Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 17
Transformação




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Capítulo 16

por N.C Earnshaw

 

Você tem certeza que a Emily não vai se incomodar se eu for junto? — Wendy soou preocupada. No rosto, tinha uma expressão de incerteza. Por um lado, ela queria conhecer melhor as pessoas que ele convivia, mas por outro, sentia-se um pouco intimidada. Sabia que o preconceito por ela ser vampira não tinha se extinguido completamente. — Não quero ser intrometida. 

Paul parou de andar e se virou para olhá-la com um semblante descrente no rosto. Era a décima vez que ela perguntava aquilo, e ele já estava de saco cheio. 

— Se me perguntar mais uma vez sobre isso… — ameaçou ele, torcendo o canto da boca e apertando as mãos na frente do corpo como se estivesse enforcando alguém. Wendy revirou os olhos, sabia que ele era incapaz de cumprir a ameaça. 

— Então me responde que eu paro! — Ela bateu pé, sem querer ceder. — Da última vez que fui até lá, seu amigo Sam foi bem claro comigo. 

— Como assim? — O lobo semicerrou os olhos, curioso sobre o que o alfa disse a ela. 

— Não foi nada, tá legal?! — desconversou a vampira, virando-se e passando por ele. O temperamento de Paul era horrível, e ela sabia que ele estava se coçando para arrumar uma confusão. — Vamos lá. 

— Espera. — Ele segurou o braço da garota sem apertar. — Antes, você tem que me dizer o que ele falou. 

— Eu já disse, não foi nada de mais — assegurou Wendy, soltando-se do agarre. — Ele apenas me deu um ultimato que se eu me aproximasse da Emily, ele… Bom, ele deixou o resto subtendido. 

Paul rosnou alto. 

— Ele te ameaçou? — Ele grunhiu entredentes, com o corpo já tremendo de raiva.

— Ei, ei, ei — chamou ela, levantando as mãos. — Não precisa ficar nervosinho. 

— Você não entende — alegou ele, cerrando os punhos. Seu semblante estava distorcido em fúria, e ele parecia pronto para arrancar a cabeça de alguém. — Ele não podia ter te dado esse tipo de aviso. Não quando…

“Não quando você é minha”, pensou o lobo. Mas depois logo se repreendeu, ainda insistia que amizade era o único tipo de relacionamento que ele teria com Wendy. 

— Você esqueceu que sou uma vampira? — Ela franziu o cenho e cruzou os braços. Não precisava da proteção de ninguém. Era forte o suficiente para não necessitar de ajuda, e não permitiria que o Lahote arranjasse confusão em nome dela. — Ele só estava garantindo que a companheira dele iria ficar segura. 

Ele a fitou por alguns instantes. 

— Ele não podia ter feito isso — bufou Paul. — Se ele te tocasse, estaria quebrando a lei mais importante da matilha. 

— Proteger o imprinting? — O chute foi certeiro. — Paul, eu não preciso de proteção. Além disso, faz muito tempo. Sam e eu estamos mais familiarizados um com o outro agora. 

— Então não vai se importar de ir até à casa dele. — O Lahote deu sorrisinho de canto, pegou o braço dela novamente e a arrastou. 

Wendy encarou-a desacreditada. 

— Cretino! — xingou ela baixinho. 

— Eu ouvi isso. — Ainda risonho, ele a soltou ao perceber que não conseguia puxá-la do lugar. Ao fazê-lo, os dois se encararam por alguns instantes.

— Paul, é sério — choramingou a Cullen. — Não posso ir. 

— Se me der um bom motivo, prometo que não vou insistir mais — assegurou ele. 

Paul quis rir ao ver o rosto dela ficar pensativo por milésimos de segundos. 

— Eu estava pensando em ir à escola… Já faltei muitos dias de aula por sua causa. — Wendy escondeu o ar vitorioso que queria tomar conta do seu rosto.

Ele a fitou desacreditado. 

— Você já se formou vezes o suficiente. — Tentando demonstrar o quão exasperado se encontrava, Paul a empurrou pelos ombros.

— Tá legal! — cedeu ela ao tropeçar em um galho de árvore. — Vou com você. 

— Eu sabia que você não resistiria a passar mais algumas horas na minha ilustre presença. — Após a provocação, o quileute voltou a caminhar.

— Há — debochou Wendy, andando ao lado dele. — Eu te falei que vou me formar esse ano? 

