As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza
Notas iniciais do capítulo
Na casa de Capricórnio, Shoryu finalmente desperta. Mas, apesar de estar na companhia da outra filha de Shiryu, o Dragão não terá uma estadia tranquila.
Shoryu finalmente abriu os olhos e, ainda com a cabeça doendo, sentou-se no chão em que repousava. Surpreso, percebeu que de alguma forma a sua visão havia retornado, e reconheceu o interior da Casa de Capricórnio. Não tinha a menor ideia de como acabara ali, mas teve somente alguns segundos para organizar seus pensamentos pois, logo em seguida, sentiu um ataque se aproximando. Rolando para trás, esquivou de um feixe de luz, que passou rasgando o piso de mármore. E mal Shoryu colocou-se sobre seus dois pés, já teve que aparar uma lâmina dourada, que quase tocou a sua garganta.
Com o braço esquerdo emitindo a aura de uma espada, a Amazona de Capricórnio teve seu antebraço detido no último instante pelo Escudo do Dragão, que empurrava a face plana da Excalibur para longe do rosto do cavaleiro.
— Huan-Li... — reencontrou-a. — O que pensa que está fazendo?!
— Não é óbvio, irmãozinho? Estou dando a revanche que você tanto queria...
Desvencilhando-se do Escudo do Dragão, Huan-Li girou o corpo no sentido horário e, com a perna direita, tentou atingir Shoryu com sua outra Excalibur. Porém, o cavaleiro saltou para trás, tão logo percebeu que seu pescoço seria cortado. Em seguida, já prevendo que sua irmã armaria outro ataque, tentou saltar para ainda mais longe, mas, dessa vez, a Amazona de Capricórnio disparou um Dragão Voador com o punho direito, mandando o cavaleiro de bronze pelos ares. O som de mármore partindo ecoou pela casa, quando o cavaleiro despencou como um peso morto.
— Você ousa voltar à minha casa... Para me dar esse nível de luta? — questionou a dourada, que dessa vez dava tempo para o irmão se recuperar.
Huan-Li era uma mulher de cabelos curtos e estatura mediana, tendo pouco menos de 1,70 m de altura e, assim como seu irmão, era de etnia chinesa. Porém, ao contrário dos olhos pacíficos como um lago de Shoryu, Huan-Li transbordava a ferocidade de uma tempestade.
— Você entendeu errado, Huan-Li — explicou Shoryu, levantando-se com as mãos à mostra, como sinal de trégua. — Eu não vim aqui para lutar...
— Isso é o que você diz, mas... E quanto ao seu coração? — questionou a amazona, com olhos afiados.
— O meu coração? O que você quer dizer com isso? — rebateu Shoryu, ficando na defensiva.
— Da última vez que veio aqui, você queria descobrir se o papai havia dado a Excalibur do braço direito para mim... — riu. — Era tão cômico. Ver você, o filho mais velho, com medo de perder a Excalibur para sua irmã mais nova — divertia-se com o deboche. — No fim, você fingiu dar-se por satisfeito quando percebeu que eu também não havia herdado a Excalibur do braço direito. Mas nós dois sabemos que, no fundo, você continua remoendo esse sentimento de que precisa da aprovação do nosso pai — acusou, com um sorriso arrogante — e o seu coração sente que só vai conseguir isso quando superar a verdadeira primogênita de Shiryu...
Shoryu apertou os dentes. Por mais que não quisesse dar ouvidos à Huan-Li, não havia como aquelas palavras não o machucarem.
— Não é verdade, irmãozinho? — insistiu.
Apesar de mais baixa e mais jovem, ela sempre tratava o irmão no diminutivo, como forma de inferiorizá-lo.
— Admita — continuou. — Você ainda não superou a verdade... Que eu te revelei na última vez em que veio aqui... Sobre você ser adotado — concluiu, saboreando cada palavra destilada em veneno.
— Chega, Huan-Li! — exclamou Shoryu, alterando a voz. — Nós não temos tempo para isso! Há algo maior em jogo do que eu ou você...
— “Eu ou você”? — interrompeu-o, em tom de indignação. — Até quando você vai fugir da realidade? O único aqui que não consegue lidar com ela é você!
