A Folha e o Som escrita por BastetAzazis


Capítulo 4
A Célula Tripla: Parte 1




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Nós partimos imediatamente, e eu ainda lembro do pesar que senti ao me despedir dos meus avós. Embora eles estivessem felizes e orgulhosos com a minha conquista, havia uma melancolia silenciosa pairando entre nós e, pela primeira vez, eu desejei não ter que voltar para casa.


o.O.o


Capítulo 4: A Célula Tripla - Parte 1


Assim que as primeiras formações rochosas começaram a aparecer no horizonte, indicando que em breve chegaríamos à Vila Oculta do Som, eu deixei de lado a tristeza por partir de Konoha, e meu coração se alegrou de novo ao saber que logo estaria em casa e poderia mostrar pessoalmente minha nova conquista ao meu pai. Eu só conseguia pensar no quanto ele devia estar orgulhoso depois que eu provara ser capaz de cumprir suas expectativas.


Os seis novos chuunins foram recepcionados pelo próprio Otokage numa cerimônia simples, como todos os eventos que ocorriam em nossa vila. Eu não recebi nenhuma atenção especial até voltar ao sossego e à intimidade da minha própria casa. Quando finalmente ficamos sozinhos, meu pai me parabenizou com um abraço, e eu podia ver nos olhos dele o quanto estava feliz.


- Amisa-chan!


Minha mãe e meus irmãos entraram correndo na sala e me abraçaram também. Eu fui atacada por uma enxurrada de perguntas; Ando, Yusuki e Yori queriam saber todos os detalhes do que aconteceu durante o exame, enquanto minha mãe só estava preocupada se eu havia me machucado. Entretanto, em pouco tempo eu não tinha mais novidades para distrair os meus irmãos, e eles saíram correndo dizendo que precisavam treinar para o próximo exame chuunin, fazendo meu pai prometer que em breve lhes ensinaria o Goukakyuu no Jutsu.


Nós ainda estávamos rindo da preocupação dos meus irmãos, Ando de seis e os gêmeos Yusiki e Yori de cinco anos, com um exame que não aconteceria antes deles completarem onze, quando minha mãe me puxou para perto dela e comentou:


- Finalmente você resolveu soltar seu cabelo.


- Sim - respondi, meio sem graça. - Achei que ficava melhor assim.


- Você está parecendo a sua mãe quando eu a conheci - meu pai comentou, aproximando-se de nós.


Meus olhos deixaram minha mãe para pousarem no rosto do meu pai. Ele estava sorrindo, primeiro para mim, e depois voltou-se para minha mãe. Os dois se encararam, sorrindo, com uma cumplicidade que eu jamais entenderia naquela idade. Quando parecia que eles haviam esquecido da minha presença, resolvi despertá-los:


- Foi a Ino-san quem me convenceu a usá-lo assim.


- Ino? - minha mãe repetiu, virando-se para mim. Seu rosto se iluminou com um novo sorriso, e os olhos dela brilhavam. - Você conheceu a Porquinha Ino? Faz tanto tempo que não a vejo... Ainda tenho saudades das nossas brigas - comentou, rindo.


Eu ri também, pois Ino havia me contado sobre a infância das duas. Meu pai, entretanto, pareceu ter desfeito o sorriso que raramente permanecia em seu rosto.


- Eu também conheci meus avós - acrescentei, vagarosamente, olhando para o meu pai.


Ao ouvir aquilo, lágrimas pareciam querer rolar dos olhos da minha mãe, mas ela as conteve, mantendo o sorriso, que agora parecia um pouco triste, no rosto.


- Olhe - eu a chamei, tirando das minhas coisas a foto que ganhei dos meus avós. - Eles mandaram isso para você.


Minha mãe olhou a foto com desconfiança, mas assim que a pegou e viu que se tratava de uma foto do seu antigo time, exclamou:


- Não pode ser! Essa foto é tão antiga! Venha aqui - ela me chamou, fazendo eu me sentar ao lado dela e começou a apontar, agora mais animada, para as pessoas no retrato. - Olhe, aqui estou eu e o seu pai. Ele não mudou muito desde aquela época, não acha? - ela acrescentou com um risinho, apontando para o meu pai, que olhava emburrado e de braços cruzados para nós duas, numa posição bem parecida com a da foto.


