Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 16
Dorme, Paul




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Capítulo 15

por N.C Earnshaw

 

WENDY FITOU PAUL com uma expressão apreensiva. Eles tinham esperado até que o pai dele acordasse para que ela pudesse usar os seus poderes. O olhar de horror que tomou conta do Sr. Lahote assim que ele abriu os olhos e deu de cara com Paul, tinha a deixado temerosa que tivesse afetado o lobo mais do que ele demonstrava. 

Ela modificou todas as memórias que o pai de Paul tinha da noite do ataque. No momento, ele pensava que tinha bebido demais, cambaleado até a floresta, e ido direto ao encontro de um urso raivoso, que tinha o atacado. Sam havia o encontrado e levado ao hospital. Qualquer suspeita que ele tivesse em relação ao seu filho se transformando em lobo, foram exoneradas de sua mente. 

— Agradeço pela ajuda de vocês — disse Sam ao saírem do hospital. — Mal posso imaginar a quantidade de problemas que teríamos. 

Carlisle assentiu, fitando Paul e Wendy. O casal andava junto mais à frente.

— Não precisa agradecer. Apesar de eles não terem se resolvido ainda, já considero Paul da família. E a Wendy gosta muito dele.

Sam riu, concordando. 

— O Paul é cabeça-dura, mas não duvide do amor de um lobo por seu imprinting. Para o nosso alívio, a Wendy se mostrou ser uma pessoa boa.

— Ela é a melhor — afirmou o médico carinhosamente. 

— O que vai fazer agora? — Wendy caminhava ao lado de Paul em direção aos carros. Apesar de querer se aproximar ainda mais dele, tentava manter uma distância respeitável. — Vai voltar para sua casa, ou…?

— Não vou voltar. — Paul enfiou as mãos nos bolsos das calças e encarou o nada. Sua mente se perdeu em pensamentos por mais tempo do que deveria, e ele levou um ou dois minutos para concluir sua resposta. — Não vou conseguir dormir lá depois de tudo. 

Ela assentiu. Era compreensível o Lahote não querer visitar o local que quase assassinou o pai tão recentemente. As memórias deviam ainda estar frescas, e o sangue de Daniel continuava a manchar o lugar.

Eles pararam ao lado da caminhonete esperando que Carlisle e Sam se aproximassem. 

— Vamos? — chamou o Uley, indicando para que Paul entrasse no carro. — Emily ligou há pouco e falou que fez bolinhos. 

— Vou pegar uma carona, Sam, mas não vou pra sua casa. Quero ficar sozinho. — O olhar de Paul foi o suficiente para que o alfa compreendesse. Não queria ser paparicado por Emily, ou aturar os garotos tentando fingir que nada havia acontecido. A única coisa que desejava era ordenar seus pensamentos que estavam uma bagunça.

Wendy encarou-o desolada. Não queria se separar dele. O mínimo pensamento de que teria que ficar horas e mais horas longe de Paul, deixava a vampira desesperada. Além disso, não queria largá-lo sozinho.

— O resto de nós vai caçar hoje, e os outros ainda não voltaram — avisou Carlisle com ar conspirador. — A casa vai ficar vazia até amanhã. 

Ela abriu um sorriso animado e se virou para Paul. Com sua família longe, não haveria motivos para que ele negasse seu convite.

Sam riu baixo, não querendo provocar a ira do Lahote. Tinha entendido muito bem aonde aquilo tudo ia chegar.

— Quer ficar na minha casa? — Wendy juntou as mãos na frente do corpo, e fez um bico. Sabia que para um lobo era difícil resistir ao que seu imprinting desejava.

— Não — retrucou ele, torcendo o nariz. Talvez Paul fosse diferente dos outros...

Ela bufou alto, indignada. 

— Então prefere ficar vagando por aí, ao invés de ir para uma casa quentinha e com comida?

Ele abriu a boca para responder, no entanto, ela ergueu o dedo para silenciá-lo. 

— Além disso, como vai dormir? Você mesmo disse que não ia conseguir dormir sozinho. Se vier comigo, vai ter comida e uma noite completa de sono.

— Ela tem razão, Paul — concordou Sam, que ganhou um olhar incrédulo do lobo. — Você vai precisar estar perto do seu imprinting nesse momento. Sabemos que fica instável quando está longe dela. 

