Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 14
Banheira




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Bruce ajudou o filho a caminhar até o banheiro. Segurou-o pelas mãos como se faz com as crianças pequenas que ainda não sabem andar sozinhas.

Quando chegaram suficientemente perto da banheira ele ajudou Damian a se sentar e, com o mais absoluto cuidado, começou a retirar a tala. Quando terminou, analisou a perna do filho passando a ponta dos dedos pelas cicatrizes...

Onde antes havia o tecido rasgado, com músculo e a ponta de um osso exposto, agora haviam apenas as marcas cicatrizadas. A recuperação foi rápida e de maneira surpreendente, o que não fazia com que aquela imagem horrível fosse simplesmente apagada da memória do mais velho.

— Não dói... — Damian falou em tom baixo, fazendo com que o pai acordasse dos devaneios.

— Não sente nem mesmo um incomodo?

— Nada! — O mais novo sorriu, só fazendo com que o pai ficasse ainda mais estupefato. Bruce não queria que o filho sentisse dor, mas a ausência dela também poderia ser preocupante em vários aspectos.

— Filho, sentiu alguma dor depois que acordou? — Ele perguntou escondendo toda a preocupação que sentia. Aproveitou a distração para começar a tirar o pijama do mesmo enquanto a banheira enchia – Alfred havia o alertado da “timidez extrema” que a criança vinha apresentando.

— Só aqui... — ele colocou a mão sobre o ouvido esquerdo — Incomoda bastante, porque parece ter alguma coisa lá dentro.

— Que tipo de coisa?

— Algum animal pequenininho que fica zumbindo — Damian desviou o olhar — ... As vezes dói muito, tanto que dá vontade de... — subitamente, ele se calou — Deixa pra lá, não é nada demais. Aposto que eu já senti coisas piores antes, só não lembro! — Sorriu, tentando desconversar.

— Filho... — Bruce se abaixou de frente a ele — Estamos todos muito preocupados com você. Não importa se já sentiu algo pior antes, eu quero que me diga o que sente. Preciso saber para poder cuidar de você, está bem? — Ele sorriu, tentando encorajar a criança. Porém, quebrando todas as expectativas, Damian o respondeu com uma pergunta peculiar:

— Promete não me achar estranho?

— Prometo.

— ... Dá vontade de bater minha cabeça em algum lugar com força o suficiente para ela quebrar, só para eu conseguir enfiar meus dedos lá dentro e arrancar esse inseto que fica zumbindo o tempo inteiro. Mas não posso fazer isso, não deu certo quando eu tentei.

Um silêncio visceral se instalou.

Damian encarava o nada.

Bruce o encarava com uma onda de temor percorrendo todo o corpo. Mesmo assim, ele tentou não demonstrar todo o espanto e terminou de tirar as roupas do filho, o ajudando a entrar na banheira depois – aquele silêncio durou o suficiente para que ela terminasse de encher.

— Como...? — Bruce precisou repensar as palavras e reformular a frase até ter certeza absoluta de como indagar: — Filho, como você tem tanta certeza que fez algo desse tipo e que não deu certo?

Damian piscou algumas vezes, custou até conseguir encarar o pai novamente. Ele mexeu no cabelo, onde todos tinham mania de mexer, e então respondeu:

— A cicatriz... — murmurou, passando a ponta dos dedos sobre ela — Acho que eu tentei fazer isso e não deu certo — disse em um tom quase desesperado, com os olhos cheios de lagrimas — Eu sei que já me senti pior, mas eu não quero continuar com esse zumbido e tentar fazer alguma coisa de novo, pai!

Bruce o abraçou.

Damian começou a chorar como quando havia acordado depois de um pesadelo. Estava com medo da própria imaginação — era uma criança, afinal de contas. Uma criança cujo pai não sabia o que era pior: deixar sofrer com a própria imaginação ou com a verdade de que alguém, que não se sabe quem, fez aquilo.

— Prometo que vai ficar tudo bem — Bruce já estava com a voz embargada, a verdade é que ele não tinha o direito de prometer absolutamente nada: já havia falhado antes.

— E se eu fizer de novo!?

— Eu vou estar lá para impedir! — Prometeu, tanto para o filho quanto para si mesmo.

A criança, já esgotada de tanto choro, acabou se forçando recuperar a acalma. Damian acreditava no pai, mas sabia que ele era uma pessoa ocupada e que não poderia ser a prioridade o tempo inteiro – nem dele e nem de ninguém naquela mansão. Restava apenas não dar tanto trabalho, na esperança de que assim conseguisse ter alguém por perto.

