Quebrada escrita por MarcosFLuder


Capítulo 4
O terceiro banco


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é uma continuidade dos acontecimentos do final do capítulo anterior. Teremos novos flask-backs, um que se passaria entre a terceira e a quarta temporada e outro sobre um acontecimento que se passa na terceira. Também teremos referências a acontecimentos da primeira e terceira temporada. Espero que quem está acompanhando continue gostando da história.



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Daisy permanecia sentada em sua cama a quase uma hora. Ainda tentava reunir coragem para ir ao hospital e perguntar pelo rapaz que surrara até quase a morte. Ao mesmo tempo, permanecia sob o impacto de ter chamado a jovem que salvou de Jemma. Imaginar naquele casal uma visão algo distorcida de seus amigos Fitz-Simmons, a angustiava. Ela sabia que Fitz jamais tocaria em Jemma daquele jeito, que ele preferiria ter sua mão cortada a levantá-la contra ela. Ainda assim, a familiaridade despertada nela por aqueles dois só mostrava o quanto a jovem inumana sentia-se só. Constatar isso, não mudava em nada a situação para Daisy. Ela ainda crê que foi melhor ter se afastado dos seus amigos, não consegue se imaginar convivendo com eles, não depois de tudo o que viveu e fez quando estava com Hive.

Ao mesmo tempo, a ideia de que poderia ter matado aquele jovem a consumia. O ódio que ela sentiu naquele momento fora devastador. O desejo de descontar nele toda a raiva acumulada, toda a angústia que sentia, era algo que mexia com sua cabeça. Impossível para ela não pensar em May, no que ela diria do seu descontrole, da maneira arrogante e displicente como lidou com o jovem agressor; uma displicência que poderia ter lhe custado caro. O desgosto que seria para Coulson, se ela tivesse matado o sujeito, apenas para dar vazão a um desejo vazio de vingança. Ele certamente se culparia por isso também. Enquanto tenta criar coragem para ir ao hospital, Daisy sente sua mente vagando, a lembrança da última vez que esteve com Coulson e May vindo até ela.

 

CEMITÉRIO DE ARLINGTON

VIRGÍNIA

MESES ATRÁS

 

Era um dia ensolarado, a grama muito verde, um vento suave soprando, quase como se a natureza estivesse brincando com os sentimentos de todos os presentes. Daisy via o caixão vazio, representando Lincoln, baixando a sepultura; esta bem próxima, aliás, da sepultura da agente Hartley. Ela imagina que tipo de favores Coulson deve ter cobrado para conseguir que um enterro desses fosse feito. A jovem inumana observava tudo com um olhar triste, mas sem lágrimas, já não havia mais nenhuma a derramar. Daisy se encontrava mais afastada, quando viu a bandeira do país ser entregue à irmã de Lincoln. Seu olhar se voltou para os amigos, os mesmos com quem também trocara poucas palavras. Sua decisão já havia sido tomada, ela já se preparando para ir quando viu Coulson e May vindo em sua direção.

 

— Fico imaginando o tanto de gente que você deve ter incomodado para conseguir que o Lincoln fosse enterrado aqui – a jovem inumana tenta forçar um sorriso ao falar, sem sucesso.

 

— Era o mínimo que ele merecia, depois do sacrifício que fez – Coulson respondeu. Havia tristeza no olhar dele para Daisy, quando pôs delicadamente a mão sobre seu ombro – eu sinto muito Daisy.

 

— Está tudo bem Coulson – mais uma vez ela tenta sorrir, mas falha completamente – não é como se eu fosse, tipo uma viúva inconsolável.

 

— Não é disso que estou falando, mesmo sabendo o quanto você gostava do rapaz – Coulson deu um suspiro – eu estou falando do erro terrível que cometi em ter matado o Ward.

 

— Ele teve o que mereceu!

 

— Não Daisy, ele não teve – Coulson não a deixa replicar – o que ele merecia é que eu o trouxesse de volta, e o jogasse no buraco mais fundo que pudesse encontrar. O que ele merecia era apodrecer nesse buraco por muitos anos, até o fim da vida miserável dele.

 

— Você não devia se atormentar por isso, Phil – agora era May quem fala.

