Como Elas Cresceram Tão Rápido? escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Elena


Notas iniciais do capítulo

Sim, Elena já está indo para a faculdade... e não.. não tem nenhum desastre grandioso dessa vez...

Espero que gostem!

Boa leitura!!



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— Como passou tão rápido?! – Me vi perguntando para as paredes pela milionésima vez só neste dia.

Eu ainda não acreditava que a minha bebê estava indo para a faculdade, que estava saindo de casa, que ia começar a vida adulta dela...

Só de pensar em Elena e toda essa liberdade, meu estômago gela. Como eu posso deixar a minha guerreira, minha mini decifradora de dicas, minha desastrada mor, minha garotinha treinada pelos maiores loucos do planeta, minha companheira de receitas fracassadas, minha incendiária do dia dos namorados, minha menina com dois pés esquerdos, minha bebê, ir embora?

Eu simplesmente não consigo! Eu não posso fazer isso! Como a minha mãe me deixou ir tão facilmente? Como eu saí de casa com tanta facilidade?

Não dá para colocar Elena e toda uma faculdade em uma mesma cena! Todos concordam comigo, de Aaron à Reid, de Jack à Chris, de JJ á PG, todos têm a mesmíssima opinião: A destrambelhada não tem condições de sobreviver longe da nossa vigilância contínua.

Dave até me deu a ideia de por alguém atrás dela, pelo menos no primeiro semestre, pois a chance de algum desastre acontecer é enorme. Penelope disse que isso não seria necessário, ela poderia hackear os gadgets de Elena e saber, na hora exata onde ela estava, e se tudo estivesse devidamente conectado, até o que ela estava fazendo.

Achei útil, mas de uma invasão de privacidade sem precedentes.

Mas um rastreador não faria mal... desde que ela soubesse.

Acontece que trazer o assunto: "Você vai se mudar neste domingo" não tem sido fácil. É falar as palavras faculdade, Yale, mudança e Elena se fecha igual a uma ostra e depois dispara a chorar como se estivesse de TPM.

Ninguém sabe o que fazer, como agir, porque quando Elena começa a chorar, eu choro junto e nós duas nos sentamos sofá para por tudo para fora.

Aaron já tentou perfilar a própria filha para saber o que ela esconde, já que ela não conversa ou chora na frente dele. Para Aaron tudo o que sobra. é um silêncio de outro mundo. E tudo o que ele conseguiu desvendar foi:

Medo e Incerteza.

Elena está apavorada, não sabe como agir, não sabe como vai ser o futuro. E está morrendo de medo de deixar a segurança que ela conheceu nos últimos 18 anos. Tanto que ela vem tendo pesadelos, há duas semanas isso começou, e não raro ela acorda gritando. Quando nós entramos correndo no quarto dela, encontramos Elena sentada na cama, abraçada às próprias pernas, chorando, perguntei o que tinha acontecido e ela só me disse:

— Tinha muito tempo que esse pesadelo não aparecia... nem sei o porquê de ter gritado.

— Elena... – Hotch tentou.

— É... só, que... deixa pra lá.

— Filha, não podermos simplesmente “deixar para lá”. O que foi?

Ela respirou fundo.

— Vocês não vão gostar... – Ela nos encarou, olhando nos olhos.

— Diga filha. – Aaron tentou novamente.

— Sonhei com o meu sequestro, só que dessa vez o final era muito diferente. Vocês simplesmente não chegavam. Eu tinha plena consciência de que estava sonhando, de que aquilo não era real, mas mesmo assim me apavorou por completo. – Ela falou, recomeçando a chorar.

Tudo o que fizemos foi abraçar a nossa filha.

O veredito é: Elena detesta mudanças. Aprendeu isso com Penelope e com Spencer. Ela é apegada demais às tias, aos tios, ao irmão, à cunhada e a nós para conseguir pensar em nos deixar. E a maneira como nós sempre a tratamos piora tudo isso.

Elena é o centro do meu mundo. É a garotinha do papai. A irmãzinha. A sobrinha por quem cada um de nossa família é capaz de fazer qualquer coisa. Assim, pensar em perder essa proteção tem tirado o sono e a paz dela.

A nossa também. Mas por um motivo completamente diferente.

O meu é egoísmo puro. Eu quero a minha filha do meu lado. Já Aaron é uma mistura de excesso de proteção com ciúmes.

Acontece que nós temos que deixá-la ir. Pois sabemos que é para o bem dela, que ela tem que viver a vida dela, nos fizemos isso, ela também é bem capaz de fazer e vai se sair muito melhor do que nós. E esse é o meu lado racional falando, tentando tomar o controle sob o meu emocional que resiste com unhas e dentes em “abrir mão” da minha filha.

Passei a mão pelo meu rosto, tentando me fazer focar no presente e nas cinquenta e quatro horas que ainda tinha com Elena debaixo da minha asa.

Alguém bateu na porta. Tudo o que eu não precisava no momento era ter um caso que me mandasse para o Alasca!

— Entre. – Pedi.

Eram Derek e JJ.

— Meu Deus, mandaram os guardiões! O que Elena aprontou?

— Nada, viemos porque Garcia está chateada demais com a ida da Little Princess para a faculdade e Rossi ainda está tentando convencer o Diretor do FBI, também conhecido como seu marido, a mandar, no mínimo, dois seguranças com Elena para Yale. – Derek me disse.

