilidade pelas decisões dos meus pais.

- Felizmente, ele encontrou o amor com a Hinata – a voz de Matsuri continuava. -Entretanto, ela era a herdeira de um dos clãs mais respeitados de Konoha, e os Hyuuga jamais aprovariam o casamento da sua filha mais importante com um Jinchuuriki. Mas os dois não desistiram, até que ele se tornou Hokage, e o casamento foi finalmente aprovado. Afinal, se o melhor ninja de Konoha não era suficiente para a herdeira do clã, quem seria? – ele acrescentou, sorrindo. - Foi uma cerimônia linda...

Eu voltei o rosto para Matsuri, tentando formar um sorriso enquanto os olhos dela pareciam viajar no tempo.

- Eu estive em Konoha logo após a morte dela – disse, interrompendo a contemplação de Matsuri –, para o Exame Chuunin. Apenas me lembro que todos na vila pareciam muito tristes e abatidos, e o Hokage não apareceu nenhuma vez para conduzir os exames.

- Foi uma tragédia – Matsuri explicou, o sorriso desapareceu e parecia até que uma pequena lágrima começava a querer se formar num dos olhos. – Eles estavam tão felizes com o primeiro filho, e o Naruto ficou radiante ao descobrir que era uma menina. Mas infelizmente, a Hinata não agüentou o parto... Se ao menos a Princesa Tsunade ainda estivesse viva... Mas não conseguiram salvá-la.

- E o bebê? – perguntei, o coração apertado.

- Também não sobreviveu – Matsuri respondeu, balançando a cabeça. – Eu pensei que o Naruto não fosse suportar outra perda tão grande em sua vida, mas como sempre, ele nos surpreendeu. Com a mesma vontade que tinha de ser tornar Hokage, ele retomou seus afazeres em alguns meses, e muitos dizem que é o melhor líder que Konoha já teve.

Eu não sabia o que dizer. Meu coração ainda mais apertado, revivendo as palavras que atirei nele sem pensar naquela noite e lutando para não deixar mostrar as lágrimas que eu tentava impedir que caíssem dos meus olhos.

- Entretanto, eu jamais o vi com outra mulher depois da Hinata – Matsuri continuou, pensativa. – Acho que, apesar de tantos anos, ele ainda não superou a morte dela.

Percebendo que eu não conseguiria mais ficar ali sem esconder meus reais sentimentos pelo Naruto, usei o treinamento dos meus irmãos como desculpa para sair rapidamente. Mas era óbvio que não conseguiria me concentrar no que eles estavam fazendo, apenas fiquei lá, encarando o vazio enquanto meu coração doía apenas de imaginar o sofrimento dele ao longo dos anos.

Nos dias que se seguiram, a história que Matsuri me contara não saía da cabeça. Cada vez mais eu negligenciava os preparativos dos meus irmãos para o Exame Chuunin, envolvida nas discussões entre os líderes das vilas ocultas e intrigada com o Hokage. Começava a admirá-lo ainda mais, observando ao longe a forma como ele procurava dialogar com todas as vilas e, depois, como parecia se transformar num garoto nos jantares com a família do Kazekage. Nós mantínhamos um entendimento à distância, apenas com cumprimentos corteses, fingindo que nossas emoções podiam ser ignorados. Mas ao final de uma semana tentando esconder o que sentia, percebi que enlouqueceria com aquilo.

- Eu não disse que as noites de luar em Suna são especiais? – Ouvi a voz do Kankurou logo atrás de mim, enquanto eu estava debruçada sobre uma sacada, evitando encontrar os olhos do Naruto na sala ao lado.

- Sim – respondi, virando-me para trás e notando que ele já tinha abusado um pouquinho do saquê.

Estava prestes a responder, quando meus olhos se desviaram para a figura que acabara de se aproximar de nós.

- Kankurou-san! – o Naruto o chamou, colocando uma das mãos nas costas dele. – Você me disse que tinha um novo boneco para nos mostrar! O Roga-kun e a Kin-chan estão esperando!

- Não é um boneco, Naruto! – ele respondeu, irritado. – É uma marionete. E por que você se interessou por isso de repente?

Eu teria rido da cena, se não estivesse quase tão irritada quanto o Kankurou, encarando o Naruto com olhos estreitos. Eu não era nenhuma garotinha que precisava ser salva, muito menos pelo homem que tentava me ignorar a semana inteira. Sem dizer uma palavra, entretanto, observei quando ele puxou o Kakurou pelos ombros, forçando-o a voltar para a sala e me deixando sozinha na sacada.

Indignada, mas sem poder dizer tudo o que queria para o Naruto, também entrei e agradeci ao Gaara e à Matsuri pelo jantar, desejando a todos boa noite e me recolhendo para os meus aposentos. Mas se ele pensava que tinha se livrado de mim, estava muito enganado. Ficaria acordada a noite inteira se preciso, até ouvir quando ele estivesse no quarto dele; esta era a vantagem de ter apenas uma parede nos separando.

Não demorou muito. Ouvi a porta ao lado do meu quarto se abrir e se fechar, respirei fundo e resolvi que já era a hora de decidirmos de verdade aquela situação. Ainda parei um minuto, em dúvida, antes de resolver bater na porta dele, mas quando a minha mão resolveu ir adiante, não encontrou nenhuma porta para bater, ela já estava aberta.

- Amisa-chan?

Demorei alguns segundos para entender que ele estava de saída quando cheguei e fiquei olhando atônita, sem saber o que fazer ou dizer. Ele me devolvia o mesmo olhar surpreso.

- Eu... er... – comecei, balbuciando.

Ele deu um longo suspiro e, abrindo mais a porta, fez sinal para que eu entrasse.

- Entre. Acho que precisamos conversar.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N.A.: Esse cap foi para aqueles que queriam saber mais sobre a Hinata e tal... Por favor, não me matem, eu quase chorei escrevendo sobre ela.

Para os que ficaram intrigados:
Kakuremino no Jutsu (Técnica da Capa Mágica da Invisibilidade): Ninjutsu básico onde o ninja se camufla com uma capa, se confundindo com alguma parede. Informação roubada do Wikipedia :P

E obrigada a todos que deixaram reviews. Para os fãs de SasuSaku, nõ desistam! Assim que a parte de Suna passar, eles aparecerão mais. Prometo! (O problema é que os capítulos estão criando vida própria e crescendo descontroladamente, e o parte de Suna terminá só no próximo.)

Espaço para propaganda básica: eu, a MiaTeixeira e a Roxane Norris fizemos uma fic coletiva para todos aqueles que sonham ver o Time 7 juntos novamente. Chama-se “A Volta do Time 7”. Por enquanto está publicada apenas no Nyah!, pois é o único que permite a publicação de fics com diversos autores. Quem quiser conferir, o link está no meu profile!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Folha e o Som" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.