A vez de Lacey escrita por Camélia Bardon
Notas iniciais do capítulo
De novo estou atrasada com a postagem, me perdoem. No capítulo a seguir apresentamos:
— croquet
— críquete
— ou croquete?
— Bem, eu vou indo, se não se importar — Lacey sorriu, voltando a segurar a flor com cuidado. — Edeline está me esperando para uma partida de badminton... Acho que as chances de tropeçar são menores que o croquet...
Luke riu respeitosamente. Em seguida, realizou uma mesura inclinando a cabeça para baixo. Quando sua boina caiu dos cabelos castanhos, Lacey não fez esforço nenhum para segurar a risada. Apesar de ter se abaixado para resgatá-la na velocidade da luz, Luke parabenizou-se por dentro por tê-la feito rir. A princesa imitou-o com bem mais delicadeza e prática.
— Tenha um bom jogo, Alteza.
— Obrigada, Luke... E obrigada pela conversa também — ela acrescentou num tom mais baixo, fitando-o com seus olhos azul-turquesa. Olhos bondosos e compreensivos, que Lacey infelizmente não sabia serem de outra perspectiva. — Espero não ter atrapalhado seu serviço.
— Sempre tenho espaço em meus afazeres para ouvi-la, Alteza.
Rindo baixo, Lacey retirou-se de volta para irmã mal se contendo. Eram raros os momentos que se sentia mais do que a irmã caçula em meio a uma casa enorme, e aquele era um deles. No entanto, ao perceber que sorria demais sem ter concluído sua busca pessoal, Lacey condicionou-se a endurecer as feições simpáticas. Sim, agora seria uma dama feroz. Uma dama feroz com uma peteca. E uma raquete! Quer dizer... Lacey supunha que era um jogo a ser jogado com uma raquete.
Suspirando, Lacey abanou uma mão na frente do rosto. Infelizmente, não foi possível o gesto passar despercebido pelas gêmeas.
— Olhe, ela está ficando louca! — Edeline sorriu para a mulher ao seu lado, caçoando da mais nova sem qualquer resquício de maldade.
— É a convivência com você — Delia devolveu a farpa bem-humorada. Às vezes, Lacey pensava que elas viviam para competir quem das duas era a mais petulante. Silenciosamente, Lacey adorava assistir. — Está a deixando biruta!
— Meninas, meninas... Não queremos começar uma guerra ao entardecer, sim?
Delia e Edeline resmungaram, segurando seus malhos como se fossem armas. Apesar da implicância, ambas eram carne e unha. Poderia ser clichê afirmar que dividir uma gestação fizesse com que as duas crescessem tão unidas – afinal, ela e Janessa e Kathleen também haviam passado por esse processo e não eram exatamente grudadas –, mas no caso de Edeline e Delia essa era a lei. Lacey tinha pena de quem ousasse mexer com aquela dupla.
Não é à toa que associam as madressilvas à expressão de amor fraternal...
— Quem sabe outro dia, não? Delia, será que você pode, por favor, buscar as raquetes?
— Já que está pedindo com tanto jeitinho, eu vou. Mas não garanto que eu não vá te acertar com elas enquanto não está olhando.
Edeline revirou os olhos, enquanto Delia fazia um passeio até o “galpão de esportes” que ambas deixavam ali para facilitar o acesso. Lá estava a número 5, Lady Impiedosa, Sua Alteza mais agradável do que a gêmea porém tão perigosa quanto. Lacey permaneceu olhando, ao passo que a gêmea mais nova se antecipava na explicação:
— Imagino que a essa altura saiba que temos regras próprias.
— Sei! Mas até agora não sei se isso é bom ou ruim...
— É... Um pouco dos dois. É claro que treinamos do jeito tradicional, porém às vezes fica chato demais. Geralmente do nosso jeito as coisas ficam um pouco mais... Hum...
— Agressivas? — Lacey sugeriu, com um sorriso atrevido.
Edeline concordou com a cabeça, dando de ombros como se aquele fosse um ponto inquestionável e incorrigível. Daí, a mais velha entregou a raquete para Lacey, ansiosa para dar início ao jogo.
— Começamos com o campo... Como não temos uma rede, fazemos nossa divisória com esse belo arbusto — Edeline gargalhou para o monte de folhas. — Esse lado aqui é o meu. O lado oposto é o seu. Na verdade, tanto faz, mas esse lado aí que eu te deixei é mais difícil de tropeçar.
— Ei!
