Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 13
Medo é para maricas




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Capítulo 12

por N.C Earnshaw

 

PAUL ESTAVA SE ACOSTUMANDO com a presença do seu imprinting na sua vida. Ainda havia momentos extremamente constrangedores. Como, por exemplo, quando eles se tocavam sem querer, e os dois ficavam em um silêncio tenso, olhando para qualquer coisa que não fosse o rosto do outro. Ou quando o Lahote, acidentalmente, soltava algum comentário preconceituoso contra a espécie dela — ele se arrependia no mesmo segundo ao ver sua expressão magoada. Quando se dava conta, era muito tarde, e já tinha dito outra besteira novamente. No entanto, apesar das pequenas dificuldades, havia se tornado fácil esquecer que ela era o inimigo. Fácil até demais. Ele a olhava, e apenas enxergava o seu imprinting. Seu coração disparava, e ele somente desejava dizer o quanto a amava. 

Aquilo deixava Paul irritado consigo mesmo. Havia sim, aceitado que se tornassem amigos. Entretanto, jurava para si mesmo que nunca iria se trair tendo um romance com a Cullen.

Encontrava-se com ela todas as tardes. Às vezes, eles caminhavam pela floresta trocando provocações. De vez em quando, ficavam em silêncio. Sem conseguir achar um assunto em comum para falar. E outras, a maior parte delas, apenas conversavam sobre assuntos aleatórios, mas que se distanciavam e muito, de algo que pudesse se tornar sentimental. 

Eles não tinham muito o que fazer no meio do mato. Paul não aceitava ir até à casa de Wendy, e ela ainda estava constrangida de passar um tempo na residência dos Uley. Não se sentia bem-vinda com os olhares que o alfa lançava em sua direção. Era como se, subitamente, ela fosse enlouquecer e atacar a todos. 

Paul achava a maior baboseira que tinha ouvido na vida. Apesar de ser uma vampira, a Cullen não era uma criatura sanguinária sem consciência. No entanto, para evitar possíveis conflitos de opiniões — e punhos, evitava levá-la até lá.

O Lahote não tinha nem sequer citado sua casa, e a vampira não perguntava. Mesmo que não soubesse muito sobre ele, ainda tinha noção de não apertar os botões errados do lobo. Ele se irritava com muita facilidade, e o quileute agradecia por ela ter esse entendimento dele, que a maioria das pessoas não possuía.

Ele encarou Wendy fingindo tédio, e a garota o olhou de volta, revirando os olhos. Eles estavam sentados no meio da floresta, bem próximos à linha do tratado, apoiando as costas em troncos de árvores desconfortáveis e gastando tempo, enquanto se fitavam sem nada mais para fazer. 

— Vamos só ficar aqui nos encarando feito dois bocós? — Ela jogou para longe de si o pequeno galho que tinha em mãos. Por ser uma vampira de quase 100 anos, era comum que conseguisse ficar parada por horas; talvez décadas, mas algo na presença de Paul deixava seu interior agitado demais para que ela conseguisse se perder em pensamentos.

— Parece que sim — confirmou ele, desanimado, continuando a fazer desenhos na terra fofa; se é que aquele carro todo torto e com pneus de trator, fosse considerado um desenho. 

Paul observou-a ficar pensativa. 

— Meu irmão tem uns jogos legais, podemos… — O rosto dela se iluminou como se tivesse feito uma descoberta brilhante. A esperança de que teriam alguma outra coisa para se concentrar a fez sorrir.

— Não. — Ele parou de desenhar os vários órgãos genitais de tamanhos diversos. E fez uma careta para o último, pensando no quanto aquele pinto torto se parecia com o de Jacob. 

— O quê? Por quê?

— Não é óbvio? — Paul parou para admirar seu trabalho antes de levantar a cabeça e encará-la com uma carranca. — Não vou me enfiar numa casa cheia de sanguessugas. 

— Ah, pelo amor de Deus! É só nós irmos para o meu quarto e…

Paul riu alto e ela parou no meio da frase, observando o abdômen cheio de gominhos se balançar. 

