Balsam escrita por Raposinha Marota
Notas iniciais do capítulo
Olá, caros leitores!
Agradeço de antemão pela atenção e espero que possam aproveitar a leitura como desejam.
Estória inspirada na música da Yuzuki Yukari, "Balsam".
Desejo-lhes uma boa leitura.
Obs: Se possível, leiam ouvindo a música. Garanto uma experiência muito interessante.
Obs: Particularmente, eu gosto mais da versão da Kaai Yuki.
Era apenas mais um dia comum para mim. Um dia não odioso, porém, apenas comum. Eu conseguia sentir o tempo agradável de primavera agindo naquela sala. O cheiro fresco das recém-abertas flores das árvores do colégio e a temperatura estável, mesmo que um pouco frio para meu gosto. Mais um ano letivo estava começando. Não que eu me importasse ou estava ansiosa por isso. Afinal, quando se passa tanto tempo com a mesma turma, você acaba perdendo a noção do tempo, perdendo também o ânimo e caindo no comodismo... Não era como se eu não gostasse desse sentimento ou mesmo dos meus colegas, mas apreciava muito mais manter-me distante, quieta e em meu próprio espaço do que interagir com eles.
Como de costume, sentei-me na mesma posição que eu costumava me sentar ano passado. Talvez, pelos velhos hábitos. Ou talvez, por ser mais cômodo. Independente do motivo, aquele local estava começando a se tornar meu refúgio. Rostos jovens e não tão desconhecidos, aos poucos, adentravam o cômodo com as mais diversas expressões. E como esperado, nenhuma dessas pessoas vieram ao meu encontro. Ali, perdida nas notas musicais da melodia tocada em meus fones de ouvido, eu me sentia confortada, perfeitamente isolada daquele mundo e seus habitantes. O máximo que eu precisei fazer fora ajeitar os fones e aumentar o volume para aprofundar-me na canção que eu tanto gostava de ouvir.
Sim... Eu adorava aquela música.
Os dias seguintes caminharam de forma mais animada para os demais. Era surpreendente perceber como aquelas pessoas tinham tanta facilidade de se adaptarem em um novo ambiente, acostumando-se rapidamente com a vida no colégio. De certa forma, esse tipo de habilidade me irritava. Eu não gostava de tumultos, evitando sempre as multidões e, até mesmo, da proximidade de grupos. As conversas pareciam me provocar, tirando a paz que eu tanto gostava de manter. Por isso, eu sempre era a primeira a chegar, aproveitando o silêncio da sala enquanto eu conseguia, e a última a sair, deixando com que os passos e a agitação sumirem antes que de tomar qualquer atitude. Era difícil ter aquele espaço, o conforto do silêncio. E todas às vezes que o tinha eu, simplesmente, abandonava meus fones de lado, sentindo o vento vindo das janelas brincando com meus cabelos e fazendo cócegas em minha pele.
E naquela manhã não fora diferente.
Estava tudo indo bem. Fechei meus olhos ao respirar profundamente e segurar o ar por um tempo, antes de soltá-lo levemente. Aquela paz tão vazia e solitária... A escuridão à minha frente devido aos olhos fechados. Por um instante, ela me incomodou, mas, em resposta, enterrei, mais uma vez, aquele sentimento. Eu não precisava dele. Eu não queria aquela emoção. Eu era feliz, não? Estava bem no meu próprio espaço, sim?
— Está tudo bem. — eu disse a mim mesma, com um sorriso tímido no rosto. – Isso não é uma mentira.
A afirmação pareceu falha devido ao meu tom tão baixo quanto um sussurro.
Logo, eu conseguia ouvir vozes. Por impulso, endireitei-me e tratei de recolocar meus fones o mais rápido possível, deixando uma música qualquer tocar. As portas da sala foram abertas e um grupo de garotas adentrou, sentando-se não muito distante de onde eu estava. Algum tempo passou e, por curiosidade, meus olhos observaram cada pessoa presente de modo discreto. Elas olhavam para minha direção, algumas vezes. As que notavam meu contato visual desviavam o olhar rapidamente por medo, enquanto outras apenas me ignoravam como se eu não existisse. Não havia diferença para mim. Em todos os casos, minhas mãos haviam perdido a cor devido a ansiedade. Suspirei controlado, esperando que aquele sentimento incômodo passasse depressa.
Eu não podia deixá-lo me vencer. Eu não queria aceitar aquele sentimento, mesmo me perguntando por quanto tempo eu ainda conseguiria me manter de pé.
