A casa na colina escrita por Dricamay


Capítulo 6
Olhe quem vem ali


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Tudo bem com vocês ?
Mais um capítulo, esse foi um pouquinho longo. Espero que gostem, caso tenha alguma dúvida ou sugestão é só comentar, a sua opinião é muito importante.
Boa leitura! ❤



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Edgar passou a mão pelos cabelos, parcialmente arrependido. Passara boa parte da noite analisando a planta da casa que havia comprado, avaliando as possibilidades de reforma e o que pretendia fazer com os espaços que ela possuía; a compra da propriedade foi sem dúvida um ótimo negócio. Enquanto desenhava os projetos para a casa, ficou bastante satisfeito em saber que ainda tinha capacidade de criar, durante um tempo achou que perdera a inspiração, que o dom que recebera, como a mãe costumava falar, fora tirado dele quando perdeu os pais. Fora duro com Afonso, sabia que parte dele nunca mais seria a mesma depois do que aconteceu, mas o amigo tinha razão não podia ficar preso a alguém que não era. Lançou um olhar para os papéis espalhados pela mesa, os rabiscos que saíram de suas mãos davam vida a algo dentro dele, contudo, agora tinha que pensar no trabalho do porto, não podia abandonar tudo o que seu pai havia dado a ele. Seu coração estava divido entre o que amava fazer e aquilo que seu pai espera dele. O corpo cobrava-lhe o tempo curto de descanso, porém com certo esforço resolveu arrumar-se para o trabalho.
— Vejo que acordou de bom humor. – exclamou Afonso quando viu o amigo descer as escadas com a expressão mais leve.
— Bom dia! Vais passar o dia em casa? Gostaria de levar alguns papéis para os senhores que o Marques indicou-me para a reforma. Gostaria de ir comigo? Edgar imaginou que esquecer a noite anterior seria o melhor a fazer, não fora muito gentil é verdade, mas não sentiu necessidade de uma desculpa mais formal.
— Claro! Posso ver o projeto? – pediu Afonso com um sorriso animador que o fazia parecer um menino.
Edgar acenou positivamente.
— Faça isso no caminho. Não posso demorar muito, ainda tenho que ir para o porto. – disse o Conde Hendeston saindo da casa acompanhado do amigo.
X----X
— Cecilia, você está quase meia hora vendo estes enfeites! – bufou Eleonora.
A amiga andava de um lado para o outro na loja, comparando tamanhos e cores para os enfeites que ornamentariam as mesas. Os cabelos castanhos agora soltos desciam pelas costas de seu vestido amarelo claro que combinava perfeitamente com a pele morena. Cecilia movia-se com a graciosidade de um cisne, mas os olhos cor de mel voltaram-se para a amiga em um tom repreensivo.
— São detalhes importantes. Agora sei o motivo da Marquesa não confiar em você para este tipo de tarefa. – respondeu a moça
Eleonora revirou os olhos.
— Ainda vais demorar ?
—Vou querer estes aqui, senhor. Embrulhe e envie para a casa do Marquês, por favor! – disse Cecília ao dono do estabelecimento. O senhor entregou a moça um recibo e as mulheres saíram da loja.
— Pronto! Quanto impaciência senhorita Vogel! – exclamou Cecília com ar brincalhão. – Agora temos que ver os nossos vestidos. Será que a Marquesa já escolheu o dela?
— Acho difícil, ela e a Senhora Silveira devem estar pondo a conversa em dia. – disse Eleonora rindo.
O baile seria daqui a dois dias, e agora que tinha certeza que não receberia nenhum pedido indesejado no dia, seu bom humor com a festa finalmente surgiu. Normalmente Eleonora gostava da tranquilidade do jardim e de seus livros, mas isso nunca fora um motivo para deixar de gostar de festas, adorava a música, a dança e a alegria dessas ocasiões.
— Olhe quem vem ali. – sussurro Cecília tocando no braço da amiga.
Eleonora olhou na direção que Cecília acenara discretamente com a cabeça.

