As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza
Notas iniciais do capítulo
Ao perceber que os cavaleiros de bronze ainda estavam vivos e tentavam alcançar os invasores do Santuário, Asura de Virgem fica pra trás. Enquanto isso, os demais cavaleiros de ouro de Nibiru travam uma batalha injusta contra Inna de Touro.
Liderados por Richard, os santos caídos de Nibiru aproximavam-se da casa de Touro a passos tranquilos. O fato de formarem um poderoso grupo de sete cavaleiros de ouro os deixavam confiantes. Conseguiram atravessar a primeira casa zodiacal com danos mínimos. A maioria dos cavaleiros haviam sofrido somente cortes superficiais. Richard¹ de Leão e Trasímaco de Libra, que haviam lutado contra as amazonas de bronze, tinham ainda algumas dores adicionais, de quando foram surpreendidos pelas garotas em suas lutas. Mas nada que chegasse a incomodar. Somente Grigori de Aquário parecia um pouco mais machucado, mas mais em razão de sua armadura ter trincado quando fora congelada por seu próprio zero absoluto. O fato do dourado ter suado contra um cavaleiro de bronze, ainda que lutando em desvantagem devido às paredes de cristal da arena de batalha, o deixava bastante mal-humorado. E o deboche que tinha de ouvir de seus companheiros não ajudava.
— Riam o quanto quiserem... — desdenhou, irritado. — Vamos ver quem chega mais inteiro no Templo de Atena...
— Eu posso chegar pelado para ver Atena — rebateu, Richard — que ainda não será tão ridículo quanto ver você perdendo para o Dragão — concluiu, para a gargalhada dos companheiros.
— Olhem... — interrompeu Trasímaco, apontando para as 12 casas. Quatro raios de luz saíam de quatro das doze casas e subiam em direção ao céu. — Saíram das casas de Virgem, Libra, Sagitário e Aquário...
— As armaduras deles estavam aqui? — questionou Richard, levantando uma sobrancelha. — Bem... Parece que aqueles caras que poderiam nos dar trabalho finalmente resolveram dar as caras — supôs Richard, enquanto observava os raios de luz se curvarem acima das nuvens e tomarem direções distintas. As armaduras de Virgem e Aquário foram para o oriente, sendo que a de Virgem se curvou em uma direção leste sudeste, e a de Aquário em uma direção leste nordeste. Já as armaduras de Libra e Sagitário tomaram direção noroeste, com caminhos praticamente paralelos, mas com a armadura de Libra ligeiramente mais ao norte.
— Então vamos logo antes que eles voltem pro Santuário... — pediu Trasímaco, apressando o passo.
— Você acha que Alucard e os outros não vão dar conta deles? — questionou Richard.
— Se eles pudessem dar conta, não teria por que nossos mestres tê-los mandado como iscas... Aliás, já faz algum tempo que deixei de sentir o cosmo de Alucard — observou o libriano.
— Você não está insinuando que ele já foi derrotado, está? Esses caras ainda nem estavam com as armaduras deles... Ei, Asura²! Por que é que você está parando? — questionou o leonino, ao perceber que o cavaleiro de Virgem havia ficado para trás.
— Vão na frente — respondeu o virginiano, que encarava o caminho por onde eles haviam subido. — Parece que o Vizir se esqueceu de se certificar que aqueles garotos estavam mortos... — explicou, para a surpresa do escorpiano — E sinto novas presenças acompanhando eles.
— Argh! Que seja! — desistiu Richard, retomando o caminho para a casa de Touro. — Vamos acabar logo com isso — disse aos demais. — Estou ficando com um mal pressentimento...
Asura ficou para trás, sentindo que o cavaleiro que ele havia atingido com o Tesouro do Céu se aproximava, enquanto os demais dourados apressaram o passo e começaram a correr em direção à segunda casa.
Próximos do final das escadas que levavam à casa de Touro, Richard e os outros cinco que o acompanhavam começaram a notar que só havia um espaço vazio onde deveria estar surgindo a segunda casa. Chegando ao topo, viram que não havia pedra sobre pedra onde deveria existir aquela casa zodiacal. Parte da poeira que havia sido levantada pela destruição recente da casa de Touro ainda estava levantada e, no centro da fina neblina, esperava por eles a amazona de Touro.
— O que aconteceu aqui? — perguntou Richard, caminhando interessado ao redor do terreno destruído.
— Parece até que alguém chegou aqui antes da gente — comentou Trasímaco, acompanhando-o na caminhada.
Os seis cavaleiros de ouro ignoravam Inna de Touro, que permanecia de braços cruzados no centro da casa destruída.
— Ei, Richard, olha isso... — chamou-o Vizir. — O guardião da casa de Touro é uma mulher.
