A Folha e o Som escrita por BastetAzazis


Capítulo 1
Prefácio: Doze Anos Antes




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Capítulo 1: Doze Anos Antes


Todos conhecem aqui na Vila do Som a história de como o meu pai, o Otokage, travou uma guerra sanguinária contra a Vila da Folha apenas para seqüestrar a minha mãe. Dizem que ele a viu pela primeira vez quando Orochimaru-sama foi derrotado pelo Jinchuuriki de Konoha e jamais foi capaz de esquecê-la, a ponto de enviar todos os ninjas treinados pelo antigo Otokage para a Vila da Folha com a desculpa de vingar o nosso líder, apenas para trazê-la com ele.


É claro que tudo isso não passa de uma lenda, uma das muitas histórias que os pais contam para seus filhos a noite, apenas para enfatizar os atos de bravura do nosso Otokage. A Vila Oculta do Som é a mais recente vila ninja, e histórias como essa são necessárias para apagar o passado sombrio deixado pelo primeiro Otokage, Orochimaru-sama, e mostrar que somos ninjas tão fortes e poderosos quanto os ninjas da folha ou qualquer outra nação shinobi.


Entretanto, eu prefiro a história que a minha mãe me contava sempre que eu lhe perguntava, com lágrimas nos olhos, se o meu pai era realmente tão forte e tão cruel e impiedoso quanto diziam as lendas sobre ele. Ela me pegava no colo e sorria, e então me contava, sempre com os olhos brilhando, dos tempos que ela e o meu pai ainda eram genins da Folha. Como ela e todas as meninas da vila eram apaixonadas pelo meu pai, e como ele teve que deixá-la em Konoha por causa do selo de Orochimaru-sama e da sua promessa de vingança pelo clã destruído.


Minha mãe nunca deixou de amá-lo e treinou mais e mais para trazê-lo de volta. Foi apenas quando conseguiu reunir seu antigo time genin novamente, que também contava com o Jinchuuriki da Kyuubi, que o terrível Orochimaru e a organização interessada em reunir os bijuus foram derrotados. Mesmo assim, meu pai só voltou a Konoha depois de cumprir sua promessa: vingar os assassinos da sua família.


Dias depois que meu pai deixara minha mãe e seu amigo em Konoha uma vez mais para seguir sozinho atrás do irmão, ele voltou. Não com um exército de centenas de shinobis do som, mas acompanhado apenas do seu Time Hebi, formado pelo tio Suigetsu, tio Juugo e a Karin. E ele não precisou invadir a vila para encontrar minha mãe; mesmo sem nunca demonstrar seu amor por ela, eles deviam ter uma ligação muito forte, pois ela pressentira que ele estava a caminho e foi ao encontro deles antes mesmo que chegassem aos portões de Konoha. Na verdade, as histórias contadas sobre a invasão e o cerco de Konoha têm a cara do tio Suigetsu, e eu não duvido que tudo tenha saído da cabeça dele...


- Sasuke! - minha mãe gritou assustada quando o viu se aproximando pela floresta. Ele ainda tinha os olhos e as mãos sujos de sangue, e ela correu ao encontro dele. - Os seus olhos... O Sharingan... está diferente...


- Eu o matei, Sakura - ele confessou com lágrimas nos olhos. As lágrimas, misturadas com o sangue desciam pelo rosto dele, dando-lhe uma aparência assustadora. - Eu o matei e roubei os olhos dele. Eu me tornei o mesmo monstro que passei a vida inteira odiando.


Seus companheiros estavam alguns passos para trás, e imagino que não tinham ouvido nada do que eles conversavam. Mas é fácil entender porque o tio Suigetsu inventou tantas histórias sobre aquela noite, ele jamais admitiria que vira o Segundo Otokage, Sasuke Uchiha, chorando nos ombros da minha mãe. A imagem de um guerreiro sanguinário caberia muito melhor em seus propósitos.