Ele ficou sem saber o que responder. Realmente queria aceitar. A ideia de ficar perto de Wendy e, ainda de bônus, dormir, atraiam muito. Entretanto, não sabia se conseguiria ficar numa casa que pertencia a vampiros. 

— Tudo bem. — Paul fingiu irritação. Entretanto, quis sorrir ao perceber o quanto o rosto dela se iluminou ao ouvir que ele tinha aceitado.

— Bem. Já que decidiram, vou indo. Acho que estão me esperando — manifestou-se Carlisle. — Foi um prazer ver vocês. 

— Tchau, pai! — A vampira deu um abraço rápido nele. — Nos vemos amanhã. 

— Juízo — advertiu o Dr. Cullen, dando um peteleco carinhoso na testa dela. — E Paul, não precisa se preocupar em encontrar qualquer um de nós hoje. 

 A garota riu dando um empurrãozinho em Paul, e ele balançou a cabeça, concordando. 

— Também já vou. — Sam deu um tapinha camarada nas costas do lobo. — Qualquer coisa, me liguem. 

Eles observaram ele sair com a caminhonete e sumir na estrada. 

— Vem — chamou ela, pegando a mão dele e o puxando até o carro. 

— Esse é o seu carro? — Ele chegou ao Mercedes branco sentindo descrença.

— Sim. É. Minha família gosta de velocidade. — Ela deu de ombros. Já estava acostumada com as pessoas se surpreendendo com a fortuna que os Cullens possuíam. Apesar de eles tentarem ser discretos na maioria das vezes, não conseguiam resistir em relação aos carros. — Hã… Quer passar na sua casa para pegar algumas roupas?

— Só se me deixar dirigir o seu carro. 

Wendy deixou escapar uma risada. Faria qualquer coisa para trazer um sorriso de volta para o rosto dele.

— Vai nessa — incentivou ela, entregando a chave. 

Paul a pegou no ar e fechou o objeto com o punho. Mesmo que ele tentasse esconder o quanto estava animado, dava para ver pelo seu semblante mais feliz o quão excitado ele se encontrava por poder dirigir um carro daqueles pela primeira vez.

Eles ficaram em silêncio por quase todo o caminho. Apreciaram a paz que aquele momento os trazia após horas de ansiedade e medo.

Wendy não resistiu, e olhava para o Lahote de esguelha a cada dois segundos, enquanto ele aproveitava para pisar fundo no acelerador e sentir “a potência da máquina”, como ele mesmo dissera.

Ao passar na casa de Paul, foram rápidos. Ela desceu, enfiou as coisas dele em uma mochila velha que achou jogada no guarda-roupa, e voltou ao automóvel. 

— Sua casa fede — afirmou o lobo, torcendo o nariz assim que pararam o carro em frente à casa dos Cullen. 

— Você é um gentleman, Paul. — Wendy riu ao sair do veículo, e ele logo a seguiu. 

— Sempre pode esperar pela minha sinceridade. — Ele deu de ombros, e fitou a casa do degrau mais baixo. — Como vocês ganham tanta grana? 

Ela arregalou os olhos para ele. 

— Tá brincando… O Dr. Presas até que ganha uma grana boa sendo médico, mas não para viver assim — bufou ele, divertido, levantando os braços e mostrando a casa. 

— Se eu te contasse, teria que te matar... E não estou acreditando que acabou de chamar o Carlisle de Dr. Presas. — Ela o encarava com uma expressão chocada. 

— Foi mal — desculpou-se ele de uma forma que não afetaria seu orgulho.

— Não, não estou chateada com isso, só não posso acreditar que não tinha pensado nisso antes. Emmett vai pirar quando eu contar a ele, vou dizer que fui eu que criei. — Ela o puxou pela mão até a porta. — E não é tão interessante quanto você pensa. 

— Hum?

— Como ganhamos dinheiro — explicou Wendy com um sorriso, soltando a mão dele e abrindo a porta. 

— Nada de drogas? — Ele espiou o interior da casa sobre o ombro dela. 

Ela lançou um olhar sujo. 

— Falou o cara que toma anabolizantes. 

