Capítulo 17 – Calmaria

Todos imaginam que o nascimento de uma criança é sempre da mesma forma. Sempre imaginam que os pais vão para o hospital quando a mulher sente as primeiras contrações. Sempre acham que o marido fica ao lado da esposa na sala de cirurgia enquanto a mesma trás o filho deles ao mundo, sempre sendo uma grande alegria quando ambos escutam o choro do recém-nascido e os sorrisos preenchem o lugar. Sempre imaginam que mãe e filho ficam internados por uma semana, no máximo,  depois vão para casa e finalmente mais uma família feliz se inicia.

É isso que acontece na maioria dos filmes e que,em tese, as pessoas acreditam...

Sentada na poltrona branca e de frente para a janela que dava vista ao jardim da mansão Uchiha, Sakura recordou-se dos filmes que via. Era assim que ela imaginava como seria, porém as quase oito semanas terríveis que passara no hospital fizeram-na amadurecer muito.

O medo da perda, mas principalmente o sentimento de solidão que repentinamente desaparecia com a presença de Sasuke faziam-na perceber o valor da vida e perceber que nem sempre os filmes refletem a realidade.

 Nos últimos dias, ela pensava constantemente no moreno e tudo o que ele estava fazendo por ela. Tudo aquilo era tão confuso... Sasuke jamais havia lhe dado indícios de seus sentimentos, confundindo-a.

As atitudes dele a confundiam. Pena? Gratidão? Carinho? Paixão? Amor? Nada? Ela não sabia e era essa dúvida que a machucava.

Perdida em seus pensamentos, Sakura não ouviu a porta do quarto abrir.

- Sakura, precisa de alguma coisa? – Chyo aproximou-se da rosada e olhou Hikaru em seus braços.

- Acho que não. Hikaru só está com sono. – ela respondeu baixo analisando os olhos do menino se fecharem pouco a pouco.

Chyo analisou a cena e sorriu. Sakura balançava com cuidado o menino enquanto mantinha seus olhos fixos à ele. Depois de tudo o que passaram, a governanta tinha certeza que mereciam um pouco de paz.

Colocando o menino no berço, a Haruno permitiu-se a ficar admirando-o por algum tempo.

- Sakura... – a governanta a chamou. – Sasuke acaba de ligar...

- Aconteceu alguma coisa, Chyo?

- Ele me pediu que lhe desse um recado. Os pais dele voltaram de viagem e farão uma pequena reunião da empresa na fazenda onde vivem... – ao ouvir Chyo, Sakura já imaginava o que significava. – Além disso, eles querem conhecer o Hikaru-kun.

A Haruno suspirou pesado. Fazia tanto tempo que não via os Uchihas que estava com receio. Quando os conheceu eles foram extremamente educados, porém a situação era completamente diferente. Ela era apenas a “namorada” do filho mais novo e, talvez o principal, não estava grávida.

- Não sei, Chyo. – Sakura resmungou. – Você me entende, não é?

- Sim... acho que entendo.  – respondeu solícita. – Mas não há o que temer.

- Tomara. – a rosada fez uma careta de desaprovação.

Aquela situação estava tão fora de controle.

- Mikoto-san e Fugako-san são pessoas boas, Sakura. – Chyo a lembrou tentando confortá-la. – Assim como você... Não há o que temer. – sorriu.

Sakura suspirou pesado. Talvez fosse verdade.

- Se precisar estarei na sala, querida. Creio que Sasuke chegará em breve. – e sem dizer mais nada, a governanta retirou-se.

Com cuidado, a Haruno debruçou-se sobre a grade do berço de Hikaru e  levou uma das mãos aos fios negros, acariciando-os devagar. Em resposta, o menino remexeu-se um pouco sem acordar.

Hikaru era tão parecido com Sasuke. Os traços, os fios finos, negros e incrivelmente espetados, o nariz empinado... Exceto pelo fato de Hikaru ter o hábito de sorrir. Era incrível a facilidade de arrancar um sorriso do filho.

