Durante o caminho até o dormitório nada foi dito, porém, às vezes Ochako percebia Katsuki a olhando e tentando disfarçar.

— Finalmente chegaram. — Iida suspirou aliviado ao ver os dois entrarem no dormitório.

— Espera, vocês estavam juntos? — Mina pronunciou de uma maneira sugestiva.

— Te interessa? — Bakugou resmungou irritado, como sempre. O que tirou um sorriso pervertido da rosada.

— Bom, já que vocês estão atrasados vou ter que repetir o que o Aizawa-sensei me passou. Aparentemente as pessoas poderão votar no melhor evento e a sala com mais votos irá  ganhar uma viagem para o próximo fim de semana.

Foi então que tudo ficou mais interessante, os espíritos competitivos de todos ali se afloraram. Aquela turma realmente adorava um desafio, mas Bakugou nem deu muita importância para o falatório do representante. Ficou imaginando que ficaria bem se apenas decorasse suas falas e seguisse o roteiro, e pensando em como seu dias seriam agitados dali para frente com toda essa história. Teria que lidar com muitas pessoas e isso certamente iria estressá-lo, fora que teria que ensaiar junto com a Cara de lua — Bochechas como prefere ser chamada. O garoto despertou de seu transe assim que ouviu a voz de seu amigo Kirishima.

— Eu acho que deveria rolar um beijo. — O garoto de cabelos vermelhos disse em um tom brincalhão.

— Que porra você tá falando, Cabelo de Merda? — Bakugou se aproximava do amigo com o punho cerrado estalando os dedos, em forma de ameaça.

— Calma aí, Bro! Eu tava só brincando. — Kirishima gargalhava.

— Não seria uma ideia ruim... É algo que vai prender a atenção do nosso público, eles iriam gostar disso. — Iida comentou com a mão no queixo de forma pensativa.

— Iida-Kun, você não está realmente considerando essa sugestão, está? — Ochako indagou surpresa pela atitude inesperada de seu amigo, mas ao mesmo tempo receosa.

— Claro que isso só seria possível se ambos concordassem, não podemos forçá-los a fazerem algo que não queiram.

Uraraka não queria demonstrar, mas aquilo realmente a deixava inquieta. Nunca havia beijado alguém antes, muito menos na frente de um palco! Com centenas de pessoas os observando! A garota podia sentir suas mãos suando com nervosismo.

E seu primeiro beijo ser com Bakugou era algo que certamente não estava nos seus planos, não que ele não fosse bonito, muito pelo contrário, sempre o achou lindo, e há alguns meses passou até a achá-lo sexy —  principalmente durante os treinos — , mas pensou que provavelmente eram só os hormônios da idade. Afinal, a personalidade do rapaz, apesar de tudo, ainda deixava a desejar.

— Vocês não precisam se beijar de verdade, só um selar perto da boca, o público não iria estar perto o suficiente para perceber que não é real, só precisam dar a entender que aconteceu. Tudo bem assim para vocês? — sugeriu Todoroki.

Bakugou não pareceu se importar muito com aquela sugestão, apenas deu de ombros, mostrando que para ele tanto faz. O que não era verdade, já que ficava intrigado quando junto a Uraraka, e a reação negativa dela sobre o beijo o fez se questionar.

Será que ela não tinha um pingo de interesse nele? Havia algo de errado nele que ela não gostava? Não era bonito o suficiente para que ela quisesse beijá-lo? Era carrancudo demais? 
Várias perguntas rodeadas de muita insegurança passavam pela mente do rapaz.

— S-se esse for o caso, então não me oponho. — A morena gaguejou corada desviando o olhar para seus próprios pés e Bakugou deixou escapar um sorriso aliviado, que por sorte não foi visto por ninguém ali.

A jovem recebeu alguns olhares surpresos de suas amigas, mas apenas os ignorou.

[...]

