Quebrada escrita por MarcosFLuder


Capítulo 5
Tremor é uma pessoa


Notas iniciais do capítulo

Uma longa consideração antes de começar a ler o capítulo. Nas últimas duas semanas eu tive de fazer uma reestruturação no enredo. A ideia básica é a mesma, o mesmo em relação ao final. A mudança se deu na caracterização do principal vilão dessa fanfic, que seria citado a partir do capítulo 7, mas só efetivamente apresentado no capítulo 10. Eu resolvi mudar a caracterização inicial desse vilão, o que levou a outras mudanças. Ele já será apresentado no capítulo 7 mesmo. Ao mesmo tempo, essa caracterização novo impôs que eu fosse mais cuidadoso com a cronologia das passagens de tempo. Até então eu apresentava essas passagens de forma meio vaga, com o termo “ANOS ATRÁS” , ou “ANOS DEPOIS”. Isso teve de mudar e eu fui obrigado a rever como se deu as passagens de tempo na série, criando assim uma cronologia a partir do meu entendimento sobre como essas passagens se deram ao longo das temporadas. Portanto, eu estabeleci que do episódio 17 da primeira temporada, até o início da segunda temporada, houve uma passagem de tempo de 7 meses. Estabeleci também que a segunda temporada se passa no período de 1 mês. A partir da última cena da segunda temporada, aquela em que Simmons é sugada pelo monolito, até o resgate dela no segundo episódio da terceira temporada, teriam se passado 197 dias, que corresponderiam aproximadamente às 4722 horas, tempo descrito no episódio dedicado ao período em que ela passou no outro planeta, somando isso até o final do episódio 10, que marca o retorno do Hive à Terra, eu estabeleci um total de 8 meses. Lembrando que no episódio 11 da terceira temporada tem um flash-forword onde é indicada uma passagem de tempo de 3 meses que se dará dali até o último episódio da terceira temporada, quando descobrimos quem morre na nave. Ainda neste último episódio tem outra passagem de tempo, agora de 6 meses, que é justamente no período em que a história da fanfic se passa. Na última cena da terceira temporada temos Coulson e Mack tentando encontrar Daisy, que se encontra com a Robin e sua mãe, acredito que seja em Nova York. Ela escapa de Coulson e Mack e a temporada acaba. No primeiro episódio da quarta temporada Daisy já está em Los Angeles, atrás dos Watchdogs, mas encontrando o Motorista Fantasma. Eu decidi estabelecer que houve uma passagem de 1 mês nesse período. Tudo isso dá um total de 26 meses, desde o episódio 17 da primeira temporada até o episódio 1 da quarta temporada. Portanto, a partir de agora eu vou estabelecer as passagens de tempo, exceto, é claro, as que correspondam a dias, a essa contagem de meses, estabelecendo que o termo “1° MÊS” iria corresponder ao episódio 17 da primeira temporada, o termo 7° MÊS correspondendo ao episódio 1 da segunda temporada, um pouco antes ou um pouco depois. Como já estabeleci também que o final da fanfic se passará poucos dias antes do encontro de Daisy com Robin e sua mãe, isso pode servir de parâmetro para que quem estiver lendo possa se situar em todas as passagens de tempo indicadas. Espero que esse texto longo não tenha cansado ninguém. Esse capítulo 5, bem como o capítulo seguinte, me deu um orgulho especial em escrever. Aproveitem a leitura



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Daisy foi acordando aos poucos, ainda sentindo os efeitos dos tiros de ICERs que levou. Logo se deu conta de que estava com suas mãos e pés amarrados a uma cadeira. Tratou de olhar em volta, vendo se encontrava alguma indicação sobre onde estava. Queria saber também quanto tempo ficara fora de combate. Deu-se conta que estava numa típica sala de interrogatório. Havia uma mesa próxima, notando um jornal e vários instrumentos em cima da mesma. À sua frente, se encontrava outra cadeira, esta vazia. Estava sozinha na sala, mas logo notou uma câmera num dos cantos da parede. Sentiu também algo em seu pescoço, uma espécie de coleira. A jovem inumana teve um breve momento de pânico, ao constatar a situação tão vulnerável em que se encontrava. Foi então que voltou seus pensamentos para se lembrar das indicações que recebera de May, para uma situação como esta em que estava agora.