Huan-Li saltou e disparou um chute, que lançou um Dragão Voador sobre o cavaleiro. Shoryu só teve tempo de se esconder atrás de seu escudo, e esperar a rajada cósmica se dissipar, enquanto era empurrado vários metros para trás. Porém, sem dar tempo do irmão se recuperar, a amazona já aterrissou sobre ele mirando a Excalibur do braço esquerdo em seu pescoço. Por sorte, os olhos de Shoryu captaram o movimento e ativaram seus reflexos, permitindo ao cavaleiro travar a espada sagrada entre as palmas de suas mãos.
Ainda seguindo seus instintos de luta, o cavaleiro de bronze puxou a irmã pelo braço, e girou o corpo para arremessá-la para trás. Porém, quando já rodava acima da cabeça do irmão, Huan-Li usou sua mão livre para prender-se ao punho de Shoryu. Em seguida, torcendo o tronco no ar, girou as pernas como um par de hélices e, ganhando impulso, conseguiu firmar os pés novamente no chão para, então, dessa vez ela, levantar o irmão no ar.
Shoryu perdeu o ar dos pulmões, e sentiu eles encherem-se de sangue, quando suas costas colidiram no mármore frio, espalhando uma grande onda de impacto por todo o piso da Casa de Capricórnio. O “Ippon”, aplicado por Huan-Li, deixou-o completamente vencido, incapaz de reagir à pisada da irmã, que torturava-o com um pé em seu pescoço.
— Mas sobre uma coisa você está certo... — concordou a amazona, que divertia-se com a cena do irmão esganado sob sua bota. — Há algo maior em jogo do que os seus sentimentos... — continuou, com ar de desprezo. — E é por isso que eu não preciso de alguém como você me atrapalhando... Quando o inimigo chegar aqui, prefiro lutar sozinha do que confiar a minha retaguarda a você... — Huan-Li fuzilou-o com os olhos, enquanto aumentava a pressão da pisada. — Se você não fosse um fardo para nós, cavaleiros de ouro, o Kiki não teria morrido na primeira casa...
Basta. Aquilo já era demais. Relembrá-lo da culpa que sentia, pela morte de Kiki, perfurou o coração de Shoryu de uma maneira que o fez perder todo o controle. Rajadas de vento explodiram com seu cosmo, ardendo em fúria, enquanto a aura de um dragão esmeralda subia e serpenteava ao redor dos cavaleiros. Sem intimidar-se, porém, a amazona apenas abria um largo sorriso de satisfação, admirando o poder liberado por seu irmão.
Foi nesse momento, no entanto, que os olhos de Huan-Li detectaram algo à sua esquerda. Um ricochete metálico ecoou pela casa, e uma flecha dourada cravou-se no chão, logo ao lado do rosto de Shoryu; a capricorniana levantara a Excalibur de seu braço esquerdo no último instante, desviando a seta que mirava sua cabeça.
— Parece que vamos ter que deixar nosso acerto de contas para depois, irmãozinho... — lamentou Huan-Li, já encarando o inimigo que acabara de se revelar das sombras.
Um oriental, com a inconfundível armadura de Sagitário, ainda que faltando-lhe a asa direita, estava parado próximo à entrada da décima casa. O cavaleiro ainda apontava seu arco dourado para Huan-Li, mas, após um breve suspiro de decepção, baixou sua arma para se apresentar.
— Parece que perdi o elemento surpresa... — lamentou. — Seus sentidos são bastante aguçados, garota. O cavaleiro da primeira casa... Não teve a mesma sorte.
— Você! — gasnou Shoryu, recordando-se do sagitariano, e fazendo com que somente então Huan-Li lembrasse de tirar o pé de sua garganta. — Foi você que matou o Kiki! — exclamou, agora podendo levantar-se.
— Então foi esse o cara... — confirmou Huan-Li, já passando toda a ira de seus olhos ao sagitariano.
Seu punho direito cerrava-se com tanta força que a luva dourada abria a pele de seus dedos, manchando de vermelho o chão branco.
— Deixe ele comigo, Huan-Li! — pediu Shoryu, já querendo passar ao lado da irmã. —Tenho contas a acertar com ele...
Detendo o cavaleiro de bronze, porém, o cotovelo da amazona afundou em seu estômago, paralisando todos os nervos de seu corpo.
— Huan... Li?! — arfou, perplexo, com a voz saindo fraca devido à paralisia do diafragma.
