A Folha e o Som escrita por BastetAzazis


Capítulo 5
A Célula Tripla: Parte 2




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A partir daquele dia decidi que jamais deixaria que nos separássemos como aconteceu com o time dos meus pais. Nós éramos um só, como meu pai sempre nos ensinou.



o.O.o



Capítulo 5:
A Célula Tripla - Parte 2


Anos se passaram desde minha viagem a Konoha, e para provar que tanto eu quanto meus avós tínhamos razão em nos entristecer quando tive que voltar para casa, nunca mais tive a oportunidade de voltar para a Vila da Folha, ou mesmo para o País do Fogo. Ao longo dos anos, a Vila do Som prosperou muito desde que nossos ninjas começaram a participar dos exames chuunin e mostrar suas habilidades aos senhores feudais de diversos países. Entre o meu time, Kaito já era jounin, e há muito tempo que meu pai deixara de nos acompanhar em nossas missões. Assim como eu havia decidido anos atrás, nós estávamos unidos por laços muito fortes, éramos uma célula tripla, e eu sabia que era isso que nos tornava imbatíveis.


Com dezesseis anos, eu ainda usava meus cabelos compridos e presos da mesma maneira que a foto da minha mãe. Já estava bem mais alta que na época do meu exame chuunin e meu corpo se transformara significativamente. A única coisa que ainda faltava era me tornar uma jounin como o Kaito, o que estava prestes a acontecer assim que meu pai me liberasse para realizar os exames.


Eu o observava nervosamente por trás de sua mesa, olhando com a testa franzida para os papéis que eu acabara de lhe entregar. Aquele não era nem meu pai nem meu sensei, era o Otokage, que parecia mais irritado que o normal naquela tarde.


- Você ainda não está pronta para estes exames, Amisa - a voz indiferente do Otokage declarou.


Ele nem sequer levantou os olhos para mim quando disse aquilo. Simplesmente pousou os papéis numa pilha que, provavelmente, estava destinada ao lixo e tirou mais papéis de outra pilha, lendo e rabiscando alguma coisa neles.


Eu ainda permaneci parada, boquiaberta na frente dele. Não podia acreditar no que estava ouvindo. Tinha passado os últimos meses treinando exaustivamente para realizar aqueles exames. Ouvir do meu pai, treinador e Otokage, que ainda não estava preparada era como se o chão tivesse acabado de se abrir sob meus pés e o mundo desabado sobre mim.


- Você nem sequer ativou o terceiro nível do Sharingan - ele começou com um tom de aborrecimento assim que percebeu que eu continuava parada em sua frente, mas ainda mirando os novos papéis em sua mesa. - Se você quer mesmo se tornar uma jounin, está na hora de evitar outras distrações e se concentrar no seu treinamento.


Distrações? Do que ele estava falando? A única coisa que me afastava dos meus treinamentos eram as missões que ele mesmo indicava para o meu time. Meu pai parecia muito irritado naquele dia, e eu não conseguia entender o motivo, mas parecia que fora a escolhida como o alvo para aplacar as frustrações dele. Kaito sempre treinava comigo e já era jounin há tanto tempo, tinha certeza que tanto eu quanto o Yiuki estávamos no mesmo nível dele. E agora meu pai inventava esta história do Sharingan; eu não via por que era tão necessário que ele evoluísse mais uma vez apenas para participar de mais um exame.


- Eu me descuidei do seu treinamento para dar mais atenção às minhas tarefas como Otokage. Quem sabe sob a tutela de um mestre que possa se dedicar inteiramente ao seu treinamento, você desenvolva suas habilidades mais rapidamente. - Sem esperar alguma resposta minha, ele ordenou: - Você seguirá com a Karin para o esconderijo sul.


- O quê? - protestei, gritando. - Mas a Karin me odeia!


Com o meu protesto, ele foi obrigado a levantar os olhos para mim. Mas foi apenas para fazer uma expressão que dizia que era mais prudente eu ficar em silêncio.


- Vá para casa e arrume suas coisas - ele continuou. - Vocês partirão amanhã de manhã.


- Mas e quanto ao Kaito e o Yiuki? - perguntei, tentando argumentar que eu precisava ficar na vila por causa do meu time.


- Desta vez você irá sozinha - meu pai respondeu, sem dar abertura para mais reivindicações.