— E quem está com Garcia?

— Quem mais? – JJ sorriu. – Lógico que o Alvez!

Ri... mais um casal formado dentro do FBI.

— Nem precisava ter perguntado, mas depois do seu pequeno discurso, Morgan, o que vocês realmente querem?

— Uma despedida apropriada para Elena.

— Isso vai ser difícil, pessoal. Ela mal vem abrindo a boca, e ontem estava soluçando ao fazer a mala... – Comentei.

— É por isso que temos que fazer essa despedida! Little Princess precisa saber que ela está indo para a Faculdade e não para a forca!! Ela sempre pode voltar.

— Tudo bem... mas quem vai conversar com ela?

— E esse é o segundo motivo para estarmos aqui... – JJ abriu um sorriso. – Quem melhor para conhecer a cria do que a mãe?

Eu juro que me deu vontade de dizer a JJ que ela sabia sobre esse sentimento desesperador que é deixar o filho na faculdade... mas Henry estava bem mais perto do que Elena vai estar.

— Vocês querem que eu convença a minha filha a querer participar de uma festa de despedida da família.

— A Babygirl conseguiu que Chris participe também. Vai ser bom pra ela.

 - Eu posso até tentar, mas não posso prometer nada. Elena está imprevisível. - Falei.

— Sábado à noite, na casa de Rossi. Vamos todos. Henry ainda não voltou para Columbia...

— Tudo bem. Vou ter que levá-la amarrada e amordaçada, mas vamos estar lá! – Confirmei sem ter certeza de como eu faria isso.

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Eu queria chorar. Queria voltar a ser criança... Acho que queria voltar a ser um óvulo, deve ter sido o último dia em que me preocupei com alguma coisa.

Corri os olhos pelo meu quarto. Tudo o que significava “importante” estava separado, o que, na verdade, era 90% das minhas coisas, porém eu não poderia deixar nada para trás! Nada.

Papai já tinha surtado com a quantidade de malas, mamãe jurou que eu poderia reduzir no mínimo três, das sete que levava e eu me argumentava pegando uma determinada coisinha:

— E seu eu precisar disso? Vou estar longe demais para vir buscar e sei que ninguém vai querer levar para mim ou me mandar por drone!

Papai só bufava e mamãe revirava os olhos e depois saía fungado. E ao escutá-la fungar, eu começava a chorar tudo de novo.

Andava chorando tanto nos últimos dias que meu rosto adquiriu um tom rosa permanente, não importa o que eu fazia, lá estava a cara rosada de choro.

Como disse Scar: A vida não é justa.

Não mesmo.

Assim, me sentei no meio do quarto e coloquei a última mala do meu lado, e ao fazer isso, todas elas explodiram, com direito a todas as minhas roupas voando para fora e me cobrindo. Pensei em ficar por ali e fingir que o mundo não existia, que eu tinha cinco anos e estava brincando de ter uma cabana no meio dos Apalaches.

Teve uma época que tudo o que eu queria era ir morar nos Apalaches, eu estava um tanto obcecada com tudo o que vinha de lá, e queria porque queria fazer a trilha de 3.500 km de qualquer jeito. Papai muito calmamente me explicou que 3.500 km é muito chão e que eu era nova demais para andar na trilha.

Anos mais tarde descobri a verdade, o problema não era a trilha é a quantidade de gente que já desapareceu percorrendo-a. Dizem que tem um serial killer bem ativo por toda a sua extensão. Aí, quando fiquei sabendo disso, simplesmente decidi que se eu realmente quisesse andar, eu poderia ir na trilha mais movimentada do Rock Creek Park. Não que lá não tenha malucos, mas é mais perto de casa e eu tenho uma taser para me defender.

Começou a ficar realmente abafado embaixo do monte de roupas, a grande maioria era de inverno, e eu me arrastei para fora e dei de cara com mamãe, que também ostentava um permanente tom de rosa no rosto e vermelho nos olhos.

— Credo, mãe!! Faz bem bater!!

— Brincando de cabana? Quer se mudar para os Apalaches?

— Fiz um upgrade no meu sonho, vou me mudar para os alpes suíços! – Brinquei.

— Por que tá tudo assim?

— A mala explodiu!

Mamãe riu.

— Fala sério, Elena!

Apontei para os fechos arrebentados.

— Você explodiu sete malas???? – Ela estava incrédula.

— Tecnicamente isso deve ser defeito de fabricação... porque eu só fechei as malas, elas explodiram sozinhas! – Me expliquei. Nem todos os problemas do mundo eram causados por mim, só 70% deles.

Mamãe passou os olhos pela bagunça.

— Se eu enfiar tudo em sacos de estopa deve ser mais rápido.

— Para nossa sorte, isso não é difícil de se arrumar. – Ela disse cansada e passou pela pilha de roupas até uma das malas que, olha a coincidência, era dela.

— Essa aqui...

— É a maior mala da casa!

— Essa aqui é minha, Elena! – Mamãe levantou a voz.

Nisso papai apareceu, bateu na porta e pôs a cabeça dentro do quarto.

— Viu ele sabe bater! – Olhei sugestivamente para mamãe.

