Capítulo 18 – O que somos?

Sakura deu uma última olhada no espelho antes de pegar Hikaru do berço onde o pequeno se distraia com os movimentos das próprias mãos. Ele estava vestido com uma calça azul escura e uma blusa branca com o símbolo da família no lado esquerdo do peito... um presente que Mikoto havia dado logo após terem chegado para a recepção. A rosada sorriu vendo o menino esticar os braços delicados em sua direção.

Seus pensamentos foram desviados para o ranger da porta do quarto. Sasuke estava parado com a porta entreaberta analisando-a.

– Já está pronta? – ele perguntou calmo.

“Não...” ela pensou. Não estava preparada para encarar aquelas pessoas que mal conhecia. Mesmo o moreno assegurando que o número de convidados era pequeno, que eram apenas sócios dos Uchihas, Sakura não queria estar ali. Sabia que seria olhada de cima a baixo, que provavelmente seria questionada sobre sua família e sobre o filho, assim como também sabia que estava ali por Mikoto e Fugaku. Eles sim mereciam toda sua admiração por acolhe-la como uma filha.

– Sakura?

Desviando os olhos perdidos para o moreno, ela apenas acenou positivo com a cabeça.

– Só não sei se está roupa esta apropriada. – ela murmurou fitando o vestido vinho que usava. Não era nada luxuoso, até porque seria apenas uma reunião. O vestido era na altura dos joelhos e de mangas longas rendadas combinavam com a sandália prata de salto médio. – Acho que deveria trocar...

Sakura percebeu que o moreno a fitava dos pés a cabeça. Algo parecia estar errado com Sasuke. O semblante calmo havia desaparecido e dava lugar para olhos escuros preocupados e distantes.

– Está ótimo assim... – retrucou olhando-a nos olhos. – Sakura, precisamos conversar.

O coração dela disparou por milésimos de segundos fazendo-a ficar inquieta. Um tensão pairou entre os dois e Sakura notou o quanto Sasuke parecia desconfortável com aquilo.

– Sobre..? – ela apertou os lábios enquanto fingia arrumar Hikaru que começava a dar sinais de inquietação dentro do antigo berço que pertencia a um dos herdeiros Uchihas.

O moreno bufou e fechou a porta atrás de si. Era notório que nenhum dos dois gostariam de estar ali. Desde que souberam sobre essa confraternização o clima havia ficado pesado e era como se eles estivessem se evitando desde então.

Sakura havia mudado desde que Sasuke a conheceu. Desde aquela droga de ideia de colocar um anuncio procurando uma acompanhante. Ele lembrou-se de quanto a viu pela primeira vez e depois na dificuldade dela adaptar-se e aprender todas aquelas futilidades relacionadas à etiqueta e bons modos. Ela era sorridente e alegre... Não que Sakura tivesse mudado, mas o brilho nos orbes verdes já não era tão intenso. Tambem pudera. Depois de tudo que passou...

Ah.. se pudesse com certeza o Uchiha jogaria tudo aquilo para o alto e sumiria das vistas de todos que conhecia. Levaria apenas eles... Sua família. Seu bem precioso... Hikaru e Sakura. Somente eles já bastariam em sua vida.

Analisando-a, o moreno lembrou-se do dia em que ela fugiu levando em seu ventre o fruto de um inicio de relacionamento conturbado... e como Sasuke havia lidado com a primeira experiência em perde-la. E depois, quando seu filho nasceu, na noite em que Tsunade pediu que ele escolhesse entre a vida de Hikaru ou a vida da rosada. Aquele sentimento era muito mais que desespero... Chegava a ser doloroso imaginar perdê-la.

Ele suspirou pesado.

– Sobre nós... – fitou-a, não deixando passar o espanto nas feições da Haruno.

Sakura pegou o pequeno do berço e ajeitou-o em seu colo em uma tentativa frustrada de disfarçar o desconforto que sentia em falar sobre eles. Ela não conseguia definir a relação com Sasuke.