A vantagem de ser filha do Otokage era que eu o conhecia muito bem para decifrar o tom que ele usava quando não aceitaria ser contrariado. Resignada, restou-me apenas perguntar:


- E quanto tempo devo ficar?


- Até a Karin julgar que você está pronta para os exames - veio a resposta seca.


Eu abri a boca para protestar mais uma vez. Do jeito que conhecia a Karin, eu iria apodrecer no esconderijo sul e ela jamais admitiria que eu estava pronta para o exame jounin. Entretanto, antes mesmo de dizer qualquer palavra, fui atingida por outro olhar fulminante. Eu sabia a hora certa de me calar, principalmente quando o humor do meu pai estava pior que o usual.


Deixei o escritório do Otokage sem mais uma palavra, contrariada com a decisão dele, e segui o caminho até minha casa com a cabeça baixa, fitando o chão, emburrada. Estava tão distraída, praguejando silenciosamente contra a Karin, que mal percebi quando fui puxada para um pequeno beco formado entre duas casas. Kaito me prendeu entre ele e uma das paredes e inclinou seus lábios contra os meus, num daqueles beijos que sempre faziam minhas pernas amolecerem.


- E então? - ele perguntou assim que nos separamos. - Quando será o exame?


Eu desviei meus olhos dos dele, encarando o chão.


- Se depender do meu pai, nunca - respondi.


- Ele ainda não deixou você fazer os testes?


Eu apenas balancei a cabeça, ainda sem coragem de encará-lo. Ele colocou a mão sob o meu queixo, me fazendo levantar o rosto até nossos olhos escuros se encontrarem.


- Você é a melhor kunoichi dessa vila, Amisa - ele me disse. - Seu pai deve estar apenas preocupado com você, mas logo ele verá que já está pronta.


Kaito, como qualquer ninja do som, admirava o Otokage e jamais contrariaria uma decisão dele. Eu não disse nada, estava desapontada demais para me animar com aquelas palavras, até sentir os lábios dele sobre os meus novamente. Entretanto, para estragar ainda mais o meu dia, quando abri a boca para aprofundar aquele beijo, ouvi a voz mais irritante que poderia escutar naquele momento, e fui obrigada a me afastar do Kaito rapidamente.


- Amisa... Kaito... Vocês não deveriam estar em alguma missão? - Karin olhava para nós dois com as mãos na altura da cintura e um sorriso cínico estampado no rosto. - Ah... já sei! Aquele dobe que sempre anda com vocês está atrasado de novo.


Se ela percebera alguma coisa entre nós, fingiu ignorar, mas eu não a deixaria insultar um companheiro daquele jeito.


- Lave a boca para falar alguma coisa do Yiuki! - eu gritei indignada, avançando em direção a ela.


- Amisa! - Kaito sussurrou no meu ouvido, segurando-me pelo braço. - O Otokage não nos indicou nenhuma missão para hoje, Karin-sama - ele continuou com uma voz firme, voltando-se para ela.


- Neste caso - ela respondeu, o sorriso maldoso ainda no rosto -, vocês deveriam aproveitar este tempo para treinar.


Kaito assentiu com a cabeça, ainda me segurando para evitar que eu pulasse em cima dela. Eu só me acalmei depois que ela deu as costas para nós e saiu da nossa vista, dirigindo-se ao escritório do meu pai.


- Você acha que ela viu a gente? - perguntei.


Kaito riu, e depois respondeu com ironia:


- Bem, ela falou com a gente, não falou?


Eu estreitei os olhos para ele.


- Você sabe do que estou falando. Se ela contar alguma coisa sobre nós para o meu pai, não sei o que ele faria com você.


- Não se preocupe - ele me interrompeu, pousando o dedo indicador nos meus lábios. - Eu conversei com o Sasuke-sensei esta manhã, ele já sabe sobre nós.


- Você o quê? - perguntei assustada.


Kaito não podia estar falando sério. Entretanto, a irritação do meu pai comigo começava a fazer sentido depois disso, principalmente o que ele quis dizer com as "distrações" que estavam atrapalhando o meu treino.


- Eu pedi para ele uma missão para provar que sou digno da filha do Otokage. Vou partir amanhã pela manhã.


- Você o quê? - repeti a pergunta, ainda mais pálida com a notícia.


