Duas Amigas, Dois Problemas e Uma Solução escrita por Carol McGarrett
Notas iniciais do capítulo
E olha quem voltou!! Sim as encrenqueiras-mor do meu universo alternativo! E dessa vez é bom vocês pegarem os lencinhos, se sentarem confortavelmente porque, só para variar, está grande!
São dois capítulos, refletindo os dois momentos da história.
Espero que gostem!
Boa leitura!
1.1 - Elena
Eu tenho quase, mas quase certeza de que dessa vez eu me ferrei de vez. E eu me ferrei de uma forma tão, mas tão grande, que não vai ter volta, essa encrenca é em definitivo e eu não sei o que fazer, na verdade eu nem sei como eu vou processar o que eu acho que aconteceu comigo...
Amiga, eu preciso da sua ajuda...— Mandei essa mensagem para Liz.
Conte-me uma novidade...— Foi a resposta que eu recebi.
Dessa vez é sério!— Digitei desesperada.
Sempre é sério para você, Elena.
Eu juro. Eu acho que....— Não terminei a mensagem, afinal tinha medo de digitar a palavra e se tornar real, ou vai que alguém da minha família está monitorando a minha conversa...
Acha que? Elena, por favor, desenrola isso, eu tenho que estudar, estou com 1001 matérias atrasadas e trabalhos com a data de entrega pra ontem, não posso me dar o luxo de ficar brincando de adivinhar...— A ruiva mais doida que eu conheço explodiu de vez.
Eu acho que eu estou grávida!
E eu fiquei sem resposta por quase dez minutos.
Você tá muito f.....!!!!!— Ela escreveu e logo em seguida me ligou.
— Mas Elena, pelo amor de Deus, como você deixou uma coisa dessas acontecer com você?? Quer arruinar a sua vida!! Você só tem 21 anos!! – Ela me passava O SERMÃO. Tudo bem, das duas, pelo menos uma tinha que ser a responsável.
— Eu sei, Lizzy, é que... bem, veja, lembra do final de semana que eu falei que nós duas íamos para NY e você foi o meu álibi e eu fui para a Califórnia ficar com o Chris e você ficou estudando, porque se aparecesse em Pendleton o seu pai iria ficar sabendo?
— Eu sei, Elena, sua mãe me ligou desconfiada da nossa viagem a semana inteira.
— Pois é, acho que foi lá...
— Com essas coisas não tem acho! Ou foi lá ou foi em outro dia!
— Mas essa foi a última vez que eu vi o Chris! FOI LÁ! – Gritei desesperada de dentro do meu minúsculo dormitório.
— Ah, merda! Vai ter uma criança para fazer companhia para a Ella...
— Não fala isso, Liz... meu pai vai me fritar! Ele vai me mandar sair da faculdade! Eu não vou conseguir me formar tendo que tomar conta de um bebê!! Eu estou perdida.
— Elena, por favor, você se forma em um mês e meio! Esqueceu que você adiantou matérias no início do curso?? e, caso você esteja pensando em pegar mais matérias, sempre tem a opção de trancar a matrícula por um ano e até lá o Chris já terá se formado e vocês dois vão poder resolver isso, se formar você vai... só que antes... – Como sempre Elizabeth conseguia ver uma saída onde eu não via nada, só desespero.
— Antes disso acontecer, eu tenho que encarar Aaron Hotchner, Emily Prentiss, Jack Hotchner, Jeniffer Jareau, Derek Morgan e Tara Lewis... Não vou falar de Spencer Reid, porque ele só vai despejar um monte de estatística na minha cabeça. a única pessoa que vai dar pulos de alegria será a Penelope... – Eu comecei a chorar.
— Mas você tem certeza de que está....
— Não!!!
— Então faz um teste!!
— Eu não tenho dinheiro! Só cartão! Vai aparecer uma ida na farmácia e minha mãe sabe que eu só compro pela internet! Liz, eles vão ficar sabendo! A Penelope Garcia faz parte da minha família e é uma péssima mentirosa! Se ela ver algo como “teste de gravidez” em qualquer lugar ela vai acabar contando para o Luke, ele vai contar para o Simmons e para a Tara e daí para...
— Tá, eu entendi. Correndo o risco de me encrencar com os meus prazos de trabalho e perder quase uma semana de sono, você tem que vir para as finais do basquete universitário. Por dois motivos!
— Achei que você iria se enterrar em qualquer buraco para não passar nem perto disso... afinal, você ainda é a Mascote! – Brinquei com minha amiga e a forma como ainda a chamavam dentro do Campus.
— Quer me escutar?
— É que eu tô nervosa...
— E eu cheia de matéria para estudar e estou aqui tentando te ajudar!
— Ninguém mandou você fazer quatro cursos ao mesmo tempo! – Falei, isso ainda me deixava inconformada em um nível absurdo.
— Essa é a minha escolha, a minha vida... nem comece. MAS voltando a você e a sua possível gravidez. – Ela falou sem dó de mim.
— Devagar com essa palavra.
— Elena, ou você está ou você não está. Não tem outra opção, você se recusa a fazer o teste aí em Yale, vem para as finais do basquete, a UCLA vai jogar, Yale também... é uma ótima desculpa. Quando você chegar aqui, nós vamos até uma farmácia, compramos os testes e você faz. Se o resultado for positivo, você já conta pra o Chris, se for negativo, acabou o drama.
— Não é tão simples! – Murmurei desesperada.
— NÃO TEM OUTRA SAÍDA! – Ela gritou. E parece que alguém não gostou do que ela fez porque logo em seguida ouvi ela dizer: - O que foi, ninguém pode mais gritar com atendente de telemarketing não? Vai virar fiscal do telefonema alheio? Ou vai querer me cancelar? Some daqui!
— Lizzy.... dá pra parar de brigar com qualquer alma que você vê, por favor?
Ouvi minha amiga estourada respirar fundo.
— Estou aqui. E aí, vai ou não fazer isso?
— E como nós vamos comprar os.... você sabe, sem que ninguém fique sabendo?
— Na farmácia!
— Mas com certeza vão saber que é para uma de nós duas!
— Ou temos a opção do coelho, mas eu não sei mexer com aquilo e não quero matar um coelho para saber se você está grávida ou não, então vamos ter que ir à farmácia, comprar pela internet é arriscado... eu tenho quase certeza que tem um cavalo de troia instalado no meu notebook vindo ou CIA ou do NCIS... e toda vez que eu acho a linha de comando dele, ele desaparece...
— Eu já disse, só tenho cartão...
— Elena, você veio até Harvard, veio ver o seu namorado, para uma pessoa que quebrou o pé na véspera de Natal por conta de um balão, você bem sabe que acidentes acontecem e uma ida sua à uma farmácia não seria de todo estranho.
— Falando desse jeito...
— Mas se você estiver com muito medo da Garcia te rastrear, eu tenho dinheiro, pago os testes e depois você me paga!!
— Prefiro assim...
— Então, venha na sexta-feira. São quatro dias, você não vai morrer até lá, assim que você chegar, vamos direto na farmácia e resolver essa encrenca.
— Tudo bem... muito obrigada.
— De nada, Elena. Agora eu vou voltar para a minha pilha de trabalhos.
Eu só tinha que esperar mais quatro dias.... eu não ia morrer, ia?
Acho que não.
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1.2 – Elizabeth
Eu estava atolada em trabalhos e ensaios e provas e apresentações e em dois TCC’s. Finalmente os cursos de Relações Exteriores e Economia estavam acabando. Faltavam dois meses. No próximo ano eu terminava Direito e Ciências Políticas e respiraria aliviada, ou não, já que eu teria um longo caminho pela frente se eu quisesse seguir o que tinha planejado, é claro.