– Não acho que esse seja o melhor momento, Sasuke-kun... – encarou-o frente a frente. – Sua mãe deve estar nos esperando e-

– Não tente se esquivar, Sakura... – ele retorquiu em tom baixo e frio. – Qual é o problema?

A rosada suspirou pesado.

– Estou cansada e confusa. – confessou desgostosa. – Eu vivo em um mundo de mentiras. Desde que arrumei o emprego de sua acompanhante, minha vida tornou-se uma mentira.

– Do que está falando? – ele cerrou os olhos confusos.

Sakura riu sarcástica.

– Todos acham que sou sua namorada, Sasuke. Acham que minha família é dona de empresas no interior... e agora, vamos apresentar o novo herdeiro de Sasuke Uchiha. – Sakura fitou-o antes de virar para ir em direção a porta. – Eu não sou nada... não sou ninguém.

– Não diga isso! Eu jamais disse isso sobre você.

Virando-se mais uma vez, Sakura sorriu triste.

– Voce não precisa dizer. Minha consciência me lembra todos os dias assim que acordo.

Sasuke a viu virar-se para sair e apressou-se em pegá-la pelo braço.

– Nós não terminamos, Sakura... – o moreno retorquiu sério. – Você sabe que deixou de ser uma acompanhante há muito tempo!

– Não, eu não sei... – resmungou com certo pesar. – Há muito tempo perdi minha identidade e comecei a viver em uma vida fantasia. A única certeza que tenho é que sou mãe. –aconchegou o pequeno em seus braços e caminhou em direção a porta novamente. – E é só o que me importa, Sasuke.

A Haruno fechou a porta atrás de se e fechou os olhos. Se pudesse dizer o que sentia por ele. Se pudesse abraçá-lo e beijá-lo como sempre sonhou em fazer. Se pudesse pedir desculpas por tentar ficar cada vez mais distante dele somente por proteção por medo de deixar agir pelas emoções e entregar-se à ele novamente.

Se pudesse... mas não podia!

– Sakura?

O chamado fez Sakura acordar de seus devaneios. Era Yukari, esposa de Itachi, que havia chegado há algumas horas da casa dos pais. Mikoto tinha comentado sobre a chegada dela e sobre a saúde frágil dos sogros de Itachi

– Yukari-san, como vai? – ela sorriu sincera.

– Estou ótima... e veja só! – os olhos escuros da mulher pousaram sobre Hikaru que parecia analisar a figura diferente conversando com sua mãe. – Quem é esse rapazinho?

Ruborizada, Sakura respondeu:

– Hikaru. – sorriu, colocando o menino confortável recostado sobre si. – Diga oi, meu amor.

Yukari pegou uma das mãos rechonchudas do pequeno e em troca ganhou um sorriso banguela diverto.

– Ele é lindo, Sakura-chan. Parabéns! – Yukari sorriu. – Vocês merecem toda a felicidade do mundo.

– Obrigada, Yukari!

– Vamos nos juntar ao restante da família antes que os meninos nos puxem as orelhas.

Dando uma risada, Sakura concordou acompanhando a “cunhada”.

Uma música calma e baixa preenchia os ouvidos dos sócios convidados para a festa. Os tilintares das taças de bebidas misturavam-se as vozes de poucos homens e mulheres ali presentes que conversavam sobre os mais diversos assuntos.

Sakura permanecia com Hikaru no colo enquanto o pequeno olhava interessado a movimentação. Ao seu lado e com uma das mãos pousada sobre seu ombro Mikoto a guiava por entre as pessoas afim de mostrar o mais novo herdeiro Uchiha.

– Esta tudo bem, querida? – Mikoto perguntou analisando o perfil da rosada.

Sakura sorriu de leve e meneou um sim com a cabeça. Obviamente estava metindo. Aquela situação não a agradava em nada e de repente se pegou relembrando da conversa de horas atrás com Sasuke. “Quero conversar sobre nós.” Ele disse.

– Quero lhe apresentar algumas pessoas, Sakura-chan.

– Tudo bem. – respondeu a rosada.