Mil e uma coisas passavam em minha mente. Como eu iria encarar o meu pai quando encontrasse novamente com ele? Como o meu pai tinha recebido a notícia e que tipo de missão ele teria dado ao Kaito? Até que ponto aquela história estava relacionada com a decisão dele de me tirar da vila? E será que ele achava que, nos separando, nós acabaríamos esquecendo um do outro? Agora parecia óbvio que ele estava culpando o Kaito por eu não ter treinado o suficiente para ativar o terceiro nível do Sharingan. Ele estava nos punindo, mandando o Kaito sozinho para uma missão e eu para os cuidados da Karin, no esconderijo sul?


Minha cabeça começava a doer com tantas perguntas não respondidas, e o brilho no olhar do Kaito só me deixava ainda mais angustiada. Ele parecia feliz em ter a chance de "provar seu valor" para o Otokage.


- Que missão é essa? Você vai sozinho? Você não pode ir sozinho, nós ainda somos um time.


Kaito simplesmente sorriu.


- Não se preocupe - ele disse. - Eu ficarei bem.


E, depois de um beijo suave em minha testa, ele começou a caminhar com as mãos nos bolsos, como sempre fazia, em direção ao campo onde sempre treinávamos e onde provavelmente encontraríamos o Yiuki. Meu treinamento no resto do dia foi praticamente inútil. Não conseguia me concentrar pensando no Kaito e no meu futuro exílio. Eu vi como o Yiuki ficou arrasado quando Kaito lhe contou sobre sua missão solitária, e nem tive coragem de contar a eles sobre a decisão do meu pai de me mandar para longe também. Só pensava em como nosso amigo ficaria sozinho enquanto eu estivesse com a Karin e o Kaito em missão.


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Felizmente, meu pai não jantou conosco naquela noite, e eu fui direto para meu quarto, arrumar minhas coisas para a viagem do dia seguinte e lamentar pelos dias, e talvez meses, que ficaria sem o Kaito. Eu me perguntava como conseguiria ficar tanto tempo sem ver o rosto dele, ou aquele sorriso que era sempre tão raro, ou seus olhos sempre compenetrados. Nós nem havíamos nos separados e eu já sentia saudades dos beijos dele, do frio na barriga que sentia sempre que nos tocávamos, das minhas pernas bambas quando estava ao lado dele. Entretanto, mesmo distraída com todas as dúvidas que pesavam em meu coração, ainda era uma ninja, e percebi facilmente alguém me vigiando pela janela.


- O que você está fazendo aqui? - perguntei para o Kaito, ajudando-o a entrar no meu quarto e procurando no escuro da noite se mais alguém conseguiria nos ver. - Se o pegarem tentando invadir o meu quarto, você está morto!


- Eu vim atrás do meu beijo de despedida - ele respondeu, sorrindo e alheio às minhas preocupações.


Eu sorri para ele; Kaito sempre conseguia me fazer esquecer de qualquer angústia. Entretanto, quando eu estava prestes a beijá-lo, ele percebeu meus equipamentos ninja espalhados pela cama e perguntou, franzindo o cenho:


- Por que você está arrumando as suas coisas? Você não está pensando em ir comigo, não é? Eu já disse que partirei sozinho.


- Não - respondi, desanimada. - Meu pai também me mandou para longe da vila.


Kaito me olhou seriamente.


- Você acha que ele está querendo nos separar?


Eu levantei os ombros.


- Não sei - respondi. - Mas ele me mandou para o esconderijo sul com a Karin, para treinar sem mais "distrações".


Ele deu um sorriso malicioso, aproximando-se mais de mim e me empurrando contra a parede.


- Então é isso que eu sou para você? Uma distração?


- Isso não é brincadeira, Kaito! - eu o censurei, empurrando-o para trás. - Eu estou realmente preocupada com essa sua missão misteriosa. Meu pai acha que não estou treinando direito por sua causa. Estou com medo do que ele pode fazer com você.


- Eu já disse que você não precisa se preocupar - Kaito me assegurou, aproximando-se de novo e deixando um beijo em minha testa. - Talvez seja até melhor você partir para o sul com a Karin, você estará mais segura lá.


- O que você quer dizer com isso? - perguntei, franzindo a testa.


- Nada - ele mentiu. - Apenas que eu ficaria mais tranqüilo sabendo que você ficará longe de qualquer missão enquanto eu não estiver por perto para protegê-la - completou, com um sorriso debochado.