Só que para chegar até a Casa Branca, eu teria que sobreviver a essa semana primeiro, depois as formaturas e, por fim, à fúria do meu pai, quando eu disser que vou entrar no mundo da política. E sobrevier à essa semana significa ajudar a Elena e a sua possível gravidez. Não que essa fosse a primeira vez que ela dava um escândalo por conta de um alarme falso, mas dessa vez ela estava apavorada de verdade... e se fosse verdade, bem... minha amiga iria sofrer muito nos próximos meses, não que a família dela vai abandoná-la ou algo do tipo, eles não vão, longe disso, mas eu conheço o Sr. Hotchner... ele vai olhar para a filha e ficar decepcionado, por ele, ela teria que esperar mais um pouco. Já a Dona Emily, bem, ela vai falar, falar, falar e falar, e depois vai abraçar a Elena e dizer que tudo vai ficar bem no final. O único que corria risco de vida nessa história toda é Chris.
Deixei o assunto “Elena pode estar grávida” engavetado no fundo da minha mente e passei a me concentrar no que tinha que fazer, o que vinha sendo difícil, pois eu ficava olhando a tela do celular de minuto em minuto, esperando notícias de uma certa pessoa.
— Ele não vai estudar por mim, não vai pagar a minha faculdade e nem apresentar os meus TCC’s! Agora concentra! – Me xinguei bem alto e arremessei o celular na cama, colocando um abafador de som nas orelhas e me voltando para meus livros.
Para variar, virei a noite, era a quarta seguida. Estava muito parecida com meu pai, movida à cafeína e mal-humorada. Sim, tinha me rendido a bendita ou era bem capaz que eu morresse com os olhos estalados. Fui para a aula igual ao coelhinho da Duracell, ligada no 220 volts e com os olhos ardendo de ter lido tanto... quando atravessei o campus, pude escutar nitidamente:
— Olha, lá vai a nossa Mascote!
Ignorei o comentário e segui no meu ritmo, pude ouvir as risadas das pessoas, quatro anos aqui e o apelido não parou, muito pelo contrário, se alastrou, tanto que uma vez um dos professores me chamou de mascote, eu quase voei na cara dele.
Assim, segui a minha semana, menos 100 trabalhos, faltavam mais mil. E sem dormir e estando no limite da paciência com tudo e todos, mas não deixando nada disso transparecer, sobrevivi à semana e, por incrível que pareça, minha vida estava quase toda em dia.
Tinha combinado que encontraria com Elena no jogo, era UCLA contra Yale e, apesar de ser arriscado colocar a minha amiga no mesmo ambiente que o namorado, sabia que esse era o primeiro lugar que ela iria de qualquer forma.
Estava sentada em um canto de uma das arquibancadas, lendo a matéria de ciências políticas, enquanto o jogo rolava e o povo ia à loucura com um lance qualquer quando ouvi:
— Só a Mascote de Harvard para estudar no meio de um jogo! – Elena parou na minha frente, tendo a capacidade de rir da minha cara.
— Estou te fazendo um favor, agora pare com isso. Vamos logo, quanto mais cedo...
— Não podemos assistir ao jogo? Ele tá ali. – Ela apontou para o namorado que além de melhor jogador da equipe era o capitão.
— Não. Você precisa ter certeza, então vamos. – Agarrei a alça da bolsa dela e a saí puxando pela arquibancada até a escada.
— Devagar, se eu estiver grávida e cair aqui...
— Elena, você cai só de alguém olhar para você.... pelo amor de Deus! – Falei assim que saímos do ginásio.
— É muito longe? – Ela me perguntou.
— Como você disse no telefone, é sempre bom escolher um local mais longe, ainda mais com famílias como as nossas.
Ela riu e começamos a conversar sobre as faculdades, Elena formava de vez no meio do ano, eu ainda teria mais um ano pela frente.
Assim que paramos na frente da farmácia, minha amiga estacou.
— Eu não vou fazer isso!
— E vai ficar com essa dúvida até quando? Sua barriga começar a crescer? Elena, se você estiver grávida, tem que cuidar desse bebê!
— Entra você e compra! – Ela me empurrou.
— Vai bancar a covarde agora?
— Eu só não quero...
— Anda logo. – Falei e nós duas entramos no lugar, demos uma volta perto das maquiagens e paramos na sessão de artigos exclusivos para mulheres.
— Qual eu pego? – Ela sussurrou.
— Eu sei lá! – Fui sincera. – Pega três, um de cada, assim não tem como errar.
E, mais uma vez, Elena congelou, e eu tive que empurrar três caixinhas para dentro do cesto e ir para o caixa.
Claro que a mulher que estava no caixa me olhou com um misto de “estou perplexa, outra universitária grávida!” com “E lá vamos nós para uma criança nesse mundo!” no rosto. Eu fingi que tudo estava normal, peguei um monte de bala e coloquei no balcão, conferi o valor e dei o dinheiro, dando boa-noite quando saí do caixa. Elena estava branca igual a um fantasma do meu lado e se recusava a levar a sacolinha de papel com ela, sobrou pra mim carregar aquilo, então eu fui comendo as balas, já que estava morta de fome.
— Você sabe que mais cedo ou mais tarde vai ter que pegar neles, não sabe?
Minha amiga se encolheu.
— Sei.
— Vai se acostumando. – Falei e quase arremessei a sacolinha na direção dela.
Elena desviou do meu golpe.
— Leva isso até o campus... vai que encontramos o Chris.
— O jogo ainda não acabou, Elena, estava no primeiro quarto! – Respondi exasperada.
Ela ficou calada e no silêncio que se seguiu, eu ouvi passos, como se alguém estivesse nos seguindo.
— Escutou isso? – Perguntei.
— O que? – Elena parou e tentou ouvir.
— Continue andando, acho que tem alguém atrás de nós.
— Nos seguindo ou só andando atrás de nós?
— Não sei. Quer ir lá perguntar?
Elena apressou o passo e rapidamente chegamos no campus.
— Quer fazer os testes agora?
— Não, quero ver o jogo. – Ela estava protelando para não saber a verdade. Se fosse comigo eu já teria feito há anos!
Nós duas estávamos perto do ginásio, quando ouvi alguém falando:
— Olha as duas ali! – Era a voz de Penelope.
Elena olhou desesperada para a sacolinha na minha mão, eu me mantive calma, e quando eu virei...
Além de Penelope e Luke, estavam atrás de nós, Derek, Savannah e Hank, Spencer e Maeve, e, claro os Hotchners, todos eles.
— Pai? Mãe? O que vocês estão fazendo aqui?
— Oi todo mundo! – Falei normalmente.
— Ora, filha, você comentou que viria ver o jogo, como é aqui – Dona Emily apontou para o campus, - sabe que seu pai não perderia a oportunidade de assistir a final do basquete... ainda mais se for contra Yale. – Falou e abraçou a filha.
— Falei que vinha?! – Elena arregalou os olhos e eu vi que ela iria entregar a paçoquinha rapidinho.
— Claro, filha. Até brincou com a minha cara falando que Harvard iria perder. – Senhor Hotchner falou.
— E você, Lizzy? Como vão os cursos? – Dona Emily me perguntou.
— Indo... espero sobreviver. – Comentei com um sorriso e parti para cumprimentar a todos.
Até que em um momento de descuido meu, Luke perguntou.
— Tem doces dentro dessa sacola aí?
— Não mais... comi tudo... nem almocei hoje. – Respondi sinceramente. Até porque ali dentro tinha algumas balas que eu tinha comprado na farmácia porque eu estava com fome.
— Qual é, Liz, deve ter alguma coisa aí dentro! – Morgan falou e tentou tomar a sacola da minha mão.
— Nem tente, tio D. – Elena falou, um tanto nervosa demais. – Ela não vai dividir, vai por mim, eu já tentei isso.
Derek não se deu por satisfeito e tentou, de novo, pegar alguma bala no pacote. Fui mais rápida e tirei três pacotinhos, um pra ele, um para Ella e o outro para Hank.
— Você é que não soube ser pedir, Little Princess. – Derek brincou com Elena.
— Vamos ver o jogo ou vamos ficar aqui fora conversando? – Penelope perguntou já passando na nossa frente e rebocando Luke, os Morgans, Spencer e Maeve os seguiram. Só que Jack, Lara, Ella, Dona Emily e Sr. Hotchner ficaram para trás e encaravam Elena.
— O que vocês duas estão escondendo? – Dona Emily perguntou.