Daisy fechou os olhos, respirou fundo e tratou de esvaziar a sua mente. Tal como esperava, o objetivo na estrada era capturá-la, não matá-la. Fizera bem em se poupar de uma luta que muito provavelmente perderia. Agora ela precisava focar em como sair dali. Ao abrir os olhos, começou a verificar a sua situação. As amarras eram bem fortes, a cadeira parecia ser feita de uma madeira extremamente resistente, com extremidades de metal soldadas no chão. A jovem inumana se encontrava de costas para a porta, mas o barulho desta abrindo a deixou em alerta. Ela primeiro ouviu os passos dados por alguém usando uma típica bota de militar. Era uma pessoa apenas. Daisy o reconheceu como um dos soldados que estavam no banco e na emboscada que sofrera. Devia ser ele o líder do grupo.

 

— Que bom que acordou agente Johnson, ou prefere ser chamada de Tremor? – o homem se senta de frente para ela.

 

— O que é essa coleira no meu pescoço? – ela pergunta.

 

— Uma pequena precaução, caso você resolva usar seus poderes – o homem responde com seriedade – se você tentar usá-los a coleira irá disparar um choque elétrico por todo o seu corpo. Quanto mais intensamente você tentar, maior será a voltagem do choque. Meu conselho é você não tentar – mal o sujeito terminou de falar e Daisy faz uma pequena tentativa, sentindo um ligeiro choque. O homem sorri para ela pela primeira vez – é impossível resistir, não é mesmo?

 

— Eu precisava saber se você estava dizendo a verdade – Daisy ainda sentia os efeitos do choque ao responder.

 

— É compreensível – o homem se ajeita em sua cadeira – eu gostaria de resolver isso o mais rápido possível, minha cara.

 

— Por que você me chamou de Tremor? – mal ela fez a pergunta e viu o homem se levantar. Ele foi até a mesa e pegou o exemplar do jornal que estava sobre, mostrando para ela. Havia uma foto sua muito ruim, ao lado de outra foto, mostrando os escombros da agência bancária. No título da matéria estava escrito, “Tremor é uma pessoa”.

 

— Agora que eu respondi a sua pergunta, creio que é sua vez de responder a todas as perguntas que eu fizer – disse o soldado – desse jeito acabamos logo com isso. O que acha?

 

— Eu não sei se será possível, mas faça as suas perguntas – o tom de voz de Daisy é bem calmo – quem sabe eu possa respondê-las do jeito que você quer.

 

— Eu confesso que estou um pouco surpreso com você minha cara – o homem continuava sorrindo para Daisy – eu esperava um comportamento mais desafiador, provocativo de fato, da sua parte. Satisfaça a minha curiosidade... er... acho que vou chamá-la de senhorita Johnson, já que não é mais agente da S.H.I.E.L.D., e claramente não gostou do nome Tremor – ele volta a se sentar – você foi treinada para uma situação como essa, senhorita Johnson?

 

SEDE DA S.H.I.E.L.D.

7° MÊS

 

Era a sua primeira missão oficial como agente da S.H.I.E.L.D., finalmente. É claro que já esteve em campo antes, mas nunca como uma agente de fato, e ela sabia da responsabilidade que isso implicava. Agora não poderia esperar apenas ser protegida, tinha sob suas costas a responsabilidade de proteger seus companheiros também. Era um momento difícil para a agência, uma clandestinidade que lhe fora imposta desde a descoberta da enorme infiltração da Hidra em suas fileiras. Havia uma força tarefa do governo caçando-os e eles precisavam se manter à frente nesta caçada; precisavam de uma vantagem. Aquela era a primeira de uma série de missões que visava garantir essa vantagem, e ela sabia que não podiam falhar. Coulson havia dado todas as instruções necessárias. Aproveitando que todos estavam ocupados com seus preparativos pessoais, ele conduziu Skye para um canto reservado, onde poderiam ter uma conversa mais particular.