— Você também ouviu isso? — indagou Paul, gozador. — Tudo isso aqui é natural. 

Em seguida, ele flexionou os braços e deu um beijinho em cada bíceps. 

— Ridículo — zombou Wendy, entrando na casa e parando em frente às escadas. — Esta é a minha casa. 

— Certo. — Ele concordou, balançando a cabeça diante da apresentação exagerada, e se aproximou dela. — Eu menti mais cedo. 

Ela o encarou com confusão. 

— Sua casa não só fede. Ela fede pra cacete — xingou ele, tampando o nariz. — É muito mais forte aqui dentro. 

Ela riu, exasperada.

— E eu? — questionou a vampira, interessada. — Eu fedo pra você?

Paul pensou em mentir, e dizer que quase não suportava ficar perto dela por causa do odor de sanguessuga, mas resolveu ser sincero. 

— Tirando o cheiro que fica em você da sua família sanguessuga, até que é suportável. 

Ela estalou a língua, alegre. 

— Então já que meu cheiro não te repugna, vai ficar bastante confortável no meu quarto. 

O lobo a seguiu pela escada, no entanto, parou abruptamente em frente à uma moldura. 

— Chapéus de formatura? — inquiriu ele, estupefato. 

— Aham. — Ela sorriu observando o quileute. — É uma brincadeira nossa. 

— Hilário — desdenhou Paul balançando a cabeça. — Se formou tantas vezes assim? 

Wendy deu de ombros, e o chamou para continuar. Não era grande coisa.

— Não precisa se preocupar com o fedor dos meus irmãos aqui. Eles quase não entram no meu quarto. — Ela abriu a porta de mogno. 

— Fico aliviado — falou ele, irônico, entrando no quarto dela pela primeira vez. — Você tem uma cama?

— É o que se costuma ter em quartos. 

— Ah! Eu achei que vocês não… — Ele se interrompeu, meio constrangido. 

— E não dormimos — revelou ela, jogando-se na cama. 

— Então pra que a cama?

Wendy riu alto. 

— Sexo — brincou ela, levantando e estendendo a mão para pegar a mochila dele. 

— Urgh.

— Não faça essa cara de nojo, Lahote. Sei bem que…

— Não vamos falar sobre esse assunto. — Ele puxou a mochila de volta, e se encaminhou para uma porta próxima, no intuito de evitar que ela insistisse em falar sobre aquilo. 

— Esse é o meu closet — avisou Wendy. — O banheiro é naquela porta ali. 

Paul bufou baixinho, resmungou algo como “patricinha cheia de frescuras”, e se trancou no banheiro. 

— Quer algo para comer? — perguntou ela alto, mesmo sabendo que ele ouviria de qualquer forma. 

— Sim! — gritou ele de volta. 

Wendy desceu e preparou vários sanduíches, deduzindo que por Paul ser daquele tamanho, deveria comer feito um monstro. 

Ela levou os sanduíches empilhados no prato, formando uma pirâmide, e um copo de suco gigante — o maior que ela havia encontrado. Assim que entrou no quarto, viu ele sem camisa, enxugando os cabelos molhados. Quase babou. Ela até sentiu o veneno acumular na boca pelo desejo. 

O lobo tinha um ego do tamanho da muralha da China, mas ela não podia negar que ele era um pedaço de mau caminho. Principalmente com água escorrendo por ele todo. 

— Achei que ia me trazer um rato morto só pra me provocar — admitiu ele, já pegando a bandeja das mãos dela e levando para a cama.

— Vou lembrar na próxima vez. 

Ele nem se dignou a olhá-la. Empanturrou-se até chegar ao último sanduíche, enquanto ela observava, divertida. Quando era humana, amava comer. Apreciava especialmente a comida que sua avó fazia. Entretanto, após a sua morte, foi mandada a um orfanato, e a comida lá não era tão boa. Era animador assistir Paul comer com tanta vontade, fazia-a lembrar de sua humanidade.

— Esqueci de perguntar, você quer? — ofereceu ele. 

— Eu não como. 

Wendy gargalhou ao ver a expressão de ultraje no rosto dele. 

— Você não sabe o que está perdendo — falou ele, enfiando o resto do sanduíche na boca. — Para alguém que não come, até que você cozinha bem. 