— O que aconteceu aqui? Por que o guarda-roupa da Elena está todo no chão do quarto?

— As malas explodiram, Aaron!

— Como você conseguiu fazer isso, Elena?

— Não foi minha culpa! As coisas só explodiram!! Agora eu vou ter que guardar tudo de novo!! Lá se vai outra noite em claro! – Reclamei.

— Para que você está levando esse vestido? – Minha mãe pescou a peça no meio de todas.

— Eu gosto dele, é praticamente de estimação.

— Você não vai usar alcinhas no meio do inverno Elena! – Frisou e arremessou um dos meus vestidos preferidos na direção de papai. – Aaron, faz uma pilha do que ela não vai precisar.

— Mãe!! Eu não tenho dez anos para a senhora fazer a minha mala!! – Protestei batendo o pé!

— Parece que tem, ainda mais fazendo essa pose. – Papai falou e eu olhei para ele com cara feia.

— Quem aqui está acostumada a fazer uma mala praticamente todos os dias, Elena?

Me joguei no chão, me sentando igual a um buda e cruzei os braços. Ela queria fazer isso, então boa sorte.

No final de quase cinco horas, mamãe tinha separado três pilhas. As roupas que com certeza eu iria precisar, as roupas que eu definitivamente não iria precisar e as roupas de festa que ela nem sabia que eu tinha.

Tenho que dizer que a pilha do que eu efetivamente levaria tinha diminuído consideravelmente.

— Pronto. Agora vamos tratar jeito de colocar essa pilha na mala, sem sobrepeso para não as explodir de novo, enquanto você, Elena, guarda estas aqui.

Encarei a pilha de roupa, minhas peças favoritas estavam ali, inclusive alguns sapatos.

— Mãe... se eu precisar...

— Você não vai precisar de um salto 10,5, Elena, agora trate de guardar tudo isso.

Comecei a ir e vir dentro do quarto, dobrando as roupas que ficariam na minha casa, certa de jamais iria usá-las de novo. Enquanto mamãe, sentada no chão, dobrava, enrolava e arrumava a minha mala. E sim, ficou muito melhor do que quando eu arrumei.

Mais duas horas de arrumação e falação, e tudo estava pronto. Só faltava a minha mochila com o notebook, eletrônicos e cadernos, mas essa eu arrumaria no sábado à noite, já que teria que deixar muitos carregando.

— E só para te lembrar, temos um jantar na casa do Rossi, sábado à noite.

— O que o Tio Dave está comemorando? Outra quebra de recorde de venda de livros?

— Ele não disse, mas chamou a todos. – Me respondeu.

— Ser rico é bom por causa disso, sem motivo aparente, resolve dar uma festa... – Comentei. Mas na verdade, eu adorava as festas na casa do tio Dave!

O resto da semana passou e a cada dia que se aproximava do temido domingo da viagem, meu estômago dava nós. Pisquei era sábado e mamãe estava me gritando, me mandando ficar pronta logo.

Eu não estava com a mínima vontade de sair, por dois motivos, eu não queria que o sábado acabasse, se o domingo nunca chegasse, eu jamais teria que ir para a faculdade e deixar a santidade do meu lar e, segundo, meu namorado lindo tinha ido mais cedo para a Califórnia. Sim, ele nem ficou para se despedir de mim ou me apoiar quando eu saísse de casa, não... ele se foi mais cedo neste ano com uma desculpa esfarrapada de que tinha uma reunião do time de basquete. Acreditei tanto nele quanto a Princesa Diana acreditou quando o Príncipe Charles jurou que não a traía.

Enfim, eu não tinha como fugir disso, me levantei da cama, procurei uma roupa no armário – se é que tinha me sobrado alguma, mas me lembrei que era verão e peguei o vestido que mamãe tinha descartado. Me arrumei de um jeito que eu não parecia mais que tinha chorado por um mês, mas sim nas últimas doze horas e fui encontrar os meus pais que já me esperavam dentro do carro

— Por que você tem que demorar tanto para colocar um vestido? – Papai me perguntou.

— Me atrasar é o meu charme. – Brinquei e ganhei uma encarada de resposta. – Para o senhor me xingar? – Também não colou. – Bem... para sermos sempre os últimos a chegar?

— Tudo bem, Elena, pare de brincar com a sorte... – Mamãe me cortou.

Tirei meu celular do bolso do vestido e procurei por qualquer indício de que Chris tinha se lembrado de mim. Não tinha.

Resolvi mandar uma mensagem para minha melhor amiga e agora rival de faculdade.

Por acaso o seu namorado deu o ar da graça e veio se despedir de você?

Lizzy respondeu na hora.

Sean está aqui. Queria me levar para Harvard amanhã, mas papai não deixou.

Sorte a sua.— Foi a minha resposta.

Chris não deu o ar da desgraça dele?

Desgraça mesmo. Aquele lá sumiu do mapa! Justo quando eu precisava de alguém para bater.... ☹

Kkkkkk lembre-se, é para isso que serve os irmãos... bata no papai do ano!

BOA!!! Cadê o Jack quando eu preciso dele?

A gente se fala amanhã, aproveite a comida na casa do Rossi, sei que a coisa por lá é boa. E Sean está te mandando um boa sorte, disse que é para você não por fogo na faculdade no seu primeiro ano, que é para fazer isso quando estiver saindo.