 

— Isso não será possível, Melinda – Coulson agora tem as duas mãos sobre os ombros de Daisy – no meio de tudo isso, tudo o que aconteceu, tudo o que poderia ter acontecido; o que mais me entristece nesse erro terrível que eu cometi, é saber que uma das piores consequências desse erro recaiu sobre você, Daisy. Eu sinto muito mesmo – ela o abraçou chorando, afirmando que ele não tinha culpa de nada. Ficaram assim um tempo, até se separarem.

 

— Nós marcamos de ir a um bar, beber um pouco – era May quem se dirigia e ela agora, Daisy notando a mão dela tocando suavemente o seu braço, além de um tom de voz bem suave, do tipo que nunca ouvira dela antes.

 

— Eu... eu prefiro ficar um pouco sozinha agora – ela respondeu.

 

Ambos se despediram dela, com May combinando de mandar o endereço do bar, caso mudasse de ideia. Daisy os viu indo na direção dos demais. Todos acenaram para ela em despedida, com a jovem inumana retribuindo o aceno. Sua decisão já estava tomada. Dali ela iria embora, com a intenção de não mais voltar. Daisy acompanhou seus amigos com os olhos, querendo guardar aquela visão para sempre. Naquele momento, seu objetivo era nunca mais voltar a vê-los de novo.

 

TEMPO PRESENTE

 

Ela tratou de afastar esses pensamentos. A realidade atual exigindo que focasse no que estava diante de si. Daisy sabia que deveria estar longe, que estava correndo um grande risco. Pouco mais de 2 hora antes, após ser questionada pela jovem que salvou, sobre o porquê de chamá-la de Jemma, tudo o que fez foi ir embora. Logo depois, viu quando uma ambulância levou o jovem que quase matara, com sua companheira indo junto. Havia um carro de polícia acompanhando. O fato de ninguém ter batido em sua porta era um indicativo de que não fora denunciada, mas não era o suficiente para dizer que estava livre de problemas. Ela precisava ser racional agora. Como May sempre dizia, o foco tem sempre que ser na missão, e Daisy tinha uma missão. Foi com esse pensamento que deixou de lado as preocupações com o rapaz no hospital. Ela precisava arrumar suas coisas e sumir, mas não sem antes fazer algo.

 

***********************************

 

Daisy já podia ter partido a pelo menos 1 hora, mas ainda havia algo para resolver, embora não soubesse direito como garantir isso. Foi nesse momento que ouviu a batida na porta. Esperou por novas batidas, pois queria saber quem era. Se fossem policiais teriam de se anunciar, ao menos antes de arrombar a porta. A jovem inumana ouviu uma voz feminina perguntando se ela estaria no apartamento. Foi com grande alívio que reconheceu a voz, agora sim, poderia resolver uma última questão, antes de ir embora. Abriu a porta para que a jovem que salvara entrasse.

 

— Como ele está? – Daisy perguntou.

 

— Ainda inconsciente, mas está fora de perigo – foi a resposta da jovem – ele terá de ficar alguns dias no hospital.

 

— Menos mal – foi só o que Daisy respondeu, antes de pegar suas coisas, junto com uma mochila, que deixou em cima da mesa de centro.

 

— Você está indo embora! – a jovem afirmou – eu não vou denunciar você, e tenho certeza que ele também não. A última coisa que ele irá querer na vida, é alguém saber que apanhou feio de uma garota.

 

— O que você disse aos policiais?

 

— Que ele devia uma grana de apostas e o espancaram por isso – ela respondeu – ele sempre teve problema com apostas... acho que os policiais acreditaram.

 

— Parece consistente, mas nunca se sabe – Daisy respondeu – de qualquer forma, eu não ia ficar muito mais tempo mesmo. Já fiz o que tinha de fazer por aqui – ela volta a olhar para a mochila que deixou na mesa de centro – tem documentos ali e cem mil dólares em dinheiro. São seus se quiser.

 

— Do que está falando?

 

— Identidade falsa e grana para recomeçar longe daqui – a jovem inumana respondeu – longe daqui, longe dele. Eu também apaguei todos os registros existentes sobre você. Mesmo que ele queira, não terá como encontrá-la.

 

— Você apagou tudo sobre mim – o olhar dela era de espanto. Daisy já previa isso e lhe deu um pen drive – o que é isso?

