Você deveria usar uma coroa de flores escrita por Urania


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Estava lendo Rupi Kaur esses dias e acabei escrevendo isso. Espero que gostem.



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Eles às vezes roubam olhares quando ninguém está olhando.

Não é nada demais, mas acontece. Os olhos dele pousam sobre a figura dela, não mais do que três segundos por vez. No último, ela prende seu olhar no dela e o encara de volta.

 

 

Ela e Aang estão passando pela Nação do Fogo para uma negociação de paz, e Zuko anda ocupado demais por esses dias, mas, entre uma reunião com seus conselheiros e um encontro com o Ministro de Relações Exteriores do Reino da Terra, ele organiza um rápido chá com seus velhos amigos.

As mãos dele passam pelas dela quando ele lhe passa uma xícara, e pode ser que ela queira ver algo a mais ali do que realmente há, mas o toque não parece assim tão não intencional. Não é um roçar que se demora. É ligeiro, e ela poderia tê-lo passado por uma mera casualidade se os pés dele não encostassem nos dela por debaixo da mesa.

Ela deixa que seus pés se toquem por um momento antes de retirá-los.

Sua mão encosta na dele quando ela lhe passa o açúcar.

 

 

É o Congresso Anual das Nações.

Ele tenta parecer interessado, mesmo que ela veja as olheiras sob seus olhos, como seus ombros se curvam em fadiga.

Quando Aang discursa sobre o que fazer com os antigos Templos do Ar, Katara o estuda. Zuko percebe o gesto, e ela levanta uma sobrancelha.

O que houve.

Ele faz uma careta.

Ela sorri e ele sorri de volta por pouco mais do que tempo demais.

Aplausos os trazem de volta ao presente. Aang volta a se sentar e ela o parabeniza e segura sua mão embaixo da mesa.

Zuko já voltara a prestar atenção no que o Rei Kuei estava dizendo, e ela não consegue capturar sua atenção pelo resto da reunião.

 

 

Há uma festa no fim do Congresso.

Ela dança com Sokka, quando ele se aproxima. (Ele é muito mais alto do que ela se lembra).

Ele pede uma dança. Ela aceita. Seu irmão vai embora.

A mão dele pega em sua cintura, firme e calejada. São mãos honestas, mãos que revelam a pessoa que ele se tornou, e que são todos os motivos que já lhe causaram vergonha, mas ela sente apenas orgulho quando pensa na pessoa que ele era, e quem ele é.

Os braços dela se enroscam no pescoço dele.

Os olhos dele dizem muito (poderiam contar uma história, se quisessem). A cor dourada a deixa estonteada por um momento e ela nunca é capaz de deixar de reparar em como eles são belos (os dois na mesma medida).

Ele a gira pelo salão por duas vezes, antes de eles decidirem que muito mais do que isso não seria apropriado.

 

 

Ela coloca a mão no braço dele.

(É simples assim. O gesto a faz corar quando se lembra desse deslize).

 

 

Ele senta ao lado dela em uma reunião, e ela pode sentir os ombros dele perto dos seus.

A distância que os separa a deixa mais calma que a proximidade com seu namorado jamais foi capaz de lhe transpassar.

 

 

(Desculpe, Aang. Ela diz depois disso, e as lágrimas dele levam com elas um pedaço do seu coração).

 

 

O gelo da Tribo da Água ainda é tão frio quanto ela se lembra, e mais.

O tempo passa e o tempo cura.

 

 

Mas ela tem mais a oferecer do que permanecer sentada com as pessoas que ama.

Katara viaja só pelo mundo pela primeira vez. Ela muda de nome a cada porto, faz novos amigos em pequenas vilas, adota um gato coruja durante suas expedições no Reino da Terra, vaga com estranhos pelas estradas, não temendo nada além do desconhecido e da solidão, ajuda órfãos de guerra e ganha moedas vendendo suas habilidades de cura.

É uma experiência nova, que a faz lembrar dos velhos tempos.

Ela se sente uma nova pessoa quando retorna para casa.

Ficar parada não mais lhe cabe. Apesar disso, ela espera.

 

 

Outra reunião do pós-guerra.

Aang não lhe dirige o olhar.

Zuko se aproxima dela ao final.

Vamos renovar nosso sistema de saúde, ele diz. (O que ele não diz: há apenas crianças e idosos, estamos à beira de um colapso, ela tinha visto com seus olhos os estragos). Eu pensei que você gostaria de ajudar.

Ela sai no barco com ele ao amanhecer.

 

 

Não é como ela pensa. É difícil e cansativo e ingrato, mais burocrático que manual, mas ela sabe das necessidades das pessoas, entende de cura mais do que de guerra (mesmo que tenha lutado e continuasse lutando pelo seu direito de lutar).

Zuko a ajuda às vezes. Ele senta ao lado dela ao final do dia e faz chá. Não tem um gosto bom, mas a atividade parece lhe ser terapêutica, então ela toma até a última gota.

Eles conversam sobre seus dias durante esse tempo e ele sempre se certifica de ouvi-la quando ela fala.

 

 

Ela invade o escritório dele, um dia, fica em um dos sofás com seus papéis, fazendo planos e organizando. Os dois passam muito tempo em silêncio.

Os passarinhos cantam muito lá fora.

Se ela parar para escutar, ela quase consegue ouvir o que eles querem dizer.

 

 

Ela menciona como gosta de flores do campo e há um vaso delas na sua cabeceira quando ela vai se deitar na próxima noite, e em todas as noites que seguem.

 

 

É inverno, mas não faz muita diferença na Nação do Fogo. Em casa, ela estaria enfurnada em casa com sua avó, costurando dentro de seu iglu. É uma atividade reconfortante que lhe traz paz, mas ela prefere o que está fazendo, sente-se bem e útil e feliz e contente fazendo o que acredita, mas há muito mais a ser feito.

 

 

Seis meses depois, o planejamento foi todo concluído. Eles andam pelo Mercado de Caldera, observando a multidão e há tantas crianças correndo pelas ruas que eles perdem a conta.

Temos que fazer algo com todas essas crianças sem pais, Zuko menciona.

Nós poderíamos... ela começa, e eles não terminam a conversa por mais três meses.

 

 

Os dedos dela traçam os contornos da cicatriz, a pele abaixo das digitais como o mar.

Ela navega pelo seu rosto com as mãos quando ele a deixa.

 

 

Estamos com problemas nos aquedutos.

Ela está nos reservatórios de água da cidade analisando os canos três minutos depois.

 

 

No Baile que eles dão para os dignitários do Reino da Terra, eles dançam juntos a noite inteira.

Quando eles param, os garçons recolhendo as cadeiras e limpando o chão, ela se recosta no peito dele, porque eles são jovens e cheios de vida e não há guerra nenhuma que lhes possa arrancar a felicidade, e eles não devem nada a ninguém.

No outro dia, os criados de Zuko entram em seus cômodos e a acham sob os lençóis.

 

 

Ele lhe dá flores, e ela as coloca nos cabelos, costurando as madeixas com os caules. Ele diz que não há nada mais lindo no mundo e ela acredita, porque ele ouve quando ela fala e lhe dá o tempo que não tem, e mesmo que ele seja rico, essa é a coisa mais preciosa que ele pode lhe dar.

Ele tira a coroa da cabeça e coloca sobre a dela, por cima dos lírios de fogo.

Você fica muito mais bonita com uma coroa de flores, mas a de ouro também lhe cai bem.

 

 

Na primavera, a coroa que ele lhe dá é detalhada com lírios.


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Notas finais do capítulo

Reviews deixam meu coração quentinho.



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