Dois homens vinham na direção das moças. Eleonora reconheceu o homem alto de cabelos e olhos negros, vendo-o agora percebeu o quanto ele era bonito, os cabelos compridos até próximo do ombro estavam levemente bagunçados, o que dava-lhe uma aparência jovial que contrastava com as feições sérias do rapaz.
— Bom dia, senhoras. – exclamou o Conde Harrington com um aceno educado.
— Bom dia, senhora Vogel. – cumprimentou o Conde Hendeston e voltou-se para Cecilia. – Senhora Benthey.
— Bom dia, senhores. – Respondeu Eleonora sorrindo para os Condes.
— Como vai a instalação dos senhores em Monte Silene? – perguntou Cecília apertando suavemente o braço de Eleonora. A moça sabia o que significava, um pequeno aviso de que percebera o olhar do conde Hendeston para a filha do Marquês.
— Formidável, senhora Benthey. Gentileza sua perguntar. – afirmou Afonso sorrindo para a moça. – As senhoras estão a passeio no centro?
— Comprando algumas coisas para o Baile. – exclamou Cecília
— Ah claro! O baile. - respondeu o Conde Harrington
— Os senhores certamente irão, não ? – perguntou Eleonora
— Sim, senhora. – disse Edgar com um gentil sorriso.
— Conde Harrington, o senhor entende de charutos ? Gostaria de levar alguns para meu pai, mas confesso que não entendo muito a respeito. Prometo que não tomarei muito de seu tempo. – disse Cecília de repente.
— Entendo sim, senhora. Não preocupe-se, disponho o tempo que for necessário para ajudá-la. - respondeu o Conde Harrington em tom galante oferecendo a Cecília o braço.
— Vejo você em alguns minutos. – disse a moça para Eleonora lançando um olhar significativo para a amiga.
Eleonora quis responder algo, pedir para Cecilia não ir, mas só pode concordar com a cabeça. Ela viu a amiga e o Conde entrarem em uma das lojas.
O silêncio pareceu opressor por alguns segundos.
— Como estão os preparativos para o baile? – perguntou o Conde Hendeston quebrando o silêncio para alívio da jovem.
— Muito bem, graças a minha Mãe e Cecília. Essas ocasiões são feitas para elas. – afirmou Eleonora.
— A senhora não gosta de bailes? – disse o rapaz com o olhar fixo nela.
— Não é isto. A ideia é agradável, mas não sou muito... voltada para preparativos e detalhes deste tipo quanto elas.
O Conde sorriu.
— E para o que a senhora é voltada? – perguntou curioso
— Hã... – a jovem não esperava por aquela pergunta.
— Perdoe-me fui inconveniente. - pediu o Conde.
— Não, não. De modo algum...Vejamos: livros, música e conversas construtivas. – respondeu a loira com um sorriso divertido.
— Devo estar sendo decepcionante para a senhora. – os olhos negros com um brilho intenso.
— Não diga isso, senhor Hendeston. Há certa graça em conversas triviais. – retrucou a moça.
— Muito trabalho no Porto? – perguntou a moça indicando uma pasta com alguns papéis nas mãos do Conde
— Sim, contudo, isto não tem relação com o porto, são algumas ideias para reforma da casa. – respondeu o senhor Hendeston olhando para os papéis.
— O senhor mesmo fez? – perguntou a moça surpresa.
— Sim, gostaria de ver?
— Não quero incomoda-lo, senhor. – exclamou Eleonora um tanto sem graça.
— Não será incômodo algum. Na verdade seria bom ter uma segunda opinião. – disse o Conde entregando a pasta para a filha do Marquês.
Eleonora pegou os papéis e folheou com cuidado. Os desenhos dos cômodos eram feitos com tantos detalhes e elegância que a jovem podia visualizar como a casa ficaria bonita. O senhor Hendeston tinha talento, sem dúvida.
— Acho que o senhor tem muito talento. As partes internas são espaçosas e parecem confortáveis sem deixar de lado a elegância. O que é isto ? – perguntou apontando para o desenho de um cômodo com prateleiras vazias e alguns rabiscos de objetos
