Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 10
"Eu não vou voltar"




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Capítulo 9 

por N.C Earnshaw

 

WENDY FITAVA A JANELA do seu quarto de hotel com um olhar desinteressado. O tédio de estar longe da sua família estava deixando-a em um péssimo humor. Sendo assim, evitava ficar muito perto dos humanos ou sair do hotel com tanta frequência. 

Toda vez que saía para observar as ruas, lembrava de algum membro da sua família e ficava triste. Era insuportável pensar em fazer compras sem Alice, entediante ir ao salão sem Rosalie, e melancólico olhar lojas de decoração sem Esme. Ali também não tinha Jasper para jogar xadrez, ou Edward para encher a paciência. E, principalmente, Emmett não estava ali para ser seu parceiro em travessuras. Tudo era tão sombrio sem eles, que fazia Wendy pensar o quão triste era a vida de seres imortais, como ela, que não tinham alguém para compartilhar.

Wendy suspirou alto ao observar a vida caótica que os nova-iorquinos levavam. As pessoas aceleradas sem parar para observar a paisagem, esbarrando em outros tão apressados quanto, sem ter contato olho no olho com ninguém, focados em suas atividades e em seus celulares, com seus cafés expressos nas mãos, enquanto corriam para seus destinos. Tudo aquilo a entediava, pois, não tinha nada em Nova Iorque que ela não tivesse visto ou visitado antes.

Ela se levantou da poltrona que ficava perto da janela, e resolveu se arrumar para fingir para os funcionários do hotel que estava indo fazer suas refeições fora. Era a única maneira de disfarçar o fato de que ela nunca pedia comida.

O quarto que ela estava era gigante, com uma cama dossel confortável — que ela não usava, um sofá e TV por assinatura — que ela não tinha mínima vontade de assistir, e um banheiro com hidromassagem que ela até agradecia por ter. 

Seu telefone celular tocou na mesinha de cabeceira, interrompendo sua reclamação mental. O som de “I Won’t Give Up” ecoando por todo o lugar. A letra era uma das mais românticas que ela já tinha ouvido neste século. E atualmente, era sua música favorita, apesar de sua vida não ter nada a ver com o que havia dito nela. A garota da música era determinada. Ela amava com toda a sua alma. Não desistia do amor, mesmo que ele a pedisse espaço, mesmo que ele a mandasse embora. A garota da música esperava pacientemente. 

Wendy não era, nem um pouco, parecida com ela. Assim que a chance de encontrar o amor apareceu, ela foi rejeitada. Pior. Ela entregou a escolha sobre o seu destino nas mãos de alguém que não teve a mínima consideração. Não tinha a opção de esperar ou não.

Wendy andou até o celular em passos humanos e lentos. Uma súbita onda de tristeza apertou o seu coração. Ela sabia que era saudade. Assim como admitia que não era saudade de casa ou de sua família, mas de algo que nunca chegaria a ter. Amor. 

Ela mordeu a bochecha, tentando afastar esses pensamentos. Estava muito melancólica, e esperava que algum dos seus irmãos estivesse ligando para reclamar de saudades.

Apenas Emmett tinha ligado 3 ou 4 vezes todos os dias desde a sua partida, fazendo com que Wendy surtasse — apesar de amar conversar com o irmão. Em todas as ligações ele fazia um drama danado. Como sentia a falta dela, como Bella tinha sido engraçada, e ela não estava lá para rir com ele, como Rosalie tinha ameaçado quebrar seu celular por ligar para ela tantas vezes e, por último, ele implorava para ela voltar. Quando ela recusava, ele ameaçava quebrar todas as suas coisas se ela não retornasse. 

Wendy ria divertida e dizia que estava muito bem onde estava, e que não era a primeira vez que ela viajava para longe deles. Esme também ligava e ela dizia a mesma coisa, que estava bem. 

Todos sabiam que era mentira.

A vampira tinha se sacrificado indo embora, entretanto, não queria de fato se afastar de todos.

Droga. Isso que dava ser tão boa para todo mundo. Ela sempre acabava em maus lençóis no final.  

Pegou o celular nas mãos e se surpreendeu ao ver o nome de Bella brilhando na tela. Instintivamente ela tencionou todo o corpo, lembrando-se da ameaça de Victoria que sua família estava enfrentando.

Nervosa, ela apertou o botão de atender.