QUANTAS VEZES EU TENHO QUE DIZER QUE FOI UM ACIDENTE?? Mas pelo menos eu não tentei matar o meu namorado.— Retruquei.

Quer fazer isso agora. Ehehehehe. É sério, tenho que ir. Papai tá me encarando com cara de dúvida, acho que o notebook que ele catou de mim travou de novo!

Tchauzinho e cuidado para o seu pai não explodir o pobre.

Meu pai não explode coisas. Ele atira nelas!! Sorte a sua que o seu não tem aversão à tecnologia!— Liz me respondeu e depois ficou offline.

Nós tínhamos chegado na casa de Tio Dave. E olha que beleza, Jack estava aqui, acho que vou fazer o meu irmão de saco de pancada!!

Descemos do carro e quando tocamos a campainha tio Dave veio nos atender, como sempre tinha um pano de prato no ombro.

— Vamos lá que vocês já estão atrasados! - Ele nos guiou até o jardim dos fundos, onde tinha sido o casamento da tia JJ e quando eu coloquei os pés no gramado fui recepcionada por toda a minha família – o sumido do meu namorado também está lá – cantando, desafinadamente algo como:

— NÃO NOS DEIXE AQUI, ELENINHA!! POIS VAMOS MORRER DE SAUDADES...

Ou seja, a pior paródia da história para Don’t cry for me Argentina. Acontece que mesmo a turma cantando de forma desafinada isso me fez chorar.

— Isso tudo é pra mim? – Apontei para a decoração e depois para cada um deles.

Tia JJ foi a primeira que veio para o meu lado e me deu um abraço tão apertado que eu quase perdi o ar.

— Mas é claro!! A Princesinha da BAU merece uma despedida em grande estilo!! – Ela me disse e me carregou para o meio de todos.

 - E pode apostar que não vai ficar só nisso aqui não!!! – Tia Pen anunciou!! – Eu chorei a semana inteira preparando os mínimos detalhes da sua despedida. É claro que tudo vai ficar perfeito!! – Ela veio se equilibrando nos saltos e abraçou Tia JJ e a mim.

— Eu sei que vai, tia! – Funguei vergonhosamente.

— Nananinanão!! Ninguém vai chorar, por enquanto!! Vamos aproveitar que você ainda está aqui. Que está do nosso lado! Olha, eu trouxe até o Chris. – Ela continuava a falar e me puxar pelo gramado.

Vi tio Derek sorrindo dos exageros da BabyGirl e Alvez olhar para ela apaixonado.

— Você mentiu pra mim!! – Acusei Chris.

— Ou eu mentia pra você, Lena, ou eles atiravam em mim. – Ele olhou para o restante da equipe que fazia aquela cara de que estavam muito entretidos nos celulares.

— Vocês ameaçaram matar o Chris?! – Chiei. Ele, do meu lado, abriu um enorme sorriso por eu o estar defendendo. – Só eu tenho esse direito aqui. – Chris deu um passo para trás e tio D começou a rir e meu pai, claro, acompanhou. – Falando em bater em alguém, cadê o Jack?

— Tô aqui, irmãzinha! – Ele falou sentando em uma mesa ao lado de Lara.

— Que saudade de você!! – Falei e fui para o lado dele. Um silêncio daqueles caiu sobre todos e vi que eles se encaravam, até Jack estava com uma sobrancelha levantada, desconfiadíssimo de mim.

E não era para menos, assim que cheguei perto dele, abri a mão como se fosse fazer um carinho nele e lasquei um tapão atrás de sua cabeça.

— Mas o que foi que eu fiz dessa vez? – Ele perguntou esfregando a cabeça.

— Poderia dizer que você nasceu... mas isso não foi sua culpa, te forçaram nesse mundo, a verdade é que eu estava doida para bater em alguém e você sempre será a minha primeira opção! – Disse com um sorriso nos lábios e o deixei ali. Foi me virar e eu recebi um soco no braço. – Não ouse, Jack Hotchner, você não é páreo para mim! – Ameacei.

— Então vem, baixinha!! – Ele chamou se levantando da mesa.

— Se eu não estivesse de vestido e salto, você tomaria a maior surra da sua vida, Senhor Agente Especial Jack Hotchner!!

— Vai fugir da briga!! Tá com medinho!! – Ele começou a me provocar.

— Não, estou salvando a sua dignidade, Irmãozão!! – Encarei meu irmão por uns quinze segundos até que caímos na gargalhada.

— Vem aqui sua peste! – Ele me puxou para um abraço.

— É, hoje eu vou chorar de verdade!! – Tia Pen disse.

Nos sentamos à mesa e começamos a conversar, cada um da minha família tinha um conselho bom e um conselho ruim para me dar. Estranho que todos os conselhos ruins envolviam uma ressaca das bravas.

— Não que você já não tenha passado por uma ressaca daquelas, não é Little Princess.

— Eu perdi a memória daquela noite, Tio D. E a dor de cabeça do dia seguinte não me deixou lembrar de mais nada... – Dei de ombros.

— Sei... você pode não se lembrar, mas eu nunca vou esquecer de você caindo da minha caminhonete com a cara na sua bolsa.

Não respondi nada, mas senti meu rosto corar. Esse mico jamais será apagado da minha vida!!