*

Ele tinha chegado e Sakura já sabia disso. Havia acabado de terminar de arrumar as coisas para partirem. O coração ainda batia rápido conforme ela percebia que o Uchiha se aproximava de onde estava.

A porta foi aberta devagar e Sakura soltou devagar o ar pelas narinas. Estava calma, pelo menos parecia estar.

Sasuke a olhou intrigado.

- Chyo lhe deu o recado?

- Sim... – ela não o olhava. – Iremos hoje a noite?

O Uchiha acomodou as mãos nos bolsos. Já tinha notado que ela não se sentia confortável em ter que reencontrar sua família.

- Será apenas um final de semana. Nada demais. – Sakura suspirou frustrada ao ouvi-lo. – Algum problema?

Sakura finalmente o encarou. Ele realmente parecia se importar com o que ela pensava.

- É só que não sei como agir... – resmungou baixo. – Além disso, ele passou por tantas coisas e é tão pequeno. Não queria ficar o expondo a tantas pessoas.

Sasuke calou-se por alguns instantes enquanto a fitava.

- Será uma reunião pequena, apenas com os sócios do meu pai. E, de qualquer forma, minha mãe quer conhecer o neto dela. Na verdade, vamos mais por ela do que pela reunião em si.

Sakura lembrou-se de Mikoto e do carinho quase maternal que ela sentiu ao conhecê-la. Era injusto não permitir que a senhora não visse o neto. A matriarca Uchiha sequer teve a oportunidade de ver Sakura grávida. O casal tinha saído de viagem, deixando os dois filhos cuidando da sede da empresa na cidade.

- Eu sei. – confessou.

- Vou verificar se Chyo conseguiu arrumar minhas coisas e se não falta mais nada.

 ele pousou a mão na maçaneta da porta esperando uma resposta da rosada,  ouvindo apenas um suspiro ainda mais pesado proferido por ela. Incomodado, Sasuke retirou-se. Aquele final de semana não seria nada fácil... para nenhum deles.

*

Pouco mais de duas horas, o conversível de Sasuke já se encontrava parado nos portões da fazenda Uchiha. Sakura já não ficava tão surpresa pela beleza de cada posse da família, mas não podia negar que nunca vira tamanha área verde como aquela.

De onde estavam era possível ver a grama impecavelmente verde que se estendia desde a entrada e terminava em algum lugar que seus olhos não conseguiram enxergar. Havia também um estábulo com cinco portinholas, sendo que duas estavam abertas e dois cavalos – um branco e outro negro com uma discreta pinta branca na testa – observavam a movimentação do lugar. Direcionando seu olhar para frente, Sakura conseguiu ver a casa central da fazenda onde Mikoto e Fugaku moravam e, como era de se esperar,  era enorme.

A casa era térrea, mas extensa. Suas paredes exteriores eram brancas, contrastando com o telhado de cor vermelha. Em frente a residência um caminho de pedras brancas se destacava por entre o jardim impecavelmente cuidado e colorido, dando um ar ainda mais sofisticado para a entrada.

- Você cresceu aqui? – perguntou-o boquiaberta.

Sasuke desviou seus olhos para seu lado esquerdo.

- Apenas passava as férias escolares. Meus pais se mudaram para cá há pouco tempo.

O coração de Sakura bateu mais rápido quando avistou o casal Uchiha aguardando na porta da casa. Fugaku com  sua antiga postura autoritária e defensiva e Mikoto olhando com um singelo sorriso do rosto.

Ela suspirou resignada e o ruído não passou despercebido pelos ouvidos de Sasuke. Ela parecia tão tensa quanto o moreno.