 

— Finalmente, sua primeira missão oficial de campo como agente da S.H.I.E.L.D. – ela notou no olhar dele uma mistura de preocupação e orgulho, sentindo-se aquecida por isso.

 

— Algum conselho para a novata... diretor? – ela perguntou, tentando parecer mais segura de si do que realmente estava.

 

— Siga as instruções da May – ele responde – mas também procure observar como o Tripp e a Hartley se comportam. Você também pode aprender muito com ambos.

 

— Vou fazer isso, pode deixar. Não vou te decep... não vou decepcioná-lo... senhor – ela queria muito abraçá-lo, mas estavam em local público, o que poderia passar uma ideia errada para as pessoas em volta.

 

— Eu sei que não vai – Coulson sorriu para ela, consciente de que seus olhos deviam estar brilhando com uma mistura de orgulho e preocupação. Ainda assim, manteve uma apropriada distância dela. Era muito claro para todos ali, a ligação que existia entre os dois, mas havia um limite que a posição dele impunha, pelo menos em público. Tudo o que ele fez foi tocá-la suavemente no ombro, antes de falar de novo – boa sorte agente Skye – foi o que ele disse, para depois retornar ao seu escritório, de onde iria monitorar a missão.

 

Cada um dos agentes arrumava suas coisas, além de verificar suas armas. Faziam isso enquanto Mack terminava de aprontar o carro com que iam sair. Skye olhava para as pessoas à sua volta. Todos ali muito experientes em campo, tudo o que ela não era. Além de Tripp e May, tinha a agente Hartley, o resultado mais evidente das viagens de recrutamento de Coulson, e que acabara de conhecer. Havia também os dois mercenários com eles, ambos indicados pela mesma agente Hartley. Skye tentava entender esse trio de desconhecidos com quem trabalharia; justo em sua primeira missão oficial. Os viu conversando o que parecia ser apenas amenidades, recordações, entre saudosas e autocongratulatórias, de missões anteriores. Ela sabia que era a forma como muitos agentes relaxavam antes de uma missão. Ao mesmo tempo, a jovem agente da S.H.I.E.L.D. também sabia que era uma forma de conhecer as pessoas de quem poderia depender para salvar sua vida. Skye tinha todos esses pensamentos em mente quando May juntou-se a ela.

 

— Está nervosa? – ela perguntou. A expressão em seu rosto com aquela rigidez habitual.

 

— Um pouco, isso é algum problema?

 

— Seria um problema se você respondesse que não estava sentindo nada – May respondeu.

 

— Você os conhece? – Skye aponta a cabeça para o trio que se mantém conversando, Tripp junto a eles, exibindo a sua natural facilidade em se aproximar das pessoas.

 

— A agente Hartley, Coulson e eu fomos da mesma turma na academia da S.H.I.E.L.D. – May respondeu – tanto ele como eu temos total confiança nela.

 

— Então isso significa que eu posso confiar também – Skye respondeu, agora olhando para Hunter e Idaho – e os outros dois?

 

— Normalmente eu não gosto de trabalhar com mercenários, mas Hunter e Idaho foram indicados pela Hartley – Skye nota que isso não impede May de olhar desconfiada para os dois – infelizmente nós precisamos de ajuda externa agora.

 

— Bom, só nos resta esperar pelo melhor então – Skye tenta disfarçar a insegurança que sente com um sorriso nervoso.

 

— Não há nada de errado em esperar pelo melhor – disse May, e Skye sabia que logo viria um enorme “mas” em seguida – mas é sempre importante estar preparada para o pior.

 

— O que quer dizer com isso?