— Nada. – Elena respondeu rápido demais e me olhou desesperada, para uma filha de perfiladores, ela era muito lerda e uma péssima mentirosa.
— Elizabeth, o que tem na sacola? – Ela me perguntou e Elena se encolheu.
— Balas! – Tirei outro pacote de bala e ofereci.
Sr. Hotchner olhou para a filha depois para mim e estendeu a mão.
Nós duas não éramos mais crianças, esse tipo de cena não precisava acontecer mais, mas Elena estava em um estado de nervo tal, que simplesmente pulou na minha frente e arrancou a sacola da minha mão, no exato momento em que eu a entregava para o Diretor do FBI.
— Me dá isso! – Ela falou em um tom desesperado e agoniado.
Pai e filha ficaram se encarando por muito tempo, Jack tinha uma sobrancelha levantada, Lara não estava entendendo nada, Dona Emily, eu pude ver a sua expressão, estava juntando dois com dois, e eu estava para começar a deixar a família sozinha quando, ao dar dois passos para trás, esbarrei em alguém.
Me virei para pedir desculpas e ao invés de me desculpar, eu parei, pois, parado atrás de mim estava Sean.
E este foi o momento em que tudo foi para os ares, pois ao fundo escutei Elena brigar com o pai por conta da sacola, não sei quem puxou primeiro o papel, só escutei todas as três caixinhas de teste de gravidez caírem no chão, no exato momento em que eu virava a mão na cara do meu até então namorado.
— Elena o que é isso? – Escutei o Sr. Hotchner perguntar, mas depois foi só silêncio. Pois eu tinha acabado de dar o segundo tapa em Sean.
— Oito meses. – Eu comecei a falar. – Tem oito meses que você não me manda uma mensagem, não me liga, não me escreve. Tem oito meses que eu fico preocupada com você dia e noite e ninguém, nem a sua mãe ou o seu pai tinha notícias, e você me aparece aqui, na minha frente, com essa cara lavada??? Some daqui!! – Gritei com ele.
— Lizzy eu...
— SOME!!! DESAPARECE DA MINHA VIDA!! Eu mal estou dormindo, mal estou comendo de preocupação e agora, você aparece aqui, assim, todo bonitinho achando que só a sua presença será o suficiente para explicar o seu sumiço? Não! – Falei e enquanto eu falava, eu fui tirando as dog tags dele do meu pescoço, fui tirando a aliança que ele tinha me dado, depois peguei a sua mão e coloquei as duas coisas ali. – Volta de onde você saiu! E não me procure nunca mais, até porque, eu não devo ser tão importante assim, afinal, você não se deu o trabalho de conversar comigo pelos últimos oito meses! – Empurrei Sean para longe de mim e me virei para ajudar a minha amiga ignorando a presença do Marine que tentava falar algo.
— Pelo que vejo, isso não é da Elizabeth... – Sr. Hotchner falou.
— É meu!! – Elena começou a chorar! - São meus!! Eu.... ah meu Deus!!! – Ela se jogou no chão e soluçava convulsivamente.
— Aaron, Jack e Lara, fiquem aqui. Liz... – Dona Emily olhou para mim. – Podemos ir para o seu dormitório?
— Claro. – Falei, catei os testes e as balas, coloquei dentro da minha bolsa e não olhei para trás, quando segui dona Emily e Elena, também não escutei passos nos seguindo.
Ao chegar no meu quarto, tive que falar.
— Tá cheio de papel espalhado, mas tá limpinho...
— Eu sei, Liz... final de dois cursos, não é?
— Sim. – Confirmei.
— Por favor... – Ela apontou para a minha bolsa.
Entendi o recado e peguei os testes.
— Filha, vá ao banheiro e faça os testes.
Elena, ainda chorando entrou no banheiro e eu comecei a abrir um espaço para Dona Emily se sentar.
— Você está bem, Liz? – Ela me perguntou assim que Elena fechou a porta do banheiro.
— Sim, por que não estaria?
— Bem, você acabou de terminar com o Sean. São cinco anos de namoro, não são?
— Eram.
— Elizabeth... eu não sou a sua mãe, mas... você acha que foi a hora certa?
— Dona Emily, por favor, eu passei oito meses desesperada, achando que o pior tinha acontecido, e ele simplesmente acha que aparecendo na minha frente todo perfeito vai me fazer esquecer o que eu passei? Não! Eu pensei que algo realmente grave tinha acontecido! Mandei inúmeras mensagens, todos os dias, liguei incontáveis vezes. Coloquei o Tony para procurá-lo para mim e nem o NCIS o encontrou. Achei que ele tinha sido sequestrado, capturado, morto. Mas, pelo visto, ele estava muito bem, só me ignorando... já que é assim, agora ele tem o que queria, eu estou fora da vida dele. – Falei por fim.
— Acho que você precisa de tempo para processar o que aconteceu nestes últimos oito meses e precisa dar uma parada. – Ela olhou em volta. – Você está exigindo demais de si, isso não é nada bom. Pense com calma e depois tome uma decisão. Sei que você e o Sean são feitos um para o outro, só que talvez essa seja a primeira grande crise que vocês passam. Você, Liz, como filha de um Marine, sabe muito bem que, às vezes, eles têm missões das quais não podem falar com ninguém. Não tiro a sua razão, se Aaron sumisse por oito meses, eu também iria querer a cabeça dele, mas escutaria o que ele tem a dizer primeiro. – Dona Emily me deu um tapinha na perna e se levantou para ir até a porta do banheiro.
Não a respondi, eu fiz o que estava planejando fazer há muito tempo. Terminei com Sean, eu não seria a esposa de um Marine, não quando eu poderia ter uma carreira só minha, que me daria poder e destaque. Ficar com ele resultaria em ter que me mudar cada vez que ele fosse promovido, seguir a agenda dele, não a minha, fazer as coisas quando ele quisesse e pudesse, eu não teria autonomia, seria eternamente “A Esposa do Marine”... e não foi para isso que meus pais me criaram.
Ouvi Dona Emily bater na porta do banheiro e lá de dentro pude escutar o gemido desesperado de Elena.
— Filha... – Ela chamou pela minha amiga.
— Eu arruinei a minha vida!! Olha o que eu fiz!! – Ela gritou desesperada. – Como vai ser a minha vida agora???
Não precisávamos ver o resultado, os gritos de Elena diziam tudo.
— Lizzy, você tem uma chave reserva dessa porta.
— Tenho sim. – Me levantei do chão e fui até a escrivaninha, abrindo a gaveta, peguei a chave reserva.
Dona Emily me agradeceu e girou a chave.
— Dona Emily... a senhora quer que eu saia para poder conversar com a Elena?
— Não preciso de privacidade, mas preciso que me faça um favor... Chame Aaron, mande uma mensagem para Chris e, por favor, tente controlar Jack e Derek. Sei que pode fazer isso.
— Sim, senhora. – Saí para o corredor e desci as escadas do dormitório, quando abri a porta, pude jurar que vi Sean parado do outro lado da rua, fingi que não o vi e fui para onde tinha visto os Hotchners pela última vez, não demorei e avistei o Diretor do FBI.
— Senhor Hotchner... – Chamei-o.
— Sim, Liz?
— Dona Emily quer que o senhor suba. É no último andar, quando acabar de subir as escadas, vire à esquerda, é a última porta do corredor.
— Obrigado Liz.
Eu agora tinha que esperar o jogo terminar e achar Chris.
— Elizabeth! E a Lena? – Jack me perguntou. E pude ver que junto com ele estavam todos.
Eu não sabia o que responder, e sabendo que a verdade apareceria mais cedo ou mais tarde, me limitei a dizer.
— Sua mãe vai falar, depois que ela conversar com a Elena.
Lara me entendeu mais rápido do que Jack, que apenas soltou um palavrão...
Deixando o restante da família à espera de respostas definitivas, fui em direção ao ginásio, pelo horário, o jogo já deveria estar acabando.
E como mais cedo, escutei os apelidos de Mascote e que alguém andava atrás de mim.