Mais tarde, naquela noite, o roteiro já finalizado foi entregue aos atores. A peça era um pouco compacta, devido ao pouco tempo que eles tinham para ensaiar, mas era boa o suficiente para lhes garantir o prêmio, agora, só dependia da parte deles.

Uraraka passou horas e horas lendo todo o roteiro e ensaiando as suas falas em frente ao espelho. Imaginou se seus colegas estariam fazendo a mesma coisa.
Já era um pouco tarde, todos haviam acabado de jantar, e dessa vez Katsuki e Ochako eram os responsáveis pela louça. As tarefas da casa eram divididas diariamente, exceto pela comida, pois alguns de seus colegas eram uma negação na cozinha.

— Bakugou-kun? — Uraraka virou-se para observar o garoto que no momento estava secando e guardando os pratos.

— O que foi? — Ele perguntou jogando o pano de prato acima de seus ombros.

Aquela era uma cena tão casual, Ochako achava no mínimo intrigante como o rapaz era caseiro e organizado, em um certo contraste com sua personalidade tão bruta. Com toda certeza ele seria um ótimo marido e muito divertido. A morena sorriu com esse pensamento.

— Por que raios você tá rindo do vento, Bochechas? 

— Ah...não é nada. — Sorriu envergonhada. Bakugou estranhou o comportamento da garota, mas não disse nada. — Queria saber se você pode me ajudar a ensaiar alguns dos nossos diálogos, é meio estranho ensaiar com o espelho, sabe... eles não respondem. — Ochako riu e coçou a nuca.

— Tudo bem, vamos lá fora assim que terminarmos por aqui.

Uraraka terminou de lavar a louça primeiro, então sentou-se à mesa para esperar o garoto, apoiando seu rosto em suas duas mãos enquanto o observava.

— Você pode buscar o meu roteiro lá em cima já que não tá fazendo nada.

— No seu quarto? — Sua voz saiu um um pouco mais surpresa do que deveria, não era qualquer um que entrava no quarto do rapaz, era como uma área restrita para todos do dormitório e ele simplesmente a mandou ir lá.

— Não, eu larguei no meio do corredor. É claro que é no meu quarto, idiota.

Uraraka revirou os olhos automaticamente, não era algo que ela fazia com muita frequência, então o rapaz soltou um riso fraco ao perceber. Até que a companhia da garota não era tão ruim assim.

Ao chegar no quarto de Bakugou a garota não se conteve em analisar o local, era um quarto comum, muito limpo por sinal, e ele tinha uma televisão no próprio quarto com um videogame. 

Uau, ele realmente está em outro patamar. Não é comum que jovens tenham suas próprias televisões e um videogame de última geração. Ou é?

Com esse pensamento a jovem ficou um pouco abalada ao lembrar da situação financeira de sua família. Balançou a cabeça e espalmou seu rosto com suas duas mãos a fim de tirar aqueles pensamentos de sua mente.

— Não é hora pra isso, Ochako — disse para si mesma.

Mal sabia ela que logo ali na porta Bakugou a observava se perguntando o porquê de a garota ter feito um olhar tão triste. Não cabia a ele perguntar algo tão pessoal, mas aquilo certamente ficaria martelando em sua cabeça.

A morena foi em direção a escrivaninha com objetivo achar logo o roteiro, e lá estava ele, dentro da gaveta. Ao pegá-lo acabou derrubando uma foto que estava ali entre os papéis, na foto estava Bakugou e sua família, estavam brigando, mas parecia divertido. Sua mãe realmente se parecia muito com ele, ela era muito bonita.

— Bisbilhotando? — Bakugou finalmente se pronunciou.

— Ah, me desculpa, tava aqui no meio e eu... — Uraraka só queria entrar em um buraco agora para se esconder. Que vergonha!

— Tanto faz, só guarda isso e vamos logo. — Ele sorriu.

Ele sorriu? Bakugou? Não era um sorriso sarcástico nem nada do gênero, era só um sorriso bobo. Uraraka sentiu seu coração fraquejar naquele momento, o que foi aquilo?

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