A Folha e o Som escrita por BastetAzazis


Capítulo 2
A Vila do Som




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Meu pai a segurou pelo braço, e ela deixou ser levada para longe de Konoha e do país do fogo. Com os demais integrantes do Time Hebi protegendo meus pais, Naruto sabia que era inútil correr atrás deles. Ele nem sequer tinha forças para persegui-los. Minha mãe, seu amor de infância, tinha escolhido fugir com o seu melhor amigo. Ele sempre soube que ela era apaixonada pelo meu pai, mas naquela noite, ele não tinha como fechar os olhos e negar que a sua Sakura-chan jamais seria sua realmente.


o.O.o


Capítulo 2: A Vila do Som


Eu nasci exatamente um ano depois que meus pais chegaram à Vila do Som. Foram tempos difíceis; a vila era habitada apenas por antigos prisioneiros, cobaias do Primeiro Otokage, que haviam perdido suas famílias ou não tinham mais um lar para regressar. Poucos confiavam nestes ninjas, e a vila era obrigada a aceitar qualquer tipo de missão para garantir seu sustento. Foi uma época de miséria e trabalho duro, forjando os shinobis mais impiedosos que se tinha notícia.


Eu lembro daquela época apenas através das histórias contadas pelo tio Suigetsu. Ele, Juugo e Karin formavam o time mais respeitado da vila, responsáveis pela segurança do meu pai e sua família. Tio Juugo e tio Suigetsu estavam sempre por perto, garantindo que nenhum mal pudesse ocorrer a mim ou a minha mãe sempre que meu pai precisava deixar a vila, enquanto a Karin sempre fazia questão de nos ignorar. Ela odiava a minha mãe e me odiava também, apenas pelo fato de que a filha de Sasuke Uchiha tinha o cabelo rosa igual ao da mulher que ele escolhera como esposa.


Para minha mãe, aqueles anos devem ter sido os mais difíceis da vida dela. Além de estar longe dos seus pais e amigos, a Vila do Som era muito diferente da próspera Konoha, e ela tinha apenas o meu pai, quase sempre ausente lutando pela sobrevivência da nova vila, quando todos pareciam ignorá-la. Provavelmente, foi por causa da língua ferina da Karin que os demais habitantes da vila jamais a respeitaram como ela merecia, vendo-a apenas como uma simples amante do Otokage. Enquanto todos se sacrificavam para que o a Vila Oculta do Som fosse reconhecida pelas demais nações shinobi, Karin sempre tinha um comentário maldoso sobre como o papel da minha mãe na vila se restringia a cuidar de mim e dos meus irmãos, que vieram anos depois.


Para piorar, os famosos jutsus médicos que minha mãe aprendera sobre a tutela da Princesa Tsunade, que seriam bem-vindos em qualquer outra vila oculta, eram praticamente inúteis no Som. As missões que sobravam para nós eram sempre as mais perigosas, recusadas por outras vilas e que nós éramos obrigados a aceitar por uma quantia pífia. Quando um ninja do som voltava para a vila significava que sua missão fora bem sucedida, do contrário, ele seria encontrado morto. Mas isso não a assustou; minha mãe sempre amou o meu pai, e ela teria lutado como uma kunoichi do som ao lado dele, se ele não a proibisse de sair em qualquer tipo de missão assim que ela engravidou de mim. E a Karin se aproveitou disso para ganhar a confiança do meu pai e dos demais ninjas do som, transformando-se na principal conselheira e a kunoichi mais respeitada e mais temida do som.


Embora eu a odiasse, sempre me espelhei na Karin como a figura de uma kunoichi forte e poderosa. Eu treinava arduamente todos os dias, esperando o reconhecimento do meu pai e dos demais ninjas da vila, querendo mostrar que era digna de ser filha do Otokage e tentando esconder qualquer alusão à minha mãe. Eu odiava meus cabelos rosados que me faziam parecer tanto com ela; depois que terminei a academia e ganhei minha própria hitaiate, eu a usava com uma faixa larga na cabeça, capaz de esconder todos os meus fios de cabelo quando o prendia com um coque.


