Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 14
Horas de puro caos




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Capítulo 13

por N.C Earnshaw

 

WENDY ESTAVA PREOCUPADA. Fazia quase dois dias desde que havia saído para caçar, e ela não tinha recebido nem ao menos uma notícia de Paul. Apesar de ela ter afirmado para ele que tudo ficaria bem, algo, no fundo do seu ser, dizia que tinha alguma coisa errada. 

Memórias de quando ela o tinha visto quase morrendo na casa de Sam, a faziam ficar angustiada, e incontáveis foram as vezes que ela tinha corrido para algum lugar que desse área para checar seu celular. 

Nada. 

Nenhuma mensagem ou ligação. 

E apesar de Wendy fazer o máximo para esconder seu estado, seus irmãos não tinham deixado de perceber.

— O que foi? Seu poodle não ligou? — perguntou Emmett, empurrando-a ao vê-la olhando para a tela do celular com uma expressão perdida. 

— Não. — Ela suspirou, sabendo que suas próximas palavras a deixaram à mercê de seus irmãos. — Estou preocupada. 

Rosalie riu. 

— Seu cachorro vai ficar bem, Wen — pronunciou-se a loira, fazendo uma careta divertida. — Infelizmente

— É que vocês não viram como ele ficou da última vez. Ele quase morreu e… 

— Está parecendo o Edward — alfinetou Emmett, com um olhar acusador. 

Wendy arregalou os olhos, assustada. 

— Não estou, não! 

 — Está, sim — concordou Jasper, atraindo a atenção dela. Atrás do loiro, Alice estava controlando o riso. 

— Você está paranoica desde que saímos de casa, não larga o celular, nem brigou comigo por causa daquele urso e não para de pensar no que seu cachorrinho está fazendo. Isso é o bastante para diagnosticá-la com a síndrome psico-Edward, em que o paciente fica extremamente obcecado por uma pessoa, e não para de pensar no que ela está fazendo. Vamos interná-la no momento em que invadir o quarto dele para observá-lo dormir. 

Ela abriu a boca em choque. Era novidade ser a vítima das artimanhas de Emmett, geralmente eles se juntavam para provocar os outros. 

Wendy bufou alto ao ouvir as risadinhas. 

— Ei, eu não estou com psico-Edward, tá legal? E pare de usar minhas próprias piadas contra mim. Apenas estou preocupada. Me sinto responsável pelo que acontece com ele. 

— Então, porque não vai checar se ele está bem? — sugeriu Alice. — Assim você para de surtar. 

— Mas estamos caçando…

— Vai logo, Wendy — ordenou Rosalie, revirando os olhos. — Se continuar aqui desse jeito, vai acabar me enlouquecendo. 

Ela deu a língua à loira, que riu. 

— Está bem, eu vou. — Ela não precisou de muito incentivo, seu sexto sentido gritava para que ela fosse até a reserva checar se Paul estava bem. Não ficaria jogando conversa fora quando tinha quase certeza que alguém estava precisando de ajuda. 

Wendy pôde ouvir seus irmãos rindo enquanto se afastava. 

— Ela está caidinha por ele — sibilou Alice, animada.

Ela balançou a cabeça e começou a correr mais rápido, não queria ouvir mais nada do que sua família tinha a dizer sobre a sua situação. Não pensava em Paul romanticamente. Após os dias que passaram juntos, tinha sim, apegado-se um pouco a ele, mas como amiga. Não podia sentir mais que amizade por ele. Além disso, ele já havia demonstrado de várias formas que não a queria. 

Assim que chegou até a fronteira, Wendy esperou ansiosa por qualquer um dos lobos que estivesse fazendo ronda. A cena se desenrolava num flashback — não fazia muito tempo que ela tinha corrido de Nova York até ali para salvar Paul de si mesmo. 

Logo que um deles apareceu, ela ficou preocupada. O lobo uivou, desesperado, e sinalizou que ela o seguisse; ela achava ser Jared pela cor do pêlo, mas não tinha certeza. Estava aflita demais para buscar em sua memória. 

— É o Paul? — indagou ela, agitada. As mãos cerradas em punhos ao lado do corpo e as sobrancelhas franzidas em inquietação. 

O lobo grunhiu, concordando. E, por um segundo, Wendy foi egoísta. Desejou ardentemente nunca ter encontrado Paul Lahote. Desejou nunca ter sido alvo do seu imprinting. A vida dela continuaria a ser fácil. Não precisaria analisar cada passo que desse e não teria alguém dependente de sua presença para nada. Nunca sentiria o medo que experimentava naquele momento e a fazia querer gritar de desespero. 