— Vá embora, eu já te mandei sumir. – Sibilei.
— Não. Primeiro que minha licença é só de dois dias e segundo eu preciso me explicar.
— Agora é tarde, Sargento de Armas. – Desdenhei da sua recém adquirida promoção.
Ouvi que os passos cessaram, eu sabia internamente que desdenhar de um posto de um fuzileiro significa que ele ela vai explodir, Sean não faria isso comigo, mas devo tê-lo deixado bem furioso. Assim, sabendo que ele tinha parado e conhecendo todos os atalhos do campus, deixei-o para trás e apressei meus passos em direção ao ginásio, mandando, ainda no caminho, mensagem pra Chris, pedindo que ele me encontrasse na porta principal.
Tentei me misturar no meio de todas as pessoas que saiam do jogo, pelas expressões do pessoal da Califórnia, Yale tinha vencido fácil o jogo, parei em um canto e esperei por Chris.
Quando ele saiu, pulando com muletas, vi o motivo da UCLA ter perdido para o time mais fraco das finais, ele tinha se machucado.
— Lizzy? – Me chamou.
— Aqui. – Levantei a mão e ele veio pulando na minha direção. – A coisa foi feia... – Apontei para o pé...
— Preciso de uma ressonância, que só vai acontecer na Califórnia, até lá, rompi alguns muitos tendões do calcanhar.
— Sinto muito. Sei que estas são as suas últimas finais...
Ele deu de ombros.
— Meu pai com certeza vai gostar de saber disso.
— Claro que vai. Agora você terá a sua atenção voltada para a carreira que ele quer que você siga. – Íamos conversando.
— Para onde está me levando? E onde está Elena? – Me perguntou.
— Então... Elena está no meu dormitório.... tem um probleminha que vocês precisam resolver.
Chris deu uma parada e assim que me virei, vi que Sean estava me seguindo de longe.
— É algo sério?
— É, Chris... muito sério, mas só ela vai poder te explicar. Eu só te peço, tenha paciência com ela!
E o jogador de basquete me olhou torto.
— Você não sabe de mais nada?
— Não cabe a mim falar, Chris, mesmo que Elena não tenha me pedido para manter a boca fechada, isso é algo que só vocês podem resolver...
E Chris ficou calado, eu também e pelo caminho, eu ouvia três sons distintos, meus passos, o bater das muletas de Chris no asfalto e o som de botas de combate, bem baixinhas, alguns metros atrás.
Viramos a última esquina e demos de cara com Jack, que quase voou no pescoço de Chris, que não entendeu nada.
— Jack... por favor. – Pedi. – Sua filha está aqui. – Apontei para a garotinha loira que estava no colo da mãe.
Jack abriu espaço e eu guiei Chris até a porta do dormitório, que a essa hora já era para estar fechado, mas sendo noite de jogo, vamos dizer que as regras tinham sido mandadas para a lua.
— Precisa de ajuda para subir? – Perguntei.
— Quanto andares?
— Todos...
— Por que vocês duas foram colocadas nas torres? – Ele quis saber quando começou a subir.
— Muito provavelmente a mando de nossos pais. – Dei de ombros e tornei a sair. Lá fora, Jack me olhava furioso.
— Desde quando você sabe?
— Fiquei sabendo antes de descer.
— Mas você encobriu a compra...
— Jack, ela achava que estava... foi ideia minha que ela confirmasse. Afinal...
— Minha irmã tem 21 anos, Elizabeth...
— Não venha com lição de moral para cima de mim, Jack... eu sou amiga da Elena e se você for começar a bancar o irmão tradicional, só quero te dizer uma coisa, antes que você deixe Elena ainda mais nervosa.
— O que, Ruiva?
Eu só apontei para a filha de três anos dele.
— Você não era casado com Lara quando ela nasceu... vai julgar a Elena? Porque se for, vou te chamar de hipócrita!
Ele ficou calado e pegou a filha no colo, Lara veio conversar comigo, não sobre Elena, mas sobre o Marine que estava parado um pouco afastado de nós. E lá ia eu para o próximo sermão da noite...
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1.3 – Elena
Escutei duas portas se abrirem, a do banheiro e presumi ser a do quarto. Minha mãe entrou no banheiro e se sentou do meu lado no chão, eu chorava copiosamente, apesar de ser tarde para isso.
— Não vou perguntar como aconteceu, porque eu sei. Quero saber, quando?
— Eu não fui para NY... fui ver o Chris na Califórnia.
— Imaginei isso quando vi a fatura do cartão de crédito.
— Falou com o papai?
— Não. Mas agora ele vai ficar sabendo. – Ela apontou com a cabeça para os resultados. Todos eles mostravam a mesma coisa. Que eu estava grávida.
— Eu ferrei com a minha vida. Fiz a maior burrada que alguém poderia fazer na minha idade.
Minha mãe ficou calada por um tempo.
— Pelo que vejo nesse aqui. – Ela pegou o teste e leu a estimativa de tempo que eu estava grávida. – Você está de cinco semanas. Estamos em abril... faltam sete semanas para a sua formatura, Elena. Não é o que eu esperava que você fizesse quando saísse da faculdade, mas você não tem mais um ano de faculdade pela frente, a sua ideia de adiantar matérias nos dois primeiros anos foi boa, no fim das contas.
— Mas mãe... eu ia tentar a prova do FBI! Grávida nem pensar que eu farei aquilo!
— Não, grávida não vão aceitar você, por conta do risco de você sofrer um acidente e perder o bebê... mas uma mãe pode ser agente do FBI.
— Eu sinto muito... eu fui irresponsável... – Recomecei a chorar. Nesse momento a porta se abriu, e eu reconheci aquela passada, era meu pai.
— Emily, Elena? – Ele perguntou por nós.
— Vamos sair desse banheiro, filha, Vamos nos sentar ali no quarto.
Saímos do banheiro e eu não precisei falar nada, meu pai leu o veredicto nas minhas feições e tudo o que ele fez foi passar a mão no rosto e se jogar na cadeira da escrivaninha. Ele tentou se apoiar ali, mas tinha tantos livros que ele não achou espaço.
— Sim, Aaron, vamos ser avós novamente. Elena está grávida.
Meu pai suspirou alto.
— Elena...
E eu, que já estava chorando, recomecei a soluçar, entrei em pânico, eu queria voltar cinco semanas no tempo e não ter viajado para ficar com Chris. Fiquei em um estado tal de desespero que minha mãe teve que me sentar na cama e me pedir para respirar, porque nem isso eu conseguia fazer.
— Aaron, por favor, vê se a Liz tenha alguma coisa com açúcar aqui, e ache água.
Papai entregou primeiro uma garrafa de água, mamãe me fez tomar aos poucos, sempre me lembrando de respirar entre as goladas.
— Devagar, Elena.
Depois apareceu uma barra de chocolate na minha frente, vi que era papai quem me entregava, assim que nossos olhares se cruzaram, desviei os meus, estava morta de vergonha.
E, para minha surpresa, foi ele quem quebrou o silêncio.
— Alguém tem que avisar para o Gibbs que a filha dele vive de café e chocolate e a julgar por todos esses livros, essa menina vai se matar de estudar e se esquecer de comer e dormir.
Mamãe olhou em volta, e meus pais começaram a perfilar a minha amiga.
— Elizabeth não vai seguir carreira na área da investigação. – Ele continuou. – Ela vai para a política. – Mostrou a filiação da minha amiga ao partido Democrata.
Isso era surpresa até para mim.
— Gibbs não vai gostar disso. – Comentou por fim, lendo a ficha de avaliação.
— Não, ele não vai. Já a Jenny... – Mamãe continuou.
— Aquela lá vai morrer de orgulho. E de dor de cabeça. A terceira guerra vai se iniciar na família no exato instante em que Liz informar isso. – Papai falou e continuou a andar pelo quarto, lendo as lombadas dos livros e os papeis que estava por cima, chegou ao ponto de pegar um encadernado, creio que um dos TCC’s de Liz e se sentar na cadeira e começar a ler.
E eu continuava tentando respirar.
