Mil Versões de Mim escrita por Maravifer


Capítulo 1
1 - De pernas pro ar




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Não era como se eu não soubesse onde havia me enfiado, sim, eu tinha plena certeza de que fora a ideia mais imbecil que eu tivera pelo menos os últimos quatro anos. Desde que ingressei na Ordem, minha vida deu uma volta de 360º e bem completinhas, e hoje no auge dos meus 26 anos eu tinha o discernimento que eu havia me precipitado.

Perder sua adolescência sendo recrutada em uma organização de combate ao terrorismo com 16 anos, não é a escolha mais saudável quando você está amadurecendo o seu “eu” interior. Muito menos quando você deixa sua família para trás, para mantê-los em segurança. Se hoje consigo explicar essa decisão? Não consigo, definitivamente. Um dos diversos motivos que me fizeram abandonar o barco.

O sangue indo para minha cabeça fazia com que a sensação de explosão craniana acontecesse, e erra horrível. E eu rodava, mais um pouco, rodava tanto que eu parecia uma beyblade. E lá estava eu, pendurada pelas panturrilhas, em uma fábrica desativada na rua Skeppsbron, uma rua tradicional da antiga Estocolmo, sendo aparentemente torturada por dois dos capangas mais burros que eu já conheci em minha vida.

Mas não podia deixar de admitir que eles estavam sendo eficazes na forma de me deixar extremamente entediada e além de tudo, tonta de tanto girar a toa.

— Não tem como me tirar daqui pelo menos para o meu cérebro oxigenar e eu conseguir gastar facilmente meu sueco com vocês? – perguntei, esperando uma resposta ríspida ou até mesmo alguma forma de agressão.

— Talvez esse não seja o ponto, senhorita. – disse o loiro, alto e carrancudo. – Talvez devêssemos ter uma conversa mais civilizada, mas a deixando pendurada. Espero que sua cabeça não exploda antes de terminarmos, seria uma sujeira e tanto.

— Ok, o que querem saber exatamente? Acho que o meu sequestro não é muito vantajoso, partindo do princípio que eu mesma não tenho nenhum vínculo com a Ordem. – disse com um tom um pouco irônico. – Não hoje em dia, no caso, vocês entenderam.

— Mas você participou da maioria dos planos, não é mesmo? – perguntou o capanga dois, que até o momento eu não havia sequer ouvido a voz.

— “Participou” é um verbo no passado, né?
Tecnicamente não fazendo parte, não estou mais inclusa em nenhum plano. – realmente estava ficando impaciente.

— Colocação irrelevante deve ressaltar, enquanto estava na Ordem, temos imagens suas entrando nas nossas instalações na Rússia. – por essa eu não esperava. – Obvio que a senhorita não achava que tinha sido flagrada e pelo motivo de ter saído, achou que tudo seria apagado da memória de sua vida de espionagem e serviço para os EUA, não é mesmo?

Ele tinha um ponto, definitivamente.

— Tá, e você quer que eu te responda o que? Que eu fui à base soviética pra dar uma de historiadora? Qual é, eu tava fazendo meu trabalho! – ponderei, com certo sarcasmo. – Trabalho esse, que não realizo mais, acho importantíssimo ressaltar não é mesmo?

— Queremos os HD’s que você levou, sabemos que ainda permanecem com você. – se aproximou, se abaixando para ficar à altura de meu rosto.

— Oh, espere um momento, me deixe pegar pra você. – com as mãos amarradas, levei em direção ao bolso da minha calça e dando o dedo em seguida. – Aqui seu HD. – no ato do meu desacato, recebi uma bela de uma bofetada, fazendo meu rosto adormecer por completo.

— Enquanto você não nos der a verdadeira localização dos dados, continuará presa pelas pernas e peça muita ajuda ao seu criador, pois vai precisar. – me ameaçou.

E lá estava eu, presa pelas pernas, como ele bem quis frisar, com medo vamos dizer assim, pois se minha cabeça não saísse daquela posição eu acho que teria um AVC logo em seguida. Respirei fundo e pensei que precisava sair dali. Como se não tivesse que sair antes, o pensamento foi tardio, eu sei.

Fechei meus olhos e analisei a situação, considerando que não havia absolutamente nada além de duas cadeiras, um computador e caixas vazias, não estava em vantagem em absolutamente nada. ‘Vamos Louise, você é treinada para esse tipo de situação, não estou entendendo seu bloqueio criativo agora’, pensei, e como uma luz, a ideia brilhou.

Comecei a me debater como se estivesse sufocando, forçando um pouco para ficar mais vermelha do que eu estava e então os dois grandalhões me encararam.

— Não adianta continuar, todas as suas ações são extremamente previsíveis. – disse o mais loiro virando-se de costa.

Continuei meu teatro, comecei a tossir desesperadamente e acredito que a inteligência deles não os permitia saber como um AVC realmente acontecia, nem a minhas às vezes. Continuei a me debater até fazer com que meus braços, ainda amarrados, caíssem em direção ao chão para desconfiassem que no mínimo eu tivera desmaiado, e foi como exatamente como o esperado.

— Acorde-a, desmaiada não serve para nada, ou você já viu um desmaiado entregando informações? – perguntou o que estava realmente no comando.
Portando uma faca de corte preciso em seu cinto, o moreno se aproximou para verificar se realmente o desmaio era sério e assim que o mesmo chegou mais perto, rapidamente alcancei a faca e passei em sua garganta que automaticamente jorrou sangue com muita pressão.

O mesmo levou suas mãos para conter e cambaleando, deu passos para trás, derrubando todos os materiais em cima da pequena mesa que usavam para o “interrogatório”. No mesmo momento, alcancei minhas pernas e passei a faca por cima do emaranhado de corda que estavam me prendendo, faca bem afiada por sinal, pois ao mesmo momento meu corpo veio ao chão fazendo a faca cair um pouco longe de mim.

O capanga mais loiro se aproximou numa velocidade descomunal e para que ele não tivesse a chance de chegar até mim, pois ele realmente ia me destroçar, apoiei meus braços no chão e com toda a força que restava – visto que ainda estava com o sangue um pouco concentrado em minha cabeça – e o golpeei o desequilibrando e caindo, dando tempo de apanhar a faca e com rapidez, conseguir cortar – e me cortar, obvio – a corda que me prendia. Assim que o vi recobrando o equilíbrio e retomando em disparada ao meu encontro, arremessei a faca em sua cabeça, o contendo e deixando seu corpo cair como um saco pesado de cimento ao chão, levantando poeira. Suspirei aliviada e no segundo seguinte, apagando.

É, aquela teoria de levantar muito rápido e tudo ficar preto era real, bem real.


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