— Do que está rindo? — inquiriu com uma curiosidade inocente.

— Mal faz uma semana que viramos amigos, e já quer me levar pra cama?

Ele deu um sorrisinho convencido ao ver a expressão exasperada que ela tinha no rosto. 

— Ah, pelo amor… 

— de Deus — continuou ele, afinando a voz para imitá-la. — Pensei que vampiros não acreditassem em Deus. 

Wendy revirou os olhos novamente, e batucou os dedos na perna. 

— Bem. A minha família acredita. — Ela desviou os olhos do rosto dele, sentindo-se desconfortável.

— Então acredita nessa baboseira de céu e inferno? — Ele se distraiu coçando uma parte da perna que um mosquito tinha picado, mas voltou o olhar para o rosto dela, para mostrar que estava interessado em sua resposta.

— Você não? — rebateu a vampira. 

Paul deu de ombros. 

— Depende. 

— Como assim? 

— Às vezes, acho que já vivi o bastante do meu inferno — explicou ele, lembrando do que tinha passado com o pai antes da transformação. — Em outras, ainda acho que estou vivendo. Porque toda vez que fecho os olhos, tudo volta para me atormentar.

Ele arregalou os olhos, surpreendendo-se com a facilidade que falou do seu passado para Wendy, mesmo que indiretamente. As palavras saíram em jorros da sua boca, e até ele mesmo estranhou como elas tinham sido poéticas. 

“Estou me transformando num idiota”, pensou Paul desgostoso. 

— É por minha causa? 

— Não — admitiu o Lahote. — Não tem nada a ver com você. 

Paul riu ao ver ela semicerrando os olhos, como se o acusasse de mentir. 

— Estou falando sério! Não é você...

— Sou eu? — completou ela, irônica, engrossando a voz. — Isso é mais velho do que eu, está bem? Não caio nessa. 

Ele a encarou com um interesse atípico, ignorando a provocação.  

— Quantos anos você tem?

— 17 — falou Wendy sem piscar. 

— Por favor. — Paul riu pelo nariz. — Quero saber sua idade de verdade, não a…

— É falta de educação perguntar a idade de uma dama — cortou ela, cruzando os braços. 

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, e Wendy deu uma risadinha. 

— Você não quer saber — afirmou a vampira. 

— Eu quero. 

— Não quer saber de verdade.

Paul bufou. 

— Você não pode ser assim tão velha. — Ele moveu o corpo para mais perto, procurando checar em sua postura se ela estava prestes a mentir.

Wendy sorriu maliciosa. 

— Adivinhe. 

— Não vou brincar disso. — Ele fingiu irritação, tentando esconder seu interesse, assim como a animação tomando o lugar do tédio.

— Vamos lá — incentivou a garota. 

Ele analisou a expressão marota que ela tinha no rosto, deixando-a iluminada, e gastou muito tempo admirando-a antes de aceitar.

— Tá bem! — Ele revirou os olhos. — Hum… Eu sei que vocês não envelhecem. 

— Isso. 

— Uns 40? — chutou ele. 

— Nope. Mais. — Ela abriu um sorriso ainda maior.

— 90?

— Mais. 

Ele arregalou os olhos em choque. 

— Tá de brincadeira? O quão velha você é? Não vai me dizer que você tem uns 300 anos, não é?

Wendy fez uma cara de culpada. 

— Não! — Paul passou a mão nos cabelos curtos, transtornado com a informação recém-descoberta.

Ela começou a gargalhar.

— Essa brincadeira não foi legal — grunhiu ele, emburrado, jogando um pouco de terra nela.

Wendy ergueu-se, e bateu a sujeira que tinha grudado em suas calças. Lançou um olhar deboche para ele, ainda divertida. Estava quase na hora de trocar de lugar com Jasper na delegacia. Ia ficar observando por horas Charlie Swan viver sua vidinha simples e tediosa, ao mesmo tempo em que torcia para que o invasor voltasse, para que ela pudesse acabar com aquilo de uma vez.

— Pra onde você tá indo? — Ele também se levantou.