Mais a frente havia um grupo de mulheres bem mais velhas que a rosada. Estavam conversando sobre algo de seus maridos. Não precisou muitos segundos para Sakura deduzir que aquelas eram mulheres de alguns dos sócios dos Uchihas.

– Vejam quem vem lá... – comentou uma senhora de cabelos amarelados. O comentário foi alto o bastante para que Sakura e Mikoto a cumprimentassem com um sorriso enquanto se aproximavam. – Uchiha Mikoto.

– Boa noite a todas. – Mikoto murmurou simpática. Puxando Sakura para mais próxima de si, completou: - Quero apresentá-las Haruno Sakura e meu mais novo neto Hikaru.

Os olhares foram desviados automaticamente para Sakura.

–Querida, essas são Mayumi – apontou para a senhora loira vestida com um macacão escuro elegante, que a sorriu de imediato. – Salika – mostrou-a uma morena já com alguns cabelos grisalhos vestida com um vestido azul marinho – e por ultimo e não menos importante, Azaka. – Dessa vez, desviou o olhar para a mais velha das três senhoras ali presentes. Essa vestia um vestido longo de cor creme.

– Prazer em conhecê-las. – Sakura cumprimentou-as gentil. – Sakura.

– O prazer é todo nosso. – responderam as três em coro.

– E esse pequeno moreno deve ser o Hikaru.. – Azaka acariciou a cabeleira escura do menino que não pareceu gostar muito do carinho. – Ele é filho de Sasuke-san? Que menino mais gracioso! – exclamou espantada.

Orgulhosa, Mikoto não pôde deixar de sorrir. A felicidade da Uchiha mais velha era enorme. Como orgulhava-se de ser avó novamente, ainda mais tendo como neto o filho de Sasuke. Perdeu as contas de quantas vezes achou que não viveria para ver seu filho sendo pai.

– É realmente um menino lindo. – Mayumi comentou sorrindo para Sakura que retribui. – E vocês fazem um belo casal. Formam uma bela família.

A rosada corou com o comentário e sorriu envergonhada.

– Todos os dias agradeço por Sasuke-kun ter encontrado uma moça como Sakura-chan . – comentou abraçando a rosada.

Era incrível como Mikoto a fazia se sentir bem e acolhida. Por alguns momentos, Sakura sentiu-se como se realmente fosse uma Uchiha.

– Sakura-chan, quer que eu peça para que Tsuka cuide de Hikaru-kun? Assim você pode ficar mais a vontade e comer alguma coisa... – Sugeriu Mikoto baixo. – Não se preocupe pois Tsuki é de extrema confiança... Hikaru parece um pouco cansado e ela ficará com ele no quarto e velará pelo sono dele.

– Não sei, Mikoto-san... – retorquiu preocupada. Jamais deixara seu filho sozinho com outras pessoas. Porém, um grunhido vindo por parte do menino a fez prestar atenção. Hikaru esboçava que começaria a chorar a qualquer momento e realmente parecia cansado. – Mas acho que tem razão. Ele realmente está cansado.

– Vamos deixá-lo dormir um pouco e já será o suficiente.

– Está bem. – Sakura sorriu.

A morena assentiu e virando-se para as senhoras que a observavam, comentou:

– Nós já voltamos, minhas queridas. Por favor, fiquem a vontade.

E dando as costas para as mulheres, as duas caminharam em direção ao corredor que separava o salão de festas movimentado do restante da casa.

*

Não muito longe dali, Sasuke observava sua mãe e Sakura, enquanto conversava com Fugaku, Itachi e mais um sócio sobre os planos para a empresa no próximo ano. Claramente, o moreno não prestava a menor atenção no assunto dos outros homens. Estava ocupado demais em seguir as duas por onde elas andavam.

O que mais o intrigou era que Sakura parecia calma ao lado de Mikoto. Sasuke sempre soube o quanto a mãe era receptiva e extremamente calorosa com qualquer pessoa que ficasse próxima de si. Além disso, sabia que a morena tinha um carinho especial pela Haruno desde o primeiro dia que a viu.