— Está bem, está bem. Preste atenção. O jogo se inicia com um saque. O jogador oposto faz a sua defesa rebatendo a peteca para o outro lado do campo, e assim sucessivamente. Quer tentar uma vez?
Lacey assentiu corajosamente com a cabeça, ao passo que Edeline simulou um saque com a peteca. Simulou? Não, não. Ela estava sacando mesmo. Lacey acompanhou o movimento dos braços e da raquete com atenção, no entanto não prestou tanta atenção quanto à parte que participaria – a defesa. Enquanto a peteca voava firme em sua direção, Lacey não imitou ou tentou imitar o movimento da irmã. Pelo contrário, a peteca fez um movimento tão majestoso e rodopiante em sua direção que Lacey não pode fazer nada a respeito senão olhar. E Lacey continuou olhando enquanto a peteca atingia o centro de sua testa.
— Ai...
— É a segunda vez hoje que você diz isso, Lace — Edeline gargalhou, indo recolher a peteca. — Era para você rebater ela!
— Eu sei... Mas não deu tempo...
— Sabe o que podemos fazer? Essa partida pode ser um teste para ver se você pega o ritmo e gosta. O que acha?
Dessa vez, Lacey assentiu a contragosto. Se todas as tacadas fossem lhe produzir uma vermelhidão no rosto, ela já não tinha mais tanta certeza de que fosse pegar o ritmo. Afinal, quem gostava de petecas velozes te atingindo?
— Muito bem. Vamos começar, então.
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Demorou um tanto até que Lacey pegasse o jeito com as raquetes e com as petecas. Ora elas vinham devagar demais, ora rápido demais. Fosse como fosse, foi até divertido, porém era um tanto quanto humilhante bater no vácuo enquanto a peteca voava bem ao lado de seu corpo.
Lacey repassava as regras enquanto rebatia – melhor dizendo, quando conseguia rebater. Não encostar-se à rede... Ou no arbusto. Não invadir o espaço alheio. E nada de dois toques seguidos no mesmo lado do campo. Enquanto as duas se matavam dos dois lados do arbusto, Delia contava os pontos no mesmo caderninho de anotações com o qual haviam contado os pontos do badminton. Quando o jogo finalizou com o placar de 9 x 21, Edeline e Lacey desmontaram lado a lado no banco do jardim.
— Nossa, eu estou um caco — Edeline suspirou, apoiando o queixo na raquete. Lacey concordou com a cabeça, sentindo cada músculo do corpo arder. Exercícios físicos faziam bem para a saúde, mas Lacey duvidava que com tantas camadas de tecido fizessem homens suar daquele jeito. Céus, um banho cairia bem demais! Se houvesse sobrado alguma força em Lacey, ela a usaria para correr para a banheira, isso sim... — E aí, se divertiu, tampinha?
— Bastante! Quer dizer, todos os momentos em que a bola não veio de encontro ao meu rosto, certo?
— Posso garantir que isso aconteceu com nós duas. Quando começamos, o papai e a mamãe tinham que nos mandar para a área hospitalar com uma frequência inquietante.
— E geralmente a culpa era mais sua do que minha — Delia acrescentou com um tom doce.
Edeline estreitou os olhos para a irmã, numa ameaça silenciosa. Por sua vez, Delia gargalhou e levantou-se de supetão. Lacey invejou sua disposição, ainda mais por ter a metade da idade das gêmeas.
— Eu vou tomar banho. Quem vem comigo?
— Eu! — Lacey disparou. — Meu Deus, tem suor em lugares dos quais eu nem sei o nome!
Foi a vez das mais velhas rirem de seu comentário. Lacey, por sua vez, permitiu-se ser carregada de brincadeira pelas mais velhas, compartilhando uma boa dose de risadas pelo caminho. A altezinha deveria admitir que não passava tanto tempo com as irmãs quanto deveria, por pensar que por não terem muito em comum – fora a dança, é claro – isso as afastava. Porém, olhando pelo ponto de vista do momento atual, Lacey percebia que podia fazer um esforço para fazer parte do que as irmãs gostavam e que isso não era nenhum sacrifício.
Enquanto secava o excesso de água do cabelo, Lacey mirou a si mesma no espelho. Ao notar que a vermelhidão das petecas em seu rosto não sairia tão cedo, apenas suspirou. Acostumadas a crescerem cuidando umas das outras e a crescerem apenas com a companhia umas das outras, as princesas nunca contaram com camareiras. Portanto, cada uma havia aprendido com o tempo técnicas de cuidado e estética que fossem lhe servir para os cabelos e a pele. No entanto, Lacey nunca negava uma ajudinha aqui e ali.