— Para casa. — Ela deu as costas para ir embora antes que ele a segurasse ali. Sabia que se dissesse onde estava indo de verdade, ele ia se oferecer para ir junto, mesmo que tivesse uma ronda mais tarde e estivesse exausto. 

Wendy não conseguia entender muito bem o que Paul pensava. Entretanto, ela imaginava que a situação estava tão confusa para ele, quanto para ela. 

— Vamos pular de uns penhascos amanhã, quer vir? — gritou ele, antes que ela sumisse entre as árvores. 

— Claro. — Ela virou a cabeça para o lado para vê-lo sobre os ombros.

— Não vai mesmo me contar sua idade? — Paul encontrava-se frustrado com a recusa dela.

Wendy apenas riu.

   ☀

Paul não cansava de olhar para as pernas esguias de Wendy no short preto minúsculo. 

— Vocês fazem isso com frequência? — perguntou ela, andando mais à frente. 

Ele, que analisava como a bunda dela ficava redondinha naquela roupa, foi pego de surpresa, e parou de caminhar ao ouvir sua voz. 

— O que você falou? — Confuso, ele coçou a parte de trás da cabeça. Um tanto envergonhado por ter sido pego no flagra.

A Cullen soltou uma risadinha, mas ficou com pena e deixou passar.

— Perguntei se vocês pulam sempre. 

— La Push não tem muitas opções de diversão. — Recuperando-se, ele foi para o lado dela, e a guiou para o penhasco.

— Então vocês arriscam suas vidas por um pouco de diversão? Isso é bem humano. — Ela franziu os lábios, tentando segurar um sorrisinho.

— Isso é um elogio? 

— É, sim — afirmou a garota, balançando a cabeça. — Vocês não têm medo de se machucar?

Paul bufou alto. 

— Medo é para maricas. — Ele pulou uma pedra alta, demonstrando inutilmente o quanto era “aventureiro”. — Não temos bundas moles aqui. 

Wendy estalou a língua e riu. 

— Claro. E o que mais você faz para se divertir Paul Lahote? 

Ele estremeceu ao ouvi-la dizendo seu nome tão de perto. Como soava gostoso saindo daqueles lábios pequenos e rosados...

Por um momento, pensou que ela estava flertando. Como o conquistador que era, conseguia saber se uma garota estava a fim dele a vários metros de distância. No entanto, Wendy possuía um olhar inocente, e não parecia o tipo de garota que sabia flertar.

— Isso é um segredo que você não vai descobrir tão cedo — alegou ele, dando um sorrisinho malicioso. — Gosto de explicar essas coisas na prática. 

— Urgh. 

Paul gargalhou e afastou um galho para que ela passasse. 

— Chegamos. — O Lahote levantou os braços, animado, aproveitando o pequeno raio de sol que acariciou seu rosto. Parecia um sinal que o dia seria mais divertido do que ele pensava. 

 — Paul… — chamou ela, incerta, ao ver alguns membros da alcateia brincando. — Tem certeza de que sou bem-vinda? 

Ele pensou em rebater com algum comentário sarcástico, mas ao olhá-la com cuidado, se deu conta que a vampira estava, de fato, nervosa. 

— Se eu não tivesse, não teria te trazido até aqui. — Ele pegou na mão dela pela primeira vez desde que haviam se conhecido.

A garota olhou-o com surpresa, e Paul achou muito bonitinha essa expressão no rosto dela. Aproveitando que o contato que seu corpo havia clamado por tanto tempo, ele olhou bem no fundo dos seus olhos.

— Confia em mim. Vamos. 

Ela aquiesceu e o seguiu. 

— Paul. Vampira — cumprimentou Jared assim que eles se aproximaram. O lobo tinha os olhos focados em Wendy. — Não achava que você viria. 

Ele grunhiu, repreendendo o amigo. 

— Eu falei que ela viria. — Paul deu um leve aperto na mão dela, e a soltou. Se Jared percebesse que eles estavam de mãos dadas, que Deus o ajudasse. Sua vida viraria um inferno.