No entanto, se essa escolha fosse posta em suas mãos, ela não mudaria nada. Pois, pela primeira vez em todos os anos de sua existência, ela era a protagonista da sua própria vida. E tudo graças a um lobo com problemas de raiva ao qual estava começando a cultivar uma amizade esquisita. 

Os dois correram em uma velocidade assustadora até chegar a uma casa pequena de um andar, pintada com um verde descascado e um pouco mal cuidada. Entretanto, Wendy não parou para analisar a arquitetura do lugar. Sem demora, ela correu até a porta e foi inebriada pelo cheiro forte de sangue no local. Na pressa de alcançar Paul mais rápido, ela não deu atenção à sua garganta queimando; mesmo que estivesse totalmente cheia depois da caçada. Ignorou os seus sentidos gritando: PERIGO, AFASTE-SE. 

Segurando a respiração e agradecendo por estar alimentada, ela abriu a porta e se assustou com a cena diante dos seus olhos. 

Paul estava sentado ao lado de um corpo, completamente pelado e coberto de sangue. A sala de estar estava destruída, com pedaços de móveis espalhados para todo lado, parecia que um tornado tinha passado por ali. Ela percebeu que ele estava chorando enquanto tentava estancar o sangue jorrando do peito do homem que ela escutou chamar de pai. 

— Paul? — chamou ela, aproximando-se cautelosamente.

Ele ergueu os olhos vermelhos pelo choro, e o coração da Cullen se partiu. 

— Eu não queria ter feito isso, eu juro. Ele veio pra cima de mim, e eu…

— Ei, tá tudo bem. Eu estou aqui. — Wendy se abaixou ao lado, não insistindo em fazer perguntas. Não queria piorar seu estado. — Vou te ajudar. 

— Ele está morrendo — rosnou Paul, soluçando. 

Ela tocou o ombro dele e ignorou sua nudez ao ajudá-lo a se afastar do pai. 

— Paul, olha para mim. — Wendy se abaixou ao lado, não insistindo em fazer perguntas. Não queria piorar seu estado. — Seu pai vai ficar bem. Você só precisa se acalmar e me dar um pouco de espaço. 

— Vai transformar ele? — indagou Jared, chocado, parado na porta. O garoto não conseguia fazer nada, e ela quase tinha esquecido que ele estava ali. 

— Jared, vá buscar o Sam imediatamente. — A vampira pegou o trapo que Paul estava usando para estancar o sangue, ignorando a vontade de beber aquele líquido vermelho que escorria pelo peito do homem. — Precisamos levar o Sr. Lahote para o hospital. 

— Por que não chamamos uma ambulância? — perguntou o lobo, nervoso. A visão de todo aquele sangue com certeza embrulhando seu estômago. 

Wendy revirou os olhos ao começar a fazer pressão no ferimento, ignorando o ardor em sua garganta. 

— Não podemos chamar ninguém aqui. O que diríamos quando os enfermeiros chegassem? Que um urso invadiu a casa e o atacou? — repreendeu a Cullen, sem paciência. Entretanto, arrependeu-se no mesmo instante. Por ter convivido com Carlisle por todos aqueles anos e presenciado uma guerra mundial, tinha visto sua cota de corpos mutilados. Não podia esperar uma reação diferente do pânico vindo de um garoto tão jovem. Então tentou ser mais delicada. — Acho mais provável que eles acreditem se vocês disserem que encontraram ele na floresta. Então Jared, pode, por favor, ir buscar o Sam? 

O quileute titubeou por alguns segundos, no entanto, saiu correndo, apressado. 

Após ouvir o som dele se transformando, começou a examinar o corte para verificar a profundidade dele. Para o seu alívio, não era tão profundo, tomava boa parte do tórax do homem, mas se fossem rápido ao hospital, ele iria viver. 

Wendy se virou para verificar Paul. 

Ele estava jogado no chão, apoiado numa parede e todo encolhido. Tinha um olhar vazio no rosto, ao mesmo tempo que as lágrimas escorriam sem parar. Parecia tão quebrado que ela temeu que ele não se recuperasse. 

— Paul, o Sam já está vindo. Vai ficar tudo bem. 

Ele não falou nada. Somente continuou fitando o pai que, desde que Wendy havia chegado, estava desmaiado. 

“Droga, Sr. Lahote, acho melhor o senhor sobreviver”, pensou ela, estressada. 

