Seja lá onde estivesse estava escuro, ao se esticar percebeu estar em um local apertado. A situação que já era estranha só piorava, tentou respirar fundo, mas nenhum ar entrou ou saiu dos seus pulmões, mas é claro, estava morta, não tinha um corpo, muito menos órgãos, mas por que quando se esticou sentiu as paredes de madeira? Um corpo tinha, mas não era humano.

Se estivesse viva estaria com medo de estar em um lugar escuro e apertado, sua versão atual só estava curiosa. Começou a bater no teto do seu invólucro, esperando que o barulho chama-se a atenção de alguém, depois de dez minutos batendo sem parar escutou passos de aproximação, uma respiração fraca do lado de fora.

— Sa Xinyue é você? – Perguntou um jovem menino, sua voz mostrava claramente o medo que sentia.

O idioma que o garoto falava não era o mesmo que o seu, mas por algum motivo o entendia.

— Não. – Respondeu Bianca ao menino.

O garoto soltou um grito de susto.

— Eu me chamo Bianca, poderia me ajudar a sair daqui, estou presa. – Pediu com gentileza, tentando não assustar o menino.

Ouviu a madeira do piso fazer barulho quando o jovem menino se aproximou.

— Como você foi parar aí? – Perguntou o garoto.

— Não sei, acho que foi uma travessura do senhor Yu.

— Eu vou tirar a tampa. – Avisou o menino.

Com as mãos tremendo em quanto prendia a respiração, tocou a tampa de madeira e a arrastou com um pouco de dificuldade, abrindo uma pequena fresta.

— Não consigo mais do que isso. – Disse o garoto em quanto recuperava o fôlego por causa do grande esforço feito.

— Acho que consigo terminar de abrir, qual é o nome do meu jovem salvador? – Perguntou Bianca.

— Sa Yisun.

Decidida a não ficar mais nenhum segundo dentro daquela caixa que começava a lembra-la de um caixão usou suas mãos para arrastar a tampa, ao cair no chão fez um grande barulho. Levantou seu tronco e viu o garoto, um asiático com roupões simples, deveria ter em volta de quatro anos de idade, ao ver a garota que acabara de salvar sua face ficou branca e um grito estridente saiu de sua garganta em quanto corria de volta por onde tinha entrado.

— Vish, assustei o pirralho. – Saiu do caixão e encarou seu novo corpo, ele era alto, oco e feito de madeira, estava vestida em trajes elegantes da cor vermelha, tinha uma peruca colada na sua cabeça junto de alguns acessórios que não identificou seus dedos de madeira não tinham muita sensibilidade para descobrir.

Passos apressados corriam na sua direção, o menino havia alertado o resto dos moradores da casa. Em poucos segundos estava cercada por um monte de chineses de cabelos cumpridos, vestidos de branco com uma faixa amarrada na testa, apontavam suas espadas em sua direção.

— São só garotos. – Percebeu – Porque usam essas fantasias?

— Como deixamos escapar um espírito? – Falou um dos meninos.

— Um talismã é o suficiente. – Disse um dos garotos, ele se vestia diferente dos seus colegas, suas vestes eram amarelas e tinha um pequeno ponto vermelho em sua testa.

— Espera, não parece um espírito feroz – Falou o garoto ao lado do menino do talismã. - Olá, sou Lan Sizhui, como se chama?

— Bianca Gama. – Os garotos se entreolharam com estranheza, seu nome era exótico para eles.

— Você sabe como morreu? – Perguntou Lan Sizhui.

O nome do garoto lhe parecia familiar, a aparência dele também não lhe era estranha. Com o punho fechado começou a bater na sua cabeça oca com a esperança de lembrar. Na terceira batida um nome veio em sua cabeça Mo Dao Zu Shi, um anime e Novel, tinha lido alguns anos atrás e visto o anime. O deus da morte Yu sei lá da quantas tinha lhe enviado para dentro da novel e colocado sua alma dentro de uma boneca de tamanho real.

— Lembro, foi um acidente, dois celestiais brigavam ferozmente e fui acertada por um deles. – Respondeu mesmo estando surpresa com o rumo dos acontecimentos. – Minha vida foi tirada de frente para o tumulo do meu pai. Um terceiro celestial apareceu o senhor Yu, o soberano do céu e do inferno, ele me enviou para cá, para dentro deste corpo de madeira para viver o tempo que os dois celestiais me tiraram.

— A-Yuan, estão todos bem? – Uma figura saiu das sombras, seus cabelos negros estavam despenteados, sua pele era mortalmente pálida, vestia trajes escuros, veias negras cobriam seu pescoço. Bianca sabia quem era as correntes a sua volta lhe denunciavam.

Wen Ning, conhecido como o general fantasma, criado pelo protagonista da novel, Wei WuXian.

— O General Fantasma.. – Falou surpresa – Algo bom para variar.

— Ela não é um espírito hostil, e parece que não vai embora. – Disse o garoto do talismã que Bianca o identificou como Jin Ling, sobrinho do Wei WuXian.

— Estamos bem, a história desta dama é bem interessante. – Respondeu Lan Sizhui.

— Exótica, no mínimo. – Comentou Bianca.

— Ela disse que foi morta por acidente por dois celestiais e foi enviada para cá por um terceiro. – Relatou.

— Para terminar de viver o tempo que me foi tirado por causa daquelas duas mulas! – Completou Bianca. – Eu vim pra ficar, e ai de alguém que tentar me exorcizar!

***

Ao amanhecer os discípulos da GusuLan tiveram que explicar para o criador da boneca que ela havia sido possuída e não poderia ser exorcizada até seus assuntos pendentes fossem realizados e teriam que leva-la até o seu superior para ele averiguar a situação com cuidado, e prometer que os custos da boneca seriam ressarcidos por sua seita. Mesmo assim o homem se despediu dos meninos em lagrimas.

Sua preciosa Sa Hsia estava sendo levada para longe dos seus olhos.

— Ao menos a coloque em uma caixa, se ela andar vai estragar os delicados pés que esculpi. – Implorou.

— Não mesmo que ficarei trancada dentro de uma caixa de novo! Se esta incomodado em estragar sua bela obra de arte não se preocupe, o armário aqui pode me carregar em seus braços. – Apontou para o Wen Ning.

— Carregar? – Perguntou embaraçado

— Sim, algum problema? – Disse ao se jogar em cima do Wen, que lhe agarrou para impedir sua queda. – General... – Disse em voz arrastada, flertando com o homem que ficou constrangido no mesmo instante.

Quando chegaram a GusuLan foi um alvoroço, primeiro porque os garotos tinham saído para uma caçada noturna sem permissão, e ainda trouxeram um embuste, neste caso a linda boneca chamada de Sa Hsia, a boneca era tão preciosa para o dono que até lhe deu um nome de cortesia: Sa Xinyue. Lan Qiren não estava nenhum pouco contente por seus alunos terem arrumado confusão e colocado uma divida na conta da seita.

— Aceita que dói menos. – Comentou Bianca em português sabendo que sua piada de Seita e Aceita, só seria entendida em seu idioma natal.

Lan Wangji esta passando por perto junto de Wei WuXian e ambos escutaram a conversa, o Patriarca de Yiling ficou imediatamente interessado no assunto, se voluntariando para cuidar do caso junto do seu parceiro de cultivo.