Sasuke foi o primeiro a sair do carro, seguido de Sakura. Ele a ajudou com o filho e logo os dois caminhavam lado a lado em direção aos pais do moreno. Aos poucos, Sasuke pode notar os olhos negros de Mikoto brilharem em direção ao novo neto e aquilo de certa forma o aliviou um pouco. Não que esperasse outra reação vindo da mãe, mas o Uchiha sabia o quanto o apoio dela seria importante para Sakura e ele. Desviando os olhos rapidamente para Fugaku, concluiu que o pai parecia satisfeito pelo primeiro neto homem dele.

Hikaru parecia ter se encantado com os avós,  mesmo os vendo pela primeira vez. Os pequenos olhos negros do menino não desgrudaram um segundo sequer do velho casal que os aguardava.

- Que bom que vocês chegaram. – Mikoto pronunciou-se abrindo os braços e aconchegando  o casal.  – Já estava preocupada.

- Obrigada pelo convite, Mikoto-san. – Sakura disse após se desvencilhar do abraço da Uchiha. Mais uma vez, Mikoto pairou seus olhos no pequeno. – Pegue-o.

Os olhos negros brilharam quando Sakura estendeu o filho em direção à ela que, sem pstanejar, acolheu-o e levou perto do seu rosto, dando um beijo suave na testa pequena. Hikaru agitou as mãos.

Mikoto os guiou para o interior da casa, onde Itachi e Yukari olhavam distraídos uma menina brincar com sua boneca. Fazia tempo que não via o casal e teria a oportunidade de conhecer Akemi.

- Yo, Sakura... Sasuke... – Itachi os cumprimentou.

O casal fez uma discreta reverencia, vendo Yukari aproximar-se.

- Quanto tempo, Sakura! – a mulher desviou os olhos para o embrulho nos braços de Sakura, vendo duas mãos pequenas surgirem. – Kami, como ele é lindo... e enorme!

A rosada riu baixo, vendo a “cunhada” acariciar uma das maçãs do rosto de Hikaru, fazendo-o fechar os olhos e dar um sorriso banguela. Itachi também aproximou-se, ganhando a atenção do sobrinho que começou a observá-lo com atenção.

- Ele é idêntico ao Sasuke,  só que bem mais simpático. –alfinetou Itachi, recebendo uma carranca do irmão.

- Vocês dois... – resmungou Yukari.

O ambiente era acolhedor e tão família que Sakura acabou por perder um pouco da tensão que sentia quando chegou. Eram raras as lembranças de um momento como esse na sua infância. Na verdade, tinha quase certeza que nunca presenciara momentos assim.

- Sinta-se a vontade, Sakura-chan. – Mikoto disse à ela. – Deve estar cansada, não é?

Sakura meneou um  aceno negativo, mas mesmo assim deixou ser guiada pela matriarca até o sofá branco da sala de estar.

A Haruno viu a menina, acompanhada de Yukari, aproximando-se de onde estava. A pequena usava um vestido branco com um singelo laço dourado na cintura. Os cabelos negros trançados caídos no ombro, a pele inconfundivelmente branca herdada dos Uchihas, assim como os olhos brilhantes e negros.

- Diga oi para a Sakura-san. – Yukari disse colocando a menina em sua frente.

- Oi... – ela murmurou envergonhada.

- Olá. – Sakura cumprimentou-as. – Sou Sakura e você..?

- Akemi. – respondeu educada. Os olhos negros desviaram-se para Hikaru que parecia distraído com o cobertor que o envolvia. – Quem é ele?

- Esse é o meu filho, Hikaru.

A menina piscou algumas vezes, deslumbrada com o menino. Olhou para trás, buscando o rosto de Sasuke e novamente virou-se para o pequeno.

- Sim, ele é filho do seu tio Sasuke. – Sakura comentou divertida e Akemi surpreendeu-se.

Sasuke prestava a atenção em cada movimento de Sakura. De longe e ao lado do pai e do irmão que conversavam sobre algo que ele sequer estava prestando a atenção, o Uchiha menor agradeceu mentalmente por Sakura estar acolhida pela sua família.

Tudo o que os dois queriam era que aquela naquela noite, na festa, tudo desse certo.