Being a Star - Quando o inesperado acontece escrita por A M Ferreira


Capítulo 5
Capitulo 5


Notas iniciais do capítulo

OI, mais um capitulo espero que gostem



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                              Delilah Lamont

Estacionei na única vaga de estacionamento que ainda estava disponível na agência. Ao entrar vi a Luana na receção. Cumprimentei-a com um sorriso.

— Dona Delilah, o Doutor Pedro e Doutor Henrique aguardam -a na sala de reunião. – Falou com o seu ar tipicamente formal, mas hoje ela estava diferente, a sua expressão estava triste.

— Primeiro é Delilah, não sou dona de nada. E Luana, esta tudo bem? Pareces-me triste.

— Está tudo bem, Dona Delilah.

— Não acredito nada, e até te perdoo por me chamares de Dona, se me prometeres que tomamos um café logo a noite e me contas o que te está a afligir.

— Eu não acho que seria ético.

— Bobagem, anda, vai-nos fazer bem as duas. – Toquei-lhe no ombro com um gesto de reconforto.

Ela acabou por concordar, e acompanhou-me até a sala do Peter. Suspirei a entrar na sala, e apertei fortemente a minha mala contra o ombro, um gesto que denunciava o meu nervosismo.

— Boa tarde, peço desculpa pelo atraso – cumprimentei e encaminhei-me para uma das cadeiras.

— Imagina, acabamos de entrar.

— Dona Delilah, eu sou o advogado designado pelo Senhor Caldwell como representante na assinatura do contrato.

— Sim, imagino que o Senhor Caldwell seja demasiado ocupado para se misturar com o povo.

As reações foram diversas, o advogado engasgou-se, o Peter lançou-me um olhar entre o riso e a incredulidade, e a Luana, que se encontrava na porta da sala, mordeu os lábios para evitar sorrir.

— Delilah – advertiu Peter.

— Não que esteja a reclamar é claro, garanto que a sua presença é muito mais agradável que a do seu cliente.

O advogado pigarreou, e podia jurar que ele tinha corado, mas a minha cota de ironias e gracejos tinha acabado. Sabia que era muito infantil da minha parte, mas não conseguia me controlar, aquele sujeito tinha tudo que eu odiava em uma pessoa.

— Dona Delilah, eu trouxe comigo o contrato. Ia pedir-lhe que lesse com atenção, para posteriormente discutirmos caso queira fazer alguma mudança, se não concordar com alguma clausula.

Peguei no contrato, e comecei a lê-lo com cuidado. O reality show “Being a star”, ia ter audições por todo o pais, e passar pelas principais cidades. Sendo que seriamos quatro jurados, cada participante que passasse iria receber uma estrela, e assim passar a segunda fase. Além disso, cada jurado, se achasse correto poderia selecionar um participante para ir diretamente para a primeira semana dentro da casa. Nos dias em que ocorressem as audições, os jurados teriam que ficar em um hotel. Na fase do reality show, os jurados viveriam durante toda a semana na casa, onde iriam orientar os participantes, através de aulas durante a semana. Todas as semanas haveria expulsões que seriam decididas pelo publico, em caso de empate seria o júri a decidir. Parecia-me tudo bem, tirando por um pequeno detalhe.

— Doutor Henrique, regra geral eu concordo com todas as clausulas. Mas como sabe, eu sai agora da reabilitação, e continuo a ter encontros semanais com a minha psicóloga. Seria imprudente da minha parte, na fase do reality show, parar com o atendimento psicológico.

— Dona Delilah, o programa vai ter uma psicóloga, devia a pressão psicológica que implica estar dentro de uma casa durante tantas semanas, contudo além disso, e se concordar podemos fazer um acordo com a sua psicóloga, onde ela poderia em momentos previamente acordados comparecer na casa onde vai ser realizado o reality show.

Discutimos os últimos detalhes, o primeiro passo seria organizar a divulgação da serie, e começar a promover as audições. Para isso, na próxima semana teria que comparecer para uma sessão de fotos, posteriormente seriam abertas as inscrições das audições. Depois de combinados os últimos detalhes, despedi-me do Peter e do Doutor Henrique. Na receção, combinei com a Luana, os detalhes para a nossa saída. E segui para o carro, olhei para o relógio. Sim, já estava atrasada.