— Esse não foi o melhor mico dela. – Tio Spenc soltou.

— E qual foi? – Mamãe quis saber.

— O carro dentro da farmácia.

— Cara... eu fui presa... não foi legal.

— Foi sim. O vídeo da sua cara de assustada é um dos meus favoritos! – Jack falou.

— E a cara dela quando desce do carro e tenta entender como foi que ela tinha conseguido fazer aquilo... – Tia PG soltou.

— Como vocês conseguiram esses vídeos? – Perguntei injuriada.

— Eu achei alguns na internet. – Tia Pen me respondeu.

Encarei Jack.

— Penelope me mandou, mas recebi alguns da Elizabeth.

— Aquela ruiva traíra!!

— Eu escolho outro momento. – Tia Tara soltou.

Mordi o lábio, o que viria dela.

— A Hera venenosa.

— Mas sobrou pra todo mundo!! – Simmons disse.

— Ela passou uma semana como o Baby da Família Dinossauro!

— Nunca se esqueçam que vocês só saíram mais cedo daquele treinamento casca grossa porque euzinha aqui bolei um plano mirabolante! – Me defendi.

— Claro... e eu serei eternamente grata pela foto dos dois pilateiros mortos no sofá! – Tia JJ disse com um sorriso.

Claro que papai e mamãe odiaram a lembrança, eu adorei, desviou o foco de mim um pouco.

O jantar foi servido, alguns rindo dos pratos, contudo, tio Dave escolheu o menu para me agradar, mas no fundo agradou foi a todos. Na hora da sobremesa.

Founde.

— Ai caramba. – Chris soltou do meu lado.

Eu comecei a rir.

— Essa piada eu não conheço... podem me atualizar. – Savannah falou.

— Aquele dia dos namorados...

— O que você colocou fogo no restaurante? – Kristy perguntou.

— Não coloquei fogo em nada... foi um acidente!! – Murmurei.

— Foi nada, Elena. Todo mundo já está cansado de saber de que você é um imã para desastres! – Tio Spenc falou.

— Continua falando assim e te garanto que não me deixam ir para Yale. – Retruquei.

— E você ia ficar tão chateada com isso... – Tia Tara soltou.

— Não vou confirmar nem negar a informação...

— Dá pra voltar para o assunto founde e dia dos namorados? – Kristy pediu.

— O acidente começou quando a vela tombou... e depois...

— O caos. – Mamãe continuou por mim.

— Foi mais ou menos isso. – Fiz uma careta.

E todos começaram a rir.

A pior memória que trouxeram, o dia do baile de inverno e papai tentando atirar em Chris. Mas foi divertido lembrar, pelo menos eu teria muitas histórias para me lembrar.

— Vocês esqueceram do pôquer no Hawaii!! A pergunta mais fora de hora da história!! – Tia JJ nos lembrou.

— E até hoje eu não tive a minha resposta sobre a noite em Atlantic City... acho que vou ter que ir lá para conferir.

— Nem pensar que a mocinha vai ir até Atlantic City para isso! – Papai cortou a minha ideia.

Mas é ciúme... ciúme de você....— Tio D começou a cantar.

— Acho que todos vocês perderam o medo de morrer nesta noite, não? – Perguntei enquanto papai encarava tio D e mamãe tentava não rir, ainda mais.

— Tudo bem, o papo tá ótimo, mas a noite ainda não acabou! – Tia PG se levantou e foi para dentro da casa.

— O que mais vem agora? Eu já não fui o centro das atenções demais? – Perguntei aflita.

Tia JJ e Tia Tara acompanharam a hacker número um do FBI.

— Little Princess, você não acha que nós deixaríamos você ir para longe sem nada para lembrar de nós, acha?

E as três voltaram. Tia PG e Tia Tara com uma caixa na mão cada uma e tia JJ carregava um embrulho enorme.

— Nós te mimamos até agora, já que você é a Princesinha da BAU, e não deixaríamos de mimar só porque você está indo embora temporariamente... – Tia Pen disse e me entregou uma caixa.

Tinha um cartãozinho nela. Abri o cartão primeiro. Era assinado por todos os meninos da equipe, mais o meu irmão e curiosamente, meu namorado.

Para você se sentir segura dentro do campus.

Um arrepio desceu pela minha espinha.

Abri a caixa com um frio no estômago. E lá dentro tinha um taser, um spray de pimenta, um soco inglês, um canivete e um rolo de silver tape, isso sem contar com os cartuchos reserva de taser, contei, por alto, mais uns vinte.

— Nossa!!! Eu estou indo para a guerra e não me avisaram? – Tirei o taser e mostrei para todos. Papai começou a rir.

— Nunca se sabe. – Matt me respondeu com um sorriso.

— Eu duvido que as suas meninas vão ter isso! – Brinquei.

— Eu vou enrolá-las em plástico bolha!! – Foi a resposta que ele me deu e tomou uma cotovela de Kristy. – Ou não!

— Em quem eu vou testar a minha mira com o taser? – Perguntei encarando os meninos, inclusive meu pai.

— Chris está bem do seu lado! – Papai resmungou.

— Jack também... – Sorri para o meu irmão e apontei a arma. – Acho que eu estou pronta para a briga agora, Jackzinho do meu coração!!