Eu estreitei os olhos para ele, sabia quando Kaito não estava sendo sincero. Aquele comportamento não era típico dele; certamente ele sabia de alguma coisa e não queria me contar.


- Eu devo voltar dentro de alguns dias - ele continuou, tentando mudar de assunto - e vou para o esconderijo sul assim que chegar. Não importa o que disser o Otokage.


Ele sorriu e inclinou-se para mim para me beijar. Ao sentir os lábios dele sobre os meus, esqueci completamente minhas aflições e deixei que ele continuasse a explorar não só a minha boca, mas todo o meu corpo. Incitada com os movimentos dele, eu o imitei, e nossas carícias ficaram cada vez mais ousadas, talvez estimuladas pela promessa de ficarmos vários dias afastados ou o temor não dito de jamais encontrá-lo novamente. Não sei dizer como chegamos até a cama, mas sem precisarmos nos esconder do nosso outro companheiro de time como quando estávamos em missão, naquela noite nós deixamos nossos instintos nos guiarem até o fim, pela primeira vez, com gemidos abafados para evitar que fôssemos ouvidos. Experimentar o corpo dele sobre o meu, dentro do meu, me fez sentir como se fôssemos um só, e a partir daquela noite eu entendi que jamais conseguiria viver sem ele. Meu pai podia tentar nos afastar, mas nós sempre estaríamos juntos, de alguma forma, e ele jamais tiraria isso de nós.


Nós adormecemos abraçados, tentando prolongar nosso contato físico perante a separação iminente. Quando chegou a hora de partir, antes que os primeiros raios de sol iluminassem a janela do meu quarto, Kaito se levantou e, com um beijo leve em meus lábios, não teve coragem de dizer adeus, apenas sussurrou:


- Eu amo você, Amisa.


Eu o abracei com força, como se fosse capaz de fazer nossos corpos se mesclarem e uma parte de mim pudesse partir com ele.


- Volte logo - supliquei, assim que o soltei.


Seus lábios formaram um sorriso triste, e nós nos beijamos uma última vez antes que ele saísse pela janela, sem olhar para trás.


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- Se você tem tempo para cuidar dos cabelos, deveria aproveitá-lo treinando mais - a voz de Karin insistia em meu ouvido.


Já estava há uma semana no esconderijo sul, apenas com a companhia da Karin, que só se dirigia a mim para dizer o quanto eu era fraca, ou parecida com a minha mãe, ou o quanto eu e minha mãe éramos inúteis para a vila. Há dois dias que guardava para mim toda a raiva, que um dia fora admiração, por aquela mulher que meu pai decidira que seria a melhor pessoa para me treinar. Eu deixava ela falar o que quisesse, pensando apenas que, embora ela fosse considerada uma das kunoichis mais fortes da vila, foi a minha mãe quem meu pai escolheu para estar ao lado dele, e assim como a minha mãe, eu também tinha alguém que sempre estaria ao meu lado, ao contrário de ter aquela vida solitária que ela escolhera para si.


- Não adianta querer se arrumar para aquele seu namoradinho - ela continuava para as minhas costas, enquanto eu escovava os cabelos na frente do espelho, depois de um dia cansativo de treinamento. - Ele não vai voltar.


A certeza com que ela disse a última frase fez meu estômago embrulhar. Eu congelei, sem coragem nem ao menos para me virar para ela.


- Por que você acha que seu pai a mandou para cá? Ele apenas quis garantir que você não sairia correndo atrás do Kaito e acabar com o mesmo destino dele - a voz dela continuava irritando meus ouvidos, mas agora eu precisava me concentrar no que ela dizia. - Ele sabia que se as suspeitas de um ataque da Névoa se confirmarem, nenhum espião do Som voltaria com vida.


- O quê? - Eu finalmente me virei para ela, encarando-a, sem querer entender aquelas palavras.


Ela ajeitou os óculos e me deu um sorriso cínico.


- Humf! - ela bufou, com um tom de escárnio. - Se ao invés de se esconder por aí com seu namoradinho você prestasse mais atenção aos problemas da vila, saberia que há algum tempo que seu pai desconfia que a Vila da Névoa está prestes a nos atacar.


As informações passeavam em minha cabeça numa velocidade impressionante. Agora tudo parecia fazer sentido, principalmente as palavras de Kaito dizendo que eu estaria mais segura longe da vila. Analisando a posição das duas vilas, se os ninjas da Névoa pretendiam nos atacar, certamente não viriam pelo sul.