— Eu acho que sobrou um pouquinho da minha pomada — Janessa opinou, analisando a gravidade das queimaduras. — O que é que foi isso, um cometa atingiu você no rosto?
— Não, foi uma peteca... Na verdade, acho que foram umas três. Ou quatro... Eu parei de contar depois da segunda.
— Meu Deus. Mas como é que isso foi acontecer? Para uma eu até entenderia, mas três ou quatro?
Lacey riu, observando-a enquanto Janessa resgatava a tal pomada mágica. Lacey pouco entendia de cosméticos, então tudo aos seus olhos era mágico e/ou milagroso – sobretudo as misturas botânicas que a irmã fazia. Bem, não era à toa que alguns antepassados de mente fechada chamavam aquilo de bruxaria...
— Eu pedi para jogar com elas, na verdade... Não foi nenhum acidente. Quer dizer, foi um acidente, mas de certa forma proposital. Quer dizer... Ah, eu não me surpreendi, estava preparada para isso.
— Pelo menos ninguém sugeriu de jogarem críquete... A bola é bem mais pesada que uma peteca.
— Imagino que tenha seus prós e contras. A peteca é mais leve, porém acho que num campo mais aberto a velocidade em si seja mais prejudicial do que o peso. Paul me disse que a velocidade de um objeto leve implica no seu trajeto... Funciona com badminton.
— Esse é um papo muito numérico para mim — Janessa franziu a testa de um modo cômico, arrancando uma risada da gêmea caçula. — Nem sei os nomes dos esportes direito.
— Nem me fale. Eu achava que croquet e críquete eram os mesmo esportes até um tempo atrás. Se eu fosse a pessoa que os nomeou, faria um esforcinho em inventar nomes diferentes.
— Veja pelo lado bom. Badminton se chama badminton por conta que foi jogado pela primeira vez em Badminton House.
Janessa voltou os olhos azuis escuros para irmã, erguendo uma sobrancelha.
— Nossa, é muito mais original. Seria a mesma coisa que eu descobrir uma nova espécie e chamar de Janessa.
— Ao menos, fez história! — Lacey riu, passando a pomada nos pontos sensíveis do rosto. — Obrigada. Amanhã eu te digo se funcionou ou não.
— Ok... Amanhã vou descer na Courtney para minha aula de biologia. Capaz que eu mesma precise dela amanhã.
Lacey assentiu, deixando a toalha de lado para escolher um pente na cômoda. Janessa parecia muito absorta nos próprios pensamentos para notar sua hesitação ante ao próprio reflexo, no entanto Lacey continuou se arrumando olhando poucas vezes no espelho além do necessário.
De tudo que os dezesseis anos prometiam, ninguém havia antecipado à Lacey que as inseguranças vinham bem mais fortes do que a magia.
— Kathleen ainda não terminou o quadro? — Lacey indagou, engolindo em seco para afastar os próprios pensamentos perigosos. — Daqui a pouco ela vai tomar o lugar de Genevieve como a atrasada da família.
— Isso sim seria um evento! — por sua vez, Janessa parou ao seu lado para pegar sua fita de cabelo. Kathleen certamente teria um nome específico para aquela tonalidade de azul, mas na humilde opinião de Lacey os dois tons de azul, dos olhos e da fita, faziam um lindo contraste. Lacey não tinha a mesma sorte com o tom favorito de lilás e o turquesa dos olhos... — Ah, ela vai parar quando estiver com fome. O que vai acontecer já já, uma vez que nós sempre jantamos no mesmo horário.
— Deve ter algum estudo para explicar isso. Só sei que eu chamaria de “relógio biológico”.
— É um bom nome. Mas o meu papo não são números nem humanos.
— Insetos, de fato, são bem mais fáceis de lidar...
Janessa assentiu com a cabeça, prendendo os cabelos castanhos com a faixa. Lacey agradeceu pelo assunto dos insetos não se estender por mais tempo, porque Lacey estava mais interessada no jantar do que encarar a irmã em seu estado linguarudo. Portanto, foi com prazer que Lacey sorriu enquanto Edeline enfiava a cabeça para dentro do quarto para convocar:
— O jantar está na mesa, e eu estou esfomeada. As altezinhas vêm ou vou ter que carregá-las nos ombros?
— Eu vou nos ombros! — Janessa gargalhou, levantando animadamente.
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