— Eu já disse — relembrou-o, com olhar impiedoso — que não preciso de alguém como você para me atrapalhar.
Completamente nocauteado, Shoryu desabou.
— Sem falar que vingar o Kiki... — continuou. — É tão pessoal para mim quanto é para você... Agora — declarou, voltando-se para o inimigo do Santuário com a aura da Excalibur à mostra — a quem a minha espada deve o desprazer de manchar-se de sangue?
— Meu nome é Minamoto... — apresentou-se, com certo pesar, por compreender que havia matado alguém querido da amazona. — Minamoto de Sagitário...
— Minamoto... — guardou. — Vou gostar de lembrar desse nome... Sempre que eu rememorar a sua morte!
Mirando uma rápida estocada de sua Excalibur do braço esquerdo, Huan-Li saltou em direção ao dourado. Com reflexos apurados, porém, Minamoto desviou o golpe para longe de seu pescoço, com um giro de seu arco.
Sem intimidar-se, Huan-Li continuou a desferir uma incrível sequência de estocadas com seu braço esquerdo, adotando uma postura de ataque similar à esgrima com florete. O sagitariano, no entanto, não ficou para trás em questão de domínio da velocidade da luz, e continuou a desviar os golpes com giros de seu arco, o qual manuseava como se fosse um bastão de defesa.
Por mais que a Excalibur de Huan-Li fosse afiada, ela não parecia ser capaz de cortar a sagrada arma da constelação de Sagitário.
“Interessante...” Pensava Minamoto, consigo, enquanto também tinha que defender-se de eventuais golpes de Excalibur da perna esquerda de Huan-Li. “A princípio, achei estranho a forma de atacar com um braço só dessa garota, e me perguntei se ela a teria adotado para compensar uma possível falta da Excalibur no braço direito, porém... Mesmo atacando com somente um braço, ela ainda luta com a mesma eficiência do Fiore, senão mais. Portanto, eu não posso dizer se o braço direito dela é realmente inútil, ou se esse estilo de luta foi criado apesar de não haver uma deficiência a se cobrir...” Raciocinava. “Espere! Ela vai usar o braço direito!”
Minamoto preparou o arco para defender-se de uma Excalibur vinda da outra mão, mas não foi esse o golpe que Huan-Li lançou. Um reluzente dragão de cosmo-energia atravessou o corpo do sagitariano, como uma poderosa onda de choque, e lançou-o pelos ares.
“O Cólera do Dragão?” Surpreendeu-se, completamente aturdido.
Aproveitando a aparente impossibilidade do sagitariano de reagir em pleno ar, Huan-Li saltou em seu encalço, mirando um golpe certeiro de seu “florete”. Porém, o oriental abriu a asa que restava de sua armadura, a esquerda, e criou uma resistência unilateral no ar, que fez com que seu corpo girasse para o mesmo lado.
Agora era Huan-Li que aparentemente não teria como desviar-se da flecha dourada que Minamoto já armava. Porém, quando a seta carregada com todo o cosmo do sagitariano foi lançada, a amazona girou o corpo, e cortou-a com a Excalibur. A energia liberada da flecha partida criou uma grande explosão de luz, que encobriu todo o cenário.
Era nesse momento que Shoryu despertava. Ainda zonzo, o cavaleiro tinha dificuldade em acompanhar a movimentação dos dourados, que digladiavam intensamente por toda a arena de combate. Tudo era percebido por Shoryu somente como uma difusão de flashes e luzes, que espalhavam-se pelo cenário com formas muito pouco nítidas. Até que, de repente, os duelistas pararam de se mover.
— Não... — desesperou-se Shoryu, ao compreender o resultado da luta.
A mão esquerda de Huan-Li, que passava à esquerda da garganta de Minamoto, deixava um corte relativamente fundo em sua jugular, fazendo-o sangrar consideravelmente; o golpe só não fora fatal por que o sagitariano conseguira desviá-lo o suficiente com o seu arco, empurrando a Excalibur para fora de seu pescoço. A situação da capricorniana, porém, era ainda pior. Com a mão direita, Minamoto apunhalava uma seta dourada em Huan-Li, em seu flanco esquerdo. Tanto pela surpresa do inesperado golpe, quanto pela dor de ter suas entranhas perfuradas, Huan-Li permanecia completamente atordoada.