- Está tudo bem, Sasuke - minha mãe tentou consolá-lo, abraçando-o. - Você voltou para casa. Eu e o Naruto vamos...


- Não - ele a cortou -, eu não posso voltar, Sakura. Eu não quero voltar.


- Mas... Sasuke? - ela o considerou, em dúvida.


- Eu não posso viver nesse lugar, com a maldição que cai sobre o meu clã. Eu não posso continuar com o destino de morte e assassinatos de cai sobre a minha família aqui.


- Mas então... por quê? - ela perguntou, lutando para que lágrimas não escorressem de seus olhos e o abraçando com ainda mais força.


Meu pai se soltou do abraço dela e a fez levantar o rosto para encará-lo diretamente nos olhos.


- Uma vez você esteve disposta a vir comigo - ele respondeu à pergunta não formulada. - Eu não podia levá-la daquela vez, Sakura, mas agora...


Ele ficou em silêncio por um instante. Deve ter sido difícil para um homem como ele dizer suas próximas palavras, mas ele aproximou-se mais dela, afastando-se dos seus companheiros para garantir ainda mais privacidade.


- Você disse que me faria feliz - meu pai continuou, desprovido de todo o seu orgulho. - Eu preciso de alguém que me dê felicidade, Sakura, ou vou enlouquecer como o meu irmão...


- Sasuke...


Minha mãe arregalou os olhos, assustada com o que acabara de ouvir. Ela imaginara aquele momento todos os dias desde que meu pai deixara a vila, o que significava alguns anos.


- Eu vou para a Vila do Som - meu pai explicou. - Agora que o Orochimaru está realmente morto, há vários prisioneiros que não têm para onde ir, precisando de um líder. Nós vamos formar uma nova Vila Oculta do Som, uma verdadeira vila ninja e não um laboratório para experiências insanas.


- E você quer que... que eu vá com você? - minha mãe adivinhou, sorrindo pela primeira vez naquela noite.


Meu pai respondeu acenando com a cabeça. Ela estava prestes a responder que sim, mas sentiu um frio na barriga ao pensar em ter que deixar seus pais e seus amigos para sempre.


- Sasuke! - um grito forte e feliz soou na floresta, vindo da direção de Konoha, despertando minha mãe de suas dúvidas.


O ninja que gritara apareceu logo em seguida, abraçando meus pais simultaneamente.


- Sasuke! Você está de volta! - ele berrou no ouvido dos dois. - Eu disse para a vovó Tsunade que agora que derrotamos a Akatsuki e o Orochimaru você voltaria.


Meu pai desvencilhou-se do abraço do amigo e o encarou seriamente:


- Eu não vou voltar, Naruto - ele respondeu. - Eu só vim aqui buscar a Sakura - completou, olhando para minha mãe.


Naruto olhou sucessivamente para meu pai e para a minha mãe, um olhar perdido, como se o chão tivesse acabado de se abrir sob seus pés.


- Sa... Sakura-chan? - ele virou com olhos suplicantes para minha mãe, perguntando silenciosamente se ela realmente o deixaria.


Ela não teve coragem de responder, apenas baixou a cabeça, evitando os olhos azuis do amigo.


- Por quê? - ele insistiu. - Nós lutamos juntos para trazê-lo de volta, Sakura. Nós só conseguimos vencer o Orochimaru juntando nossas forças... nós três! Eu pensei que éramos um time novamente...


Minha mãe continuou em silêncio.


- E então, Sakura? - meu pai perguntou quando o silêncio entre os três ficou insuportável. - Quem você escolhe, eu ou o Naruto?


Ela levantou os olhos, olhando ofendida para o meu pai. Ela e Naruto sempre foram amigos apenas, unidos pelo desejo de salvar o meu pai das garras do Orochimaru-sama, e agora ele a obrigava a escolher... uma escolha que não fazia sentido.