- Sim - eu concordei, rindo.


- E este era o Kakashi-sensei - ela continuou, apontando para a foto. - Ele que nos ensinou o que era um trabalho em equipe; nós éramos o que ele chamava de uma célula tripla. Ele sempre dizia que aqueles que não se importam com seus companheiros de time são piores que lixo.


Eu olhei para o meu pai, com os olhos arregalados. Aquelas eram exatamente as mesmas palavras ele sempre repetia para mim, Kaito e Yiuki durante os treinamentos. Ele não disse nada, simplesmente assentiu com a cabeça.


Voltei minha atenção para a foto e então perguntei, apontando para o menino loiro ao lado da minha mãe:


- E este era o outro companheiro de vocês? O Jinchuuriki?


- Ora, Amisa! - minha mãe exclamou, franzindo o cenho para mim. - Você não o reconhece? Este é o Sexto Hokage, você o conheceu durante os exames.


Eu também franzi a testa, levantando os olhos para o meu pai, procurando por ajuda. Mesmo assim, ele ainda continuou em silêncio, recostado no braço do sofá onde estávamos sentadas e encarando o chão.


- Não, eu não conheci o Hokage - respondi, voltando o olhar para minha mãe e balançando a cabeça. - Quem conduziu as provas foi o Kakashi-sama. O Hokage ainda estava de luto pela mulher dele - expliquei.


Meu pai finalmente pareceu interessado na conversa, descruzando os braços e virando-se para nós. Mas foi minha mãe quem reagiu com maior inquietação, deixando a foto que ela segurava cair no chão quando levou as mãos ao rosto. Algumas lágrimas formando-se rapidamente em seus olhos.


- Naruto... - eu a ouvi sussurrar. - Mas eu nem sabia que ele...


- É inútil vocês ficarem lembrando do passado - meu pai proferiu, fingindo não escutar as últimas palavras da minha mãe -, e os problemas da Folha não nos dizem respeito - acrescentou, pegando a foto do chão e entregando-a para mim.


Eu a peguei e fiquei admirando o menino loiro que encarava o meu pai, eles pareciam se odiar. Será que eles eram mesmo um time tão unido quanto eu, Kaito e Yiuki? Pelas histórias que minha mãe contava, ela e o tal Naruto fizeram de tudo para salvar meu pai do Orachimaru-sama, mas ainda assim era difícil entender por que eles nunca mais se falaram depois que meu pai voltou para o Som.


Distraída, eu nem percebi minha mãe se levantar, até que ouvi a voz dela, sibilando para o meu pai:


- Como você consegue, Sasuke? Como você é capaz de fingir que ele nunca significou nada para você? Depois de tudo o que ele fez por você?


Meu pai ficou em silêncio por alguns instantes. Eu levantei os olhos da foto para observar, assustada, meus pais se encarando na minha frente. Era a primeira vez que eu presenciava tão de perto uma briga deles.


- O Naruto pode ter sido nosso companheiro de equipe - meu pai respondeu -, mas isso foi há muito tempo. Nós seguimos nossas vidas e ele a dele.


Minha mãe fez uma expressão de indignação e, apontando para mim, perguntou:


- Como você pode ensinar a eles alguma coisa sobre trabalho em equipe se você nunca soube o que é isso? Você sempre preferiu ficar sozinho, não é?


Meu pai não respondeu. Eu não tinha coragem de me mexer, com medo de que qualquer palavra ou ação pudesse acarretar numa discussão ainda maior.


- O Naruto o considerava um irmão - minha mãe continuou, tentando impedir que mais lágrimas caíssem dos seus olhos. - Eu estava lá, eu vi o quanto ele sofreu quando você nos deixou.