Aos onze anos, mesmo odiando meus cabelos, eu me achava a genin mais feliz da Vila do Som. Simplesmente porque eu estava no mesmo time do garoto mais lindo da vila, Kaito Masami. Ele tinha o rosto perfeito, olhos e cabelos tão escuros que eu podia me perder olhando para eles, e um ar de indiferença e responsabilidade, ao contrário dos outros garotos bobos, que deixava todas as meninas da minha idade apaixonadas por ele. Mas nunca me importei com a concorrência, afinal eu fui a única menina escolhida para formar um time com ele.


Kaito era o ninja mais inteligente da nossa turma e junto comigo e Yiuki, nós éramos treinados pelo próprio Otokage. Nossa vila ainda era muito pequena, não havia muitos jounins qualificados a treinar equipes mais novas, e meu pai fazia questão que sua filha fosse treinada por alguém capaz de entender todos os segredos do Sharingan, ou seja, ele mesmo. Infelizmente, talvez por medo do meu pai, Kaito sempre fingiu me ignorar e só falava comigo através de monosílabos; mas eu não ligava, estar ao lado dele todos os dias durante os treinamentos e as missões era suficiente para mim.


As vezes, estar na equipe do Otokage era entediante. Meu pai não podia estar o tempo todo com a gente, e quando os assuntos da vila o mantinham afastado por muito tempo, nós ganhávamos as missões mais inúteis. Por outro lado, quando ele escolhia uma missão para nós que ele pudesse nos acompanhar, eram missões dignas do líder da vila. Com menos de um ano como genin, eu já tinha realizado algumas missões nível C e B, e até uma nível A, que fez meu Sharingan ativar pela primeira vez.


Eu sempre gostei de viver na Vila do Som, tinha orgulho de pertencer à vila que, com o passar dos anos, se tornou temida até por outros ninjas, e jamais passou pela minha cabeça a idéia de conhecer outras vilas ocultas. Entretanto, quando meu pai me mostrou pela primeira vez minha ficha de identificação para entrar em Konoha, meu coração bateu tão forte que parecia que ia sair do peito, e eu fiquei fitando aquele papel com o meu nome, foto e todas as informações sobre meus jutsus e missões pelo que pareciam horas.


- Sasuke - a voz preocupada da minha mãe me despertou da minha contemplação -, você não acha que ela ainda é muito nova?


- Bobagem - ele respondeu. - Nós tínhamos praticamente a mesma idade quando fizemos a prova pela primeira vez.


- Prova? - eu perguntei um pouco assustada, levantando os olhos do papel.


- Sim, querida - minha mãe respondeu. Ela estava com aquela cara quando a gente fazia alguma coisa que ela não aprovava. Só que desta vez, ela estava brava com o meu pai. - Esta é a sua permissão para entrar em Konoha, onde será realizado o próximo exame chuunin.


- Exame chuunin? Mas pai - eu voltei meu olhar para ele, ainda em dúvida -, você não nos falou nada no treinamento hoje. O Raiko e o Yiuki não vão comigo?


- Eu quis lhe fazer uma surpresa - meu pai respondeu, abaixando-se na minha frente, até que nossos olhos ficassem na mesma altura. - Vocês partirão como um time. Se eu achasse que algum de vocês não fosse capaz, nenhum dos três poderia participar do exame.


Eu deixei que um sorriso largo se formasse no meu rosto. Estava orgulhosa por ver que meu pai confiava nas minhas habilidades como shinobi e não o deixaria se arrepender de ter me indicado para o exame. Ele sorriu para mim de volta, como só fazia quando estávamos na privacidade da casa do Otokage. Minha mãe, entretanto, ainda parecia preocupada.


- Sasuke, eu ainda acho que ela é muito nova. Vocês podiam esperar mais seis meses e...


- Sakura! - meu pai a interrompeu. Antes de ele se levantar e virar-se para ela, eu ainda vi seus olhos se estreitarem de raiva. - Você está dizendo que eu não tenho capacidade para definir quando meus alunos estão prontos para um exame?


- Não - minha mãe se defendeu, assustada. - Eu só...


- Eu sou o Otokage - ele continuou, sem dar atenção a ela. - É a primeira vez que temos dois times de genins treinados adequadamente para participar desses exames e mostrar nossa força aos senhores feudais. - Ele aproximou-se mais dela, falando numa voz calma e firme, quase como uma ameaça. - Eu esperava que minha esposa entendesse o mínimo dos problemas da vila e não se deixasse levar por sentimentos maternais. É o que se espera de uma kunoichi na sua posição.