– Então, Sasuke e Itachi estão cuidando da empresa na cidade. Já que agora estou praticamente aposentado. – Fugaku pigarreou.

– Eles estão fazendo um bom trabalho, eu diria. É sempre bom ter mentes jovens e responsáveis. – elogiou o homem.

Os dois Uchihas sorriram de canto.

– Me diga, Abura... você conheceu Sakura? – perguntou o Uchiha mais velho e vendo o senhor negar com um aceno de cabeça completou: - Sasuke irá traze-la aqui.

– Com licença. – o moreno disse.

Aquela reunião parecia mais longa do que o normal.

*

– Tsuka já deve estar no quarto que vocês se vestiram, Sakura-chan. Mais cedo já tinha pedido para que ela cuidasse do nosso tesouro. Só precisava da sua autorização. – sorriu a morena, enquanto era seguida pela Haruno.

Sakura soltou uma risada.

– Só a senhora mesmo, Mikoto-san. Obrigada por tudo o que está fazendo por nós.

Apenas mais alguns passos foram necessários para que as duas mulheres encontrassem a empregada já dentro do aposento. Tsuka estava terminando de trocar os lençóis do berço quando a porta se abriu.

– Mikoto-sama, acabei vindo um pouco mais cedo para poder colocar roupas de cama limpas. – reverenciou as mulheres

–Sem problemas, Tsuka. Essa é Sakura e esse pequeno é Hikaru.

Sakura sorriu singelo para a moça. Parecia não ter mais de 24 anos, porém muito bem educada mesmo com a aparência jovem. Vestida toda de branco com um impecável avental azul escuro.

– Prazer em conhecê-la, Tsuka. – olhou para o quarto e viu o capricho com que a moça tinha arrumado todo o quarto. Havia até uma manta felpuda na cor branca ao lado do berço caso Hikaru ficasse com frio.

A moça aproximou-se do pequeno que já lutava bravamente contra o sono e acariciou delicadamente o rosto dele.

– Ele é lindo! – exclamou surpresa. – Me permite pegá-lo, Sakura-sama?

– Oh por favor... – com cuidado, Sakura colocou o filho nos braços da moça. Surpreendeu-se pelo cuidado que Tsuka teve em aconchegar o menino em seu peito e em seguida depositá-lo no berço.

Aquela atitude de zelo acabou por acalmar o coração de Sakura. Realmente Mikoto estava certa. Tsuka era uma boa moça e Hikaru estava em boas mãos.

– Não se preocupe, Sakura-sama. Cuidarei dele para que a senhora possa ficar mais a vontade.

– Me chame apenas de Sakura. E eu te agradeço por cuidar de meu filho. Ele está em ótimas mãos.

–Acho que podemos ir, não? – Mikoto perguntou. Fitou o neto mais uma vez no berço e percebeu que Hikaru já dormia tranquilo.

– Sim. Vamos!

Acenando uma referencia, as duas mulheres deixaram o quarto. Andando de volta para o salão de festas, Sakura tocou o braço de Mikoto fazendo-a parar.

– Mikoto-san, muito obrigada... Por tudo! – Sakura segurou uma das mãos da Uchiha. – Eu preciso lhe confessar algumas coisas.

A senhora a olhou preocupada.

– O que está acontecendo, querida?

– Eu estava receosa por vir até aqui... – sussurrou vendo os olhos negros de Mikoto confusos. – Você e Fugaku-san mal me conhecem e de repente apareço aqui com um neto e... -

Mikoto prontamente a interrompeu.

– E você não sabe o quanto ficamos felizes. – sorriu. – Nossa família ficará mais unida com Hikaru.

– Eu... – Sakura suspirou fundo. – Eu não queria passar uma má impressão. Foi tudo muito rápido... e além disso, Sasuke e eu-

–Mãe. Sakura... – a voz de Sasuke interrompeu a conversa entre elas. O moreno viu Sakura virar-se para ele. – Onde vocês estavam?