- E o que isso importa agora? - meu pai perguntou, como se os dois estivessem discutindo o que seria servido no jantar.


Os olhos verdes de minha mãe ganharam um brilho furioso, e eu a vi estreitá-los para o meu pai, da mesma maneira que fazia conosco quando falávamos algo que ela não gostava. Entretanto, ao invés de gritar como fazia comigo e meus irmãos, ela foi na direção dele, com os punhos fechados contra o peito dele.


- Como você pode ser tão insensível?


Ele segurou as mãos dela assim que o atingiram fracamente, e a puxou contra o peito. Enquanto eu esperava presenciar uma briga assustadora entre os dois, observei meu pai aninhar o rosto da minha mãe no peito dele e, depois de acariciar os longos cabelos dela, ele sussurrou alguma coisa em seu ouvido, terminando com um beijo delicado na testa.


Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, esquecidos da minha presença. Finalmente, minha mãe resolveu falar:


- Ele deve estar sofrendo. Você sabe como qualquer laço era importante para ele. Nós devíamos...


- Não, Sakura - meu pai a interrompeu, fazendo-a levantar os olhos para ele. -Você escolheu vir comigo para o Som. Você escolheu deixar a Folha e qualquer laço que havia em Konoha.


Eu vi minha mãe estreitar os olhos e se afastar do abraço do meu pai, mas no instante seguinte, a expressão em seu rosto abrandou, e ela levou uma mão calmamente até o meu pai, acariciando-o.


- O que aconteceu conosco, Sasuke? - ela disse baixinho para ele, encarando-o profundamente nos olhos. - Nós éramos unidos como um só, por que ficamos tão distantes?


Ele não respondeu. Parecia que ele queria dizer alguma coisa, mas finalmente pareceu ter se lembrado da minha presença na sala e apenas inclinou sua cabeça na minha direção, chamando também a atenção da minha mãe. Virando-se para mim, ela enxugou uma última lágrima que ainda corria em seu rosto e simplesmente anunciou com um sorriso falso:


- Eu tenho que checar o que os meninos estão fazendo. Não se atrasem para o jantar.


Quando ela saiu, meu pai se virou para a porta de vidro que fazia com que toda a sala tivesse uma bela vista do nosso jardim. Ele ficou um bom tempo em silêncio, refletindo com os braços cruzados em frente ao peito. Se ele não fosse o nosso destemido Otokage, eu podia dizer que ele estava bastante consternado com a notícia do luto do Hokage.


- Eu conheci o antigo bairro do Clã Uchiha em Konoha, também - falei de repente, mais para quebrar o silêncio que pela curiosidade que tinha sobre aquele passado ainda obscuro para mim.


Ele continuou olhando para o jardim, sem se virar para trás.


- Humf! - bufou. - Aquele lugar deveria ter sido destruído há muito tempo.


Eu arregalei os olhos para as costas dele, mas ele nem se mexeu.


- Vá para o seu quarto, Amisa - ele ordenou, ainda de costas para mim. - Você deve estar cansada da viagem, e a partir de amanhã, vocês terão missões cada vez mais difíceis agora que são chuunins.


Eu assenti com a cabeça e deixei a sala, levando a foto dos meus pais e seu amigo junto comigo. Mais tarde, durante o jantar, nenhuma palavra foi pronunciada sobre Konoha, ou o Hokage, ou mesmo sobre qualquer coisa que lembrasse meu exame chuunin e a foto que eu trouxera comigo. Eu não me importei, a foto estava bem guardada em um novo porta-retrato no meu quarto, e eu sempre olhava para aqueles três genins e seu mestre, pensando em mim e no meu time ninja, e no quanto nós nos importávamos um com o outro. A partir daquele dia decidi que jamais deixaria que nos separássemos como aconteceu com o time dos meus pais. Nós éramos um só, como meu pai sempre nos ensinou.


Continua...



N.A.: Muito obrigada a Miateixeira, que revisou duas vezes o mesmo cap e ainda conseguiu dar dicas importantíssimas. E mil beijos a todos que deixaram reviews!


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