— Não. Ainda fica animada depois de se formar tantas vezes? — Ele parou em frente à linha da fronteira. 

— Bem, desta vez é diferente — constatou Wendy, virando a cabeça para cima. 

O coração de Paul acelerou ao pensar que o diferente na vida dela, era ele. 

— Posso saber o que é?

Ela sorriu, e as covinhas profundas das suas bochechas apareceram. O Lahote se controlou para não mordê-las. Ele admitia que ficava descontrolado quando via aqueles buraquinhos. 

— É a primeira vez da Bella esse ano — declarou ela, dando uns pulinhos. 

Ele suspirou, tentando esconder a irritação, e deu de ombros. 

— Vou ter que me transformar, não consigo saltar tão longe na forma humana. 

— Posso te carregar — ofereceu Wendy, observando ele ir se esconder atrás de uma árvore para tirar o short. 

Ele grunhiu para ela e se transformou, saindo de trás da árvore com a peça de roupa na boca gigante. 

A vampira riu baixinho do semblante cínico que Paul tinha no rosto. Ele, para provocá-la, jogou o short na direção da cabeça dela, mas Wendy foi mais rápida, agarrou a peça, dobrou ela em um dos seus braços e sorriu amplamente para ele. 

Eles saltaram juntos para o outro lado. E já que não podiam conversar, logo que Paul estava transformado e Wendy não lia mentes, eles passaram o caminho em silêncio. 

— Vem — chamou ele assim que chegaram perto da casa de Emily e Paul se vestiu. 

Wendy mordeu o lábio inferior, incerta. 

— Você já conheceu boa parte deles — consolou ele, segurando a mão dela. O corpo dele implorava para tocar a pele dela. E sempre que via uma oportunidade, o fazia. Adorava sentir o contato da pele fria na sua. — Não precisa sentir medo. 

— Medo? — Ela se endireitou. — Como se eu fosse sentir medo de um bando de filhotes. 

— Claro — confirmou ele, caçoando ao ver que obteve êxito. — Agora dá pra vir logo, ou vamos ficar aqui fora fazendo serão? 

— Cretino — A vampira fingiu irritação e bateu seu ombro no dele ao passar bufando.

— Estamos repetitivos hoje? — provocou Paul, puxando-a pela porta da casa. 

Ela abriu a boca, mas não teve tempo de respondê-lo à altura, pois logo que entraram foram recepcionados vários pares de olhos os encarando. 

Paul não se sentiu nem um pouco intimidado, diferente de Wendy que ficou parada na entrada, ele foi logo em direção à mesa, jogou-se numa cadeira e começou a empilhar comida no prato como se estivesse faminto há dias.  

— Céus, Paul! Até parece que eu te matei de fome — sibilou ela, colocando a mão na cintura.  

Gargalhadas preencheram o silêncio tenso, e os garotos voltaram para a comida. 

— Ah, querida! Você vai ter que se acostumar que um lobo nunca perde o seu apetite. — Uma voz feminina se pronunciou, vindo da cozinha e se colocando em frente à vampira. 

— Sou Wendy Cullen — apresentou-se a garota, erguendo a mão. Já tinham se visto antes, no entanto, não tiveram a oportunidade de serem apresentadas formalmente. 

A humana limpou as mãos no pano de prato que estava jogado em seu ombro, e prontamente apertou a mão dela de volta. 

— Sou Emily Young. É um prazer ter a oportunidade de falar com você oficialmente — disse Emily, com um sorriso acolhedor no rosto. — Vejo que o Paul já está te dando trabalho.

Wendy olhou para o lobo se empanturrando a poucos metros de onde ela estava. 

— Eu juro que cozinhei pra ele não faz nem uma hora. — Ela estava mais que exasperada.

— Você logo vai perceber que eles nunca estão satisfeitos quando se trata de comida — afirmou a mulher, olhando com carinho para os garotos enormes detonando tudo que tinha na mesa. — Por que não se senta ao lado do Paul enquanto vou buscar alguns bolinhos?

A vampira assentiu, e se sentou ao lado do lobo, torcendo o nariz. 

— O que foi? — perguntou o Lahote com a boca cheia. 

— Você acabou de comer — acusou ela. 

Ele riu, engolindo a comida. 

— Sempre cabe mais. — Ele deu uns tapinhas no abdômen sarado. 