 

— Numa primeira missão, não é incomum um agente ser morto, ou pior, capturado – Skye franze as sobrancelhas ao ouvir o que May disse.

 

— Ser capturado é pior do que ser morto?

 

— Para a segurança da agência e de seus integrantes? Pode ter certeza que sim – Skye prende a respiração por um segundo, para depois falar.

 

— Tudo bem! Então... se acontecer de eu ser capturada, o que eu faço?

 

— Antes de qualquer outra coisa, mantenha a calma – May responde – avalie a sua situação, tente ganhar todo o tempo possível, antes de começar a ter de responder perguntas – a face de Skye ganha uma expressão de indignação.

 

— Do que está falando – ela usa um tom de voz mais alto do que gostaria, chamando a atenção dos outros – eu nunca trairia a agência ou... você e o Coulson – ela sussurra agora.

 

— Por vontade própria, eu tenho certeza que não – May sussurra também – mas não tenha ilusões heroicas, Skye. Vontades podem ser quebradas.

 

— Você está falando de tortura? Em se tratando da Hidra tudo bem, mas acha mesmo que o nosso governo iria me torturar?

 

— Eu diria que, se considerasse necessário, o nosso governo olharia discretamente para o outro lado, enquanto pessoas de fora aplicariam o que podemos chamar de... “técnicas mais avançadas de interrogatório”.

 

— Ok, ok – Skye diz – então me diga, o que devo fazer numa situação como esta?

 

— A primeira coisa a fazer é ser um pouco menos você mesma – Skye faz a sua melhor expressão sarcástica – a começar por essa expressão em seu rosto. Isso é uma das coisas que você deve evitar num interrogatório. Não provoque o sujeito diante de você, não finja que sua situação não é altamente vulnerável. Não irrite seu interrogador com piadinhas do tipo que você adora fazer, ao contrário, tenha um comportamento firme, mas respeitoso, faça-o relaxar o máximo possível.

 

— Relaxar como?

 

— Pergunte tudo o que você puder, mas que sejam perguntas coerentes com a situação em que está. Não demonstre medo, mas jamais se mostre arrogante diante de seu interrogador. Faça-o conversar o máximo de tempo com você. Quanto mais tempo ele conversar contigo, menos tempo ele irá torturá-la. Nesta situação, ganhar tempo é fundamental.

 

— Mais alguma coisa?

 

— Evite ao máximo contar qualquer tipo de mentira. Os melhores interrogadores tem um ótimo faro para captar mentiras. Quanto mais sincera você for, melhores as chances de você confundir o seu interrogador, mais chance você tem de ganhar tempo.

 

— Com ganhar tempo, você quer dizer até ser resgatada – Skye notou que o rosto de May ficara ainda mais rígido que o normal, para depois tornar-se mais suave, chegando ela mesmo a dar um suspiro, como se algo terrível estivesse para dizer.

 

— Se um dia você estiver nesta situação, Skye, tenha em mente que pode não haver resgate nenhum – a voz de May tinha um timbre mais sombrio que o habitual – e quando você se der conta disso, que terá de contar apenas consigo mesma para escapar, esse será um momento decisivo. Será nesse momento que você terá que se decidir entre duas escolhas: você pode se deixar quebrar, ou então deixar de lado o medo e a dor, esvaziar sua mente, e focar num único objetivo, que é escapar.

 

TEMPO PRESENTE

 

— Vamos lá senhorita Johnson – o homem ainda sorri para Daisy – eu estou realmente curioso. Você foi treinada para uma situação como essa?

 

— Minha OS me deu algumas dicas quando eu estive em minha primeira missão oficial de campo – Daisy respondeu, o tom de voz bem calmo e relaxado.

 

— Melinda May – o homem disse, deixando Daisy desconcertada – você não poderia ter tido uma Oficial Superior melhor.

 

— Você conheceu a May? – ela estava sinceramente curiosa.