 

— Para o caso de você querer recuperar os dados de sua vida de volta – Daisy responde – você pode fazer isso se for o seu desejo, ou pode recomeçar do zero, longe dele.

 

— Por que eu faria isso?

 

— Você está brincando, não é?

 

— Foi só um momento ruim entre nós, eu...

 

— Não continue – a voz de Daisy ganhou um tom bem enfático ao falar – eu já estive deste lado em que você está agora, de um jeito meio louco que você nem imagina, mas já estive. Não foi um momento ruim, é parte do que vocês são juntos. Ele não vai mudar; e o caminho que vocês estão trilhando, muito provavelmente vai dar na sua morte.

 

— Não diga isso, por favor – Daisy vê as lágrimas dela rolando por sua face, mas decide não parar.

 

— Eu sei que é difícil, muito difícil – lágrimas começam a rolar pelo rosto de Daisy também – é um vazio dentro de nós que aparentemente só eles podem preencher. Parece que nunca haverá alguém, ou alguma coisa capaz de preencher esse vazio – Daisy vê no olhar da jovem que ela entende – mas quem disse que precisa ser preenchido? Talvez o melhor a fazer é aceitar esse vazio em você, e lidar com isso da melhor maneira possível.

 

— É muito difícil! – afirma a jovem, sua voz embargada.

 

— Eu sei – a voz de Daisy está embargada também – certamente não dá para fazer isso sozinha, precisamos de ajuda. Eu tive ajuda, de um jeito meio louco... é perda de tempo tentar te explicar, mas eu tive – ela volta a olhar para a mochila – estou te dando essa ajuda, mas a escolha é só sua J...

 

— Meu nome é Elisabeth!

 

— Desculpe, você me lembra uma amiga – Daisy se encaminha para a porta, mas se vira de novo – a escolha é sua Elisabeth, de ninguém mais. Qualquer que seja essa escolha... boa sorte – a jovem inumana se vira e vai embora de vez.

 

TERCEIRO BANCO NACIONAL DE DAKOTA DO NORTE

SEIS DIAS DEPOIS

 

Todos os seus instintos lhe diziam que ela estava entrando numa armadilha. Aquele era o último banco onde os financiadores dos Watchdogs colocaram o dinheiro que garantia as atividades do grupo. Por tudo o que apurou em suas pesquisas financeiras, a maior parte do dinheiro estava lá. Daisy tinha consciência de que eles já deviam saber que ela estava para atacar o local. As lições de May soando claras em sua mente. “Se você sabe que está indo para uma armadilha, trate de antecipar o que seus inimigos farão e tire proveito disso”. O tom rígido da voz dela martelando sua cabeça, como se fosse a única forma dela aprender. “Se antecipe, e prepare a sua própria forma de escapar da armadilha”, sua antiga OS dizia.

Daisy fez uma última verificação de todo o material que irá precisar. Era impressionante o que a internet, e um pouco de dinheiro, era capaz de conseguir. A ex-agente da S.H.I.E.L.D tinha tudo o que seria necessário para entrar naquele banco. Ela só precisava cronometrar tudo, esperando, é claro, que quem estivesse lá, fizesse o que era esperado. Sempre estar preparada para o pior, era o que May dizia. O pior era não ter dinheiro nenhum no banco e todo o risco ter sido por nada. No entanto, Daisy verificou todas as movimentações naquela agência, desde que fez o seu primeiro roubo, dias atrás. Os financiadores dos Watchdogs não retiraram o dinheiro que tinham em algum cofre dessa agência. Seria o mais sensato a fazer, a não ser que tivessem um objetivo por trás da decisão que tomaram. Ela não precisou pensar muito para chegar a conclusão de que eles queriam que tentasse se apoderar do dinheiro. Era uma armadilha, e a jovem inumana, conscientemente, decidiu entrar nela.

Um pouco de pesquisa histórica também lhe foi muito útil. Ao fazer a pesquisa Daisy descobriu que essa agência havia sido construída em cima das fundações de um prédio antigo, do tipo que estava ligado às antigas galerias de esgoto da cidade. Depois que a agência foi construída, afirmou-se que as galerias existentes foram soterradas, mas ela verificou que isso não aconteceu de fato. Em vez de gastar recursos nisso, preferiu-se apenas fazer uma série de muros, fechando os acessos a essas galerias. Descobrir quais muros derrubar para ter esse acesso não foi difícil, mais difícil, sem dúvida, foi encontrar as antigas plantas do local, o que conseguiu. Graças a isso, a jovem inumana estava exatamente embaixo do local onde deveria estar.