Parei o carro no estacionamento perto do café, e não tardei a avista-las na esplanada. Enquanto a Sidney era baixinha, cheia de curvas, e com os cabelos ruivos a dar pelo pescoço. A Maria era alta, com longos cabelos loiros, e olhos verdes. A diferença delas não era puramente física, a Maria era professora de Literatura, mas o seu sonho era ser mesmo escritora de romances, alias para ela quando mais erótico melhor. Era a minha amiga mais romântica, sempre quis conhecer o seu príncipe encantado, via sempre o melhor nas pessoas, o que já lhe rendeu uma serie de desilusões. Já a Sidney, era Personal Trainer, mas o seu sonho era mesmo ser jogadora de futebol profissional. Era pragmática, lutadora, direta, e se tivesse um lema seria, eu pego, mas não me apego.

Respirei fundo, adiei este encontro ao máximo, mas agora era a hora de enfrentar o meu passado e os meus erros. Observei o momento, em que elas me viram, não tive grande tempo para reagir, mal de viu a Maria chutou praticamente a cadeira e correu na minha direção, deu-me um abraço tão apertado que quase me tirou do chão, enquanto a Sidney gritava um “OLHAAAAAA ELAAAAAAAAAA”.

Fiquei aliviada, conhecia as amigas que tinha, mas uma parte minha espera sempre o pior, tinha esperado da parte delas, gritos e acusações. Principalmente da parte da Maria, nunca me ia perdoar pelo que aconteceu.

— Tive tantas saudades tuas – disse a Maria com aquele sorriso típico dela.

— E eu tenho… vontade de te esganar – a Sidney falou com o típico tom de sermão – Onde já se viu, afastares-te de nós assim?

Eu respirei fundo, sabia que a Sidney tinha razão. Eu sempre esperava o pior das pessoas, nunca achei que merecesse a amizade delas, apesar de nos conhecermos desde o infantário.

— Eu senti-me tão culpada. Aquele cafajeste usou a Maria por minha causa, a maneira como ela foi humilhada. Tudo por minha causa, e por causa da nojenta da minha prima.

Perdi-me em lembranças, a Maria tinha conhecido o Carlos em uma feira de livros. Romântica como só ela, viu logo nele, um príncipe encantado. Não tardou, para ela nós apresentar. Eu estava em uma fase péssima, e não gostei dele quando o conheci, achava a atitude dele muito falsa e não gostava da maneira como ele olhava e falava comigo. Mas naquela altura, eu não gostava nem de mim, quanto mais dos outros. O namoro deles engrenou, a Maria estava muito feliz, já fazia planos para um futuro a dois. Quando ela fez anos organizou uma grande festa, em segredo confidenciou a mim e a Sidney que achava que o Carlos a ia pedi-la em casamento. Apesar, de não ir com a cara dele, fiquei feliz, eu sabia o quanto ela gostava dele. No dia do aniversário dela, eu e a Sidney resolvemos fazer uma surpresa. Montamos um vídeo, com diversos momentos da Maria, e iriamos cantar a sua música favorita. Então na hora da festa, enquanto a Maria estava distraída a receber os convidados, organizamos tudo, o projetor, o vídeo que gravaria a reação da Maria a surpresa, o microfone e a caixa de som. O Jantar correu normalmente, lembro-me que na altura mal comi, a comida era Strognoff de frango acompanhado de salada, apenas comi um bocado de salada aquele dia tinha sido péssimo, com a saída de uma coluna que criticava a minha aparência. A meio do Jantar, o Carlos desculpou-se, pois, tinha que atender uma chamada de negócios. E foi aí que os gritos começaram.

O Microfone estava ligado, e ouviu-se toda a conversa.

— NÃO FOI ISTO QUE COMBINAMOS JÉSSICA. EU SEDUZIA AQUELA SONGAMONGA PARA ME APROXIMAR DA DELILAH, ESTRAGAVA A AMIZADE DELAS. MAS A TUA PRIMA É UMA RAINHA DO GELO, ERA PARA SER UMA COISA RAPIDA, AGORA EU ESTOU AQUI NA CASA DELA E TIVE QUE CONHECER A FAMILIA TODA, UM BANDO DE PAROLOS QUE NÃO PARAM DE FALAR EM PLANOS PARA UM FUTURO CASAMENTO….

A comoção foi geral, lagrimas rolavam pelo rosto da minha amiga, enquanto os seu irmão e pai irrompia da cozinha para a sala. Observei a minha amiga, enxugar as lagrimas e a correr em direção a sala. Chegando a sala, um dos irmãos mais velhos da Maria segurava o Carlos pelo colarinho, pronto para desferir um golpe. Mas a Maria meteu-lhe a mão no ombro num gesto que pedia para parar.

— Foi tudo mentira? TUDO? – a voz dela tremia.