— Ei, Paul. Não vai nos apresentar? — indagou um garoto enorme com cara de bebê, que tinha uma expressão eufórica no rosto. A Cullen o achou adorável, e se controlou para não apertá-lo. 

— Não vejo porquê — respondeu ele bruscamente, sem sequer desviar os olhos do prato. Wendy deu uma leve cotovelada nele. 

— Ai — gemeu ele, apertando o lugar que ela atacou. — Acho que você quebrou minhas costelas. 

Ou não tão leve assim. 

— Seth, essa é a Wendy. Wendy, conheça o Seth — apresentou Paul à contragosto. 

Seth e ela trocaram sorrisos. 

— Ela já está te controlando desse jeito, Pauly? — Jared balançou um pedaço de frango em provocação. — Não era você que sempre falou que mulher nenhuma ia mandar em você?

— Cala a boca, Jared. — O lobo apertou o garfo e a faca que tinha em mãos com força.

— A Kim não vem hoje? — interrompeu a Cullen ao perceber que os dois logo iam começar a brigar. 

— Ela está ocupada fazendo um trabalho de química. — O Cameron respondeu com antipatia.

Assim que essas palavras saíram da boca dele, toda a mesa pôs-se a rir. Wendy, inclusive, teve que dar uns tapinhas nas costas de Paul para ele desengasgar. 

— Perdi alguma coisa? — inquiriu ela, confusa, ao observar a expressão de completa infelicidade no rosto de Jared. 

— Não digam um “a” sobre isso. — Ele largou a coxa de frango de volta no prato. 

— Achamos que o parceiro de Kim no trabalho de química gosta dela — contou Seth, animado, pulando na cadeira. Aquilo parecia um tópico que os garotos gostavam de discutir. 

Embry e Quil se seguravam um no outro para não cair. 

— Seth — gritou Jared. — Vocês prometeram que iam esquecer disso. 

— Eu não prometi nada. — Paul conseguiu se pronunciar ao controlar sua crise de riso.

Wendy sentiu pena ao ver como ele estava desolado com a situação. 

— Você sabe que esse cara não tem chances com ela, não é? — Ela tentou assegurá-lo. 

— Como sabe disso? — retrucou ele, cruzando os braços. 

— A Kim é louca por você! Dá pra ver que ela está totalmente na sua. — A vampira manteve a voz calma. — O que ela acha sobre isso?

— Ela diz que me ama, e que não preciso me preocupar… Mas é difícil com aquele urubu rondando o que é meu — revoltou-se o lobo. 

— Se eu fosse você, iria ter um papo com ele pra mostrar quem manda. — Quil socou a própria mão para criar um efeito melhor.

— Isso só vai deixá-la magoada. Se você confia na Kim e a ama, tem que deixar ela viver a própria vida e fazer as próprias escolhas sem interferência sua. Prometo que o relacionamento de vocês vai ficar cada vez mais incrível se fizer isso — opinou Wendy. 

— Ouça a voz da razão. — Emily se aproximou com uma cesta cheia de bolinhos. 

Antes mesmo que ela encostasse na mesa, várias mãos voaram em direção à comida. Até Jared, que estava emburrado, animou-se com a visão da sobremesa. 

— Agora não — advertiu a humana. — Primeiro as damas. 

Wendy observou o bolinho que era oferecido para ela, e se envergonhou. 

— Ela não come — avisou Paul ao perceber sua hesitação. 

Emily ficou chocada por alguns instantes, mas disfarçou bem e assentiu. A mulher queria que a outra se sentisse à vontade na sua casa. Diferente dos garotos que tiveram vários tipos de reações nada agradáveis. 

— Como assim você não come? — perguntou Embry, indignado. 

— Eu morreria se não pudesse comer os bolinhos da Emily — murmurou Seth para si mesmo. 

— Nossa, deve ser uma merda ser você. — Quil tinha uma expressão atônita no rosto.

— Calem a boca — rosnou Paul, batendo os punhos na mesa. Não ia deixar eles a tratarem daquela maneira. Se precisasse dar uma surra em cada um daqueles idiotas, faria com muito prazer. 

— Eu acho melhor que ela não coma mesmo. — Jared pegou dois bolinhos e balançou no ar, tentando aliviar o clima. — Sobra mais pra mim. 

Wendy riu baixinho, e Paul acabou se acalmando ao perceber que ela não tinha se ofendido. 

