Capítulo 11

por N.C Earnshaw

WENDY PAROU EM FRENTE À PORTA da sua casa e riu feliz. Havia ficado fora por alguns dias, mas a saudade que sentia era imensa. Ela tinha seguido seu coração quando decidiu cumprir o que tinha prometido a Paul, no entanto, depois de tudo que aconteceu, sabia que não tinha sido uma decisão correta. E, pensando positivamente, aquilo tinha feito com que ao menos Paul e ela entrassem em um acordo. 

Ela abriu a porta lentamente, ouvindo os barulhos que sua família fazia. Wendy sabia que eles estavam aguardando — uma vez que foi Alice quem a chamou até ali. 

Uma onda de ansiedade tomou conta do seu corpo. Algo dentro de si, tinha se modificado, e ela não sabia como sua família reagiria às mudanças tão repentinas, ou se iriam sequer perceber. 

Assim que pisou os pés dentro da casa, seu corpo foi erguido e girado no ar.

— Minha macaquinha está de volta — comemorou Emmett, abraçando-a com força. 

Wendy o abraçou de volta com tudo que possuía. Demonstrando através do agarre o quanto havia sentido falta do seu irmão grande e barulhento durante o tempo que estava longe.

— Emmett! Assim você vai quebrar a garota. — Rosalie se aproximou dos dois com um sorriso no rosto. Ainda não se conformava com o fato da sua irmã caçula ter largado tudo por causa de um cachorro imundo, mas deixou aqueles sentimentos de lado, e aproveitou a felicidade que sentia ao vê-la retornando para casa.

— Rose! — gritou Wendy, animada, soltando-se de Emmett e indo em direção à loira. Ela passou os braços ao redor dela e apertou o máximo que poderia sem machucá-la. O calor do amor que sentiam uma pela outra as aquecendo durante o abraço.

— Nunca mais faça isso — recriminou a Hale, dando um tapinha de leve na cabeça de Wendy antes de se separarem. — Emmett quase nos enlouqueceu. Por muito pouco, eu não pedi divórcio. Então, da próxima vez que você surtar e for embora, leve ele junto. 

— Ei! — Emmett se virou para mulher com uma indignação falsa, divertindo-se com a risada prazerosa que Wendy soltara ao receber aquela informação.

— Ah! Você é tão fofinho, Em! — provocou a vampira, levantando-se na ponta dos pés para apertar as bochechas dele. — Sentiu muito a minha falta?

— O que você acha? — Ele revirou os olhos. — Por dias, eu não tive ninguém para provocar, jogar vídeo game… E pior, não fiz nenhuma pegadinha!

— Ele ficou arrasado — incentivou Rosalie, sorrindo provocativa. 

— Pobrezinho. — Wendy acariciou o braço musculoso de Emmett; que era tão grosso quanto as suas duas pernas juntas, e arregalou os olhos para Hale, recebendo um olhar divertido da mesma. Emmett era um bebê crescido.

— Você está me devendo uma — avisou o grandalhão. 

— Claro, claro. — Ela balançou a mão, concordando com qualquer coisa que ele tivesse dito. — Mas onde estão os outros? Alice me ligou pedindo para eu vir urgente, mas não quis me dizer o que tinha acontecido.

A expressão de Rosalie se tornou debochada, fazendo com que Emmett risse alto. Adorava o quanto sua ursinha não dava a mínima para o que os outros pensavam.

— O que você acha? Te dou duas dicas. Ela é fonte de todos os nossos problemas e o centro de tudo que gira essa família.

— Bella? — indagou Wendy, soltando uma risadinha. — O que ela fez dessa vez? Algo a ver com a Victoria?

— Que nada! — Emmett colocou o braço ao redor dos ombros dela, e quase pulava no lugar, tamanha era sua empolgação. — Parece que a Bella arranjou outro inimigo. 

— Não! Então essa pessoa não tem nada a ver com Victoria ou com os Volturi?

— Essa humana é um imã para problemas — comentou Rosalie, raivosa. — Eu disse que deveríamos ter matado ela.