— Não acreditei em você.

Paul revirou os olhos, e pegou um vislumbre de Kim olhando para eles. Ela mexia no cabelo, ansiosa, e parecia não saber se devia ou não se aproximar.

— Ei, imbecil. Por que não chama sua namorada até aqui?

Jared ficou nervoso, mas Paul ergueu uma das sobrancelhas como aviso. 

— Eu prometo que não vou fazer nada, Jared — disse Wendy, tomando conhecimento do motivo de ele estar nervoso. Era ela. — Não vou atacar ninguém, prometo. 

Ele sentiu um aperto no coração ao ver o rosto triste da garota ao ter que falar aquilo. 

— Ele sabe — rosnou Paul, baixinho. 

Mesmo não se sentindo confortável, Jared assentiu e chamou Kim com a mão para se juntar a eles. A garota não hesitou nem por um segundo. Foi rapidamente até lá e se grudou no namorado assim que o alcançou.

— Kim essa é a vam-... — Jared travou quando viu o olhar mortal que Paul o lançava. 

— Eu sou a Wendy. — A Cullen ergueu a mão para cumprimentar a quileute, tentando evitar que os outros dois começassem a brigar. 

— Kim — respondeu ela, erguendo a mão cautelosamente e trocando um aperto de mãos firme. 

— Já que vocês, garotas, já se conhecem, vamos começar a pular. — Antes que elas tivessem tempo de falar, Paul puxou Jared pelo pescoço e o levou para longe.

Ambas as garotas suspiraram ao vê-los começando a trocar golpes, e compartilharam olhares divertidos. 

— São uns idiotas. — A humana se virou surpresa ao ouvir Wendy rindo alto.

 — São sim — retrucou Kim com um sorriso, contagiada pela risada. 

— Você vai pular? — Além de estar curiosa, também não queria que a conversa morresse e elas ficassem presas num silêncio constrangedor. 

Kim fez uma careta. 

— Geralmente eu pulo com o Jared — contou ela. — Mas ele gosta de fazer manobras no ar, e eu fico um pouco assustada. 

— Não parece muito assustador. — Wendy se aproximou mais da beirada para olhar para baixo. — Na verdade, achei que seria mais alto. Bella sempre fala que foi irado pular daqui... Bem, ela meio que quase morreu, então acho que vale a pena dar uma chance. 

A outra garota olhou-a assustada. 

— Você é maluca, e agora eu estou com mais medo ainda. 

— Podemos pular juntas — ofereceu ela. — Prometo não fazer manobras. Além disso, vai ser uma boa lição para aqueles dois idiotas. 

Kim olhou para trás, vendo Jared e Paul brigando. Embry e Quil torciam fervorosamente.

— Tá legal! — Ela balançou a cabeça, um tanto nervosa, mas desejando fazer uma coisa arriscada sem Jared. — Como vamos fazer? 

— Suba nas minhas costas. — A vampira apontou para suas costas com um sorriso maroto. — E agarre firme. 

A quileute pareceu incerta, mas seguiu sua ordem. Wendy passou as pernas dela ao redor do corpo, e Kim fechou os braços no pescoço dela. 

— Preparada? — A pergunta saiu em meio ao riso, e Kim assentiu, temerosa. — Então vamos lá. 

Preparada para pular e encarando o mar pouco revolto abaixo, ela flexionou levemente os joelhos para pegar impulso. 

— Ei, seus idiotas! — gritou Wendy, chamando a atenção deles. Paul e Jared, ao ouvir o grito, tentaram se desenrolar um do outro. No entanto, não foram rápidos o suficiente para que fizessem qualquer outra coisa que não fosse encará-las em choque. — Nos vemos lá embaixo. 

   ☀

Paul caminhava na praia ao lado de Wendy com um sorrisinho no rosto. O dia havia sido mais agradável do que o esperado, e a amizade sincera que havia surgido entre Kim e ela tinha o deixado contente. 

