Hinata-mama escrita por Janus


Capítulo 1
Hinata-Mama




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 Dez minutos observando do alto da árvore e nem sinal dele. Realmente tinha aprendido bem a se esconder. Seria um grande shinobi um dia, caso o desejasse. Mas não era de seu interesse incentivar isso. Não diretamente. O pai sem dúvida ia querer tal coisa – se estivesse vivo – mas ele ainda era muito novo para entender o mundo dos ninjas e suas dores. Por enquanto era uma criança que se divertia aprendendo capacidades novas e interessantes, como poder manipular o chackra e se ocultar assim.

 Ainda estava na academia – insistência do próprio, vendo outras crianças do orfanato em que vivia se interessarem em ir para lá depois de muitas histórias dos mais velhos.

 Quer dizer, historias dos que sobreviveram à quarta guerra.

 - Muito bem garoto – começou ela um pouco sem paciência – você sabe se esconder muito bem, mas se não quer que eu perca a paciência, melhor aparecer agora.

 Cruzou os braços e aguardou, sentindo a brisa mover sua saia lentamente. Nada! Nem sinal de movimento ou aproximação. Nem um som feito pela criança que ela tinha pego naquele dia no orfanato para tomar conta e dar uma “supervisão maternal” como a diretora tinha dito.

 Era uma praxe comum que fora iniciada pela própria Hokage, e isso justamente com aquele garoto, três anos antes. Tinha tido um efeito tão grande em seu humor que a diretora do orfanato decidiu testar o mesmo com as outras crianças, as outras órfãs da guerra. O resultado tinha sido encorajador.

 E desde então, ela até que aguardava ansiosa pelo dia em que poderia agir como “mãe” para aquela criança de nove anos agora que se escondia dela na floresta, perto do campo de treino onde seu antigo time, o time oito tinha utilizado quando era uma genin.

 Deu um pequeno salto e pousou no solo da mata, ainda mantendo os braços cruzados e observando ao redor com um sorriso nos lábios. Pelo jeito ele queria mesmo aquele sorvete.

 Tinha pego o garoto pela manhã e o acompanhou por todo o dia, chegando mesmo a fazer o almoço dele na sua casa. Tinha ficado surpresa no quanto ele era parecido com o pai, e também nas coisas em que era diferente. Uma delas era o fato dele não ser fã de ramem... Ele não entendeu porque ela tinha gargalhado ao descobrir isso, muito menos entendeu o porque dela as vezes quase chorar de emoção perto dele quando fazia algo que lembrava o pai, como ser impulsivo para decidir fazer algo sem imaginar ou simplificando as conseqüências.

 - Muito bem rapazinho.. minha vez!

 Ela acionou o seu byakugan e fez um pequeno giro com a cabeça. Localizou-o facilmente atrás do tronco de uma árvore a apenas dez metros de onde estava. Nossa! Ele estava tão perto assim e não o percebeu ali?

 Saltou para trás para apoiar as pernas na arvore em que acabara de descer e impulsionou-se na direção dele, agarrando o tronco da árvore com a mão direita e usando-a como apoio, girou o redor dela e parou acima dele, com os pés colados no tronco. Ele não tinha reparado nela ali.

 Com cuidado e devagar, ele levou sua mão esquerda até a sua cabeça e com um olhar de pirraça beliscou a orelha dele.

 - Ai!!! – gritou ele de susto e de dor movendo-se para se afastar e tropeçando nas próprias pernas nesta tentativa, caindo ao chão.

 - Te peguei – disse ela rindo.

 - M-mas – começou ele a olhando e não acreditando que ela estava literalmente andando de lado no tronco de uma árvore – c-como... quando...

 - Já esta ficando tarde mocinho – ela desceu do tronco.

 - Meu sorvete – murmurou ele com cara de choro.

 - Tudo bem, eu te compro o sorvete, mas depois do jantar. Agora vamos.

 Seu olhar de choro mudou rapidamente para um rosto alegre de criança.

 - Eu te amo, Hinata-mama – falou bem alto a abraçando na cintura.

 Sua surpresa foi tão grande que ficou sem fala naquele momento. Seu rosto começou a ficar vermelho como há muito tempo não ocorria.

 - Algo errado? Perguntou ele curioso com a vermelhidão de seu rosto.

 - N-não – ela sorriu e começou a fazer alguns movimentos estranhos com seus dedos – é que... porque me chamou assim?

  - A diretora disse que você ia ser minha irmã mais velha ou mãe por um dia, me pareceu mais uma mãe que uma irmã – ele a olhou mais curioso ainda pelo movimento que fazia com os dedos – A Hokage-neechan parece uma irmã, mas você pareceu mesmo uma mãe.

 - E-eu... Naruto-k... quer dizer.. – ela ficou muito nervosa e começou a falar coisas sem sentido, mas parou com o que pensava ao ver o garoto tentando fazer algo com as mãos – o que.. o que está fazendo?