— Rose! — Wendy tentou esconder seu divertimento.

— Bem, eu gosto — concluiu Emmett. 

— Você é um bobão — acusou sua esposa. 

— E onde estão os outros? — A garota se pronunciou antes que eles começassem a brigar; ou pior, agarrar.

— Na sala, discutindo — replicou Emmett, desaparecendo. 

— Vem. — A vampira loira pegou na mão de Wendy, e a arrastou até a sala.

Ao entrar no cômodo, viu os rostos preocupados do resto da sua família. E para sua alegria, todos se iluminaram ao vê-la, deixando de lado qualquer que fosse a preocupação para recepcionar o membro mais novo do clã.

— Ah, querida! Você fez muita falta — disse Esme docemente, agarrando-a num abraço quase tão forte quanto o que Emmett tinha dado. 

— Eu também, mãe. — Wendy retribuiu o enlace, aproveitando o abraço que apenas uma mãe daria.

— É. Todos nós quase enlouquecemos com o Emmett. — Carlisle também a abraçou. No entanto, foi um abraço menos demorado e mais leve que os outros. Mesmo assim, Wendy sentiu o amor brilhar nos olhos dourados. 

— Estou furiosa com você — avisou Alice, aproximando-se. — Como ousa voltar para casa e não fazer uma mísera ligação para avisar? 

— Achei que você tinha visto — explicou-se, indo em direção à vampira baixinha. 

— Bem, não vi. — Ela fez um bico. — Ultimamente, estou perdendo muita coisa. 

— Bem-vinda ao mundo real — gracejou Wendy, puxando Alice para dar um abraço. 

Edward e Bella estavam mais atrás, esperando a vez para cumprimentá-la, e ela estranhou um detalhe. 

— Onde está o Jasper? 

— Ele vai voltar logo — explicou Edward, bagunçando seus cabelos.  

— Vão me explicar? Eu já soube que tem algo a ver com a Bella. Aprontou muito na minha saída, Swan? 

— Sempre é algo a ver comigo — respondeu a humana com um sorriso triste no rosto.

Wendy, por um minuto, sentiu alguma pena. Ela não ia discordar do que Bella disse, porque era verdade. Ela não seria hipócrita de dizer o contrário. Não era extremista como Rosalie, mas tinha consciência de que todos os problemas da sua família giravam em torno dela. Era angustiante às vezes ter que pensar na segurança de outra pessoa o tempo todo, caçar inimigos e deixar sua vida de lado. No entanto, gostava da garota. Então dava seu máximo para ajudar. 

Edward não gostou dos seus pensamentos e a encarou com irritação, fazendo com que ela revirasse os olhos.

— Relaxa. Vamos resolver isso. — Wendy se encaminhou para se sentar no sofá após tentar animar Bella.

— O Jake me falou que o Paul acordou… Eu fui até a Emily, mas não quis incomodar.

— É, eu te ouvi. Mas achei melhor não sair do lado do Paul.

— Eu pensei em visitar — avisou Bella, mordendo o lábio inferior. — O Jake achou melhor que eu não fosse. 

— Por que eu estava lá? — Ela abriu um sorriso malicioso. Era muito prepotente da parte daquele lobo achar que logo ela era um perigo para Bella. 

— Paul e eu não temos o melhor dos relacionamentos. E ele é, bem… 

— Eu entendi — replicou a Cullen, rindo. 

— E como ele está? — Carlisle parecia genuinamente preocupado. 

— Está bem. Raivoso como sempre, mas bem. Aquele ali é duro na queda — contou Wendy, lembrando do que tinha acontecido quando ele acordou. — Decidimos ser amigos. 

Emmett abriu a boca para caçoar, mas ela se adiantou. 

— Não quero falar sobre isso agora. Além do mais, temos assuntos mais urgentes para tratar. 

A última frase dita por Wendy foi uma maneira de distrair sua vítima. Queria pegá-la desprevenida, achando que ela se encontrava dando mais atenção à conversa do que, de fato, estava. Logo que ela ouviu Jasper se aproximando, preparou seu corpo para pular sobre o loiro.