— Quando você estiver pronta, filha, não tente apressar a sua crise de pânico. – Mamãe me falou quando tentei começar uma conversa.
Papai continuava lendo o TCC de Liz, o que chamou a atenção de mamãe.
— Esse é de qual curso?
— Relações Exteriores. E olha... se o Departamento de Estado não contratar essa menina...
— Fala de que? – Até eu me via curiosa.
— O Imperialismo Europeu e Os Conflitos no Continente Africano.
— A cara de Liz discutir isso. – Mamãe comentou.
Papai anotou alguma coisa em um papel e colou em uma das folhas e continuou lendo, ficamos em silêncio, até o que som de algo batendo no piso de madeira do corredor chamou a nossa atenção. E meu pai baixou o TCC e foi para a porta e a abriu.
— Chris. – Ele disse.
Me virei para a porta, um bolo se formando na minha garganta e o ar me faltou de novo. Só me restou olhar para cima e tentar respirar.
— Senhor Hotchner... a Liz não me disse que...
— Entre, Chris. – A voz de meu pai estava estranhamente calma. Temi a tempestade que se formava ali.
Chris entrou e eu vi que ele tinha o pé direito enfaixado e estava de muletas, me preocupei na hora e ele, ao me ver, arregalou os olhos azuis e foi logo me perguntando o que tinha acontecido.
— Eu não sabia que você vinha... – Me falou. – O que houve?
O quarto caiu em um silêncio monstruoso, eu tinha certeza de que todos ali podiam ouvir o meu coração batendo.
Respirei fundo, ao fazer isso, uma náusea me subiu, mas não tinha a ver com a gravidez... não, era de nervoso. Comecei a tremer, minha respiração falhou e eu...
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Abri meus olhos para um ligar completamente diferente do caos que era o dormitório de Liz, aqui tinha uma paz, um silêncio, ou quase isso, tinha dois bips que estavam em irritando vagarosamente, mas estava me sentindo em paz.
— Elena... você está acordada agora, filha?
Me levantei, minha cabeça pesou uma tonelada, mas consegui me sentar, e foi quando eu vi...
Os bips vinham das máquinas que estavam ligadas a mim, mais precisamente uma que marcava o meu batimento cardíaco.
— O que aconteceu? – Perguntei um tanto nervosa por conta da intravenosa no meu braço.
— Você desmaiou.
E a cena do quarto voltou à minha mente.
— E não contei...
— Nós contamos, tínhamos que fazer os exames e como o Chris não saiu do seu lado...
— Ele já sabe que eu...
— Ouso dizer que ele está mais feliz do que você... – Mamãe falou com um sorriso.
— Ele está... feliz? – Pergunte incrédula.
— Sim... ele ficou extasiado com a notícia, tão feliz que a enfermeira ameaçou tirá-lo a tapas do hospital se ele não parece de falar alto.
Depois das reações de meus pais, a de Chris era a que mais me amedrontava. Mas pelo visto...
— E o papai? – Perguntei.
— Você vai ter que conversar com ele, filha, mas... sabendo que você conseguiu se formar antes do bebê nascer, creio que isso é uma boa coisa.
— Eu decepcionei vocês, não foi?
Minha mãe tombou a cabeça antes de responder.
— Poderia ter esperado mais tempo... mas quem disse que esse não é o seu momento de ser mãe?
— Mãe, eu nem sei o que é ser independente!! Eu mal saí de casa... quatro anos de faculdade não preparam ninguém para a maternidade!!
— Ninguém está, Elena. Eu não estava, seu pai muito menos... Lara e Jack também não... ter uma família é aprender a cada dia como se ser família. E eu demorei para entender isso, e posso te afirmar que aprendo a cada dia!
Meneei a cabeça, mas ainda estava tentando absorver a minha nova realidade.
Em um mês e meio eu estaria me formando, ótimo, tudo isso como planejado e até o final do ano...
Eu seria mãe. Teria um bebê nos braços.
Acho que ainda levaria tempo para assimilar essa história.
— Nós ainda temos que conversar, não temos?
— Acho que sim, mas já é um pouco tarde, filha... não tem o que remediar agora. Meu neto ou minha neta já está à caminho.
— A senhora parece tranquila...
— Você sabe a minha história, Elena. Eu jamais brigaria com você por isso, mesmo que você tivesse 15 anos. E eu acredito que você não vai desistir dos seus sonhos, vai atrasá-los, mas não vai desistir. É isso que eu espero de você.
— Eu não sei como vou conciliar tudo, mas desistir eu não vou.
— Você e Chris terão muito o que conversar, e será uma conversa interessante, pois ele tem novidades para você também.
— É mesmo?
— Eu não vou contar... mas está interessante vê-lo conversar com a Liz.
— Ele se filiou ao Partido Republicano!! – Falei.
Minha mãe riu.
— É... só notícia para ter vontade de sair correndo do mundo hoje! – Murmurei. – E falando em sair correndo do mundo, e papai?
— Na porta, esperando que você o chame... mas creio que ele escutou tudo o que conversamos até agora, não é Aaron?
Meu pai entrou no quarto, ainda calmo.
— Papai... eu... não sei o que dizer.
— Como você está, filha?
— Com medo, nervosa, desesperada, incerta, querendo voltar no tempo, morrendo de vergonha de vocês do que eu fiz... não era para ter sido assim!! Mas esse é aquele tipo de erro que não dá para voltar atrás.
— Não, Elena, não dá.
— E eu não sei como eu vou criar uma criança quando nem emprego eu tenho!
— Mas você pensa em trabalhar? – Como sempre papai era direto.
— Claro, eu não quero abandonar o meu sonho de ingressar no FBI, não estudei o que estudei, não aprendi o que aprendi com vocês para jogar para o alto virar esposa de político!
— Isso já é um começo, Elena. Não desista e você terá o nosso apoio e, pelo visto, o de seus sogros também.
— Chris já contou?
— Todo mundo já está sabendo, filha, Penelope contou para todos.
Mordi o lábio.
— E, bem, ele tem que te fazer uma pergunta... – Papai apontou para a porta onde Chris estava parado, apoiado nas muletas.
Olhei para todos, mamãe me deu um beijo na testa e levou papai para fora, me deixando à sós com Chris.
— Eu sei que foi culpa minha.... – Comecei.
— Elena, quer se casar comigo?
E, eu só soube encarar Chris.
— Tem muito tempo que eu quero te fazer essa pergunta. Mas nunca era a hora certa, ainda mais com você planejando a sua carreira... Contudo, depois dessa notícia... eu acho que agora é a hora.
— Você não está me pedindo em casamento só porque eu estou grávida, está?
— Não, eu queria ter te pedido em casamento no dia em que você foi para a Yale, mas achei que sei pai me mataria ali...
— Não sei como você ainda está vivo...
— Porque Liz colocou o Jack no lugar dele. E seu pai, bem... ele já conversou comigo.
— Preciso saber?
— Não, fica só entre ele e eu.
— Ele te obrigou a me pedir em casamento?! – Perguntei tão alarmada que os aparelhos ligados em mim começaram a gritar.
— Não, Elena! Fica calma. Eu só quero que entenda, eu te amo... e estou te pedindo em casamento porque eu quero! Esperava que o bebê viesse depois, mas que mal faz? Já somos uma família! - Ele abriu um sorriso imenso. - E você mesma me disse que estava querendo ir morar comigo depois que nós nos formássemos. Creio que chegou a hora. Você aceita se casar comigo?
— Sim... – Eu comecei a chorar. Nunca me imaginei me casando de verdade, sei que ficaria com Chris, mas nunca planejei o casamento, sempre achei que nós seríamos como Tia JJ foi por tanto tempo com Will, contudo, acho que estava enganada. – Sim, Chris, eu aceito me casar com você!
Chris veio para o meu lado e se ajoelhou.
— Você tá brincando que...
— Xii, Elena, eu estou tentando fazer isso o mais tradicional possível, apesar das circunstâncias. – Ele falou com um sorriso, e seus olhos se iluminaram quando abriu a caixinha. – Posso? – Perguntou antes de pegar a minha mão.