— Vamos parando!! Ainda tem mais surpresas!! – Savannah disse.

Tia Tara me entregou a outra caixa. Nessa o bilhete era assinado por todas as meninas, incluindo Lara, Savannah e Kristy.

— Preciso ter medo?

— Claro que não!! – Elas sorriram.

Abri a caixa e vi um kit de primeiro-socorros, do lado de dentro da tampa, estava escrito:

Esta é a caixinha para a maior estabanada da história guardar o kit de primeiros-socorros!

— Sério?!

Mamãe gargalhava do meu lado.

— Tira tudo daí, Elena! – Lara falou.

Fui tirando os itens de primeiro-socorros, band-aids não faltavam em uma das caixas tinha até um post it:

Para você nunca mais precisar ir a uma farmácia de carro e trocar os pedais quando for engatar a marcha ré!

Quando terminei de tirar tudo, vi que tinha uma outra caixinha lá dentro, essa menor. Tirei-a e abri. Lá dentro estavam vária fotos. Muitas mesmo. De todos os momentos que foram conversados nesta noite. Desde meu primeiro aniversário, até o infame dia dos namorados... e cada um dos desastres também.

Junto com as fotos, tinha vários pequenos imãs.

— E isso – apontei para tia JJ. Ela veio e me entregou um mural magnético, lindo. Tinha o fundo branco, para combinar com a parede do dormitório, e as bordas eram enfeitadas com pequenos gatinhos e unicórnios, uma clara referência que fora Tia PG quem o escolhera. Comecei a chorar! Mina família tinha me dado as melhores recordações para levar comigo, não só estes presentes, mas esta noite, todas as conversas, todos estes momentos!! - OBRIGADA!! MUITO OBRIGADA!! – Comecei a correr na direção de cada um e abraçá-los. Lógico que no meio do caminho eu tropecei.

— E a Elena que nós conhecemos finalmente apareceu! – Luke brincou quando Matt teve que me ajudar ou eu era bem capaz de estatelar com a cara na grama.

Acabei de abraçar cada um deles e parei ao lado do Tio D, ele, de todos, sempre fora o meu preferido, e, muitas vezes, o meu segurança também, mas todos eles eram especiais à sua maneira.

Se tio D era o meu segurança particular e preferido. Tia JJ era a minha segunda mãe, Tia PG, a minha irmã mais velha maluquinha, Tia Tara aquela tia que topa qualquer coisa, tio Spenc era... bem o gênio nerd e fofo e quase outro irmão mais velho, Tio Dave, praticamente o meu avô substituto, já que não conheci nenhum dos dois, Matt e Luke, eram realmente os tios que viviam implicando comigo, mas se eu precisasse. E juntando a eles, tinha os maridos, as esposas e os filhos. Krystall, Kristy, Will, Maeve, Savannah. E meus primos, Joy, Henry, Michael, Hank, Jake, David, Chloe, Lilly, Rose. Sim, eu tinha todos estes primos!!

Ou seja, eu simplesmente tinha a maior e melhor família da face da terra!!

Já estava tarde, iria acordar cedo no domingo para que pudéssemos ir para Yale, meu pai iria fazer esse favor e me levaria até a maior rival de sua alma mater, então tive que começar com as despedidas.

Eu não sei de quem foi mais difícil de me despedir. Não posso simplesmente dizer foi dele ou dela. Doeu do mesmo jeito, chorei a mesma quantidade. Fiz promessas de que mandaria mensagens para todos e que mostraria como o quadro ficou assim que o colocasse na parede.

E tinha a despedida de Chris... ele pegaria um voo cedo para a California e dessa vez eu não iria até o aeroporto com ele. Eu nem sabia como fazer isso. Já nos despedimos incontáveis vezes, já que ele ficava indo e vindo sempre que podia, mas dessa vez era diferente, talvez não seria possível de nos vermos por um bom tempo, talvez só iriamos nos ver no Dia de Ação de Graças...

— Bem... eu comecei e me recusei a olhar em seus olhos azuis ou verdes... isso dependia do dia.

E ele fez algo que nunca tinha feito na frente da minha família. Chris levantou o meu rosto e me encarou, depois me beijou apaixonadamente. Acho que ouvi meu pai tossir no fundo, ouvi palmas e alguém coçando a garganta, mas não me preocupei em quem estava fazendo tanto barulho, me preocupei com meu namorado.

Quando precisamos de ar, nos separamos e ele escorou a testa na minha, era possível sentir que meu rosto estava muito vermelho.

— Jamais se esqueça, Elena. Eu te amo. – Ele me disse. – E eu estou sempre a uma ligação de distância.

Eu deveria ter respondido algo, mas a minha reação incontrolável foi puxá-lo e beijá-lo de novo. Dessa vez eu não escutei nada, eu só sentia e escutava Christopher.

— Eu também te amo. – Disse quando nos separamos. – E eu não vou te deixar jamais! – Falei para ele. Chris pegou meu braço esquerdo e colocou outro pingente no bracelete que ele me dera, uma bola de basquete nas cores da UCLA. Ri com o gesto.

Peguei sua mão na minha, creio que a essa altura, meu pai não se importaria com o gesto, mas não tinha ninguém ali.

