Destino escrita por Winchester B


Capítulo 13
XII - Where it all start to tremble ..


Notas iniciais do capítulo

AVISO: Este capítulo contém altos índices de drama, filosofia barata e música clássica. Para aqueles que entram em depressão facilmente e/ou filosofam muito, passem longe do capítulo. Boa sorte.

Música: Snuff - Slipknot



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Capítulo 12 -  Where it all start to tramble

 

Sentei bem longe de todos, encostada em um carvalho velho. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu as segurei e respirei fundo para me controlar. Como fui estúpida de pensar que poderia ter uma vida normal.

 

Não queria ter sido grossa com Tom, ele estava totalmente certo em não acreditar em mim, mas finalmente percebi que quanto maior a proximidade com as pessoas, maior o risco de que elas descubram meus segredos e que se machuquem por causa disso. Minha burrice poderia ter custado uma vida!

 

Ia falar com vovô e vovó e pegar um ônibus para o Alabama, me juntar aos meus pais e caçar; o que eu nunca deveria ter deixado de fazer.

Fiquei alguns minutos sentada sozinha, pensando no que fazer, até que senti alguém sentando do meu lado.

 

- Você está bem? - questionou o Dirci.

 

- Sim – afundei o rosto entre as pernas para que ele não visse meu rosto – Você não precisa me contar mais nada, vou embora hoje mesmo.

 

- Porque? - ele perguntou docemente – Vai desistir tão cedo.

 

Olhei para ele, que fitava o céu, como se quisesse fazer parte dele.

 

- Você mal chegou aqui Elizabeth – ele falou desviando o rosto – Tem de aprender a lidar com a situação ou vai ficar louca. Mentiras são recorrentes em nossa área, tanto quanto a perda. E mesmo que tudo isso doa e seja difícil, é necessário.

 

- Você não entende Dirci... Tudo o que tenho é insanidade¹. Pela primeira vez em anos eu consigo socializar com pessoas normais, mas acabo fazendo besteira. Porque tudo o que eu realmente tenho, é a porcaria da minha vida de caçadora. Nem sei porque estou te dizendo tudo isso...

 

- E porque você acha que eu não entenderia? - ele sorriu – Estou na mesma situação que você, talvez pior, mas você não me vê por aí chorando pelos cantos. As pessoas vão te ignorar e você vai acabar ficando excluída, isso é fato; mas você não pode parar de tentar. Como diria William Shakespeare, “Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar”. È exatamente isso o que está acontecendo com você, e olha que já conquistou alguns amigos aqui! 

 

- Não creio que eles queiram ser mais meus amigos...

 

- Só porque vocês brigaram? Isso é bastante comum quando se tem amigos Elizabeth.

 

- Como você sabe disso? - me surpreendi e o encarei.

 

- As paredes tem ouvidos minha cara – disse me encarando também e sorrindo – Enfim, passarei na sua casa às 20:00 hs para conversarmos e espero que você esteja lá, ok? - deu um beijo na minha testa, se levantou e saiu andando na direção da escola.

 

- Hey! - ele berrou para mim já no meio do caminho.

 

- O que?

 

- Me chame de Matthew! - e se virou novamente.

 

Passei o restante do intervalo pensando nas palavras do Dirci. Até certo ponto ele tinha razão, sobre o papo de tentar e tudo o mais. Eu só não sei como lidar com isso e o quanto que eu devo me preocupar com as pessoas, porque tenho certeza de que alguém ainda vai sair machucado nessa história.

O sinal tocou e eu entrei na escola, decidida a ir realmente embora para o Alabama após passar em casa. Assisti às últimas aulas – que Tom e Sam não estavam – e depois sai andando rapidamente para ir embora.

Após alguns minutos andando, senti que estava sendo observada. Peguei minha faca na bota e virei, prester a matar quem quer que fosse, mas era somente Tom.