 — Oi, Bella! Aconteceu alguma coisa? — falou Wendy imediatamente ao encostar o celular na orelha. O corpo tenso em ansiedade. Se algo tivesse acontecido em sua ausência com algum deles, ela nunca iria se perdoar. 

— Ah! O-oi, Wendy. — Bella gaguejou. Parecia nervosa. Ela conseguia ouvir a respiração pesada dela no outro lado. — Não aconteceu nada. Quer dizer… Aconteceu algo, sim. 

Ela semicerrou os olhos, estranhando o jeito da humana. No entanto, sua mente se iluminou ao lembrar de algo.

— Espero que não esteja com muita raiva de mim por eu ter ido embora sem me despedir de você — comentou a vampira, tentando soar brincalhona, mas sem conseguir esconder a pitada de culpa que saiu em sua voz. Ouvir sua amiga humana depois de dias, trouxe uma onda de arrependimento. Queria ter dado uma abraço nela antes de ter partido, e dito o quanto a amava. 

— Bem, se quer mesmo saber, eu estou irada. — Bella retorquiu na lata. — Mas não é para falar sobre isso que eu liguei. 

— Sobre o que é? — perguntou a vampira, curiosa. — Não aconteceu nada com a nossa família, não é? Você e o Edward estão bem?

— Sim, está tudo perfeito com eles, comigo… Wen, é sobre outra pessoa que eu queria falar.

— Tudo bem — concordou ela, mesmo que um pressentimento de que sabia exatamente de quem ela ia falar a cutucasse. — Pode falar. 

— Jacob veio aqui em casa e… — Bella começou nervosa. Wendy podia imaginar ela mordendo os lábios e franzindo o cenho. Ela deu uma risadinha triste. 

— É algo sobre o Paul? — chutou a vampira. No entanto, estava torcendo para não ser sobre ele. Wendy sabia que era a culpada por ter ido embora, mas a facilidade com que ele a rejeitou, deixou a garota um tanto magoada. 

— É, isso mesmo. — A Swan pareceu ficar um pouco mais animada.. — É sobre o Paul. 

— Eu não quero mais falar sobre ele, Bells — disse Wendy, tristonha, passando a mão pelos cabelos. 

— É importante, eu prometo. Se não fosse eu não te incomodaria, você sabe disso.

Ela pensou em desligar. Fingir que o sinal havia caído e quebrar o celular em pedacinhos, assim não precisaria ouvir nada do que a outra garota diria. Quando ela fez a sua promessa a ele, prometeu desaparecer e prometeu nunca buscar por informações da vida dele também.

— Ok — concedeu Wendy, balançando a cabeça, mesmo sabendo que Bella não veria pelo celular. 

— O Jake veio aqui em casa, desesperado, pedindo para que eu te ligasse porque… — Ela pausou antes de continuar, parecendo pensar melhor no que ia dizer. — Ele disse que o Paul está mal, e que você precisa voltar para Forks urgente. 

Wendy soltou uma risada debochada. Sua bondade tinha limite, e aquele estava sendo o seu. 

— Ele só pode estar me achando com cara de idiota! Olha, Bella, diz para o seu amiguinho que eu não sou um cão para ficar recebendo ordens! Pede também para ele dizer para o Paul que ele fez a merda da escolha dele. Que eu não vou ser um brinquedinho que ele joga fora e depois que se arrepende, quer de volta. Ele me mandou embora! Ele tem nojo de mim, Bella. Nojo! Quando eu falei que ia sumir para sempre ele nem se importou! Então, não. Eu. Não. Vou. Voltar — desabafou ela, alterada. Wendy sentiu uma súbita vontade de gritar. Com a raiva que estava, certamente gritaria mais alto que uma banshee.

Ela ouviu silêncio do outro lado da ligação por algum tempo, e resolveu desligar. Depois ligaria de volta para Bella e pediria desculpa. Mas, antes que apertasse o botão, ouviu uma confusão do outro lado do celular e uma voz grossa, claramente masculina, falar. 

— Olha aqui, sua sanguessuga egoísta, acho melhor você arrumar suas malas e dar um jeito de chegar em Forks o mais rápido possível, ou… 

Ela na mesma hora reconheceu a voz de Jacob Black. 

 — Ou o quê? — desafiou Wendy, interrompendo-o. Não iria aguentar desaforos de mais um lobo. 

Ela ouviu um grunhido de insatisfação vindo do outro lado da linha. 