Eu só balancei a minha cabeça.
Chris pegou a minha mão esquerda e colocou ali um anel e depois a beijou.
E eu, em pleno século XXI, aos 21 anos de idade, estava noiva e grávida!
— É lindo! – Olhei para a peça que era de ouro branco e, apoiando o solitário de diamante, tinha o símbolo do infinito.
— Que bom que gostou! – Ele disse feliz e se sentou do meu lado, sempre me olhando nos olhos.
— Como você sabia o tamanho?
Ele deu de ombros... você é um tanto esquecida, perguntei para Liz se você não tinha deixado nenhum anel esquecido perto dela.
— O de formatura do ensino médio!
— Esse mesmo.
— Tenho que pegar de volta.
E Chris me estendeu o tal anel, que fora um presente da BAU e que eu deixei na casa da Liz na última vez que fui lá, pois ela jurava que não combinava em nada com a roupa que eu estava vestindo.
— Obrigada. – Murmurei, ainda encantada com o meu anel de noivado e assustada como as coisas haviam terminado, ou começado, dependendo do ponto de vista. – Então, noivos? – Perguntei aflita.
— E com as benções de seu pai, seu irmão e tios. Apesar de que o Reid despencou várias estatísticas acerca do casamento de pessoas menores de 25 anos e como eles terminam em divórcio em mais de 70% dos casos.
Eu ri, é claro que o Tio Spenc falaria isso.
— Vamos focar nos 30% que deram certo. – Falei para ele.
— Foi o que eu pensei.
— Você já conversou com a minha família, acho que a sua já sabe da novidade... – Apontei para a minha ainda barriga lisinha. – O que falta agora?
— O anúncio oficial?
— Foto no Instagram?
— Isso também, porém acho que falta oficializarmos perante toda a família.
— Acho que pode... tem que ser antes da barriga ficar grande... – Falei. – E quando vai ser o casamento?
— Pode ser até o seu terceiro mês... logo depois da formatura. Podemos esperar até o bebê nascer, fazer um ano... não precisamos ter presa.
— Por que eu acho que você prefere a primeira opção? O que você já tem planejado, Chris?
— Nossa casa?
— Céus! Eu... nós... eu ainda tenho que me acostumar com muita coisa... não dá para ser corrido assim!
— Se você tiver ajuda, podemos fazer um casamento em três semanas.
— Eu tenho três tias loucas, uma cunhada que é arquiteta e designer de interiores, conheço mais algumas mulheres que topam qualquer loucura, acho que consigo organizar isso. Com a ajuda delas, é claro. – Falei rindo.
— Então, a data...
— 21 de junho... solstício de verão, o maior dia do ano. E eu vou torcer para não estar muito grande...
— Desde que não sejam gêmeos... creio que você não estará. – Chris me deu um beijo e depois beijou a minha barriga.
— Chame meus pais, temos que começar a contar essa novidade.
E, do momento em que minha mãe entrou até a hora em que fui dispensada do hospital, não houve outro assunto senão o casamento, Tia Pen ligou para Tia JJ e tia Tara e as duas, depois de me darem um sermão sobre responsabilidade atrasado de tudo, acabaram por entrar no planejamento da festa. Eu tinha oficialmente aberto mão da minha festa de formatura para ter um casamento relâmpago.
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Duas semanas depois de toda a confusão, me dei conta de um pequeno detalhe, um detalhe que tinha passado despercebido de mim até que eu parei para fazer a lista de convidados.
Eu mal tinha conversado com Liz sobre o término dela! O casal que todo mundo jurou que se casaria e teria filhos antes da Ruiva Maluca se formar estava oficialmente separado, até as fotos dos dois foram apagadas das redes sociais, bom das de Liz, porque nas de Sean ainda tinha as poucas fotos, aliás, ele só postava fotos com ela...
Eu precisava pensar, Elizabeth seria a minha única madrinha, ela sabia disso. Chris chamou seu irmão do meio – que pareava idade comigo e com Liz. - para ser o seu padrinho, até aí tudo bem.
Mas e Sean?
Eu adoro aquele Marine Suicida, adoro jeitinho dele e ele é meu amigo, e é amigo do Chris também... como não o convidar? E como chamá-lo sabendo que minha Madrinha não quer vê-lo?
Liguei para minha mãe.
— Diga, Elena. Tudo bem por aí?
— Sim, estamos bem.
Por incrível que possa parecer, ninguém tinha percebido “o meu estado interessante” dentro da faculdade, nem as meninas da minha turma e a quem eu considerava amigas.
— Tenho um problema que acho que a senhora pode me ajudar a resolver...
— Que é? – Minha mãe pareceu interessada.
— Lizzy e Sean.
— Eles terminaram de verdade?
— Sim, mãe, ou pelo menos ela terminou, não tem uma foto dos dois nas redes sociais dela, e ela parou de segui-lo. Já com ele a história é outra.
— E o que você quer?
— Liz será a minha madrinha. Sean é meu amigo e amigo de Chris. Como eu faço?
— Convida.
— Mesmo sabendo que a Liz pode querer a minha cabeça?
— Elizabeth não vai querer a sua cabeça, Elena, o máximo que ela vai fazer é ignorar presença dele. Todavia, não acredito nisso.
— Tudo o que eu não quero é outra cena dela batendo nele. No dia eu não prestei atenção devida, mas pensando hoje, a cena foi de cortar o coração.
— Tá toda sentimental, você.
— Devem ser os hormônios. Mas a senhora acha que eu devo convidar o Sean?
— Sim, Elena. E não acho que Lizzy vai fazer um barraco no seu casamento por causa disso.
— Assim espero.
— Então, a lista de convidados já está pronta?
— Sim. Entre os meus e os de Chris, setenta pessoas.
— Pouca gente....
— Enxugamos o máximo.
— Notei, mais alguma coisa, filha?
— Não, mãe, obrigada pelo conselho. Te vejo em cinco semanas.
— Até lá, filha e se precisar de alguma coisa, é só chamar.
Encerrei a chamada e comecei a brincar com a caneta, com tudo meu em dia, eu tinha tempo para ficar à toa. E eu à toa, nunca foi boa coisa...
— Acho que vou bancar o cupido. – Murmurei e peguei o celular, vasculhei entre os contatos e lá estava:
Marine Suicida.
Sim, o apelido que o Sr. Gibbs deu para o ~ então ~ genro pegou e quase todo mundo tinha adotado o negócio.
Pensei em que horas eram na Califórnia, muito provavelmente ele estava ocupado, então ligar era inviável, assim, mandei uma mensagem.
Espero que no dia 21 de junho você esteja de folga. É o meu casamento e quero você lá. Nada de dizer "não" para uma mulher grávida. E se você não for, Sean, eu te acho em qualquer buraco e mando o Chris te dar uma coça.
Eu sabia que ele era devagar, quase parando, para responder, mas só fui ter resposta dele, três dias depois.
Estarei de folga, Elena. Te mando o presente, mas não vou.
Eu fiquei possessa,
Ah, vai sim! Nem que para isso eu tenha que te pegar pela orelha. Posso saber o motivo?
Ela.— Foi a única palavra que ele escreveu de volta.
Sim, Liz vai estar lá. Ela é minha melhor amiga e minha madrinha. E essa vai ser a oportunidade perfeita para que vocês dois conversem... porque eu sei que vocês não fizeram isso.
Acabou, Elena. Essa é a verdade.
Posso te perguntar só uma coisa?
O que?
E lá estava eu conversando com o ex-namorado da minha melhor amiga... que sina!
Como alguém que encarou a fúria do Leroy Jethro Gibbs duas vezes, foi colocado no porta-malas de um carro pela família da namorada, tomou uma cacetada na cabeça das mãos da Liz, pode desistir agora? Vai desistir só porque ela entregou a aliança e a sua dog tag? Por que não lutar? Não insistir?
Ela deixou muito claro, não se vê do meu lado, não na profissão que ela escolheu. — Ele respondeu.
Revirei os meus olhos. Como a Liz podia ser tão cega?? Aquele Marine sempre esteve aos pés dela! Sempre!! Tudo bem que ele tomou um chá de sumiço de oito meses, mas espere... deve ter sido algo importante...