 

— Só de relatórios, e do que algumas pessoas que a conheceram me contaram – responde o sujeito – todo mundo em nosso ramo já ouviu falar da “Cavalaria”.

 

— Por acaso você sabe que ela detesta esse apelido?

 

— Não é algo que me surpreenda – Daisy vê quando o homem alarga ainda mais o seu sorriso – foi ela quem a instruiu a forçar o máximo possível uma conversa com seu interrogador, não é senhorita Johnson?

 

— Pelo visto será inútil usar contigo as técnicas que ela me ensinou para uma situação como esta.

 

— Pode ter certeza de que será minha cara – Daisy vê o largo sorriso morrendo aos poucos, a face dele ganhando um ar ameaçador. O homem se levanta, afasta a cadeira em que estava sentado, dirigindo-se até a mesa próxima. Ele aponta para Daisy, os vários instrumentos de tortura ali presentes – não haverá possibilidade de você me distrair com perguntas, senhorita Johnson. De agora em diante, apenas eu é quem as farei.

 

— Será que nós não podíam... – ela não teve chance de terminar de falar. O primeiro soco dele foi direto em seu rosto, logo seguido de mais três, sempre revezando a mão que desferia os golpes.

 

— Como eu disse, senhorita Johnson, sou eu quem fará as perguntas de agora em diante – ele dá um novo soco em Daisy, antes de voltar a falar – de que forma você sairá daqui, dependerá da sua disposição em respondê-las.

 

****************************************

 

Quase 1 hora já tinha se passado desde que a tortura começara. Em nenhum momento aquele homem gritara com ela. Seu tom de voz foi sempre de uma perturbadora tranquilidade. Durante todo o tempo sempre a chamou de senhorita Johnson. Ele jamais fez uso dos típicos xingamentos que homens costumam cuspir contra mulheres, ainda mais em situações como esta. Em nenhum momento também, fez da sua condição de inumana, um motivo para ofendê-la. Era um profissional de fato, não um sádico qualquer que gostasse de provocar dor em outras pessoas. Conseguia imaginá-lo chegando em casa, encontrando uma esposa e filhos, indo ao bar com amigos. Daisy, no entanto, não se deixava enganar. Ela tinha muitos hematomas em seu rosto e ventre. Ambos os olhos estavam bem inchados. Seu supercílio direito estava cortado e havia sangue espalhado pela sua face. Como se tudo isso não bastasse, a jovem inumana tinha queimaduras em seu colo e pescoço, resultado dos vários choques elétricos que tomou. Tudo isso era um aviso de que não poderia esperar qualquer tipo de piedade dele.

 

— Não me surpreende você se manter firme esse tempo todo, senhorita Johnson – o homem examina as próprias mãos com que agredira Daisy, limpando o sangue nelas com um pano – mulheres são normalmente mais resistentes à dor que os homens. Isso faz com que vocês costumem ser mais difíceis de quebrar.

 

— Você já deve ter feito isso muitas vezes antes, não é? – Daisy estava com dificuldade de falar.

 

— Iraque, Afeganistão, África, dentro dos Estados Unidos mesmo – ele respondeu – sempre onde precisavam de mim.

 

— Você esteve em Guantánamo? – ela provoca um novo sorriso nele.

 

— Ainda tentando conversar para ganhar tempo, senhorita Johnson? A agente May realmente ensinou bem a você – o homem se aproxima dela – poderia funcionar com um interrogador menos experiente, mas não comigo. E sim, senhorita Johnson, eu estive em Guitmo também. Deixe eu te mostrar uma técnica especial que aprendi a usar naquele lugar.

 

O fato dele não ser um sádico não significava que não soubesse provocar dor de maneira muito eficiente. Ao mesmo tempo, ele também era capaz de mostrar, sem qualquer sombra de dúvida, que Daisy estava numa situação extremamente precária, no fio da navalha mesmo. Isso ficou claro quando a mão dominante dele se fechou no pescoço dela, começando a apertá-lo com força. A outra mão se fechando sobre o seu nariz e boca. Ela arregala os olhos, enquanto sente a falta de ar atingindo o seu corpo, sua traqueia correndo o risco de ser esmagada, uma sensação apavorante de perceber sua vida se esvaindo aos poucos.