 - Tentando te imitar. Achei legal – e ele continuava a mover os dedos de ambas as mãos em círculos um ao lado do outro.

 - Imitando? – ela olhou para as próprias mãos e deu um grito de susto – Não faça isso! – mandou ela colocando ambas as mãos para trás e tentando se controlar. Pelo jeito, o movimento que fazia com os dedos era intimamente ligado a quando ficava envergonhada. E nem se dava conta disso.

 - Mas é divertido – tornou ele ainda tentando fazer igual ao que ela fazia.

 - Se continuar, não vai ter sorvete! – disse com cara brava.

 - Ta bom... eu disse que você agia como mãe para mim...

 Ficou corada novamente, mas controlou seus dedos desta vez.

 - Vamos indo.

 Ela colocou a mão no seu ombro e o induziu a acompanhá-la de volta a vila. Tinha sido um belo dia com o garoto. Chegava mesmo a se agoniar com a decisão que tinham tomado anos atrás. No entanto, para manter aquela criança a salvo e sem precisar crescer a sombra do pai, valia a pena o sacrifício.

 Pelo menos foi a mentira que disse para si mesma. Mas ficar um dia com ele lhe mostrou o quanto ela perdeu de seu crescimento.

 - Hinata-mama – começou ele enquanto andavam – como você faz para andar nas arvores?

 - Isso é algo que você irá aprender depois que se formar na academia – respondeu ela bagunçando o cabelo liso do pequeno loiro – mas é algo que todo ninja aprende a fazer, e a andar na água também.

 - Serio? – ele parecia que tinha ganhado um brinquedo novo – demora muito para aprender?

 - Alguns dias – respondeu ela – mas não precisa ter pressa. Mesmo porque você ainda não tem chackra o bastante para manter isso por muito tempo. Mesmo que aprenda vai acabar caindo das arvores depois de alguns minutos.

 - Droga – bufou ele desgostoso

 Hinata riu intimamente com o jeito dele. Igual ao do pai.

 - Mas você aprendeu bem a se esconder – continuou ela o incentivando.

 - Mas você me achou – ele estava emburrado – não sei como fez isso.

 - Segredo – disse ela sorrindo.

 Andaram mais um pouco, a vila estava ainda longe e o céu avermelhado indicava que a noite apesar de próxima iria demorar um pouco ainda.

 - Porque me deram este nome? – perguntou ele de surpresa.

 - Como?! – ela não entendeu.

 - Meu nome – ele repetiu – ninguém me responde porque recebi esse nome. Porque tenho o nome do quarto Hokage? As outras crianças do orfanato vivem me incomodando com isso. Não que irrite muito, mas quando demoro para aprender ou fazer algo ficam me chamando de relâmpago apagado...

 Ela parou de andar e ficou observando-o atentamente, imaginando como responder àquela pergunta.

 - Hinata-mama? – chamou ele um pouco confuso com a sua reação.

 Ela olhou de um lado para o outro, imaginando se algum ANBU estaria por ali. Certamente estava. Eles sempre ficavam a espreita observando as coisas nas cercanias da vila, e com ela com o garoto ali, certamente havia pelo menos um deles os observando a distancia.

 - Sua mãe disse que era o desejo de seu pai – respondeu ela lentamente, com a voz levemente trêmula e se contendo para não deixar nenhuma lagrima sair de seus olhos.

 - Você conheceu minha mãe? Sabe quem foi meu pai?! – ele estava genuinamente surpreso. Por toda a sua vida, todos falaram que seus pais eram desconhecidos e que tinha sido encontrado nos escombros de Konoha após a grande luta entre Naruto – agora já chamado de lendário – e Sasuke, assim como muitas das outras crianças do orfanato.

 - Não – respondeu ela andando novamente, para não chamar a atenção de ninguém com aquela parada na caminhada – eu não sei quem foi seu pai. Quanto a sua mãe, não posso dizer que sei quem é. Ela... – estava hesitando no que falar para ele – ela disse isso para quem o resgatou.

 - Quem foi, Hinata-sama? Sabe quem me salvou quando eu era um bebê?

 - Minato-kun – murmurou ela mantendo o passo lentamente – você vai ter que me prometer nunca dizer isso para ninguém.

 - Eu prometo – disse ele erguendo a mão direita aberta para ela sem nenhuma hesitação.

 Ela sorriu acanhada ao vê-lo fazendo isso.

 - Fui eu quem levou você para o orfanato – disse ela com cuidado, tentando mostrar que era uma conversa normal para quem quer que estivesse observando-os a distancia. E ela tinha certeza de que os observavam – eu peguei você ainda um recém nascido dos braços de sua mãe. Ela estava agonizando, mas me disse como queria que se chamasse, e o porque disso.

 Ele parou de andar e olhou surpreso para ela, mas esta o segurou no ombro e o forçou a continuar andando.