— Há — gritou ela, assim que ele pulou a janela para entrar. 

Jasper a pegou no ar e a derrubou no chão, mas antes que ela se esborrachasse, ele a segurou com um sorriso matreiro no rosto. 

— Ah! Mas que grande pedaço de mer-...

— Wendy! — gritou Esme, ultrajada. 

A garota ignorou, e preferiu lançar um olhar rabugento para o Hale — que ainda a segurava. 

— Eu passei dias fora! Você devia ter piedade, e ter ao menos fingido que eu te peguei de surpresa — disse ela, indignada, desprendendo-se e se firmando em pé.

— Não. Gosto de ver você tentar. 

Wendy riu em ultraje e abraçou seu irmão. 

— Babaca — sussurrou ela. 

— Eu sei que estamos felizes que Wendy está de volta. Eu também estou. Mas as vidas da Bella e do Charlie foram colocadas em risco hoje, e temos que dar um jeito nisso — interrompeu Edward. 

— Ah, por favor! — Rosalie não conseguiu esconder o desdém. 

— Edward tem razão. Não sabemos nada sobre esse intruso. O rastro dele sumiu alguns quilômetros longe da casa da Bella. — Jasper voltou a sua postura séria de sempre, como se estivesse em posição de sentido.

— Então um nômade? — sugeriu Carlisle, mesmo que, no fundo, ele não acreditasse nessa possibilidade. 

— Um nômade não deixaria o pai da Bella vivo.

— Victoria? — perguntou Bella, ansiosa. 

— Não. Alice teria visto. — O namorado da humana afagou o braço dela.

— Os Volturi? — arriscou Emmett, cruzando os braços. 

— Eu teria visto. — Alice tinha um olhar frustrado no rosto. — É alguém novo. Alguém que sabe do ponto fraco das minhas visões. 

Todos ficaram em silêncio por alguns instantes. Contemplando o mais novo problema que tiraria suas noites de sono — isso se eles dormissem. 

— Então o que vamos fazer? — pronunciou-se a matriarca.

Wendy voltou o seu olhar para Jasper — que era o estrategista da família, esperando que ele os direcionasse. Percebeu que os outros fizeram o mesmo. 

— Vamos montar vigia na casa da Bella — declarou o loiro, pensativo. — Algum de nós vai ter que ficar de olho no Charlie durante o dia, e a Bella vai ter que estar com alguém o tempo todo. Quando o intruso voltar... Se ele voltar, estaremos prontos. 

— Vocês não podem. — Bella tremulou, passando os olhos pelos rostos de cada um deles. — E como vão cuidar da sua alimentação? Entre procurar pelo intruso, vigiar o Charlie…

— Perseguir Victoria... — lembrou Rosalie, insatisfeita. 

— Vocês não podem — repetiu a humana, desesperada ao ver os olhos negros de todos os Cullen. 

Wendy sentiu sua garganta queimar ao se lembrar da última vez que tinha se alimentado. Semanas. 

— Bella, amor, não vou te deixar indefesa aqui.

— Eu não vou deixar você morrer de fome — rebateu a Swan. — E eu não estaria desprotegida…

A caçula dos Cullens franziu o cenho, prevendo o que sairia da boca dela. Ela parecia ter sido a única que esperava que Bella tocasse no nome dos lobos. Mais especificamente, no nome de Jacob Black.

— Eu tenho… — Ao ler os pensamentos da irmã, Edward lançou um olhar rígido para Bella, que pausou no meio de sua frase, incerta se iria ou não se indispor com o namorado. 

— O quê? — O leitor de mentes fez uma careta de desgosto. 

Bella fez um gesto com a cabeça, e Wendy resolveu ajudar.

— Os lobos? — perguntou Wendy, sorrindo largo. 

— Bom, vai isso vai ser bom — anunciou Emmett, espreguiçando-se. — Assim vamos conhecer o seu novo cachorro. 