— Ainda não sei ao certo... pretendia ter um espaço na casa destinado a leitura ou para meus rabiscos... - murmurou o Conde
— Talvez o cômodo fosse adequado para os dois. Livros são uma fonte excelente de inspiração, pode ajudar com os projetos. - encorajou Eleonora.
O Conde olhou-a com uma expressão enigmática e Eleonora sentiu que ficaria presa em seu olhar.
— Espero não ter demorado muito. – a voz doce de Cecília soou perto.
Eleonora não percebeu a chegada da amiga e do Conde Harrington, dado a expressão do senhor Hendeston ele também não notara a chegada dos outros dois.
— Quase nada... – respondeu o Conde dando um sorriso gentil para Cecília.
— Acho que temos que ir, Afonso. Senhoras foi um prazer vê-las. – exclamou o senhor Hendeston depositando um beijo na mão de Eleonora.
— Sim, vamos. – respondeu o senhor Harrington que por sua vez beijou a mão de Cecília.
— Obrigada por sua ajuda, Conde Harrington. – disse Cecília indicando o embrulho em sua mão.
— O prazer foi todo meu, senhora.
Ele cumprimentou Eleonora e saiu com o senhor Hendeston. A moça os viu atravessar a rua e entrar em um prédio.
— Imagino que você tenha aproveitado o tempo que dei-lhe. – murmurou Cecília, sua sobrancelha erguida e um sorriso travesso.
— Você é inacreditável, senhorita Benthey. Vamos temos que comprar nossos vestidos e procurar minha mãe. – afirmou Eleonora segurando o braço da amiga para iniciarem a caminhada até a loja de roupas.
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— Há uma porta nos fundos para criados. Você pode entrar por lá, vou estar esperando no corredor após o sinal. – murmurou Gregório tomando um gole de vinho.
Bebia para tentar esquecer o cheiro fétido do aposento. A sala precariamente iluminada estava coberta por restos de peixes, cigarros e bebida barata; os dois homens estavam em um prédio no final da doca de Monte Silene, o lugar era usado por marinheiros que esperavam a carga e descarga das embarcações.
— A mansão não vai estar movimentada ? Algum empregado pode nos ver...- disse o homem alto e magro de olhos escuros que estava ao seu lado.
— A maior parte vai estar no salão, a filha do Marquês geralmente canta nas recepções do pai. Todos estarão voltando sua atenção para a moça, será o momento perfeito. – disse Gregório dando outro gole em sua bebida.
— Quanto ganho com isso? – perguntou o de olhos escuros.
— Metade do valor que está no cofre.
— De quanto estamos falando?
Gregório lembrou da ocasião que descobrira o cofre no escritório do Marquês, ele tirou do local umas promissórias que deveriam ser entregues ao pai do Visconde. Ele viu de relance as notas de dinheiro, mas lembrava perfeitamente de ter visto uma boa quantidade.
— Não sei a quantia exata, mas pela quantidade de notas é dinheiro suficiente para aproveitarmos bastante.
Os olhos do homem encaravam Gregório com ar desconfiado.
— Pois bem, eu faço. Metade senhor Gregório, metade.
— Confie em mim. Estará fazendo um bom negócio. - afirmou o Visconde. – Tenho que ir, vejo o senhor daqui a dois dias.
O Visconde saiu do prédio, olhando discretamente para os lados. Por mais que ainda fosse de manhã, aquela parte da cidade era deserta, o movimento de navios ficava no Porto, as docas eram habitadas apenas por bêbados, ladrões e prostitutas, ninguém que significasse para Gregório. Seus pensamentos estavam concentrados em seu “projeto”, o baile no final de contas ainda seria lucrativo para o Visconde mesmo que o casamento ainda não pudesse ser realizado.


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Notas finais do capítulo

O que estão achando da história? E dos personagens? Gostaria de ver a opinião de vocês.



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