Daisy respirou fundo, ela sabia que estava indo para uma armadilha, mas também contava com o seu próprio fator surpresa. É claro que havia o risco de estar desastrosamente errada, pois sempre existia a possibilidade deles também terem encontrado as antigas plantas do local, estando igualmente preparados para sua chegada por baixo. Era um risco, ela sabia, mas também tratou de se preparar para essa possibilidade. Tudo dependia de sincronia. Daisy estava com tudo em mãos para agir. Com um aperto de botão acionou o feixe de PEM, que derrubou toda a parte elétrica do prédio. No mesmo instante, tratou de derrubar o piso da agência, justamente abaixo da galeria onde estava. O barulho certamente foi ouvido, mas estava tudo às escuras agora. Usando seus poderes, ela se elevou até a agência. Já estava com os óculos de visão noturna. A precisão era fundamental. Acionou um outro aparelho, provocando um som estridente, do qual estava protegida, por um outro aparelho, que cobria seus ouvidos. Não ia durar muito, nem manter atordoados por muito tempo, quem a estivesse esperando.

Daisy foi direto onde estavam os cofres particulares do banco. Ela usou seus poderes mais uma vez, agora para chegar ao cofre dos financiadores dos Watchdogs e abri-lo. Como esperado, havia mais dinheiro ali do que nos outros dois bancos. Tratou de colocar tudo numa mochila. Ao notar que o ambiente ficara silencioso, mais ainda, quando as luzes acenderam novamente, ficou claro que o tempo que precisava tinha se esgotado. Foi então que os cinco homens entraram. Eram todos fortes, a aparência inconfundível de soldados mais do que evidente, nas tatuagens que notara neles. No entanto, o que realmente chamou a atenção era o que se sobressaia de seus uniformes, na altura de seus pulsos e pescoços. Ela já tinha visto aquilo antes, anos atrás. Eram aparelhos de inoculação do soro Extremix. Aqueles não eram os membros dos Watchdogs que enfrentara no segundo banco, eram soldados aprimorados, do tipo que a Centopeia tentara criar.

Outras das lições de May voltaram a ecoar em seus pensamentos. “Numa situação dessas, não perca tempo com conversa fiada, trate de saber qual é o momento certo para lutar, fugir ou mesmo se render”. Daisy tratou de seguir essa lição ao pé da letra, usando seus poderes para fazer o teto de onde estavam desabar. Não era exatamente o seu objetivo derrubar o prédio inteiro do banco, mas se deu conta de que era exatamente isso que estava acontecendo. Ela derrubou uma parede, que sabia, ia dar no saguão principal da agência. Assustou-se ao ser quase atingida por um destroço. Não havia muito o que pensar agora e a jovem inumana correu para a saída, mais uma vez usando os seus poderes para abrir caminho. Num impulso, esses mesmos poderes lhe permitiram sair voando de maneira horizontal e reta, até se chocar contra a parede de um prédio, do outro lado da rua.

Ela estava tonta e dolorida. Pequenos estalos internos lhe indicavam que seus ossos sentiram o impacto do uso desmedido de seu poder. Ainda bem que tomara as pílulas antes de vir ou certamente teria sofrido uma contusão mais séria em seus ossos. Daisy tratou de se levantar, olhando com uma expressão de choque, ao ver que o prédio da agência tinha desabado por inteiro. Tratou de correr até o beco onde deixara a sua van, demorando quase 5 minutos para isso, pois evitou usar seus poderes novamente. Era uma perda preciosa de tempo, mas o risco valeu a pena. As dores que sentia indicavam claramente que usar seus poderes agora era muito arriscado. A jovem inumana alcançou sua van e saiu em disparada.