— Hahahahaha! Esses caras só podem estar de brincadeira... — zombou Richard, ao prestar mais atenção em sua oponente e conferir que era mesmo uma mulher. — Primeiro um muviano, agora uma mulher... E esses caras ainda esperam conseguir parar a gente.
— Sem falar que é outra amazona rebelde sem máscara... — observou Trasímaco, com certo tom de desprezo.
Inna, que parecia paciente até o momento, começava a se irritar com os comentários que se seguiram que, além de subestimar o seu gênero, também zombavam de sua aparência mais encorpada e truculenta.
— Ei, mulher de Touro! Qual o seu nome? — gritou Richard.
— Eu não tenho obrigação nenhuma de dizer o meu nome para lixos como vocês — cuspiu Inna, com seu tradicional sotaque eslavo. — Mas se eu não disser, vocês não saberiam quem os mandou para o inferno...³ Eu sou Inna de Touro, a guardiã da segunda casa!
Os dourados começaram a rir e a trocar comentários entre si após ouvirem Inna falar. Aparentemente, agora zombavam do sotaque dela, e tentavam adivinhar de que “raça” ela seria.
— É difícil de adivinhar, já que limpamos a maior parte delas em nosso mundo — lembrou Richard, cujo comentário fez com que Inna não conseguisse mais esconder o asco que sentia. — Mas chega de brincadeiras rapazes... Parece que temos que ajudar esses idiotas a fazer a limpa por aqui também — concluiu, já cerrando o punho com fagulhas de relâmpagos.
Anunciando seu ataque, Richard de Leão lançou o seu Relâmpago de Plasma, e disparou milhares de raios que cortaram tudo em seu caminho. Sem descruzar os braços, Inna saltou para trás, movendo-se entre os raios e conseguindo se esquivar da maioria deles, entre um passo e outro, enquanto eles levantavam novamente a poeira dos entulhos no caminho. Somente alguns relâmpagos rasparam em sua armadura, até que a amazona saiu do raio de alcance do golpe. O último relâmpago riscou o chão logo à frente de seus pés, o que fez a taurina abrir um sorriso debochado para seu oponente. Mas antes que Inna pudesse se vangloriar, Trasímaco de Libra apareceu avançando por seu flanco esquerdo, enquanto Grigori de Aquário fez o mesmo pelo lado direito. O libriano disparou uma rajada cósmica no formato de um dragão verde, enquanto o aquariano arremessou uma esfera de ar frio, cheia de cristais de gelo.
No momento do contato, Inna saltou, ainda de braços cruzados, trinta metros para o alto, deixando para trás a explosão da colisão entre os dois golpes, que levantou novamente toda a poeira da destruída casa de Touro, o que encobriu todos os inimigos que haviam ficado no solo. Enquanto analisava, nos poucos milésimos de segundo que tinha de descanso, os adversários que estavam ocultos lá embaixo, Inna pensava que precisava encontrar logo uma brecha para contra-atacar. Porém, antes que tivesse um plano, viu surgir da nuvem de poeira o cavaleiro de Sagitário, que saltou até atingir a mesma altura em que Inna estava.
Com seu arco armado, Minamoto disparou uma saraivada de flechas em sequência. Sem ter como se esquivar novamente, Inna aproveitou-se do fato de que Minamoto também estava exposto no ar para descruzar os braços, disparando a enorme onda de choque de seu Grande Chifre, que rebateu todas as flechas no caminho, em direção ao sagitariano. Porém, Minamoto torceu o tronco no ar, fazendo com que o giro das asas de sua armadura o deslocasse ligeiramente para a direita. Fragmentos da armadura de ouro voaram quando a onda de energia passou raspando por seu flanco esquerdo, arrancando também uma parte de sua asa.
Inna achou que tinha se saído bem até ali, porém, enquanto a imagem de Minamoto caía para esquerda, outra subia em seu lugar. Surgindo por de trás do sagitariano, Surtur de Áries empunhava para o alto uma grande quantidade de cosmo-energia em sua mão direita. Anunciando o seu ataque Revolução Estelar, o ariano disparou dezenas de rajadas de estrelas cadentes, que tinham uma trajetória curva em volta do campo de visão de Inna, visando encobri-la por todos os lados. A amazona tentou usar a força de seu corpo contra o ar, para criar um deslocamento para trás, mas as rajadas de energia cruzaram-se entre si ao redor de Inna, de forma que autodestruíram-se ao colidirem entre si, o que causou um rastro de explosões que foi rasgando o céu.