Sam entrou na casa e parou na porta com Jared atrás. Um olhar surpreso no rosto ao ver Wendy perto do corpo sangrando. 

— Venham rápido — chamou ela, olhando para eles. — Vocês têm que levar ele para o hospital. 

— Jared, vamos. — Sam se aproximou, não se dando tempo para digerir a situação ou pensar em como uma vampira conseguiu resistir ao sangue. — A caminhonete está na frente. Vamos pegá-lo com cuidado e…

— Eu o levo até lá — avisou Wendy, erguendo o corpo sem esperar uma resposta. — Só fiquem prontos. 

Ela correu até lá fora e esperou Jared; que a seguia para ajudar a depositá-lo no banco de trás. O garoto se sentou ao lado, ela mostrou como ele devia pressionar o ferimento e fechou a porta. 

— Vou ligar para o Carlisle, ele vai estar esperando vocês na porta. Vou ficar aqui e cuidar do Paul. — Ela se apressou para voltar para dentro. Não queria deixá-lo sozinho por muito mais tempo. 

— Tudo bem — concordou Sam sem reclamar, entrando no carro e dando partida. 

Wendy pegou o celular no bolso traseiro das calças e discou os números do telefone de Carlisle. 

— Pai? 

— Oi, querida! Aconteceu alguma coisa? Achei que estivesse caçando com os outros. 

— Aconteceu um acidente. O Paul se transformou e feriu o pai dele. Estou na reserva e vou ficar aqui, mas o Sam está levando o Sr. Lahote para o hospital. Você pode…

— Vou estar na porta assim que eles chegarem — interrompeu ele prontamente. — Está tudo bem com você? 

— Sim, mas o Paul é quem está me deixando preocupada. — Ela mordeu o lábio inferior.

— Vai ficar tudo bem, querida, ligo para dar notícias. Vá cuidar dele. 

Assim que Carlisle desligou, Wendy correu para dentro e foi até Paul, que continuava do mesmo jeito. No entanto, ao menos havia parado de chorar. 

Ela fitou aquela figura frágil, tão diferente do homem forte que ela estava acostumada. Do cara que enfrentava a todos sem hesitar. Diferente do lobo que rejeitou o imprinting com todas as suas forças. 

Naquele momento, Paul lembrava um menino. Um garotinho apenas precisando de colo e consolo, de algo para se agarrar. 

— Vou te levar até o quarto — avisou ela, tocando o seu braço. 

Wendy passou o braço dele ao redor do seu pescoço e o ergueu para colocá-lo de pé. Carregando boa parte do peso do lobo que estava num estado inerte, Wendy o levou até o quarto que ela deduziu ser o de Paul, por estar impregnado com o cheiro dele. Deitou-o na cama gentilmente e vestiu uma calça de moletom que ela encontrou no armário. Ela se repreendeu mentalmente para não encarar o que não devia enquanto o vestia, mas conseguiu ignorar bem as coxas grossas que ele tinha, o abdômen cheio de gominhos e os braços fortes, por causa da expressão triste em seu rosto. 

Ela, ao perceber o sangue seco na pele dele, pegou uma blusa e foi até o banheiro para molhá-la. Logo que ensopou o pano e o torceu para tirar o excesso de água, voltou para o quarto e começou a limpar Paul carinhosamente. Ele apenas acompanhava seus movimentos com o olhar. 

— Não é a primeira vez que você faz isso — afirmou ele com a voz rouca. 

Ela o encarou, surpresa por ele ter lembrado.

— Não é — confirmou Wendy. — Fiz isso da outra vez. Você estava quente e suando muito…

Ele suspirou baixinho e fechou os olhos. 

— Acha que consegue dormir? — Ela sentou ao lado dele para alcançar melhor o pescoço.

— Acho que não — sussurrou Paul. 

— Quer ajuda? Posso te colocar para dormir…

Ele abriu os olhos, pensativo, sem ter ideia do que ela faria a seguir. Contudo, ansioso para conseguir um pouco de alívio, assentiu. 

Wendy largou o pano e levou a mão direita para o rosto dele, usando seus poderes. Depois explicaria para o lobo o que ela tinha feito, mas aquela não era a hora. 

— Você vai dormir, e apenas vai acordar quando o seu corpo estiver totalmente descansado — murmurou ela com a boca encostada em seu ouvido. 

Ela se afastou para ver o rosto dele relaxando, a respiração ficando calma e ele se entregando ao sono. 

Wendy continuou a acariciar seu rosto, apreciando a paz que se instalou depois de minutos do que pareceram horas de puro caos. 

 


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