— São só sanduíches, Paul. E comida, no geral, não parece tão apetitosa para mim. 

Ele ficou pensativo, lambendo os dedos para tirar o molho que tinha escorrido neles. 

— Eu já sabia dessas coisas pelo Jacob — confessou ele. — Mas é diferente quando…

— Se tem certeza? — A Cullen se arrumou ao lado dele. — Ainda te incomoda o fato de eu ser uma vampira? 

Paul enrugou o nariz. 

— Depende. Às vezes sim.

Ela assentiu e pulou da cama, pegando a bandeja e colocando em cima da mesinha de cabeceira. 

— Obrigada por ser sincero comigo — agradeceu a vampira com um sorriso de canto. — Se vamos ser amigos, temos que ser verdadeiros um com o outro. 

— Achei que já fossemos amigos. — Ele se jogou nos travesseiros com os braços dobrados atrás da cabeça. 

Ela apenas revirou os olhos. 

— Ok. Você já está alimentado, e já trocou de roupa. Vou te colocar pra dormir. — A vampira deu a volta na cama para sentar ao lado dele.

— Espera — pediu Paul, segurando a mão de Wendy. — Quero te falar uma coisa antes.

— Pode falar. Sobre o que é? — Ela concordou no mesmo instante em que viu o semblante sério.

— É sobre o meu pai. Sobre o que você teve que ver — esclareceu ele, colocando a mão fria de Wendy junto a dele.

— Paul, não precisa me dizer nada — Ela se afastou um pouco, entretanto, sem retirar a mão.

— Não. Você disse agora há pouco que se vamos ser amigos, temos que ser sinceros um com o outro. Isso sou eu me esforçando — assegurou o lobo. — Pode ouvir sem me interromper? 

— Claro. 

— Minha mãe nos abandonou quando eu era criança. Não lembro bem se meu pai sempre foi desse jeito... Caramba! Quase não lembro de como era o rosto dela. Eu apenas sei que tudo piorou quando ela se foi. Meu pai virou um bêbado desgraçado, e eu fiquei jogado de lado. Ele nunca me deixou passar fome, sabe. Tinha medo que as pessoas o denunciassem. O pessoal da reserva ficava de olho nessas coisas, mas ele gostava de me bater. 

— Paul. — Wendy apertou a mão dele de leve, querendo garantir que ele estivesse consciente da sua presença. O olhar perdido em seu rosto enquanto falava, deixava a vampira sem ação.

— Não importa mais — garantiu ele. — Eu tinha muita raiva guardada dentro de mim. E não demorou muito tempo até eu crescer o bastante pra enfrentar o velho. Ele parou de me bater. Talvez por medo que eu o matasse. Ele apenas... parou. Depois que me transformei, fiquei mais impaciente, então foi um bônus.

— Jura? — brincou. Ela levou a outra mãos aos cabelos curtos e negros, e os acariciou.

Ele sorriu fraquinho. 

— Você lembra lá no meu quarto, o que Sam disse sobre não ser a primeira vez? 

— Acho que sim — respondeu ela, franzindo o cenho.

— É verdade, não foi a primeira vez. 

— Então você machucou ele antes? — perguntou Wendy, confusa. — Carlisle não comentou nada sobre outra cicatriz.

— No dia da minha primeira transformação, eu quase estourei na frente do velho. Não me lembro exatamente o motivo da nossa discussão, mas foi a nossa gritaria que atraiu Sam até a minha casa. Ele já estava de olho em mim, porque eu estava dando todos os sinais, então conseguiu me tirar de lá antes que eu perdesse o controle e acabasse com tudo. Dessa vez o velho idiota não foi tão sortudo.

— Você se sente culpado? — indagou ela, parando o carinho e olhando no fundo dos olhos dele.

— Depende. — Ele deu de ombros.

Wendy riu. 

— Parece ser uma resposta comum pra você, não é?

Paul suspirou, como se dissesse: “o que posso fazer”. 

— Você está com sono. — A Cullen sorriu ao ver os olhos dele caídos. 

Ele abriu a boca para protestar. 

— Dorme, Paul — ordenou Wendy, baixinho, perto do ouvido dele.

 


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