 

***********************************

 

Ela dirigiu durante pouco mais de 20 minutos, até parar o veículo num local afastado. Daisy sabia que precisava verificar os maços de notas que roubara do banco, tal como fizera nas vezes anteriores. Não era preciso ser uma espiã experiente para chegar a conclusão de que algumas das notas tinham algum aparelho de rastreamento. O tempo era curto e ela tratou de fazer a verificação da maneira mais rápida e precisa possível. Encontrou pelo menos 10 notas nessas condições. Livrou-se delas antes de se dirigir com a van para um outro local. Menos de 15 minutos depois estava numa rodoviária, onde escondeu o dinheiro num armário, alugado exatamente para isso, do lado de outro armário, onde escondera o dinheiro dos outros roubos. Era uma solução provisória, ela sabia. Da mesma forma que tinha a plena consciência de estar num local com várias câmeras de vigilância. Com certeza deviam estar usando um software de reconhecimento facial para encontrá-la. Era igualmente provável que logo percebessem o seu programa, que afetava as câmaras de vigilância, impedindo-as de reconhecer o seu rosto.

Quase uma hora se passou e ela continuava dirigindo sua van. Sentia seu corpo dolorido, mas só parou o veículo quando se viu num local isolado. Daisy pegou o frasco no porta-luvas. Ela tomou algumas pílulas, guardando o frasco onde estava antes. Sentiu os efeitos das pílulas em seus ossos, em como estes iam se recuperando do esforço com o uso de seus poderes. A dor continuava lá, embora menor. Ela já nem se importava mais. Ao contrário, a dor talvez a fizesse dormir sem os pesadelos de sempre. Daisy estava tão cansada, sentia suas pálpebras pesadas, seu corpo pedindo descanso. A jovem inumana dirigiu mais um pouco, até embaixo de uma pequena ponte, um local escondido. Precisava descansar, antes de decidir o que fazer depois.

 

BASE DE HIVE

SUL DO WYOMING

MESES ATRÁS

 

Daisy sentia a vida se esvaindo do próprio corpo. Isso acontecia à medida que seu sangue era retirado. Havia um espelho próximo, e ela podia ver seu rosto com um ar quase cadavérico, a pele cada vez mais pálida, imensas olheiras, os lábios com um aspecto quebradiço. Sentia-se lânguida e fraca, mas ainda assim, estava feliz. Ela vira os efeitos em humanos, das experiências que seu sangue permitira continuar. Ainda assim, estava feliz em garantir a continuidade dos planos de Hive. Mesmo com sua vida em risco, a jovem inumana insistira em doar o seu sangue para isso. Os efeitos já eram mais do que claros, pois além do cansaço, já estava tendo sérias dificuldades em respirar.

 

“Precisamos desligar agora” – era a voz do Dr. Radcliffe.

 

“Tem certeza?” – ela ouviu quando Hive fez a pergunta.

 

“Ela irá morrer se continuarmos” – Radcliffe foi bem firme ao dizer – “você não quer isso, quer”?

 

“É claro que não, desligue então” – Hive respondeu, naquele tom inconfundível para ela.

 

“Eu posso aguentar mais” – ela disse, praticamente num fio de voz, sentindo a aspereza de uma das mãos dele em seu rosto.

 

“É claro que pode” – Hive responde, acariciando-lhe o rosto e cabelo – “mas eu prefiro que você descanse agora”.

 

“Ela precisa mesmo descansar” – a voz de Radcliffe é ouvida novamente – “e se alimentar também, está fraca demais”.

 

“Eu providenciarei isso” – Ele a pega no colo com extrema delicadeza, deixando-a inebriada de felicidade por estar nos seus braços – “eu cuidarei de você até estar pronta para doar o seu sangue outra vez, eu prometo” – Hive sorri para ela.

 

— “Tudo o que eu quero é te ajudar” – ela responde, a voz fraca, mas ainda sorrindo.

 

— “Você não imagina o quão eu estou feliz por estar fazendo isso por mim, Daisy” – ela sorri, emocionada por ouvi-lo dizer isso, ainda que esgotada, antes de sentir a escuridão cobri-la como um manto.