Achei que os Fuzileiros jamais desistiam de uma luta. Você está jogando a toalha cedo demais, Sean. Liz tá um tanto pirada com as duas formaturas dela, e com todos os trabalhos, e tenho quase certeza de que ela estava privada de sono por muito tempo quando ela terminou com você... eu ainda acho que você tem que tentar... pense nisso. E eu te espero no meu casamento, independentemente do que vocês dois resolverem. Você é meu amigo também e te quero lá!
Ele não me mandou nenhuma resposta, mas se eu coloquei uma dúvida razoável na cabeça dele, já era algo.
Tudo o que eu queria era que os meus amigos tivessem o final feliz deles, assim como eu estava tendo...
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1.4 - Elizabeth
Duas semanas... mais duas semanas e eu estarei de férias, em casa e vou poder colocar o meu sono em dia. E eu estava precisando urgentemente disso.
Hoje era sábado, por incrível que pareça tudo o que eu precisava fazer era estudar para a apresentação do meu TCC que seria nesta tarde. Não que eu precisasse, eu tinha escrito tudo, tinha lido e relido, fiz a revisão, estava preparada para o que viesse, porém tinha a necessidade de uma revisão.
E era isso o que eu estava fazendo quando bateram na minha porta.
— Um minuto! – Pedi e dei uma olhada no espelho. Eu estava horrível, com o rosto inchado, profundas olheiras, um tanto magra demais e completamente pálida, por não estar comendo direito há mais de um mês e chorando demais à noite.
— Sou eu, filha. – Ouvi perfeitamente a voz de minha mãe. E praguejei bem baixinho, tudo o que eu não queria era ver meus pais... eu sabia o motivo da vinda deles, e não era para me ver defendendo a minha tese.
Tentei dar um jeito no cabelo, soltando para que meu rosto não parecesse tão branco, dei umas batidinhas com a mão na bochecha, para dar um ar de saudável, mas não tive tempo de passar um corretivo no rosto, resultado? Quando abri a porta, minha mãe deu um pulo para trás.
— Bom dia, mamãe! – Falei casualmente como se eu não tivesse reparado o pulo e a maneira como os olhos dela se arregalaram ao me ver.
— Ah, Liz.... – Foi tudo o que ela disse quando me abraçou.
Na mesma hora eu endureci o corpo e não retribuí o abraço.
— Se a senhora viajou até aqui para me dar sermão sobre o meu término, me desculpe, eu tenho mais o que fazer. – Falei.
Minha mãe me soltou e me encarou.
— Tão eu. Igualzinha a mim.
— Me desculpe?
— Você, as mentiras que está contando a si mesma e a todos. Eu fiz a mesma coisa.
Levantei uma sobrancelha.
— Eu agi exatamente assim e posso dizer, fiquei tão ruim quanto você. Tem quantos dias que você não come nada a não ser chocolate e café?
Parei para pensar. Minha última refeição decente tinha sido... eu não me lembrava.
— Estou ocupada com isso. – Mostrei as duas brochuras, minhas teses devidamente prontas e encadernadas.
— Sei... estava mesmo. E com mais o que?
— Provas finais. Me formo em duas semanas, mamãe.
— Sim, em dois cursos, e ainda tem mais dois. – Ela falou e se sentou. – E isso está te matando, minha filha. Eu nunca te vi tão magra, tão abatida e tão sem vida... Eu não vejo brilho nos seus olhos, você não liga mais, manda e-mails ao invés de chamar no FaceTime. E não apareceu em casa nas últimas onze semanas. – Ela disse me observando. – Não faça com você o que eu fiz comigo, filha. Não faça.
Balancei negativamente a cabeça.
— É diferente, mãe. Você e papai estavam no mesmo emprego... eu e ele... bem... não combina, simplesmente não combina. Já deu o que tinha que dar.
— Você acredita nas próprias palavras, Elizabeth?
— Claro que sim! – Retruquei.
— Então, por que ficar procurando a dog tag que um dia ficou no seu pescoço, enquanto fala dele?
Dei um passo para trás.
— Você ama o Sean mais do que entende, porém percebe isso. Sabe que o que está falando é uma mentira que você quer se convencer de que é verdade, porque você quer poder ao invés de felicidade. Você sempre foi ambiciosa, competitiva e até um tanto teimosa. Mas isso está te consumindo, Liz... e você é muito nova para saber as consequências dos seus atos de hoje para o seu futuro, para a sua felicidade.
— Mãe, eu não quero sermão... eu preciso de tranquilidade, minha defesa é em cinco horas e eu não quero nada me distraindo.
— Vim te levar para almoçar, na verdade, nós viemos.
— Papai está lá embaixo?
— Sim... Troque de roupa, se é que você ainda tem algo que te sirva, e vamos descer. Você precisa respirar um pouco de ar puro.
Me troquei e logo nós duas estávamos descendo os três degraus da entrada do dormitório e dando de cara com papai que estava escorado no carro de mamãe.
— Vocês vieram de carro?
— Decidimos vir em cima da hora. – Ela me respondeu.
Nesse meio tempo, papai notou a nossa presença e eu pude ver que ele me media, olhando minha atual aparência, comparando com a da garota que ele deixou aqui quatro anos atrás.
— Oi, filha. – Falou ao me abraçar. – Conseguiu colocar tudo em dia?
— Sim, agora é só revisão e em duas semanas, duas graduações irão cair no meu colo! – Respondi.
— E, finalmente, você terá tempo de comer, dormir e voltar para casa. – Ele retrucou e se afastou, nos guiando até o carro.
— Não vamos almoçar no campus?
— Não, Liz... vamos em um restaurante na cidade.
E eu previ toda a conversa. Iam ser os quinze minutos mais longos da minha vida...
— E então... fora dos estudos, tem feito o que? – Mamãe se sentou de lado para me ver melhor.
— Nada. A não ser que escutar as várias mudanças de humor de Elena pelo telefone conte como “atividade extraclasse”.
— Está tão ruim assim?
— Depende do dia... porque tem hora que nem a Penelope está aguentando, e olha que Garcia é um anjo de roupa colorida.
— E quanto ao casamento? Emily me falou que eles já fecharam a lista de convidados.
— Disso eu não sei... só sei que a cabeça da Elena tá tão louca que me mandou um vestido vermelho para ver se seria um apropriado para madrinha... VERMELHO! A sorte foi que a Dona Emily estava na cópia do e-mail e interveio, porque eu não sabia como dizer que a coisa era horrenda.
— E já escolheram?
— Ah, sim... vai ser em um tom de bronze, de um ombro só e meio brilhante. É bonito.
— E o dela? Você ajudou? – Mamãe continuava o interrogatório.
— Sim, por vídeo, depois de quase seis horas de caça ao vestido ela achou o que queria...
— Vai dar para esconder a barriga?
— Ela não está mostrando. Nada. Não sei se é sorte, ou só prova que o bebê dela vai ser pequeno que nem ela. – Fiz piada.
Papai parou no mesmo restaurante que almoçamos no meu primeiro dia. E, estava mais calado do que o normal.
Mamãe desceu primeiro e eu fiquei para trás, ao lado do meu pai.
— Você está bem, filha? – Me perguntou.
— Sim.
— Não parece. Não quando está tão magra e pálida.
— Eu sempre fui branquela, pai.
— Não, Liz. Você está sem cor, sem vida.
— Pai, não quero ser rude. Mas mamãe já deu esse sermão. De todas as pessoas, era você quem deveria estar feliz, afinal o “Marine Suicida” se foi. – Respondi e apressei o passo, deixando-o para trás.
O almoço foi silencioso e com a famosa torta de climão rondando o ar, eles acham que eu não percebi, mas vi que papai sinalizou para minha mãe não tocar em um determinado assunto, e só tinha um assunto que eles queriam falar comigo.
Sean.
Só que eu não tinha mais nada para falar sobre ele. Tinha acabado e ponto final. E queria que eles entendessem isso. Por que ficar falando de algo que já acabou? Como diria Edna Moda de Os Incríveis, “quem vive de passado é museu!”