Mas minha mãe sempre teve um coração grande demais para uma pessoa segurar sozinha. Não foi apenas o amor incondicional que ela sentia pelo meu pai, mas a necessidade que ela lia nos olhos dele de alguém que pudesse apaziguar seus temores, seus pesadelos, as lembranças duras e desagradáveis que um homem com sua história carregava. Com a intenção de levar um pouco de paz e alegria ao meu pai, ela decidiu dar as costas à sua vila, à sua família, aos seus amigos. Mas ela não faria isso sem antes se explicar ao amigo que dividia o mesmo sonho de reunir seu antigo time novamente.


- Naruto... - a voz dela era quase um sussurro enquanto ela se aproximava do amigo. - Eu tenho que ir. O Sasuke precisa de mim.


- Mas... Sakura-chan - ele murmurou com lágrimas querendo transbordar dos enormes e sempre sinceros olhos azuis -, por que vocês precisam ir embora? Por que vocês não ficam aqui?


Ela parou a menos de um palmo dele e, sem que meu pai pudesse escutá-la, murmurou:


- O Sasuke está... - ela vacilou, procurando a palavra certa. - Ele ainda está abalado com tudo o que aconteceu, com tudo o que descobriu sobre o irmão e o clã Uchiha. Se eu deixar ele partir sozinho, acho que o perderemos para sempre.


- Mas Sakura, eu...


- Nós vamos voltar um dia - ela disse, impedindo-o de continuar. - Eu prometo. - Um sorriso desajeitado formou-se em seu rosto.


Naruto desviou os olhos da minha mãe e os pousou mais a frente, na figura do meu pai.


- Sasuke! Eu não vou deixar você levar a Sakura!


Ele empurrou minha mãe e partiu em direção ao meu pai, mas um ataque direto contra aqueles olhos era quase impossível e, antes que alguém percebesse qualquer movimento, já tinha uma espada encostada em sua garganta. No instante seguinte, os três companheiros do meu pai os cercavam, observando atentamente os movimentos de Naruto.


- Sasuke, não! - minha mãe suplicou, correndo até eles. - Eu vou com você. Eu quero ir com você. Mas, por favor, não faça nada contra o Naruto.


Um brilho furioso saía dos olhos do meu pai. O rosto ainda sujo de sangue realçava ainda mais o vermelho escuro dos seus novos olhos, mostrando a fúria que crescia dentro dele. Minha mãe sabia que naquele estado ele já havia perdido a razão e a única coisa que conseguiu fazer foi abraçá-lo fortemente pelas costas.


- Sasuke, por favor - ela sussurrou no ouvido dele, as lágrimas escorrendo abundantemente dos seus olhos. - Isso só vai torná-lo igual ao Itachi.


Vagarosamente, meu pai abaixou a espada, e seus olhos, vermelhos e furiosos, voltaram para o preto inexpressivo.


- Vamos, Sakura - ele disse, voltando-se para a minha mãe. - Vamos embora.


- Mas... - Ela olhou mais uma vez para o Naruto e depois voltou a encarar meu pai. Ele queria que ela fosse com ele imediatamente, com a roupa do corpo, sem tempo para se despedir de ninguém. Sabendo que jamais se perdoaria se desistisse naquele momento, ela baixou a cabeça em assentimento.


Meu pai a segurou pelo braço, e ela deixou ser levada para longe de Konoha e do país do fogo. Com os demais integrantes do Time Hebi protegendo meus pais, Naruto sabia que era inútil correr atrás deles. Ele nem sequer tinha forças para persegui-los. Minha mãe, seu amor de infância, tinha escolhido fugir com o seu melhor amigo. Ele sempre soube que ela era apaixonada pelo meu pai, mas naquela noite, ele não tinha como fechar os olhos e negar que a sua Sakura-chan jamais seria sua realmente.


Continua...


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Notas finais do capítulo

N.A.: Acho que essa fic é bem diferente do que eu já escrevi sobre Naruto, espero que gostem.

DICA: Reviews deixam a autora animada a continuar escrevendo... :P