Ele admitia que era uma sensação incrível saber que estava ajudando a fazer seu imprinting feliz. Inclusive Jared, que no início estava arredio com a aproximação das duas, pareceu aceitar ao longo das horas. Elas haviam se dado muito bem, e nem o lobo extremamente protetor podia negar. 

— Esse lugar é lindo — elogiou Wendy, observando as ondas quebrarem. — Parece mágico. 

O lobo riu. 

— Mágico, é? — Ele pareceu se divertir. — Pode mesmo ser mágico. 

Wendy encarou-o curiosa, enterrando mais os pés na areia e parando de andar. 

— Segundo nossas lendas... — contou Paul, colocando-se na frente dela. — o povo quileute tem magia no sangue. Foi com essa magia que nossos antepassados se transformaram em lobos para proteger a tribo. E é com essa magia que eu sou o que sou. Ela é passada de pai para filho por gerações, até que o perigo apareça e precisemos salvar nosso povo dos frios. 

— Vampiros. — Ela não conseguiu conter a onda de culpa. — Então vocês só se transformaram porque minha família veio morar aqui?

Paul revirou os olhos e deu um empurrãozinho nela. 

— Isso não importa mais. 

— Ei, Paul — gritou uma voz feminina ao longe, e os dois se viraram para checar quem era. 

Paul xingou baixinho ao ver que era Erin, a sua última peguete antes de sua vida ter virado de cabeça para baixo. Antes do imprinting e de tudo que envolvia Wendy. 

Ela vinha correndo na direção deles, deixando um grupo de amigos para trás — que fuzilavam Wendy com o olhar. A vampira ouviu os cochichos deles, questionando-se quem era ela, e o que ela estava fazendo ali com Paul. 

— Oi! — A garota tinha cabelos longos e negros, com um sorriso branco tomando conta do seu rosto. Ela era um tipo de beleza exótica, com os quadris largos, os peitos enormes e a cintura fina, além de uma confiança perturbadora. — Faz tempo que eu não te vejo. 

Ela olhava fixamente para Paul, ignorando a presença da Cullen ali. Wendy sabia muito bem que ela a tinha visto, e apenas estava fazendo aquilo para provocá-la. Aparentemente tinha entrado em uma disputa pela atenção de Paul Lahote ou do companheiro que vivia em suas calças, e não tinha gostado nem um pouco de ser posta naquela situação. 

— É, eu estive ocupado — falou Paul, apoiando o peso do seu corpo em uma perna e cruzando os braços. Ele torcia mentalmente para que conseguisse dispensá-la antes que ela detonasse a imagem que Wendy tinha dele.

A garota esticou o braço e afagou o bíceps esquerdo de Paul, aproximando-se mais, e quase colocando o decote profundo da regata na cara dele. A mente do quileute tinha dado um pane, já que tinha sido pego totalmente desprevenido. Se fosse em outros tempos, ele não perderia tempo conversando com Erin. Agarraria e foderia ela ali na praia, mesmo que corressem o risco de serem vistos. Mas naquele momento, com seu imprinting ao seu lado, não sabia como reagir. 

— Depois daquela noite, achei que você ia me ligar. 

Ele limpou a garganta, desconcertado, e olhou para Wendy de esguelha. Ela apenas se mostrava impassível. 

— Estive ocupado com umas coisas. — Ele deu um passo para trás, tentando criar certa distância entre os corpos.

A garota fez um biquinho sensual. 

— Ocupado até mesmo para mim? — indagou ela, emburrada. 

Wendy bufou. 

— Erin, podemos conversar sobre isso em outra hora? — Ele não imaginava ter se sentido tão desconfortável assim ao lado de duas garotas bonitas. — No momento, estou ocupado. 

Pela primeira vez, Erin reconheceu a presença de Wendy parada ao lado dele. 

— Quem é essa? 

Paul pensou em mentir, imaginando a fofoca imensa que correria pela tribo que uma Cullen estava pisando os pés em La Push. 

— Sou Wendy — apresentou-se a vampira secamente. 

Ele quase suspirou de alívio ao perceber que ela não disse o sobrenome. 