 - Nunca repita isso para ninguém, Minato-kun. Nunca! – ela estava muito seria agora – não sei quem era sua mãe porque seu corpo nunca foi reconhecido depois disto. Ela esta enterrada como uma das pessoas não identificadas no cemitério da vila, como alguns dos pais de seus colegas do orfanato.

 Sentia estar apunhalando o seu próprio coração, mas tinha que manter a versão oficial dos fatos. E tirando o fato de falar que não conhecia a mãe e o pai dele, não tinha mentido em mais nada. Difícil era controlar os seus olhos que teimavam em tentar verter lagrimas.

 - Não vou falar para ninguém, Hinata-mama. Eu juro. Vai ser o nosso segredo.

 Ela sorriu satisfeita, sentindo um certo orgulho pelas palavras dele.

 - Acho que é por isso que você agiu mais como mãe para mim hoje do que as outras.

 - Talvez – mas vamos indo.

 Ela o levou para a sua casa onde fez um jantar para o mesmo que ele devorou com gosto, a deixando feliz e sem jeito ao mesmo tempo. Depois, a caminho do orfanato, lhe comprou o sorvete prometido e este o lambeu bem devagar no caminho restante. Ao chegarem a entrada, ele tinha acabado com o sorvete poucos segundos antes.

 - Bem, aqui estamos nós rapazinho. Se comporte viu? E nada de ficar dando em cima das meninas aqui.

 - Dando em cima? – ele não tinha entendido aquilo.

 - Acho que ainda é cedo para você, mas você vai entender no futuro. Bem Minato-kun, boa noite. Você acabou me surpreendendo hoje, foi bem comportado.. – ela franziu o cenho ao falar aquilo – menos quando foi mostrar sua pontaria em atirar kunais do lado do prédio da Hokage!

 - Foi um acidente... - O garoto ficou vermelho quando ela falou aquilo.

 - Tente explicar isso quando a sua Sakura-neechan for cuidar de você qualquer dia destes...

 - Ela vai me botar para cuidar daquele monte de papeis de novo! – murmurou chorando.

 - E vai ser bem feito – ela cruzou os braços, mas mudou de postura em seguida – certo Minato-kun, é hora de você entrar. Já é noite e eu não quero ouvir sermão da diretora por te devolver muito tarde da noite.

 - Obrigado Hinata-mama – disse ele a abraçando no pescoço e beijando-a na face – adorei este dia.

 Apesar de ficar profundamente surpresa com o impulso dele, ela retribuiu o abraço e o beijou no alto da cabeça. Ainda sentindo emoções maternas aflorarem em seu coração, observou-o entrar no orfanato sem seguida.

 Ficou ali parada observando o vazio por alguns minutos. Suas emoções estavam confusas. Por um lado queria desesperadamente entrar ali e pegar a criança que mal tinha visto nos últimos nove anos e leva-la para o seu verdadeiro lar, a sua casa, mas por outro lembrava-se do porque tinha concordado em deixá-la em um orfanato e compactuar na mentira que todos concordaram em manter para o resto do mundo.

 Se soubessem que Naruto tinha tido um filho, certamente imaginariam que o bijuu dele estava selado neste. Ele nunca mais foi visto desde àquela batalha entre Naruto e Sasuke, mas muitas testemunhas disseram que tinham visto a raposa de nove caudas por alguns momentos após a luta, portanto não tinha morrido junto com ele. Como não se tinha noticias, era lógico supor que ela estava selada em outro jinchuuriki. Mas não era ele, disso tinha certeza. Ela mais que qualquer pessoa no mundo podia afirmar isso.

 Era doloroso para ela não poder dizer isso a ele, mas a dor maior era não poder dizer quem era a sua mãe.

 - Se comporte bem Minato-kun – murmurou ela enquanto se virava e lentamente caminhava para casa – você cresceu muito mais do que eu podia imaginar. Ficou bonito, tem a teimosia de seu pai e o mesmo sorriso dele. Eu adoraria poder ter te abraçado, de ter compensado estes anos em que você ficou abandonado. Adoraria poder falar a verdade, mas não posso. Não ainda.

 Ela começou a andar com mais velocidade, sentindo as lagrimas em seus olhos. Lagrimas de alegria, lagrimas de saudade e lagrimas de pesar pelo segredo que tinha que manter.

 Mas acima de tudo, queria poder te contar porque eu sei que seu pai queria que você se chamasse Minato se fosse menino, ou Kushina se fosse menina. É algo que só sua mãe saberia.

 É algo que só eu sei!

 - Durma bem, filho...


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Notas finais do capítulo

Fiz essa historia inspirado no futuro não muito feliz que tinha feito na fic Sonho Morto. Talvez eu até faça uma fic maior sobre esse tema, caso haja interesse o bastante.

Se houver interesse, esse futuro é melhor explorado na fic Sonho Renascido (não é oneshot)

Minhas outras fics de Naruto
—Sonho Morto— Oneshot
—Desabafo— Oneshot
—Sonho Renascido
—Os Elos da Corrente