E assim, o almoço acabou e nós voltamos para o campus, minha mãe quis ir dar uma volta pelo lugar e me arrastou junto, comprando pra mim até um sorvete como se eu fosse uma garotinha de 5 anos.
Aqui e ali, era possível ouvir o tal do apelido que me colocaram e tinha se espalhado.
Mascote! Mascote! Mascote!
— Até quando vão te chamar assim? – Papai perguntou irritado.
— Até o momento em que eu sair ou se eu pintar o cabelo... não me reconhecem quando eu estou de capuz ou de toquinha...
— Você disse que não ia pintar o cabelo! – Papai murmurou mal-humorado.
- Papai... se eu já aguentei quatro anos... o que são mais doze meses?
E ele ficou calado de novo, mas eu sabia, papai queria falar algo comigo.
Sabe aquela frase que um fuzileiro não desiste nunca? Isso é verdade, porque, faltando alguns minutos para a minha defesa, mamãe pediu licença para atender a um telefonema importante e papai e eu ficamos à sós.
— Sean apareceu lá em casa.
— Papai eu já disse...
— Ele foi me perguntar o que tinha acontecido com você. Estava preocupado com a sua saúde, sua aparência o assustou.
Revirei meus olhos.
— Ele não entendeu o motivo de você ter...
Bufei.
— Não entendeu... ele some por OITO meses e não entende. Claro. Porque ele é o santo. A vítima. – Desdenhei.
— Você sabia desde...
— Que ele sairia em missões nas quais eu não ficaria sabendo sobre o que era, sim! Mas todas as vezes que ele saiu do país ou foi enviado para um treinamento, ele me falou, ele se despediu. Dessa vez ele só sumiu. Por longos oito meses! E quando apareceu na minha frente, estava usando o seu lindo uniforme e, SURPRESA, tinha sido promovido e não tinha o menor indício de que tinha saído do país ou sido enviado para alguma missão. Se ele queria se livrar de mim, bastava falar. – Terminei.
— Não acho que tenha sido isso.
— Vai defendê-lo agora? Sério? O mundo dá voltas, não? – Me virei e o deixei ali. Meu nome foi chamado e eu logo entrei no auditório para começar a minha defesa.
Uma hora depois saí, os dois estavam lá parados perto da porta, me esperando.
— Como foi? – Mamãe me perguntou.
— Aprovada. Nota máxima tanto na defesa oral quanto na tese escrita. Não fiz mais do que a minha obrigação.
— Meus parabéns, filha. – Papai me cumprimentou.
— Obrigada. Agora vou poder me concentrar nas provas. Consegui adiantá-las e semana que vem estou em casa! – Dei a boa notícia.
— Isso é ótimo, Liz! Vai ser bom te ter em casa uma semana mais cedo! Quer que venha te buscar? – Mamãe me abraçou.
— Não precisa! Já reservei a passagem, mas vocês poderiam levar um pouco das malas... já que estão de carro... – Joguei verde.
— Isso podemos fazer! – Ela me garantiu e nós começamos a sair do corredor que dava acesso ao auditório.
— Não quer comer mais nada? – Papai questionou.
— Não, pai! Comi mais do que deveria! Estou até pesada.
— Está precisando engordar um pouco! – Ele pegou o meu pulso e fechou o polegar e o indicador em volta dele.
— Eu estou bem, papai. Pode ficar tranquilo.
— Ah, Liz. Eu quero ler as suas teses. – Mamãe disse.
— Tenho cópias físicas e eletrônicas, qual a senhora quer?
— Qual você acha?
— Velha guarda... – Ri. – Vou pegar lá no quarto. Estão com presa?
— Por quê?
— Preciso arrumar as malas que vocês vão levar para mim!!
Subi correndo as escadas, escancarei a porta e corri para o guarda-roupas.
— Pelo amor de Deus. Não jogue tudo dentro dessa mala, como se fosse o seu pai arrumando a mala dele. – Ouvi minha mãe reclamar.
— Não vou!
Ajeitei as duas malas gigantescas e logo tive que ligar para o meu pai para que ele me ajudasse a descer com aquilo tudo.
Os dois se foram não muito depois, contudo papai me deu um recado um tanto estranho, uma folha de papel dobrado.
Liga pra ele, Liz. Ele não vai poder te contar tudo, mas te garanto que teve um bom motivo para não ter ligado. Se ele pudesse, teria feito.
Peguei o papel, embolei e joguei no lixo.
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1.5 – Elena
Minha liberdade estava completa, depois de assinar o livro e o termo de presença, tinha acabado de receber o meu diploma. Era uma mulher formada em Direito, com especialização em Psicologia Forense. Isso aos 21 anos de idade.
E, claro, com casamento marcado e um bebê a caminho.
Definitivamente eu tinha que ser estudada pela NASA.
Toda a minha família veio para a Colação de Grau e, desnecessário dizer que teve gritos de "Elena" e "Little Princess" vindos da plateia quando eu subi no palco e peguei o canudo. E, no momento em que cheguei no alto dos sete degraus, pude ver que cada um prendeu a respiração, com medo de que eu caísse dali.
Eu não caí... por incrível que pareça a gravidez tinha me dado um equilíbrio sensacional... desde que descobri, à sete semanas, eu não tinha levado nenhum tombo, torcido o pé ou até mesmo batido o dedinho em uma quina.
Mesmo sem festa, tio Dave disse que era um momento para se comemorar e nos bancou em um jantar pra lá de chique, não reclamei, estava comendo por dois e adorei a surpresa.
Minha meta agora era fechar todos os meus pertences em caixas, esvaziar o dormitório e levar tudo para D.C. Com essa parte pronta, acabar de organizar o casamento.
Tudo já estava encaminhado, só faltava o buquê e as flores que iriam enfeitar o corredor do salão – nada de casar em igreja para mim, minha mãe foi excomungada e não entra em igrejas.
Estava na dúvida de quais flores queria, cada dia era uma... assim, preferi que só daria o sim ou não e deixei que minha mãe e tia JJ me ajudassem nisso, tendo em vista o meu vestido, a roupa do noivo e do casal de padrinhos.
Quando acabei de lacrar a última caixa e dei uma olhada no meu dormitório, agora vazio, me senti nostálgica, pensar que há quatro anos eu estava me desesperando por conta do meu primeiro dia e hoje sei que vou sentir falta de tudo isso.
Saio de Yale muito diferente de quando entrei, certa de que fiz muitas besteiras, acertei bastante também, cresci, mas, ao mesmo tempo, ainda sou a mesma Elena que sempre vai querer correr para os braços da mãe quando tiver algum problema.
Como eu disse, nostálgica – ou era só os hormônios me deixando emocional demais.
— E essa é a última! – Anunciei.
Meu noivo ficou feliz.
— Não sabia que cabia tanta coisa dentro desse quartinho.
— Você não faz ideia da minha capacidade de ser acumuladora!! Vá se acostumando! – Dei um beijo nele. – Nem acredito que acabou!
— A fase dois acabou, Elena.
— Que venha a fase três! – Falei e apontei para a minha barriga.
— A mais longa delas...
— Que será dividida em 3.1; 3.2 e sabe-se lá mais quantas! – Eu ri.
— Pronta pra ir? – Papai que tinha vindo me buscar, perguntou da porta.
— Prontíssima!! – Falei pegando a minha bolsa e minha mochila. Uma última conferida para ver se nada estava ficando para trás e dei adeus à Yale, fechando a porta do dormitório.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Sobre o teste de gravidez com um coelho... isso já existiu e eu não vou descrever aqui... quem quiser, pai Google resume como eram feitos os primeiros testes de gravidez do mundo!
Se ficou confuso, Ella é a filha de Jack e Lara, a primeira neta de Hotch e Emily.
Sim, eu fiz essa bagunça toda!! Elena está grávida e de casamento marcado, enquanto Liz terminou com Sean direito à uma cena daquelas...
Daqui a pouco vem o capítulo 2, está gigante, aguardem!!
xoxo