— Você não vai gostar muito das consequências. Como será que sua família vai reagir quando chegarmos e pegarmos eles despreparados dentro de casa, hein? — ameaçou ele rudemente. 

— Vocês não quebrariam o tratado desse jeito. — Wendy retrucou, mesmo que temerosa. Sabia que sua família conseguiria vencer os lobos, mas não sem perder pelo menos um membro. 

— Você acha que não? — Jacob soltou uma risada sarcástica. — Se ele morrer…

 — Do que você está falando, cachorro? — cortou ela com tom de voz assustado. — Quem vai morrer? Não está falando do…

 — Sim, é do Paul que eu estou falando — Ele continuou quando a vampira não terminou a frase. — O imbecil do Paul está… 

Ela ouviu o lobo respirar fundo. 

— Olha, Cullen, eu sei que você não é uma má sangue-... vampira. E que o Paul pisou na bola ao ter te mandado embora daquele jeito, você não sabia e o cara é um palerma. Eu até admiro você ter deixado tudo para trás só para ajudar ele, mas foi um erro você ter ido embora — explicou ele, forçando educação. Se Wendy não estivesse tão preocupada, riria. 

Ela abriu a boca em choque, entendendo aonde ele queria chegar com tudo aquilo. 

— Está me dizendo que ele está morrendo por que eu fui embora? — A incredulidade deixou sua voz mais aguda.

Ela ouviu uma risada curta. 

— A Bella disse mesmo que você é boa em adivinhar o que os outros querem dizer. Vai ser bom para você. Com o Paul tem que saber traduzir urros e grunhidos, então você já tem uma vantagem — comentou Jacob, irônico. 

— O que aconteceu com ele? — Wendy ignorou o gracejo, ainda perturbada com a revelação

— O imprinting é uma magia muito poderosa, e o Paul fez a maior bagunça. Rejeitar você está acabando com ele, e o desgraçado só consegue gritar seu nome. Nós temos que segurar ele pra que ele não se machuque dormindo — contou Jacob, pesaroso. 

— Dormindo? Então vocês apagaram ele? — Ela tamborilou os dedos na janela.

— Que nada. Ele não acorda há dias. Tentamos de tudo e não funcionou, então o Sam me mandou vir até a casa da Bella para tentar falar com você. 

— Já pensaram em levá-lo a um médico? — sugeriu Wendy cautelosamente. — Se não, eu posso pedir para o Carlisle que…

— Nós sabemos muito bem o que é, e o que ele precisa — interrompeu ele, seco. — A vida dele está em suas mãos, vampira. Vai vir ou não? 

Wendy sentia a impaciência no seu tom de voz, e não levou nem um segundo antes de falar.

— Chego aí em algumas horas. 

  ☀

Wendy havia chegado ao aeroporto de Port Angeles há poucos minutos. Ela havia pago quase uma fortuna pelo voo de Nova Iorque até Seattle — já que comprou de última hora, e mais um pouco pelo segundo voo de Seattle para Port Angeles. Mas ela não se importava com o dinheiro. Pagaria milhões, se fosse preciso, para chegar mais rápido até a reserva. 

Dez horas e cinquenta e quatro minutos. 

Dez horas, cinquenta quatro minutos e doze segundos. Treze. Catorze. 

A angústia estava corroendo-a, assim como a raiva, durante todo o tempo, desde que Jacob Black desligou a chamada. 

Wendy agora sabia que ela não tinha salvo a vida de Paul indo embora. Ela não tinha se sacrificado para fazê-lo feliz. A partida dela somente trouxe dor e sofrimento — aparentemente uma quase morte. Mas isso ela tentaria evitar de qualquer jeito. 

A garota não pensava que poderia ficar mais magoada com o lobo que teve o imprinting por ela. Um lobo que tinha nome. Paul. E que tinha escolhido morrer ao invés de ficar com ela. 

A morte era melhor para ele, do que tê-la por perto. 

Céus

Ela não conseguia controlar a tristeza profunda que tomava conta do seu coração. 

Com apenas uma mochila na mão, Wendy pegou um táxi até uma lojinha de conveniência perto da floresta, e assim que percebeu que ninguém estava olhando, jogou a mochila em uma lixeira próxima e se infiltrou no meio das árvores, disparando. As únicas coisas que ela tinha consigo eram o celular e os documentos, que estavam bem seguros nos bolsos traseiros de suas calças.