Mikoto colocou-se a frente.

– Deixamos Hikaru dormindo um pouco e Tsuka está cuidado dele. –sorriu . – Assim podemos ficar mais a vontade. – Sakura querida, depois conversamos... – ela apertou a mão da rosada que ainda estava sobre a dela. – Não demorem, está bem?

E em questão de segundos, Mikoto dobrou um dos corredores da casa e os deixou sozinhos sem deixar que nenhum deles pudesse protestar.

– Hikaru está bem, Sakura? – o moreno indagou-a.

– Sim... – sorriu. – estava cansado e sua mãe pensou em tudo. Ele já está dormindo.

O Uchiha deu um sorriso de canto discreto. Sakura parecia mais leve do que há horas atrás.

– Vamos jantar? Não a vi sequer tomando um copo de água. – mencionou preocupado. – E quero lhe apresentar a um dos sócios de meu pai.

– Sim. Vamos.

E qual não foi a surpresa quando o moreno a pegou pela mão e entrelaçou seus dedos aos dela, guiando-a pela casa. Sakura ofegou um tanto desconcertada. Tudo parecia tão confuso.

*

–Ali estão eles. – Itachi comentou cortando o assunto do pai e de Abura.

Os olhares foram desviados para o casal que desviavam das pessoas para juntar-se a pequena reunião que ali faziam.

– E aquela moça que esta com Sasuke, Fugaku..?

– Ela é a Sakura... – respondeu o Uchiha. – A noiva de Sasuke.

– Ela realmente muito bonita. – Abura comentou quando percebeu que o casal já havia se juntado ao grupo.

Muito educada, Sakura sorriu.

– Você tem sorte, Sasuke-san.

Mikoto aproximou-se da pequena reunião.

– O jantar já será servido. – anunciou. – Vamos para a mesa?

Recebendo um sinal positivo de todos, Mikoto foi a frente para guiá-los para as devidas mesas.

*

– Acho que vou ver como Hikaru está... – Sakura comentou com o moreno que estava ao seu lado na mesa.

– Tsuka está com ele, Sakura. Além disso, se precisar de algo, ela não hesitaria em vir até voce. – lembrou-a.

– Tem razão. – Depositou o guardanapo que antes estava em seu colo. – Eu já volto. Com licença.

Levantou-se da mesa fazendo uma reverencia aos demais.

Não foi difícil caminhar até o banheiro, afinal a grande maioria das pessoas já estavam sentadas disfrutando do jantar oferecido pelos Uchihas.

*

Sakura já estava pronta para sair do banheiro quando o bater da porta a fez atentar-se. Ouviu alguns passos que pareciam salto alto.

– A namorada de Sasuke é muito bonita não acha, Azaka? – uma das mulheres comentou baixo.

– Sim, Salika.. e muito esperta também. – Azaka comentou semsegurar o riso baixo e maldoso

Sakura franziu o cenho. Não era de bisbilhotar a conversa alheia, porém tinha ouvido seu nome e queria saber o que as mulheres conversavam sobre ela. E seu interesse aumentou ainda mais quando a mulher que atendia por Azaka fez tal comentário de forma maliciosa.

– Não entendi o que quer dizer... – murmurou a outra mulher que Sakura não lembrava o nome. Pela fresta da porta, pôde ver que era a que estava vestida com o vestido zul escuro

– Ora, Mayumi... – ela riu. – Ela engravidou de um Uchiha. Quem não gostaria de estar no lugar dela? Ter um herdeiro de Sasuke Uchiha e ter parte nas empresas? Não seja ingenua.

Sakura ofegou baixo. Sentiu que seu coração iria saltar pela boca.

– Será o tal... como que dizem mesmo? – Salika pareceu pensar um pouco.

– Golpe do báu! – As outras duas riram alto. – Exatamente, querida.

– Sasuke não é burro, Mayumi... Ele deve estar levando algum tipo de vantagem! – comentou Azaka.