— Parece que nos deram um pouco de privacidade. – Chris comentou.

Nossa bolha particular não durou muito e logo me vi rodeada pela minha família. Era hora de ir e me abraçando cada um. Quem visse de fora acharia que eu estava me mudando para o Japão e não para uma cidade há pouco mais de 490 km de distância.

Foi difícil dizer adeus ali. Mas se eu não fosse embora, no outro dia não me levantaria para encarar as cinco horas de viagem até a Universidade. E chorando e abraçada com os presentes que ganhei, voltei para casa.

Não sei quando ou como eu dormi, só sei que acordei com mamãe me chamando.

Foi um ritual estranho esse café da manhã. Papai fez panquecas com gotas de chocolate, tinha chá gelado e tudo o que eu sempre gostei de comer, mas estava silencioso demais...

A campainha tocou eram Jack e Lara que vieram se despedir propriamente. Jack brincando que eu estava na metade do caminho para Harvard.

Essa também não seria uma despedida fácil. Eu ia sentir falta demais do meu irmão, sempre fui grudada nele.

— E lembre-se Leninha, se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, me ligue, não importa o horário, ou o dia! – Ele falou ao me guiar até o carro. – Até de proteção!! – Brincou e me abraçou apertado.

— Acho difícil você cumprir essa promessa, vem aí um serzinho que vai precisar muito mais de você do que eu! – Falei e apontei para a pequena barriga de Lara.

— Para você, Elena, a qualquer hora! – Ela respondeu com um sorriso e me deu um abraço super-apertado. Quando vi, ela estava chorando. – Malditos hormônios!!

— Sei, hormônios... então eu devo estar na TPM!! – Falei, pois eu chorava também.

Não tinha como adiar mais, estava ficando tarde, e se saíssemos muito tarde, pegaríamos um trânsito horroroso. Assim, só me restou entrar em casa, me despedir dos cômodos e da minha confortável cama e depois pular no banco de trás, escondendo os olhos já vermelhos, atrás dos óculos de sol.

Dei adeus à minha infância no momento em que eu saí da rua onde tinha morado nos últimos dezoito anos.

A viagem começou silenciosa, nem papai ou mamãe falaram muito hoje, minha mãe estava igual a mim, escondendo os olhos vermelhos atrás dos óculos escuros, papai também estava com os dele, mas eu não sabia dizer o que se passava por trás de sua fachada sempre bem composta.

Desviei meus olhos deles e resolvi checar as mensagens do meu celular. Minha família já tinha me inundado de mensagens de “boa sorte”, “vai dar tudo certo”, “te esperamos no primeiro ferido prolongado”. “E te amamos, Elena!! Estaremos sempre aqui por você!!”.

Tinha umas quatro de Chris, ele também já estava no aeroporto para voltar para Califórnia. A primeira era me perguntando se eu já tinha saído, ele brincava, querendo apostar corrida sobre quem chegaria mais rápido. A segunda era me dizendo que essa tinha sido a nossa despedida mais difícil. A terceira e a quarta, duas fotos, a primeira foto que tiramos juntos e a última foto, tirada na noite passada. Coincidentemente, estas duas fotos eram a minha tela de bloqueio e o fundo do meu aplicativo de mensagens. Minha tela de fundo era a minha família.

Já estou com saudades. Saí agora. O carro parece um funeral, ninguém conversa ou fala algo... nem me fale em despedidas, não aguento mais chorar... será que fica mais fácil?

Não tive uma resposta na hora, ou ele já estava embarcando ou estava passando pela segurança do aeroporto.

As duas outras mensagens que tinha eram de Elizabeth, pelo visto ela tinha madrugado.

Bom dia para você que pôde dormir até depois das sete... madrugando aqui. Morta de medo do que me espera, não faço nem ideia! Boa sorte em Yale e nos vemos nas competições entre as faculdades!!

A segunda era para me provocar, só pode:

Que vença a melhor faculdade. Não... pera! Harvard sempre vence!! Kkkkk (cada k é uma lágrima!!)

Sim, cada K era uma lágrima!

Cinco horas e meia depois, eu chegava ao meu novo lar, pelo menos pelos próximos quatro ou cinco anos.

Assim que vi os portões da universidade meu coração disparou, minhas mãos tremeram e minha boca ficou seca.

Eu estava apavorada!

Tive que me apresentar na Reitoria para saber em qual dormitório ficaria e pegar as chaves.

Dei sorte, era um quarto menor do que os demais, mas estava sozinha. Não sei o motivo, mas algo me disse que isso tinha dedo dos meus pais e quem era o meu pai no cenário político do país. Não reclamei, seria mais fácil chorar sem ter plateia.

Com a arrumação de mamãe, subimos de uma única vez com tudo. Minhas coisas em três malas, duas mochilas e um mural magnético. Eles me ajudaram a arrumar tudo, mamãe e eu com as roupas, papai com o meu mural e meus eletrônicos. Em uma hora meu apartamento/quarto era um fraco lembrete da minha casa em D.C., e eu teria que me acostumar com isso.

Mamãe, nervosamente, conferiu o relógio. Eu sabia que eles tinham que ir. Mas eu não queria.

— Já tá na hora, né? – Perguntei.

— Sim, filha, já está. – Ela me respondeu.