A vampira nem pensou na possibilidade de passar em casa antes para falar com sua família. A preocupação que sentia com o estado de Paul a consumia, e ela se esforçava ao máximo para chegar até a fronteira de La Push o mais rápido possível.

Wendy era a segunda mais rápida da família, perdendo apenas para o seu irmão, Edward. Entretanto, naquele momento, tinha certeza que se estivesse competindo com ele, Edward perderia feio essa corrida.

Ao chegar até o limite delimitado pelo tratado, ela refletiu se deveria ultrapassar, ou esperar que algum dos lobos a visse ali. Contudo, assim que ela pensou em levantar um pé para tocar o outro lado, um garoto sem camisa surgiu gritando. 

— Ei, vampira, me segue! 

Wendy arqueou as sobrancelhas ao vê-lo se exibir e se transformar no ar em um lobo gigante. Ela não estava surpresa em ver os músculos firmes e o tanquinho à mostra — sabia que todos os garotos eram assim, ele estava sem camisa e tinha percebido que eles gostavam de se exibir. O fedor deles não evitava a surpresa da vampira. Estava chocada com os bons genes que aqueles lobos tinham. Eles eram espécimes atraentes. Quase tão atraentes quanto vampiros, até. 

O lobo grunhiu para ela e balançou a cabeça, começando a correr. Wendy deu de ombros ao ouvir os rosnados de acusação que ele a lançava, e o seguiu de perto sem hesitar. Ela percebeu o lobo dando olhadas de canto por todo o caminho. Às vezes como se desconfiasse que ela fosse atacar. E outra vezes, observando-a com pura curiosidade. 

Ele parou de súbito. Wendy estacou bem ao lado dele, mais próxima do que chegaria normalmente, e o olhou, confusa. 

— Por que paramos? — perguntou ela, ansiosa. 

O lobo somente deu as costas e foi para trás de uma árvore grossa, ignorando-a. Ao ouvir um farfalhar de roupas sendo colocadas, Wendy deduziu que ele havia voltado a se transformar em humano. Entretanto, o que a deixava em dúvida era que ela tinha visto ele destruir suas roupas quando havia se transformado antes. Então como…

“Eles devem ter roupas espalhadas por todo canto”, pensou ela, dando de ombros novamente.

O garoto ficou em dúvida antes de se aproximar, só de bermuda e com o peito todo de fora, lembrava exatamente a forma que Paul estava quando se encontraram pela última vez. 

— Então você que é a vampira do Paul? — indagou ele interessado. 

— Acho que sim. — A incerteza tomou conta da sua voz.

Ele a olhou de cima a baixo, conferindo. 

— Até que você não é nada mal — admitiu ele. 

Wendy bufou alto, divertida. 

— Eu sou Jared, melhor amigo do Paul. — Ele ergueu a mão para cumprimentá-la.

Ela aceitou o gesto, e apertou a mão dele de volta. 

— Eu sou Wendy. 

Eles soltaram as mãos rapidamente — ambos estranhando o contato de corpos com temperaturas tão diferentes. Também querendo evitar que o cheiro um do outro impregnasse suas mãos. 

Wendy havia gostado de Jared, já que esperava uma recepção muito mais hostil. Ele chegava a tratá-la com gentileza, então não conseguiu evitar gostar do garoto. 

— Ah! Eu sei muito bem — disse Jared, com um sorriso cansado. — Ele não para de gritar seu nome. 

Wendy abriu a boca, surpresa. 

— Oh... — Foi o único som que saiu dos seus lábios. Como se respondia a uma coisa dessas? Ela não fazia ideia. Ainda mais quando seu coração se quebrava ao ouvir a tortura que Paul se pôs ao mandá-la embora.

— Vem, vamos lá. — Ele começou a andar sem verificar se ela estava andando atrás dele.

— Está me levando até o Paul? — conferiu ela, seguindo-o.  

Jared não a respondeu, somente continuou a andar até que eles pudessem enxergar uma casa com uma aparência bem aconchegante. Ela era toda de madeira e sem tintura, dando um ar rústico de cabana para a construção. No entanto, parecia muito maior que uma cabana comum, tinha dois andares e era bem larga. A frente da casa tinha uma escada de três pisos que levavam à porta de entrada. Aquilo deixou Wendy encantada. Tudo ali era tão mágico e romântico. Ela quase podia se imaginar vivendo em um lugar assim.

Sua atenção foi retirada da casa ao ver um homem gigante parado na porta, aguardando-a. Wendy sabia que ele a aguardava, porque estava a encarando o tempo todo, nem ao menos desviou os olhos para Jared. 