Fustigada pelas explosões, Inna foi lançada para trás e, ao cair de dentro da nuvem explosiva, seu corpo deixou um rastro de fumaça enquanto descia de cabeça em uma trajetória diagonal para o solo. Completamente sem ação, a taurina nada pode fazer quando viu o sexto inimigo surgir. Vindo do alto, e atravessando a nuvem explosiva que Inna deixara para trás, Vizir de Escorpião deu uma cambalhota no ar para finalizá-la com o calcanhar de seu pé, que veio girando em um potente chute; atingida bem no meio do peito, a amazona foi lançada violentamente contra o solo, levantando outra grande nuvem de poeira onde caiu.
Aos poucos, os inimigos reuniram-se ao redor de onde Inna havia sido enterrada. Porém, não tiveram paciência de esperar a poeira baixar. Grigori deu um gancho de direita no ar, levantando o seu golpe Turbilhão de Gelo sobre a amazona. Ao mesmo tempo em que afastou toda a poeira do terreno, limpando o ar, o tornado de gelo também forçou a taurina a se levantar para tentar se defender. Inna cobriu o rosto enquanto era fustigada pelo ar congelante, que arremessou o seu elmo para as altura e, então, antes que o golpe de Grigori se dissipasse, sentiu uma saraivada de flechas cobrir seu corpo, enfeitando seu tronco, braços e pernas com setas que penetravam-lhe a carne. Massacrada, a taurina deu dois passos cambaleantes para trás, quando sentiu um golpe cortar o jarrete de seu joelho direito, fazendo-a cair sobre essa perna. Com a amazona de joelhos, Trasímaco puxou a sua cabeça para trás pelos cabelos, enquanto colocava a espada de Libra em seu pescoço.
— Últimas palavras, mulher? — questionou o libriano, apertando a lâmina contra sua jugular.
Vendo-a rendida, os demais dourados aproximaram-se, cercando Inna em um pequeno círculo.
— Vamos logo, não temos o dia todo... — apressou Richard, que levantou uma perna para apoiar o pé no peito de Inna, pressionando-a contra o corpo de Trasímaco.
— Vida... Longa... À Atena... — murmurou, quase se engasgando no próprio sangue.
— Ah... Eles nunca dizem outra coisa... — reclamou Richard, decepcionado. — Acabe logo com isso — ordenou a Trasímaco.
Porém, quase que no mesmo segundo, Richard desviou o olhar, surpreso, para o alto. Todos os cavaleiros inimigos saltaram para longe quando um vulto dourado surgiu do alto com um soco carregado de cosmo-energia. O recém-chegado socou o chão onde Richard estava, a apenas algumas frações de segundo atrás, criando um impacto que afastou todos com as rajadas de vento provocadas pela deformação do solo.
— Maldito... Quem é você?! — questionou Richard, recompondo-se a uma distância mais segura.
Todos os seis cavaleiros inimigos continuavam a cercar Inna e o recém-chegado, porém agora a uma distância de quinze metros.
— Caramba, Inna... — disse a voz feminina, em alto e bom tom — Você tá na merda, hein...
Inna havia caído para o lado com o impacto da chegada de sua aliada, mas ainda conseguia se manter consciente, apesar dos inúmeros ferimentos. Aparentemente, nenhuma das flechas havia atingido um vaso importante, e por isso a taurina conseguia controlar suas hemorragias com a ajuda do cosmo.
— Outra... Amazona... — percebeu Richard, transparecendo sua irritação com a interrupção daquela mulher.
A recém-chegada tinha cabelos negros e desgrenhados, que iam até a altura dos ombros, e olhos verdes bem marcantes, carregados de delineador. Ao contrário de Inna e da maioria das amazonas, ela gostava de se maquiar. E tinha cerca de 1,76m de altura, com o corpo bem mais esguio que o da amazona de touro, embora ainda fosse atlética e musculosa.
— Eu sou Hela de Câncer, rapazes... — apresentou-se, abrindo um sorriso malicioso para seus adversários, enquanto levantava um indicador de cuja ponta emanava uma atraente luminescência azul, que iluminava o seu rosto — E vim aqui para nos divertirmos um pouco...
Ressoando com a luz de seu dedo, todo o chão em um raio de 20 metros ao redor de Hela começou a brilhar, e a levantar uma forte luz branca que começou a cobrir todos os presentes. Antes que os cavaleiros inimigos pudessem reagir, a luz engoliu todos e, quando se apagou, somente Inna de Touro restou na segunda casa.
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1. Referência a Richard I, conhecido como Richard the Lionheart, rei da Inglaterra no século XII.
2. Asura é no budismo um semideus equivalente a um titã, e tem origem a partir dos asuras do hinduísmo, cujo significado é antideuses, e são os inimigos dos deuses.
3. Homenagem à fala de Ikki na Saga de Poseidon, ao se apresentar para Kasa de Lymnades.