— Te conheço de algum lugar? — checou a outra garota, fitando-a com desdém. 

— Acho que não. — Wendy deu de ombros, tentando ao máximo ser uma mulher melhor. Começaria então, não arranjando confusão com outra garota por causa de um cara. 

— Queridinha, você pode se afastar um pouco para conversarmos a sós? — ordenou Erin. — Você só está atrapalhando. 

Paul arregalou os olhos, surpreso com a audácia da ex-ficante, e Wendy cerrou os lábios numa expressão dura.

— Claro. — Ela forçou um sorriso, pensando no quão seria prazeroso arrancar a cabeça dela. — Vou voltar para junto dos outros. 

Antes que Paul abrisse a boca para pedir que ela esperasse, a vampira já tinha ido. Ele deu um passo na direção dela para ir atrás, mas Erin cravou as unhas compridas no seu braço. 

— Me trocou por aquela garota? — Ela fez uma careta enojada.

Paul grunhiu e se afastou. Não admitia que ninguém, absolutamente ninguém, falasse mal do seu imprinting.

— Não é da sua conta. 

— É da minha conta sim! — Ela o fuzilou com os olhos. — Passei semanas esperando por você! Liguei várias vezes e você não atendeu nenhuma das minhas ligações. Até fui à casa do Jared para saber o que tinha acontecido, e ele me disse que você estava doente e não podia receber visitas. Agora aparece do nada com essa garota estranha, e vem me dizer que não é da minha conta? Vai se ferrar, seu imbecil!

Paul riu cruelmente e passou a mão no rosto para se acalmar.

— Olha aqui, Erin. Eu te avisei que não queria nada sério, e você até mesmo falou que pensava do mesmo jeito que eu. Que apenas queria transar sem compromisso. Por isso te chamei pra sair. Então não venha agora encher meu saco pedindo satisfações, tá legal?

Os olhos dela se encheram de lágrimas raivosas, e ele percebeu ela cerrando os punhos. 

— Você é um cretino mentiroso! — Cega pela raiva, ela ergueu a mão para dar um tapa no rosto dele.

Paul segurou antes que atingisse seu rosto, e a conteve num aperto firme. 

— Nunca mais se atreva a levantar a mão pra mim, entendeu? — ameaçou ele, soltando a mão dela. — Nós nunca tivemos nada. Nós nunca vamos ter nada. Nós só saímos, transamos e ponto. Sinto muito se você esperou ligações, mas eu disse a você que não queria nada sério com ninguém! Além disso, se algum dia eu for ter um relacionamento, não vai ser com você.

— É aquela vadia, não é? — Ela enxugou as lágrimas com raiva.

Paul rosnou alto, e a garota se afastou, temerosa. 

Ele sentiu um pouco de pena ao perceber o olhar assustado que ela tinha no rosto. Não era covarde ao ponto de bater numa mulher. Tinha nojo de homens desse tipo. Então deu o máximo para controlar seu temperamento. 

— Erin, nunca vai rolar entre nós dois — explicou ele com a voz mais calma. — É melhor você seguir em frente. 

Paul deu as costas e correu até encontrar seus amigos. Sabia que se ficasse a discussão se desenrolaria por muito mais tempo. Erin não era o tipo de garota que aceitava rapidamente que estava levando um fora. 

Ao chegar perto da floresta, onde ele havia os deixado antes de sair para caminhar com Wendy, não viu ela no meio do grupo e ficou confuso, tinha certeza que ela não havia se perdido.

— Onde está a Cullen? 

— Foi embora — respondeu Jared com um olhar bastante curioso. — O que você aprontou?

— Como assim? — O Lahote parecia estar mais que perplexo. — Eu não fiz nada!

Kim, que observava os dois, bufou. 

— Vocês homens nunca sabem o que fazem de errado. 

— É, cara — concordou Embry, risonho. — Ela estava furiosa quando chegou aqui. 

— Estava soltando fogo pelas ventas. — Quil não resistiu, e colocou mais pilha.

Paul revirou os olhos para eles e deu de ombros, escondendo a preocupação que estava sentindo. 