Bruce continuou o abraçando, tentando juntar as poucas peças do quebra-cabeça que tinha em mãos. Precisava saber o que aconteceu ao filho; descobrir o culpado, quem tinha quebrado ele; precisava de respostas antes que Damian perguntasse o que aconteceu.

Poucos são verdadeiramente sem humanidade a ponto de fazer mal à uma criança. Debaixo daquela máscara, daquele uniforme, debaixo daquilo tudo que era Robin havia apenas uma criança! Uma criança aparentemente forte, mas apenas uma criança! Como conseguiram olhar para um garotinho e machucar até deixar essas marcas tão fundas? Como continuaram torturando Damian com seus ossos aparecendo!?

— A água está esfriando... — o mais novo sussurrou.

— Água? — Demorou até Bruce se desconectar completamente de seus pensamentos como Batman e voltar a ser unicamente um pai — Claro: a água do banho...

— Isso! — Damian sorriu, achando graça da falta de aptidão que o pai tinha se comparado à Dick — Meu irmão lavou o meu cabelo enquanto eu lavei o resto, pra não demorar muito... — Ele explicou o que Richard havia feito em suas “primeiras lembranças”. Foi o irmão mais velho quem o ajudou a andar e se lavar enquanto o mordomo “aprontava o necessário”. Ele não se lembrava se já tinha tomado outros banhos, assim como não se lembrava de várias coisas.

— Então vamos fazer isso!

Apesar da afirmação, Bruce não tinha a menor ideia do que fazer. Não sabia se poderia usar qualquer um dos produtos em Damian, não sabia nem mesmo onde estavam as toalhas daquele banheiro...

— Pai? — Damian o chamou “de volta a si” novamente.

— Certo... — Ele se levantou, colocou as mãos na cintura e encarou a grande variedade de perfumaria no banheiro — ... Que tal escolher o que quer usar?

Como resposta, o pequeno soltou alguns risos antes de finalmente responder:

— Esponja e aquele frasco grande escrito “sabonete líquido”. Pode ser o de morango, tem cheiro bom.

— Gosta de morangos?

— Eu gosto?

— Eu perguntei primeiro: você gosta? — Bruce desconversou. A verdade é que ele não sabia tantas coisas quanto gostaria.

— Eu não me lembro! — Damian acabou soltando alguns risos — Pai, você é sempre distraído assim? É por isso que as pessoas roubam sua empresa no setor argentino...

— Já vi que te contar histórias sobre suas travessuras não é uma boa ideia! — Bruce disse depois de uma risada disfarçada. Ele estava começando a lavar os cabelos escuros e espetados do filho, tentava ser o mais cuidadoso possível – por mais que qualquer ferimento já estivesse cicatrizado.

— Ei, pai... — Damian chamou mais uma vez — Eu sei fazer alguma coisa?

— Muitas.

— Tipo...? — Ele olhou para cima, fazendo com que Bruce se desesperasse com um “quase acidente de sabão nos olhos”.

— Desenhar. Você desenha perfeitamente, mesmo que só tenha visto uma única vez.

— Mesmo? — A criança sorria admirada consigo mesma, com os olhos verdes brilhando mais uma vez. Estava longe de parecer que estava tão mal momentos atrás.

— Mesmo! — O mais velho sorriu.

— E eu posso tentar desenhar depois do banho!?

— Não.

Resignado, Damian voltou sua atenção para a esponja ensaboada.

— Depois do café-da-manhã, sim.

Damian sorriu novamente, virando a cabeça mais uma vez para o pai.

Novamente, ele quase gerou um “acidente de sabão nos olhos”.


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Notas finais do capítulo

Damian é extremamente talentoso com desenhos. Foi treinado por vários mestres – que, aliás, a mãe dele fez questão de afogar. Isso é comprovado em:
Batman & Robin: Réquiem, nº 18;
Robin, o filho de Batman, nº 4;
Detective Comics nº 1003 (diga-se de passagem, um dos meus arcos preferidos com a “cavaleira da luz”).
Sobre gostar de morangos: se nem mesmo Damian sabe, como eu iria saber? Não é fácil encontrar muitas informações sobre ele sem ser lendo onde ele aparece, mas ele aparecer normalmente não significa algo, já que ele aparentemente “não gosta de nada”.
Sobre o que aconteceu com ele: juntem as pistas e façam suas apostas, pois eu não digo!



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