 

TEMPO PRESENTE

 

Daisy acorda gritando, o corpo suado e a respiração acelerada, o coração batendo rápido em seu peito. A jovem inumana começa a chorar, a cabeça batendo levemente contra o volante de sua van. Ela não consegue se perdoar por ter ajudado a quase concretizar os planos de Hive. A simples ideia do que poderia ter acontecido com boa parte da humanidade, com os seus amigos, é horripilante demais para suportar. A morte de Lincoln só fez com que se lembrasse disso. As palavras dele, ao dizer que sabia que ela procurou Hive querendo voltar, mesmo sabendo tudo o que poderia resultar daquilo, ainda soavam dolorosamente em seus pensamentos. A jovem inumana estava quebrada, ainda se sentia assim, o sacrifício de Lincoln só fez com que essa realidade caísse sobre ela com toda a força.

Daisy teve de fugir, não conseguia encarar seus amigos, por mais que soubesse o quanto eles estavam prontos a perdoá-la, como Mack fez. Ela não conseguia se perdoar, não conseguia aceitar que fizera parte de tudo aquilo. Por sua própria vontade e desejo, sentindo uma felicidade imensa, fizera parte de algo que resultaria num destino horripilante para as pessoas que amava. Não conseguia olhar para nenhum deles e aceitar o fato de que esteve feliz com Hive, como jamais estivera antes. Ainda não conseguia aceitar o fato de que o vazio que sempre sentira em sua vida, fora preenchido apenas por ele, por mais ninguém. Não conseguia se perdoar por isso. Tão perdida estava em sua angústia que só tarde demais se deu conta do perigo em que se encontrava.

 

***********************************

 

Daisy sentiu o primeiro impacto na lateral de sua van. O som de vidros quebrados se misturava com o aço sendo amassado pelas batidas. O impacto jogando-a de um lado a outro, pois estava sem cinto de segurança naquele momento. A ex-agente da S.H.I.E.L.D sentiu o estrondo provocado por outra batida, agora na traseira de sua van. Mais vidros quebrados, ela sendo jogada de um lado a outro. Daisy viu mais um carro vindo em sua direção, agora para bater de frente. A jovem inumana se jogou na parte de trás da van, antes do novo choque, que chacoalhou o seu veículo mais uma vez. Ela ainda permanecia tonta pelos impactos quando viu a porta da van sendo arrancada com uma facilidade impressionante. As mesmas mãos que arrancaram a porta do veículo agora a agarravam com força, jogando-a longe, como se fosse uma boneca de plástico.

Daisy se levantou, tentando concentrar-se, deixando de lado a tontura, tentando localizar seus atacantes. Ela viu quatro homens avançando em sua direção. Eram os mesmos do banco, mas onde estaria o quinto deles? Usar seus poderes seria a sua melhor chance, mas sabia que era arriscado demais também. Enfrentá-los no mano a mano também não oferecia uma boa perspectiva. Eles eram soldados aprimorados, com uma força muito acima de um soldado humano comum, mas com o mesmo treinamento de luta. A jovem inumana sabia que suas chances eram muito ruins contra os quatro, num embate físico direto, e sem poder contar com seus poderes como gostaria. Daisy sabia que era arriscado, mas decidiu que o melhor era não lutar. Ergueu os braços em sinal de rendição, esperando estar certa em seu palpite. Foi então que sentiu o impacto de dois tiros a atingindo. Não eram balas letais, eram ICERs, do tipo que a S.H.I.E.L.D usava. Ela já estava inconsciente quando caiu no chão. Um dos soldados saca sua arma, esta sim com balas letais, e aponta para sua cabeça.

 

— Hora de morrer, vadia inumana.

 

— Guarde isso, Cameron – é a voz de outro soldado que se ouve, justamente o que atirara em Daisy com ICERs, claramente o líder do grupo.

 

— O Taylor está morto nos destroços daquele banco por causa dela – gritou o soldado, ainda com a arma apontada para Daisy.

 

— Ele sabia dos riscos – retrucou o líder – todos nós sabemos. Guarde a arma. Precisamos arrancar algumas informações dela.

 

— Para com isso cara – o outro soldado insistia – nós a temos exatamente onde queremos. Por que desperdiçar a oportunidade de matá-la?

 

— Eu estaria contigo nessa, se dependesse só de mim, mas somos apenas soldados, Cameron – o líder continuava retrucando – não nos cabe decidir isso. Quem nos paga, e mais importante, quem nos garante o suprimento do soro, quer extrair algumas informações dela. Depois que conseguirmos isso, ai sim, você pode matá-la.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 4 postado como prometido. No domingo que vem será postado o capítulo 5. Aguardem.



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