“Estou solitária”, dizia a minha consciência de forma triste e chorosa. Aquele pequeno pensamento fora o suficiente para que eu mordesse meu lábio inferior e aumentasse o som da música que escutava. Alta o suficiente para sufocar meus pensamentos e me retirar da realidade. Eu sabia que era verdade. Eu era uma pessoa solitária. Contudo, eu não queria aceitar isso. Não queria dizer para mim mesma que eu era fraca e uma idiota. Eu simplesmente não aceitaria.
Não após ter escutado outras garotas me chamando de “aquela pobre coisa”.
E admitir aquela solidão me faria uma perdedora. Apenas seria combustível para as pessoas tirarem conclusões ainda piores de quem eu era realmente. Eu não precisava passar por algo tão vergonhoso assim.
E devido à esse pensamento, eu me assustei quando uma garota veio conversar comigo. Ela era uma caloura, vinda de outro colégio e de outra região. Talvez fosse por esse fator que ela era considerada popular e bem vista... Ou seria devido sua gentileza? Ou inteligência? Ou a boa aparência? No fim, ela não tinha nada em comum comigo e essa diferença me tirava do sério. Não importava o quão alto o volume da música dos meus fones estavam, apenas ver a sombra daquela garota rompia a minha paz. Eu apenas me levantei da minha carteira, ignorando totalmente sua existência e tomando qualquer rumo o mais rápido possível.
E isso continuou por dias. Não importava o quanto eu me mantinha calada, o quanto eu a ignorava e fugia apenas para não permanecer ao seu lado. Ela não havia desistido. Isso era muito mais do que irritante. Principalmente, com os novos olhares que caíam sobre mim. E como se não fosse o suficiente, o surgimento de novos rumores e cochichos a meu respeito apareciam aos montes.
— Eles te odeiam, não é? — uma vez, ela me perguntou, após um grupo de garotas sair da sala rindo de mim sem um motivo aparente. — Elas não deviam fazer isso.
— Eu não ligo. – fora minha primeira sentença dirigida à ela. — E isso não importa. Eu gosto de ficar sozinha.
— Mas eu quero ser sua amiga. — ela contrariou com um sorriso gentil. Um sorriso que me fez corroer.
Não houve uma resposta minha. Abaixei minha cabeça, escondendo meu rosto e me concentrando na música. Eu queria matar aquele sentimento doloroso e caloroso, ao mesmo tempo, que crescia em meu peito.
“Não”, pensava comigo, “quero me manter na escuridão”.
Meus olhos já se encontravam molhados. As lágrimas queriam se libertar. Rangi meus dentes em total desaprovação. Não iria admitir que eu odiava a solidão. Não iria deixar que meu medo se tornasse real.
Eu só precisava continuar fingindo... Assim, eu nunca quebraria.
Mas, a cada dia que passava, a mentira se tornava tão pesada que já não era possível mantê-la. A cada dia que aquela garota tentava se aproximar, mais e mais aquilo exigia de mim. E eu não poderia continuar com isso... Eu iria quebrar de vez se aquele ritmo permanecesse intacto.
— Não toque em mim. — eu a repreendi quando esta pegou uma de minhas mãos e eu, abruptamente, afastei-me. Minha voz fria e raivosa fora quase um grito, chamando a atenção dos nossos colegas, que se encontravam mais próximos de nós.
Eu vi a surpresa em seus olhos sendo rapidamente substituída pela tristeza... até mesmo, desapontamento. O que ela esperava de mim? O que ela queria de mim? Por que aquele olhar me machucava tanto?
Por fim, ela se afastou. Pensei que, finalmente, eu teria minha paz de volta. Mais que paz? Como eu poderia me sentir bem depois de ver aquela expressão. A culpa recaiu sobre mim. Ela apenas queria a minha atenção... A mínima que fosse. E o silêncio que eu estimava não era mais meu conforto, meu alívio... meu bálsamo.
“Se você não quebrar sua casca, você não poderá mostrar suas sementes”, minha mãe me disse uma vez. Lembrar de tais palavras pesavam mais do que eu imaginava. A escuridão, novamente, crescia em meu peito, porém, não de forma reconfortante que eu tanto apreciava. Era assustadora demais. Levantei-me da minha carteira, escondendo meu rosto com a ajuda do meu cabelo e corri para fora, buscando um local vazio o suficiente para que minhas lágrimas pudessem cair. Na primeira oportunidade, adentrei a primeira sala vazia. Para a minha não surpresa, eu tinha entrado em uma das salas de química, a mais antiga e que estava desativada há um bom tempo. Não era a primeira vez que eu me refugiava ali e, devido à familiaridade com o local, matei as últimas aulas daquele dia... Chorando como uma criança, sentindo meu peito me sufocar.