- Você acha que meu pai mandou o Kaito espionar a Vila da Névoa? - perguntei, temendo já saber a resposta.


- Eu estou certa disso - Karin respondeu. - Fui eu quem aprovou a missão.


Eu nem esperei o sorriso dela se formar novamente no rosto. Sabendo que levaria pelo menos um dia inteiro para chegar até a vila, simplesmente a deixei, sem maiores explicações. O cansaço do treinamento se dissipou rapidamente do meu corpo e a preocupação com o Kaito fez minhas pernas correrem mais rápido, meus sentidos ficarem mais aguçados, enquanto meu coração parecia que pesava mais a cada minuto que passava e eu ainda não chegava.


Quando o sol se pôs no dia seguinte, eu finalmente consegui avistar os primeiros paredões que escondiam a entrada para a vila. O ar parecia mais pesado, mas eu insistia em dizer a mim mesma que era apenas uma má impressão, causada pela minha preocupação excessiva. A vila estava mais vazia que o normal, quase não havia pessoas nas ruas, mas eu só entendi que alguma coisa estava realmente errada quando vi o tio Juugo e o tio Suigetsu de guarda na porta da enfermaria que servia para atender os ninjas que voltavam muito feridos de suas missões.


- Aconteceu alguma coisa? - eu perguntei diretamente para eles, assim que me aproximei.


- Amisa-chan - tio Juugo começou -, talvez não seja uma boa idéia você entrar...


- Você não deveria estar com a Karin? - tio Suigetsu o interrompeu, olhando firme para mim.


- Por que eu não posso entrar? - perguntei, ignorando-os. Meus olhos já estavam cheios lágrimas nervosas, e talvez tenha sido isso que fez tio Juugo afastar-se, silenciosamente, para me dar passagem.


Assim que entrei, meus olhos procuraram desesperadamente pelas várias macas do lugar. Minha mãe estava inclinada sobre uma delas, suas mãos brilhando com o chakra acumulado. Eu corri para frente apenas para descobrir que era o Yiuki deitado na maca, uma expressão de dor horrorosa no rosto.


- Amisa - eu ouvi a voz do meu pai, no mesmo instante que senti alguém me segurar pelo braço, me impedindo de chegar até o Yiuki. - É melhor você esperar aqui.


Eu virei para o meu pai para protestar, mas minha mãe foi mais rápida:


- Deixa-a, Sasuke.


Eu senti ele soltar o meu braço e me virei novamente para a direção da minha mãe. Ela não estava mais debruçada sobre o Yiuki, e suas mãos não brilhavam mais. Receosa, me aproximei lentamente deles. Quando o Yiuki conseguiu me ver, com os olhos levemente abertos, um pequeno sorriso surgiu no rosto dele, mas eu ainda percebia que ele estava sentindo muita dor.


- Amisa-chan... - ele sussurrou -, me desculpe.


- Yiuki-kun - eu o chamei assim que cheguei ao lado dele e tomei sua mão. - Você não tem que se desculpar comigo - respondi, tentando suprimir as lágrimas.


- Eu... eu segui o Kaito... - ele continuou com dificuldade. - Eu tentei... trazer ele de volta.. para você...


Senti uma pontada no peito ao ouvir aquilo e levantei olhos inquisidores para minha mãe, mas ela nada respondeu.


- Eu sei o quanto ele significa para você - Yiuki continuou, usando suas últimas forças para falar comigo. - Eu só queria... queria ser mais forte para...


- Não, Yiuki - eu o interrompi. - Você precisa descansar agora, para se recuperar.


Ele balançou a cabeça violentamente, fazendo com que outra careta de dor surgisse em seu rosto.


- Eu não podia deixar o Kaito lá... - ele continuou. - Eu o trouxe de volta, mas... se eu fosse mais forte... eu... Me perdoe, Amisa-chan...


As últimas palavras foram um sussurro fraco, e então seus olhos se fecharam, e as expressões de dor em seu rosto finalmente relaxaram.


- Yiuki-kun! - eu o chamei, preocupada. - Yiuki, fale comigo! - inisisti, inclinando-me sobre ele e sacudindo seus ombros.


Ele não se moveu, e eu continuei chamando por ele, sacudindo seu corpo, sem aceitar a idéia óbvia de ele não estava mais entre nós.