 

- Venha Liz, entre no carro! - apontou para o New Beetle parado a uns 50 metros dali – É longe a pé, principalmente sozinha.

 

- Não, obrigado – disse e voltei a andar.

 

- Mas que droga Elizabeth! Será que ao menos uma vez na sua vida você não pode parar de ser estupidamente teimosa? - disse praticamente berrando – Entra logo nessa merda desse carro ou eu vou aí te buscar.

 

Ele foi até o carro e o dirigiu até onde eu estava, depois berrou novamente para que eu entrasse . Entrei, mas somente porque eu tinha certeza de que se eu não entrasse, ele realmente iria me buscar.

 

Ele dirigiu em silêncio, e eu não tive coragem de dizer nada. Fez o trajeto até nossas casas, mas não parou quando passou por elas, simplesmente continuou dirigindo. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele me mandouficar quieta; e falou tão calmamente, que parecia uma psicopata falando com sua vítima. Fiquei alerta. O que diabos estava acontecendo?!

 

Finalmente ele parou o carro – em um parquinho para crianças que estava vazio devido ao horário – e desceu, sem me falar nada; indo se sentar na balança e batendo na outra ao seu lado, como se fosse para que eu me sentasse também.

Fui até lá e sentei. Tom ficou balançando levemente por um tempo e depois parou, se virando e me fitando.

 

- Eu fiz alguma coisa errada Liz? - perguntou magoado?

 

- Tom... - suspirei – Você não fez nada de errado, eu que sou estúpida e idiota. Me desculpe pelo que eu disse.

 

- Tudo bem Liz – ele respondeu enquanto olhava para o céu – Não precisa ficar inventando desculpas para querer se afastar, eu sei o quanto posso ser irritante.

 

- Eu não quero me afastar de você Tom, eu preciso! - peguei na mão dele e ele finalmente olhou pra mim – Existem coisas sobre mim, que você e nem ninguém podem saber, seria muito arriscado se soubessem. Eu não quero ser uma má amiga, que vive mentindo e ocultando as coisas; por isso vou embora hoje mesmo.

 

- Elizabeth minha cara, eu não me importo que você oculte coisas de mim; só quero que você seja franca, exatamente como fez agora – ele levantou, me forçando a levantar também – E eu não me importo com o perigo ou qualquer outra coisa, eu só quero que você fique aqui – disse e me abraçou.

 

Retribui com todas as minhas forças e ficamos um bom tempo abraçados ali, como se nada no mundo fosse mais importante do que aquele momento.

 

- Sinceramente? - ele disse me soltando e sorrindo – Acho que já tivemos nossa cota de melodrama por hoje. Vamos para casa.

 

Eu ri e segui com ele para o carro. Quem visse a cena provavelmente diria que éramos dois idiotas felizes, o que naquele momento não deixava de ser verdade.

Entramos no carro e eu logo pluguei o mp3 e apertei play.

 

-Finalmente alguma coisa boa Liz! - disse enquanto dirigia pelas ruas desertas – Butterfly Etude é a minha favorita dele.²

 

- Peraí, você gosta de música clássica? - questionei incrédula.

 

- Mas é claro! Mil vezes melhor um Mozart ou Debussy do que as suas músicas barulhentas.

 

E eu que achava que já tinha visto de tudo, me ferrei. Mas isso meio que explica a excentricidade leve de Tom. Só faltava ele falar que era pintor também, e que iria cortar sua orelha algum dia³, aí eu ficaria com medo.

 

Tom parou o carro em seu jardim, deu a volta e abriu a porta do passageiro para que eu saísse. Me deu um abraço novamente e disse que se eu fosse embora, ele ia me buscar onde quer que fosse.

 

 


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Notas finais do capítulo

¹ – All I've got is insane ( trecho de Duality – Slipknot)

² - No caso está se referindo à Chopin – Butterfly Etude (http://www.youtube.com/watch?v=rosYAcJ7zyA)

³ – Alusão à Van Gogh.



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