Eu estava sozinha... Realmente, sozinha.
Desde então, tendo passado uma semana depois daquele ocorrido, aquela garota não se aproximou mais. Isso consumiu meu coração e eu estava mais sensível que o normal. Algumas vezes, eu me pegava a observando. Ver e ouvir sua alegria em diferentes grupos, rindo e conversando de forma divertida, já era o suficiente para me irritar. Agora, o que eu sentia era a mais pura e repugnante inveja. Eu queria ria como eles, estar em um grupo que gostasse de mim. E por mais que eu negasse até o fim, essa era a verdade. Porém, eu já sabia. Eu havia tomado aquela posição indiferente por medo e já era tarde para voltar atrás. Se eu tivesse agido e tentado um pouco mais, tudo estaria diferente?
Eu deixaria de ser a única fora do círculo?
Eu sentia que não estava bem, novamente. Ser apenas uma observadora muda era difícil. Principalmente, ao ver que eu havia sido deixada para trás. Aquela garota estava rindo, interagindo normalmente com um grupo de meninas. Cada sorriso dado era como uma facada em minhas costas. De certa forma, eu me sentia traída. Era estúpido, mas era o que eu sentia. Senti minha defesa subir naturalmente e, logo, a confiança sem fundamento se sobressaiu dos meus outros sentimentos, dando a falsa sensação de independência. Era apenas uma máscara, mas era a única coisa que eu tinha. E isso era muito mais legal, não é? Eu, talvez, estivesse mais madura por isso?
A quem eu estava querendo enganar? Eu tinha que parar de ter essa inveja. Tinha que parar de acreditar que eu estava com inveja. Parar de pensar que eu precisava de amigos. Permitir que eu fosse amiga de alguém? Eu nunca faria isso. Eu não pediria por isso. Eu tinha meu próprio orgulho para me ajudar. Tudo o que faltava era um coração que aceitasse logo minha condição.
Que não se partisse por nada.
O grupo daquela garota estava saindo da sala, dizendo que iam ao banheiro. Nem ao menos nisso elas conseguiam ir sozinhas? Minha raiva voltava. Eu as amaldiçoava por serem tão grudadas umas às outras. Amaldiçoava por fazerem disso algo tão natural. Meus olhos não conseguiam mais disfarçar, acompanhando o trajeto delas até que desaparecessem pela porta da sala. Suspirei pesadamente, dando minha atenção para a música que tocava e estava contribuindo para meu estresse.
Era a minha música favorita.
Olhei com ódio para a tela do meu celular e desliguei a música. Novamente, precisei de ar. Eu saí da sala e caminhei até a área da parte de atrás do prédio principal. Apoiei-me na parede, olhando o céu celeste com o mínimo de nuvens navegando pelos ares. Vê-las dava-me uma sensação de liberdade... Algo que eu nunca tive.
— Você está aqui.
Meus olhos se arregalaram ao escutar aquela voz. Voltei-me para sua origem e vi que era, realmente, aquela garota. Ela tinha olhos tão intensos que, por um momento, senti medo. Ela se aproximou no mesmo instante, tomando uma das minhas mãos sem qualquer hesitação, assustando-me ainda mais.
— Vamos ser amigas! – ela gritou, fazendo meu coração pulsar dolorosamente em meu peito. – Por favor, deixe-me provar que estou dizendo a verdade. – ainda em choque, apenas minhas lágrimas agiam por conta própria, deslizando por minhas bochechas. Eu não havia me tocado no meu estado até que a garota se mostrasse preocupada. – Desculpa, eu não queria te assustar.
— Por que? — perguntei com a voz totalmente embriagada pelo choro. — Por que você quer ser minha amiga?
A garota apenas me sorriu carinhoso, sendo a primeira a me dar um sorriso daquele.
— Por que eu acho que você é legal.
Levei minhas mãos para meu rosto, escondendo meu choro. Eu havia perdido. Eu estava me sentindo solitária. Eu queria amigos. Eu queria companhia.
Estava tudo bem, então, mostrar o quanto eu estava quebrada, não é?
Enquanto eu chorava, eu recebi meu primeiro abraço, sentindo o calor gentil me aconchegando. Tudo o que eu pude fazer fora aceitar aquele contado e, a partir dele, começar a mudar.
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Caros leitores de todas as idades. Gostaria que, humildemente, deixassem uma palavra a esta escritora que aqui vos escreve. Não é pedir muito um simplório comentário para dar a luz que um escritor necessita.