— Pode contar mais? — perguntou Seth, curioso. — Sabemos algumas coisas sobre vampiros, mas é diferente saber da fonte. 

Paul abriu a boca para brigar, no entanto, calou-se ao ver o sorriso da garota. 

— Eu também adoraria saber mais — incentivou Emily, puxando uma cadeira e se sentando. 

— Bem… — Wendy fez uma careta pensativa. — O Paul ficou surpreso quando soube que nós não dormimos. 

O Lahote balançou a cabeça, confirmando o que ela disse. E os outros garotos a fitavam, surpresos. 

— O que mais? — Seth quicava não cadeira tamanha era a empolgação que sentia.

— Por que vocês mesmos não perguntam? — declarou ela dando de ombros. — Fica mais fácil. 

— Vimos na mente de Sam algo sobre seus poderes — sondou Embry, interessado. — Pode contar sobre isso?

— Alguns vampiros quando se transformam são presenteados com poderes. Na minha família, quatro de nós têm esses talentos especiais. Edward lê mentes, Alice vê o futuro, Jasper controla sentimentos, e eu controlo a mente. — Wendy sorriu de canto ao perceber os olhares atentos. 

— Uou — sussurrou Seth. — Seu irmão Edward consegue ler a mente de todo mundo? 

— Não, tem uma exceção, ele não consegue ler a mente da Bella. Algo que, cá entre nós, o deixa bem frustrado. 

— Wendy, não quero ser indiscreta — Emily tinha o semblante tímido, mas parecia que a curiosidade tinha vencido o medo de ser intrometida. — Mas você falou em transformação e eu fiquei, bem…

— Pode perguntar — consentiu a vampira. 

— Quantos anos você tem? 

— 17.

Paul bufou alto. 

— Ela não vai dizer. Eu insisti várias vezes e tudo que…

— 83 — admitiu Wendy para irritá-lo. — Mas parei de envelhecer com 17.

— O quê? Eu chutei bem perto disso naquele dia! — Paul não conteve sua indignação. 

— Paul namora uma velha — caçoou Quil, satisfeito, arrancando risadas. 

— Ei, se não pararem, vou chutar vocês todos daqui, e a Wendy não vai falar mais nada.

Eles contiveram os risos ao perceber a expressão severa da Young, e a noiva de Sam voltou a se virar em direção à garota. Ela estava determinada a conhecê-la e a julgar seu caráter, pois Paul, assim como os outros garotos da matilha, tornara-se sua família. — Como era sua vida antes de…

— Virar vampira? — deduziu Wendy, cruzando as mãos no colo. Ela sabia que as perguntas sobre o seu passado iriam surgir, então estava preparada. — Não era muito boa… Quando o Carlisle me transformou, eu estava quase morrendo com tuberculose. Teve uma epidemia no orfanato em que eu morava, e acabei contraindo. Carlisle foi o médico chamado para nos ajudar, e eu me ofereci para auxiliá-lo, já que as freiras não eram muito gentis. Aquelas crianças precisavam de um pouco de carinho no fim da vida. 

— Isso foi muito bondoso da sua parte. — Emily sentiu a necessidade de elogiá-la, mesmo que estivesse com um nó na garganta. 

Wendy sorriu sem mostrar os dentes. 

— Essa bondade trouxe consequências. Minhas memórias de antes da transformação não são muito claras, então eu somente lembro de ficar doente, muito doente. E, do nada, a dor piorou e um fogo me queimava por dentro. Durante quase três dias, implorei para Deus que me levasse logo, porque não estava aguentando mais. 

Ela abriu um sorriso triste ao sentir a mão de Paul apertando a sua por baixo da mesa. Ele sentiu a necessidade de se assegurar que ela ainda estava ali. 

— Carlisle tinha me mordido. Ele já tinha transformado os outros e sabia que era um risco. Mas ele se apaixonou por mim com o tempo que convivemos juntos, pois já me amava como uma filha e que não queria me perder. Ele me salvou de tantas maneiras que sempre vou me sentir em dívida, sempre vou ser grata a ele. Ele é o pai que eu nunca tive quando era humana. Carlisle me deu uma família e me trouxe até aqui. 

Paul, no seu íntimo, também agradeceu a Carlisle. E, pela primeira vez, sentiu-se grato pela existência dos vampiros. Bem, ao menos a dos Cullen.


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