— QUEREM SABER? FOI SIM, TUDO MENTIRA? OU ACREDITASTE MESMO NA HISTÓRIA DE AMOR A PRIMEIRA VISTA? CRESCE, GAROTA, CRESCE. – ele aproximou o rosto dela – NÃO ESTAS NUM CONTO DE FADAS, NEM VAIS ENCONTRAR O TEU MR. DARCY. DEIXA DE SER RIDICULA.

A mão da minha amiga colidiu contra o rosto dele, uma atitude que ela não teve nunca em toda a sua vida. O irmão dela, segurou o Carlos outra vez afirmando que agora as contas iam ser ajustadas, e levando com ele porta fora. A Maria soluçada nos braços da mãe. Eu queria ir até a minha amiga, como vi a Sidney fazer. Ampara-la, enxugar as suas lagrimas, dizer que estava tudo bem, que ela era maravilhosa, que ele não a merecia, e que ela ia sim encontrar o seu Mr. Darcy. Mas como fazer isso, se era tudo minha culpa? Eu só magoava as pessoas a minha volta. Por minha causa, por causa do odio que a minha prima sentia de mim, uma das minhas melhores amigas estava a sofrer. Eu não era digna da amizade delas, eu não era digna de nada.

O que aconteceu a seguir foi um borrão, lembro-me de pegar em uma das garrafas de vodka que estava numa mesa para a festa. Lembro-me de beber, e pensar que a minha prima tinha que pagar, pelo que fez. Meter-se comigo tudo bem, mas com os meus amigos nunca. Lembro-me de estar a conduzir, e de repente aparecer um carro do nada. Lembro-me do estrondo e de tudo ficar preto. No dia seguinte várias manchetes anunciavam “Delilah Lamont têm um acidente depois de conduzir alcoolizada”, “Delilah Lamont internada em Hospital devido a um acidente”.

Sou afastada dos meus pensamentos quando a mão da Maria afaga a minha.

— Dê, a culpa não foi tua. Tens que parar com isso. A culpa foi daquele sacana e da tua prima, que é uma infeliz. Não sei como é que ela se tornou nessa pessoa. Nunca te culpei, e nunca te culparia. Nós somos irmãs – afirmou enquanto me agarrava na mão.

— Sim, está mais do que na hora de deixares de ser a Super Delilah. A tua prima é uma vaca invejosa. As ações dela são exclusivamente culpa dela. Para de te responsabilizar, és assim desde quando eramos crianças, alguma coisa acontecia, e tu arranjavas sempre uma maneira de te culpar. Para baby, tu não podes estar sempre a tomares as dores dos outros.

— Na altura, foi tão difícil. Todas as críticas da imprensa, o Paul, eu não estava bem, sentia que tudo que fazia estava errado. Não conseguia pensar com clareza e entrei numa espiral de destruição. Perdoem-me a sério, eu nunca quis magoar vos, afastei-me porque achei que vocês iam estar melhor sem mim.

— Tolinha, anda cá – disse a Sidney com um sorrisinho de lado.
Abracei-a, e a Maria juntou-se a nós. Era reconfortante saber que por mais erros que eu tivesse cometido, a nossa conexão continuava firme e forte.

— Agora, conta-nos tudo.

E eu contei, contei-lhes como foi difícil assumir que eu tinha um problema, como nas primeiras semanas foi difícil assumir que precisava de ajuda. Contei como as sessões como a Leticia foram importantes para a minha recuperação, contei-lhes da amizade com a Guga e o Tozé e em como queria que elas os conhecessem. Contei-lhes das expetativas profissionais, e que ia ser juíza do “Being a Star”.

— Espera aí, deixa ver se eu entendei. Tu, Delilah Lamont, vais participar em um reality show com o Samuel Caldwell? – perguntou a Sidney com muito esforço para não se rir.

Atirei-lhe um guardanapo.

— Não gozes, a sério, só de pensar em aturar aquele homem – respondi já alterada.

— Oh Dê, tenho a certeza que ele não é tão mau como tu pensas, e já faz tanto tempo…. – começou a Maria.

— Ele provavelmente é pior, é um arrogante, prepotente, que só ligas as aparências. Mas a oferta veio mesmo a calhar, acabei de sair da reabilitação, não posso simplesmente sair em turné. Passinhos de bebé.

Passamos grande parte da tarde ali, entre confidências, risadas e recordações felizes. Quando cheguei a casa sentia-me leve, preparei as coisas para o meu banho, mas antes mandei uma mensagem a Luana, a combinar o nosso encontro para logo. Simpatizava, com a Luana, e ia fazer tudo para ajuda-la.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, a vossa opinião é muito importante



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