— Emmett… — Ela rosnou alto, e disparou para cima do irmão. 

   ☀

Wendy esperou passar algumas horas depois do amanhecer para ir esperar Paul na fronteira. Ela ia cumprir o acordo deles de se verem com frequência, e ia tentar ao máximo fazer com que virassem amigos. Ela continuava a se sentir um pouco culpada por Paul depender dela para viver, mas ela prometeu que, mesmo estando por perto, facilitaria a vida dele. Não que Paul de fato merecesse. Era um cabeça quente teimoso que conseguia irritá-la profundamente, mas ela queria muito que ele não fosse tão avesso à presença dela. 

Ela ficou surpresa ao chegar até lá e vê-lo encostado numa árvore. Realmente não esperava que ele movesse o traseiro dele para encontrá-la. Pensava que ia ter que pedir para um dos outros lobos que a acompanhasse até a casa de Sam novamente. 

— Vejo que você já está recuperado — disse ela, aproximando-se. 

Ele sorriu, desencostando-se da árvore, e Wendy deu uma checada discreta em seu abdômen exposto. 

— Estou pronto para outra — respondeu ele, fingindo animação. 

Ela revirou os olhos. 

— Você só brinca desse jeito porque não viu a situação que estava quando cheguei. — Ela colocou a mão na cintura. — Estava horripilante. 

— Gosto da sua escolha de palavra — rebateu ele, cruzando os braços e flexionando os músculos. 

Wendy se controlou para não encarar aqueles bíceps gigantes, que, do nada, pareceram extremamente atraentes para ela. 

— Você é um idiota. 

— É o que dizem. — Ele deu de ombros. — Mas não pode esquecer de gostoso. 

Ele era gostoso, Wendy admitia isso. Ela nunca havia encontrado alguém do sexo masculino que fosse tão sexy e tão viril, admitiu também. No entanto, não aumentaria o ego dele — que já era enorme. 

— Você devia vender essa autoestima toda. Ia ficar milionário. 

— Vou pensar bem nisso — disse ele, sorrindo de canto. — Mas não acho que o mundo esteja preparado. 

Wendy riu. 

— Pode apostar. 

— O que sabe sobre a ida do Jacob até a casa da Bella hoje? — indagou Paul, mudando de assunto. 

— Hã…

— Eu vou saber de qualquer maneira. 

— Um intruso entrou na casa da Bella. A sorte é que ela não estava lá, mas o Charlie estava — contou ela.

— O chefe está bem? — Ele conteve uma careta ao perceber que tinha soado preocupado. 

— Está, e isso é o que é mais estranho. 

— Por quê? — inquiriu Paul, confuso. 

— Vampiros não invadem casas e deixam as vítimas vivas. Os outros na minha espécie não tem apreço pela vida humana como a minha família, e nunca deixariam alguém vivo. A não ser… 

 Wendy levou o polegar até a boca, e mordeu a unha algumas vezes. 

— O quê?

— A não ser que ele planeje voltar. 

— Se ele quer voltar, ele não iria desejar ter chamado atenção — conclui o lobo, balançando a cabeça ao entender. — E o que vocês vão fazer?

— Vamos vigiar a casa da Bella. Se ele voltar, vamos estar lá para proteger ela e o Charlie.

— Vou ajudar — anunciou Paul, determinado. — Me coloque nisso. Podemos fazer os turnos juntos. 

— Não…

— Você falou que vamos ser amigos. Amigos se ajudam — alegou ele, interrompendo-a. 

Ela bufou alto. 

— O que eu ia dizer e você me atrapalhou, é que não precisa se preocupar com isso. Jacob foi à casa da Bella hoje, porque ela o chamou para pedir ajuda.

— Ah, então nós estamos nessa? 

— Parece que sim… E por que você está tão animado?

— É sempre bom ter alguma ação.

Wendy fingiu uma tosse. 

— Você é maluco. 

— Já discutimos isso antes — avisou ele, arqueando a sobrancelha. 

— Cala a boca.