– Eu duvido. – respondeu em tom óbvio. – Conversei com meu marido a pouco. Essa garota ou a família dela não tem qualquer tipo de empresa... Fizeram uma busca rápida e o sobrenome da família não está ligado a nada importante...

As duas ofegaram surpresas.

– Então...?

Mauymi riu irônica.

– Então que essa garota não tem nada a oferecer!

As pernas da Haruno falharam e precisou apoiar-se na porta do banheiro. Um embrulho no estomago a fez sentar-se no vaso fechado. A respiração ficou curta, fazendo-a se afogar. Queria chorar mas não daria o gostinho a ninguém, muito menos aquelas mulheres que não sabiam o que falavam.

– Acho melhor irmos. – Salika alertou-as.

“Saiam logo...” Sakura pensou.

Poucos segundos depois, ouviu o ranger da porta. Elas tinham ido. Só precisava de mais alguns segundos para que pudesse sair. Precisava sair daquele lugar antes que desmaiasse. Uma lágrima escapou de um dos olhos dela, escorrendo pelo rosto pálido.

– Não.. não.. não... – tratando de limpar o rosto, a rosada abriu a porta de onde estava escondida.

O perfume das mulheres ainda inebriava o banheiro agora com a porta fechada e aquele cheiro só a fazia sentir-se mais nauseada.

– Não quero ficar aqui... – resmungou com tom choroso.

Em passos rápidos, Sakura saiu do banheiro tentando ao máximo não parecer desconcertada. Ajeitou o vestido no corpo e abraçou-se. Sentia um frio que parecia congelar seus ossos.

Desvencilhou de algumas pessoas tentando não esbarrar em ninguém. A respiração rápida e ofegante junto com aquela sensação congelante fazia Sakura sentir-se mal. Tudo o que queria era encontrar algum rosto conhecido.

– Sakura-sama? – uma voz a chamou em suas costas.

Lenta, a rosada olhou por cima dos ombros e suspirou.

– Tsuka!

A garota parecia um tanto assustada e aproximou-se dela rapidamente.

– A senhora está bem? Desculpe, mas... – ela hesitou em falar. – A senhora está pálida.

– Pode me levar até Mikoto-san? – sussurrou. – Sabe onde ela está?

Meneando um sim com a cabeça, Tsuka pousou uma das mãos nas costas de Sakura e a guiou até a cozinha onde alguns empregados entravam e saiam com bandejas com aperitivos e taças contendo bebidas . Estreitando os olhos, Sakura viu uma cabeleira escura conversando com uma senhora de avental.

– Mikoto-sama está ali...Vamos, Sakura-sama.

Sakura teve certeza que não estava bem quando viu os olhos negros da senhora pousarem sobre si e correr em sua direção.

– Sakura! – exclamou Mikoto em tom de espanto. – O que você tem?

A rosada abriu a boca tentando buscar palavras para explicar, mas optou por calar-se. Não adiantaria nada.

– Querida, voce está pálida como uma cera... – ela envolveu os ombros da rosada. – O que está sentindo?

– Só um mal estar... Acho que deve ter sido alguma coisa que comi. – Sakura resmungou. – Mikoto-san, eu vou ver como Hikaru está...

– Eu vou com voce, querida. Claramente você não está bem... – murmurou preocupada.

*

– Onde está? – resmungou para si mesmo.

Sasuke observava as pessoas ali presentes cuidadosamente a fim de encontrá-la. Já tinha algumas horas que Sakura saira de perto dele. Não estava em lugar algum. “Maldita mania de sumir...” praguejou mentalmente.

Andou por entra algumas pessoas, desviou de dois empregados que carregavam bandejas e não a encontrou. Aquilo estava realmente o irritando.

– Tsuka! – exclamou ao ver a jovem. Talvez ela pudesse saber do paradeiro da Haruno. – Onde está Sakura?

– Sasuke-sama... – ela o reverenciou. – Sakura-sama está com Hikaru no quarto.

– Aconteceu alguma coisa com ele? – os orbes arregalaram em preocupação.

– Não, ele está bem. Sakura-sama que não me parecia muito bem. Mikoto-sama está com ela.