Droga. Droga. Droga. 

   ☀

Ela estava atrasada. Normalmente, Wendy era bastante pontual nos encontros deles. Entretanto, neste dia, ela tinha atrasado quase uma hora, deixando Paul bastante preocupado — mesmo que ele apenas admitisse aquilo para si mesmo.

Ele andou de um lado para o outro em um trecho da floresta — que era o ponto de encontro marcado, e Paul suspirou alto para expressão um pouco da angústia que estava experimentando. Ele resolveu se sentar, pensando no quão perfeito tinha sido o encontro até eles encontrarem com Erin.

Pelo que Kim e os garotos tinham dito, Wendy não estava feliz quando foi embora. 

— Paul, desculpe o atraso. — Ela parou em frente a ele com uma expressão vazia, e não deu explicações do motivo do atraso. Sendo conhecedor de mulheres como ele era, sabia que era melhor ele fingir que nada tinha acontecido. 

— Já que você atrasou tanto, eu estou morrendo de fome. — O lobo se levantou, sentindo seu interior se encher de alegria com a presença dela. — Acho que a Emily deve ter cozinhado alguma coisa. Vamos para lá e…

— Espera! — pediu Wendy ao vê-lo caminhando. — Não vou poder ficar. 

Paul virou instintivamente. “Que merda era aquela?”, pensou ele, furioso. 

— O quê? Por quê?

— Sinto muito mesmo, mas vou ter que ficar alguns dias fora. Vou viajar com a minha família.

Paul sentiu o corpo tremer. 

— Você não pode. Nós combinamos de nos ver todos os dias, e você vai viajar? — Ele puxou o ar, tentando não demonstrar o quanto estava zangado. — É por causa de ontem?

— Não, não é. Não aconteceu nada demais ontem — afirmou ela, balançando uma das mãos displicentemente. — É que…

— Não venha com desculpas esfarrapadas para o meu lado. Você viu como eu fiquei quando foi embora e… — Ele suspirou. — Quer saber? Eu não preciso de você! Vai. Pode ir viajar com a sua família perfeita de sangue-...

— Eu estou com fome — gritou ela, envergonhada, interrompendo-o. — Está vendo meus olhos?

Paul olhou mais atentamente, e viu que eles estavam negros. 

— Pretos? — A cor o deixou desorientado. Jurava que os olhos dela eram dourados. Ou estava louco, ou... — Não eram dourados?

— Sim, eram. Meus olhos escurecem quando fico sem me alimentar. Eu esperei o máximo que eu pude, mas preciso realmente ir caçar, e espero que você entenda.

Paul não soube bem como se sentir. Admitia para si mesmo que tinha medo de entrar em coma novamente e, dessa vez, não acordar. Entretanto, não podia ser egoísta prendendo ela a ele, nem seria maluco o bastante para se oferecer em ir junto. 

— Eu não quero perder o controle, Paul, e eu preciso desses dias para me recuperar. Você não sabe como é ficar com sede. É… — confessou ela. — Deixa para lá, eu…

— Dói? — perguntou ele ao ver a cara dela de sofrimento. 

— Queima. Muito. 

— Tudo bem — concordou ele, impassível, mesmo que algo dentro dele gritasse. Doía imaginar ela longe, no entanto, doía mais ainda saber que ela estava sentindo dor. — Vou ficar bem. 

— Ok. Eu escrevi meu número nesse papel para você me ligar se precisar — avisou Wendy, esticando o braço com o papel na mão. 

— Não precisa — rejeitou Paul, uma vez que ele nem sabia onde tinha colocado seu celular velho. 

— Por favor. — Ela balançou o papel em frente ao rosto dele. — Toma. 

Ele pegou o papel, e enfiou no bolso da frente do short jeans em fiapos ao perceber que ela continuaria insistindo se negasse outra vez. 

— Nos vemos logo — prometeu ela, virando de costas e sumindo entre as árvores. 

Paul não parou para observar a garota indo. Tirou a única peça de roupa que usava e se transformou, aflito com a partida dela. 

 


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