Meu pai tinha razão. A Vila do Som como era conhecida tinha apenas doze anos, habitada por ninjas seqüestrados pelo antigo Otokage. Apenas as crianças que nasceram após a reconstrução da vila haviam recebido o treinamento padrão de um ninja, participando das aulas na academia e se graduando como genins. E só haviam dois times com genins que cumprissem todas as exigências para participar daquele exame, o do meu pai e o do tio Suigetsu. Mostrar para os senhores feudais que a Vila do Som, mesmo pequena, era formada por shinobis fortes e valentes apesar da pouca idade era crucial para que conseguíssemos mais missões e, assim, garantir a prosperidade da vila.


Eu senti um frio na barriga ao pensar naquilo. Meu pai contava comigo, pela primeira vez, para fazer algo importante para a vila. E como todas as crianças do som, eu também idolatrava o nosso Otokage e já tinha decidido que, independente da opinião da minha mãe sobre meu treinamento ou das dificuldades que enfrentaria pela frente, eu partiria para Konoha em alguns dias.


Diante da figura imponente do meu pai, minha mãe também pareceu ceder e baixou a cabeça, indicando que ele havia ganho a discussão. Entretanto, quando ele deu as costas para ela, voltando-se para mim, outro assunto veio à tona:


- Isso significa que você também terá que acompanhá-los até Konoha - ela falou para o meu pai.


- Não, eu não posso deixar a vila por tanto tempo - ele respondeu, sem virar-se para trás. - Eles vão com o time do Suigetsu.


- Mas você é o Otokage - ela argumentou. De frente para minha mãe, eu podia ver o olhar sarcástico dela para as costas do meu pai. - Você deverá participar ao menos do torneio, na última fase do exame.


- Ah, sim - ele respondeu com indiferença. - Imagino que o Sexto Hokage ficará muito feliz em receber o Segundo Otokage, especialmente se ele for acompanhado da esposa - continuou, virando-se para a minha mãe com um sorriso cínico no rosto quando acrescentou as últimas palavras.


Minha mãe não respondeu. Apenas levantou os olhos para ele e o encarou com aquela expressão que fazia eu e meus irmãos tremerem de medo. No entanto, meu pai não se intimidava tão facilmente, e os dois travaram uma discussão em silêncio, apenas com olhares, que eu jamais poderia entender.


- Entendo - ela respondeu finalmente, baixando os olhos. Depois, voltou-se para mim. - Boa sorte, filha. Parece que finalmente você vai conhecer a vila dos seus avós.


Ela disse aquilo com um sorriso triste no rosto, e então deixou a sala sem nem um relance para o meu pai. Mesmo com apenas onze anos, eu não pude deixar de sentir que alguma coisa estava errada.


- Pai, por que você não vai com a gente?


Ele voltou-se para mim e, com um suspiro cansado, respondeu:


- Eu sou o Otokage, filha, não posso largar os meus deveres para acompanhar um time de genins até outra vila. Eu já lhes ensinei tudo o que vão precisar para esse exame, e vocês poderão treinar com o Suigetsu e o time dele nas horas vagas.


Eu pensei por um momento, e então uma idéia que me parecia perfeita veio em minha cabeça.


- E por que a mamãe não pode ir com a gente? Ela também foi uma kunoichi e pode nos treinar no seu lugar enquanto estivermos em Konoha. E ela sempre fala que tem saudades de lá...


- Não! - ele respondeu categórico, com um olhar que dizia que não era uma boa idéia insistir naquilo. - Sua mãe tem seus irmãos para cuidar, e já está na hora de vocês agirem como verdadeiros shinobis e aprenderem a se virar sozinhos.


Eu fiquei com os olhos arregalados de surpresa e medo daquele ataque tão explosivo. A única coisa que consegui responder foi um "sim, senhor", e fui rapidamente para o meu quarto com a cabeça baixa. Eu já vira meu pai bravo daquele jeito muitas vezes antes, mas esta era a primeira vez que não sabia o motivo.




Continua...




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Notas finais do capítulo

N.A.: Alguns anos se passaram na fic, e a partir de agora tudo será contado pelo ponto de vista da narradora, Amisa Uchiha. Mas os fãs de SasuSaku não precisam desistir, afinal tudo começou com eles (e continua girando em torno deles...).



DICA: Reviews deixam a autora animada a continuar escrevendo... :P