Sasuke mal deixou Tsuka terminar. Era como se suas pernas tivessem criado vida. Precisava ver como Sakura estava e o que ela tinha.

– Orgulhosa... – praguejou baixo enquanto esmagava seus dedos contra a palma da mão. Por que ela nunca pedia sua ajuda? – maldição!

– O que é isso, Sasuke? Pensei ter te ensinado a ter modos... – resmungou uma Mikoto bem zangada.

Prontamente, o Uchiha virou-se para ela.

– O que houve?

–Nada demais... Sakura teve uma queda de pressão, eu acho. Ou algo não lhe caiu bem. – respondeu pensativa.

– Vou ver como ela está.

Ele avançou pelo corredor e em poucos segundos estava abrindo a porta onde provavelmente a Haruno estava. Ouviu Hikaru balbuciar algo.

Compenetrada em fazer o pequeno dormir, ela não ouviu as batidas leves na porta. Só se deu conta que não estavam sozinhos quando ouviu uma voz grave a chamar.

– Sakura... Está tudo bem? Minha mãe disse que você não estava se sentindo bem. Vim ver se pre-

Ela o interrompeu.

– Estou melhor... – respondeu séria.

Sasuke fechou a porta atrás de si e caminhou até próximo de Hikaru que assim que o viu, ficou fitando-o. Sem perceber o moreno deu um sorriso de canto para o filho que continuou encarando-o com os olhos pesarosos de sono.

Vendo que o filho estava quase dormindo, Sakura tratou de colocá-lo no berço. Ela sentia o corpo pesado, reflexo de tudo o que tinha ouvido daquelas mulheres. E só em imaginar em o que os outros pensavam dela, fazia com que um nó subisse pela garganta.

– Sakura, você vai me dizer de uma vez por todas o que esta acontecendo! – ordenou com a voz rouca e baixa.

– Não há nada para dizer.

– Tem certeza?! – ironizou. – Qual é a droga do seu problema, Sakura?!

– Sim. – respondeu com a voz falha.

– Esta mentindo... - rosnou Sasuke a segurando pelos ombros. -Por que você não olha para mim?!

A respiração dela falhou por perceber Sasuke tão próximo de si.

– Não torne as coisas mais difíceis do que já estão, Sasuke! Pare de agir como se realmente se importasse!

Talvez frustrado fosse a palavra para defini-lo naquele momento. Ela não era mais a mesma e ele era o culpado disso.

– Não sou eu que estou dificultando as coisas. – murmurou calmo. – Me diga o que está acontecendo...

Ele observou os orbes verdes ficarem baixos e tristes. Sakura já não parecia tão na defensiva como antes.

– Por favor... – o Uchiha afastou uma das mechas de cabelo dela.

Sakura suspirou e o fitou. Sasuke parecia realmente preocupado. Os olhos deles analisavam cada traço do rosto dela e quando deu por si, percebeu que ele se aproximava mais e mais. Ela suspirou baixo e antes que pudesse protestar, sentiu ser puxada para perto dele. Os corpos se trombaram. Pouco a pouco, Sasuke aproximou seu rosto esperando que ela desviasse, o que não aconteceu. Ele a olhou mais uma vez nos olhos, encontrando-os fechados e tomou aquilo como uma permissão para que continuasse. Devagar ele envolveu os lábios macios dela aos dele.

Não se lembrava a quanto tempo não a sentia próximo de si, mas não queria que acabasse.

Ao sentir uma pressão na cintura, concluiu que eram as mãos dele apertando seu corpo por entre os dedos.O beijo ficou mais e mais devagar, até que Sasuke encostou sua testa a dela.

– E-eu tomei uma decisão.. – murmurou sem olhá-lo.

Ele suspirou calmo.

– Eu também...

Os dois se fitaram por alguns instantes em uma permissão silenciosa para que o outro falasse. Nada foi dito.

Quebrando o silencio, os dois disseram ao mesmo tempo.

– Quero casar com você!

– Eu vou embora da mansão!