Enquanto a asfixiava, aquele homem não sorria, não a ameaçava, não falava as coisas desagradáveis que homens em situações assim, certamente diriam às mulheres. Seu rosto não expressava nada, nem raiva, nem alegria, mas era nos olhos dele que a jovem inumana podia vislumbrar, a calma apavorante que seu torturador lhe passava. Até aquele momento, ela vinha encarando a tortura com um corajoso estoicismo, uma firme determinação de não ceder. Tudo mudou ao reparar naquele olhar. Pela primeira vez, desde que a tortura teve início, Daisy realmente começou a sentir medo dele. Esse medo se refletia na desesperada tentativa de soltar suas amarras, tanto nas mãos como nos pés. Era um medo crescia em ondas, não pela dor em si, mas por tudo que começava a despertar dentro dela.

A mão dele em seu pescoço, o aperto que estava sentindo, a sensação de que nada poderia fazer para impedir, tudo isso lhe remeteu àquela época em que estava sob o controle de Hive. É verdade que o aperto em seu pescoço, agora, era muito mais forte, mas a situação era a mesma. Tanto agora como antes, ela sabia que sua vida estava nas mãos de homens que a tinham indefesa diante deles. Com Hive, tudo o que ela sentiu na época foi uma inebriante felicidade por estar sob o seu controle, entregue e a sua mercê. Hoje, isso é apenas uma fonte de profundo embaraço para ela. Agora, com esse homem que segue sufocando-a, tudo o que sente é um medo terrível tomando conta de si, tudo isso à medida que sente sua vida se esvaindo, lenta e dolorosamente.

O sujeito manteve-a asfixiada até quase o último momento, soltando-a quando o último fôlego dela estava a ponto de acabar. Daisy teve um ou dois minutos para se recuperar, antes que seu torturador voltasse a sufocá-la. Ele fez isso mais duas ou três vezes, para liberá-la apenas quando a jovem inumana estava a um estalo de ter sua traqueia esmagada; a um ou dois segundos de morrer. As perguntas eram feitas nos intervalos da tortura, tal como aconteceu na hora anterior. Durante essa primeira hora, eram questionamentos que tinham a ver com o dinheiro que roubou dos três bancos. Ela se manteve firme em nada dizer, com ele em nada se mostrando irritado com a sua resistência.

A partir do momento em que passou a sufocá-la, no entanto, as perguntas mudaram de foco, deixando-a confusa, pois diziam respeito a pessoas, lugares e situações que desconhecia. Em meio à tortura ela tentava juntar os elementos para entender o que estava acontecendo. Ele perguntou sobre um fato ocorrido no Novo México, no qual Daisy não tivera participação. Então, logo depois da última sessão de sufocamento, veio a pergunta que a jovem inumana mais temia: a localização da sede da S.H.I.E.L.D. Ela sabia que sua recusa em falar, levaria tudo o que enfrentara até agora a outro nível. Ainda assim, ela deixou de lado os ensinamentos de May, olhando para o seu torturador com uma postura feroz e desafiadora.

 

— Nunca vou te contar onde é a sede da S.H.I.E.L.D, ouviu bem seu desgraçado, NUNCA.

 

Todos os ensinamentos de May foram deixados de lado. Tudo o que ela queria, era mostrar ao seu torturador, a sua disposição de não ceder. A voz de Daisy ganha um tom enfático agora, uma tentativa desesperada de gritar, enquanto reuniu suas forças e tentou cuspir nele. A tentativa foi parcialmente bem sucedida, um pouco de cuspe indo parar na roupa do homem que a torturava, a maior parte, no entanto, deslizando até o queixo dela. O homem apenas voltou a sorrir para ela, enquanto usava um pano para limpar o cuspe em sua roupa. Para a surpresa da jovem inumana, ele tratou de limpar também, com uma delicadeza que a desconcertou, o cuspe que ficara em sua face. O olhar dela voltou a cruzar com o dele, nada além daquela calma apavorante a fitá-la de volta.