- Amisa-chan - era a voz da minha mãe. Ela estava atrás de mim, me abraçando e tentando me afastar da maca onde Yiuki estava deitado.


- Yiuki! - eu continuei gritando por ele, observando o corpo dele, que agora parecia tão sereno, com a vista embaçada pelas lágrimas que não conseguia mais controlar. - Por quê? - foi a única coisa que consegui perguntar para a minha mãe quando ela finalmente conseguiu me afastar da maca.


- O Yiuki seguiu o Kaito na missão dele, e os dois foram atacados - minha mãe respondeu, calmamente. - Ele chegou muito ferido e sem chakra. Eu tentei curá-lo, mas ele já estava muito debilitado.


Dizendo aquilo, ela me abraçou com força, e foi só então que eu percebi o meu pai parado atrás de nós, na entrada da enfermaria. Ele estava com os braços cruzados na altura do peito, inexpressivo. No mesmo instante, as palavras da minha mãe se misturaram com as da Karin, e eu finalmente entendi o quanto o nosso Otokage poderia ser cruel quando julgasse necessário. Voltando a encarar minha mãe, eu perguntei:


- E onde está o Kaito? O que o Yiuki quis dizer com...


Eu não consegui continuar com a pergunta quando minha mãe simplesmente abaixou os olhos e virou o rosto em direção a algumas macas mais ao fundo da enfermaria. Havia alguém deitado sobre uma delas, mas seu corpo estava inteiramente coberto por um lençol branco, cheio de manchas de sangue.


Eu me desvencilhei dos braços da minha mãe e corri para a última maca, levantando o lençol que cobria o corpo para ver o seu rosto. Era ele, sem dúvidas. O semblante que eu sempre achara tão lindo estava todo deformado, e senti meu estômago revirar e minha garganta se fechar em ânsia quando vi diversas marcas de fortes queimaduras na pele dele. Apenas imaginar que tipo de técnica poderia ter feito aquilo nele fez meu coração doer e eu senti minhas pernas fraquejarem como se tivesse acabado de levar um murro no estômago.


Para não cair, eu me agarrei no corpo frio e imóvel que há apenas uma semana ainda me abraçava e me aquecia. Meu cérebro lutava contra a idéia de que eu jamais o abraçaria daquele jeito novamente, e inconscientemente, eu o segurava com mais força.


- Não! Kaito! - eu ouvi minha própria voz gritando, embora não tivesse mais plena consciência do que fazia ou dizia.


- Amisa! Não há mais nada a fazer, filha - minha mãe disse firme atrás de mim, me segurando e puxando para me fazer soltá-lo, como fizera quando eu estava com o Yiuki. - Ele já estava morto quando o Yiuki o trouxe para cá.


- Não! Eu não vou deixá-lo - gritei, recusando-me a aceitar que ele estava realmente morto.


- Sasuke! - ouvi minha mãe gritar, sabendo que não conseguiria me tirar dali sozinha.


No instante seguinte, senti mais uma força tentando me afastar do Kaito. Virei o rosto para trás e o encarei com os olhos brilhando com as lágrimas e com minha raiva.


- Tire suas mãos de mim! - gritei. - Você o matou! Eu odeio você!


Meus berros fizeram tio Juugo e tio Suigetsu saírem de sua guarda para verificarem o que estava acontecendo. Meus pais ainda tentavam fazer eu largar do corpo do Kaito, o que só aconteceu quando tio Juugo tomou o lugar da minha mãe.


- Vocês não vão conseguir me separar dele! - eu continuava gritando, presa entre os braços do meu pai e do tio Juugo.


Com a visão ainda embaçada pelas lágrimas, eu percebi minha mãe acumulando chakra em suas mãos novamente. Ela chegou mais perto de mim e, calmamente, sussurrou em meu ouvido:


- Amisa-chan, você tem que se acalmar, por favor.


Eu senti suas mãos quentes encostando no meu peito e, aos poucos, as batidas do meu coração pareceram desacelerar, as lágrimas em meus olhos diminuírem, e uma sensação de paz e letargia tomou conta do meu corpo. No instante seguinte, eu não vi mais nada.


Continua...


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Notas finais do capítulo

Eu vou até ali e já volto! *se esconde atrás da cadeira*

Senhas para as caixinhas de lenço serão entregues após o clique no botão "enviar review" logo abaixo! XD