Eu corri para os dois e os abracei de uma só vez, conseguindo enterrar meu rosto entre eles. Senti as lágrimas de mamãe cair no meu rosto, papai me abraçou o mais apertado que ele conseguiu.

— Eu não sei se vou conseguir. – Admiti. – Estou apavorada demais. Não sei morar sozinha! – Praticamente gemi em desespero.

— Você vai conseguir, filha. E você sabe, pode nos ligar a qualquer hora do dia ou da noite, sempre vamos te atender. – Papai me falou, me puxando para um abraço. Mamãe enxugava as lágrimas e depois me tomou dos braços de papai.

— Eu te amo, minha filha!! Nunca se esqueça disso e nem de que eu estarei do seu lado para o que você precisar. – Ela me disse.

Comecei a soluçar de verdade agora. Eles começaram a ir para a porta, eu quis fazer igual a uma criança birrenta e segurá-los pelos braços, implorando para ir junto ou para que eles ficassem, mas eu sabia que era impossível. Assim, dei o braço para eles e desci as escadas até o hall de entrada, depois os acompanhei até o carro.

Com alívio percebi que não era a única ali que chorava, outras meninas e até mesmo meninos choravam também, pais, mães, avós, avôs, irmãos, todos tinham os olhos vermelhos. Reparei que não chorava eram os veteranos, mas eles pareciam saber o que se passava entre os calouros e fingiam não ver.

Paramos perto do carro. Era o grande momento.

Outro abraço, mais choro.

— Eu te amo, papai! – Chorei no ombro dele.

— Eu te amo filha! – A voz do poderoso Diretor do FBI falhou. Encarei o meu pai e vi uma lágrima ali. Ele tentou limpar as minhas, mas era inútil, eu chorava demais.

— Eu te amo, mamãe! – Falei assim que desvencilhei dos braços de papai, ele não me olhou de novo, preferindo entrar no carro. Fugindo do adeus inevitável. Já mamãe, soluçou comigo, me abraçou apertado, tentou nos fundir em uma pessoa só.

— Eu te amo, filhota!! Muito!!! Saiba que eu estou orgulhosa de quem você está se tornando! – Ela me deu um beijo na testa! – Vou sentir falta de você dentro de casa.

— Eu vou sentir falta da senhora, mamãe. – Fiz o mesmo que ela e retornei o abraço o mais apertado que consegui. Mas estava entardecendo e eles tinham cinco horas de estrada pela frente. Mordi o lábio para não chorar mais, mas foi inútil. Mamãe me soltou relutantemente, e olhou no fundo dos meus olhos.

— Vai lá mostrar para os homens da nossa família qual é a melhor faculdade!! – Brincou abrindo um sorriso no meio de tantas lágrimas. Depois me deu outro beijo na testa, se virou e entrou no carro batendo a porta. Eu não fiquei para ver o carro arrancar, me virei e corri para o meu quarto, nem vi em quem eu esbarrei, meu objetivo era um só, me jogar na cama antes que toda essa tristeza e desespero me tomasse.

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— Como foi que ela cresceu tão rápido? – Murmurei dentro do carro, enquanto via Elena correr de volta para o dormitório. Meu instinto de mãe me dizendo que ela ia mergulhar na cama e chorar até dormir. Eu queria voltar e abraçar o meu bebê, acariciar os seus cabelos até que ela se acalmasse.

— Não sei, Em... parece que foi ontem que ela estava aprendendo a andar. – Hotch tinha deixado a faixada de estoico cair e vi que ele chorava também, dessa vez muito mais do que quando ele deixou Jack em Harvard, pois lá, Elena estava do lado dele. Agora ele não tinha nenhum dos filhos perto.

— Me diga que esse aperto no peito vai passar?

— Se você achar a resposta, me diga, porque eu não sei. – Ele pegou a minha mão.

Olhei para a estrada, era um dos últimos por do sol do verão e o céu estava lindo. Mas eu não achei beleza em nada hoje. Brinquei com os anéis na minha mão esquerda, minha aliança, o anel que Aaron me deu quando Elena nasceu e o anel de noivado. Recomecei a chorar no momento em que relembrei do dia em que Elena chegou a esse mundo, seus dezoito anos de vida passando por minha mente. Cada um dos pequenos e dos grandes momentos.

— Ela vai ficar bem, Em. Elena é esperta e nós a criamos muito bem. – Aaron me disse, mas acho que ele estava tentando se convencer disso.

Eu ia respondê-lo, estava buscando pelas palavras certas quando tanto o meu celular quanto o dele apitaram.

Olhei para a tela, uma mensagem de Elena. Abri na pressa e vi o que ela mandou.

Uma foto de nós três, tirada na noite anterior, sorriamos para a câmera quando ela tirou a selfie. E embaixo, uma única frase:

Eu já estou sentindo saudades. Amo Vocês do fundo do meu coração. E obrigada por tudo!!

Minha menina tinha crescido tão rápido... mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde, esse dia chegaria. E se me perguntassem se me arrependia de alguma coisa, a resposta era sempre a mesma, sem parar para pensar:

Não. Eu amava a minha filha e amava cada um dos momentos que passei com ela. E esperava passar por muitos mais!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... amanhã volto com a parte de Elizabeth..

Obrigada a quem leu e me desculpem qualquer erro!!



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