 

— Você vai sim, senhorita Johnson. Vai contar tudo o que eu quero saber – o homem se dirige a ela, a voz sempre num tom bem calmo, um sorriso suave, enquanto lhe acaricia o cabelo – por mais resistente à dor que vocês mulheres sejam, sempre chegam num ponto em que acabam quebrando.

 

Daisy viu quando o seu torturador pôs luvas em suas mãos, para logo depois pegar um estranho instrumento. Ele o segurava com uma mão, e com a outra, tapou o nariz dela para que não conseguisse respirar. A jovem inumana foi obrigada a abrir a boca em busca de ar, permitindo que o instrumento fosse enfiado dentro da mesma. O homem usou uma espécie de alavanca, que fez o aparelho se expandir dentro da boca dela, deixando-a ligeiramente enjoada. Ele retorna à mesa para pegar outra coisa. Os olhos de Daisy se arregalam ao ver o alicate em sua mão. Da mesma maneira, como quando estava sendo asfixiada, a jovem inumana sentiu um medo muito real tomar conta de si. Tomada por esse medo crescente, tenta forçar os seus pulsos, buscando desesperadamente se livrar das correias que a prendiam na cadeira. Suas pernas também estão presas e então tenta usar seus poderes mais uma vez. O choque elétrico disparado pela coleira foi muito forte. Ela solta um grito abafado; as primeiras lágrimas rolando por seu rosto muito machucado. Por mais que se esforçasse para se manter forte, Daisy não resiste e começa a chorar.

A jovem inumana olha mais uma vez para aquele homem que em nenhum momento a ofendeu. Um homem que não gritou com ela uma única vez. Em vez disso, ele a tratou de maneira estranhamente respeitosa, durante todo o tempo em que a torturou. A fria educação dele era mais um motivo para a jovem inumana sentir-se assustada. Aquele não era um homem que pudesse ser provocado, também não se poderia esperar dele qualquer possibilidade de recuo naquilo que estava fazendo. Era o seu trabalho e ele o faria até o final. Daisy viu o alicate cada vez mais próximo dela e deu o seu primeiro grito de pavor, ainda que abafado pelo aparelho que mantinha sua boca aberta. As imagens de Coulson e May logo surgiram em seus pensamentos, o desejo de que eles aparecessem para salvá-la tomava conta dela.

 

— Última chance senhorita Johnson – disse o homem, o alicate já dentro da boca dela – depois que eu começar não pararei até ter arrancado um de seus dentes.

 

Por um breve segundo, a ideia de ceder passou pela cabeça dela. O medo que sentia naquele momento era avassalador. Ela estava indefesa diante de alguém, mais uma vez. A sensação de nada poder fazer, que com Hive lhe causava uma felicidade que nunca experimentara antes, agora, era motivo de horror para ela. Daisy Johnson olhava para aquele homem que não lhe levantara a voz uma única vez, como Hive também nunca fizera. E tal como na sua época com Hive, ela sabia que seu destino estava nas mãos dele. A ideia de ceder passou por sua mente, mas foi logo substituída pelas figuras de Coulson e May, pela absurda esperança de que eles viriam salvá-la a qualquer instante. Foi essa absurda esperança que a manteve em silêncio. O homem que a torturava entendeu o silêncio de Daisy como obstinação, começando a apertar o alicate dentro da boca dela. Tudo o que se ouvia agora era o grito agonizante da jovem inumana, enquanto o homem que a torturava começou lentamente a arrancar um dos seus dentes.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 5 postado como prometido. O capítulo 6 está programado para ser postado no próximo domingo. Aguardem.



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