Diferente dos outros que ela conheceu até ali, aquele homem tinha um ar de autoridade. 

— Esse é o Sam. Ele é o alfa do nosso bando — explicou Jared antes de olhar para o outro homem e se enfiar na casa, desaparecendo da sua linha de visão. 

Wendy ficou parada onde estava, não querendo fazer nada que ele considerasse agressivo. Então foi Sam que se aproximou. 

— Fico feliz que tenha vindo — pronunciou-se ele. A voz era grave e opressiva, mas Wendy não se assustava tão fácil. 

— É… Achou que eu não viria? — Ela empinou o nariz, desafiando-o. Sabia claramente o que os lobos pensavam dela. Nada de bom.

— Não — respondeu ele sem titubear. — Eu tinha certeza que viria. 

Um silêncio desconfortável se impôs entre os dois.

— O Paul está lá dentro? — indagou Wendy, mais para quebrar o silêncio. Ela sabia que ele estava lá. Podia ouvir o coração dele batendo, e o cheiro dele era inconfundível mesmo daquela distância.

Sam assentiu, e ela se moveu para ir até à casa.

— Antes que você entre... — alertou o lobo. — Quero que tenha algo em mente.

— Sim? — inquiriu ela desconfortável. Aceitaria qualquer coisa para se ver livre dele. 

— Meu imprinting mora nessa casa. Se por um algum instante você sequer…

— Não se preocupe — cortou ela bruscamente. — Não vim aqui para atacar ninguém. Sua mulher está segura. 

O alfa assentiu novamente, e acenou com a cabeça para que ela o seguisse para dentro. 

Assim que ela pisou os pés na entrada, um cheiro forte de cachorro molhado atingiu suas narinas, fazendo com que ela fizesse uma careta incomodada. 

— Você também não cheira a rosas. — Jared estava sentado na mesa com alguns rapazes; aos quais encaravam-na em choque.

Wendy apenas revirou os olhos. 

 Uma mulher — humana, ela concluiu pelo cheiro, aproximou-se com um sorriso, e a vampira disfarçou a surpresa. Em um lado do rosto dela, uma cicatriz enorme rasgava sua pele de uma forma grotesca. Mas, apesar de ter alterado sua aparência, Wendy conseguiu enxergar uma beleza exótica ali. Uma força que só tinha visto em poucas pessoas.

— Vamos — grunhiu Sam ao perceber o que ela estava encarando. 

Wendy sorriu para a mulher antes de segui-lo novamente, pois ela parecia ser alguém gentil e de coração leve. E a Cullen gostava de gente assim. 

O corredor era íngreme, contudo, cabia duas pessoas lado a lado. A garota não simpatizou com Sam como tinha feito com Jared, então seguiu atrás dele, instintivamente esperando um golpe que não viria.

Ele parou em frente à porta de um quarto. Era pintada de verde, e dava para ver a tinta descascando nos cantos. Wendy conseguia ouvir o coração de Paul pulsando lá dentro em um ritmo mais acelerado do que o normal. 

Sam a deu espaço, oferecendo que ela abrisse a porta.

Ela hesitou por alguns segundos. Estava nervosa sobre o estado que iria encontrá-lo.

Girou a maçaneta lentamente. Wendy esperava que a porta rangesse, entretanto, aparentemente tinham colocado algum óleo para que não o fizesse. O espaço aberto revelou a figura musculosa de Paul encolhido numa cama de solteiro pequena demais para o seu corpo grande. 

— Oh, céus! — lamentou ela ao se aproximar.

As mãos de Paul estavam amarradas as beiradas da cama, as unhas sujas com um sangue velho e seco, o corpo coberto de suor e o rosto contorcido em dor. 

— Tivemos que amarrá-lo — contou Sam pesaroso. — Ele estava usando as unhas para se machucar, mas mesmo usando as cordas, ele sempre consegue se soltar. 

Wendy não falou nada, agachou-se ao lado do garoto deitado na cama, e com cuidado, quebrou as cordas que amarravam seus braços. Ele não precisaria mais daquilo. Após livrá-lo, pegou um pano que estava ao lado no corpo dele, e começou a limpar o suor da sua testa devagar.

— Wendy… — sussurrou ele, fraco.

— Você vai ficar bem — prometeu a vampira. — Você vai ficar bem, Paul.

 

 


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