— Você não é a única que sabe atacar de formas pouco convencionais... — sussurrou o sagitariano em seu ouvido, agora abraçando-a para cravar a flecha ainda mais fundo.
— Huan-Li! — desesperou-se Shoryu, antes de ver Minamoto puxá-la pelos cabelos, e a seguir girar o corpo para chutá-la ao longe.
A amazona chocou-se contra uma coluna de mármore, em cujos pés caiu derrotada.
Minamoto, por sua vez, aproveitou o descanso para, com uma flecha incandescida pelo cosmo, cauterizar o ferimento de seu pescoço.
— Devo admitir... Você é uma jovem muito talentosa — discursava o dourado, ainda pressionando a flecha contra a ferida. — Mas, no fim, a minha experiência falou mais alto... Se você não tivesse explorado a brecha em minha defesa, que eu abri propositalmente, não teria caído em minha armadilha.
— Maldito... — exasperava Huan-Li que, apoiando as costas contra a coluna, conferia a gravidade de seu ferimento. — Você me pegou de jeito... — admitiu, com um sorriso amarelo. — Não sei se vou conseguir imprimir aquele mesmo ritmo de luta com essa perfuração...
— Saia de perto da minha irmã! — exclamou Shoryu, que finalmente conseguiu se mover.
Saltando sobre Minamoto, com uma enorme rajada de energia em forma de dragão, lançou o inimigo pelos ares, que voou até chocar-se contra uma parede, na qual ficou gravado com a forma de seu corpo.
— Shoryu... — surpreendeu-se sua irmã, sem acreditar.
— Desista, Huan-Li! — exclamou, abrindo os braços, para bloquear a passagem entre ela e Minamoto. — Não importa o quanto você me negue... Eu ainda vou protegê-la.
A amazona não sabia o que dizer. Por mais que esse martírio fraternal o fizesse parecer ainda mais idiota, Huan-Li não pode evitar de sentir seu coração apertar.
— Dessa vez foi você quem me pegou desprevenido... — observou Minamoto, que já havia se libertado da parede, e agora caminhava em direção a Shoryu. — Eu já devia ter imaginado que enfrentar os dois ao mesmo tempo seria problemático — suspirou.
— Esqueça a Huan-Li, Sagitário — ordenou, levantando o Escudo do Dragão, e armando o punho direito. — Eu serei o seu novo adversário.
— Humpf. Tem certeza? — rebateu, cinicamente.
O silvo de algo metálico, rodopiando no ar, subitamente preencheu o salão. Ele ficava mais forte a cada segundo, mas parecia impossível dizer de onde ele vinha. Isso era... “A flecha que ele estava segurando” lembrou-se Huan-Li. “Não está mais com ele!” Assustou-se, olhando para o alto.
— Shoryu, cuidado!
Mas era tarde demais. Quando o Dragão notou a flecha no alto, ela já havia parado de rodar, e caiu de forma certeira em seu peito.
— Shoryu! — desesperou-se.
— Argh! Não é possível... — surpreendeu-se o Cavaleiro de Dragão, segurando com as duas mãos a seta que penetrava em sua carne.
— Sinto muito... — desculpou-se Minamoto, vendo o Dragão cair de joelhos. — Eu, pessoalmente, preferia poupá-lo. Mas nós dois sabemos que você não seria capaz de me perdoar... Pela morte do Cavaleiro de Áries.
Minamoto já armava o arco para desferir o golpe de misericórdia. Vendo que seu irmão seria executado, Huan-Li arrancou a flecha de sua barriga, para poder correr mais rápido, e disparou na direção de Shoryu, tentando protegê-lo. Mas, antes que alcançasse o irmão, percebeu que Minamoto havia mudado a sua mira: colocou-a sobre ela.
— Te peguei... — vangloriou-se o sagitariano, soltando a corda.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Eu não encontrei nada digno de glossário nesse capítulo, então aproveito as notas finais para desculpar-me pela demora em atualizar a história, mas também para declarar que eu nunca parei de escrever, e nem irei parar. Apenas tive que diminuir o ritmo de produção. Mas, se Atena quiser, os próximos capítulos sairão mais rápido! Abraços aos amigos leitores, e vamos subir as Doze Casas, por Atena :)