Quebrada escrita por MarcosFLuder


Capítulo 2
A ponte


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está o capítulo 2 da fanfic. Agora sim, apresentaremos aqui a trama da história, com os traumas de Daisy, mostrados no capítulo 1, seguindo ao fundo, mas ainda tendo importância fundamental no desenrolar de tudo. Esse capítulo tem algumas referências à série, começando com o episódio 10 da quarta temporada, onde temos a referência aos eventos que serão mostrados nesse capítulo e no próximo. Teremos também alguns flash-backs de situações não mostradas na série, mas que dizem respeito ao treinamento de Daisy, na época ainda chamada de Skye, para se tornar uma agente da S.H.I.E.L.D. Esses flash-backs se passam num ponto entre a primeira e a segunda temporada. Um agradecimento especial aos dois primeiros a comentar a história, espero que continuem acompanhando. Enfim, boa leitura.



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Aquela era uma agradável manhã de sol, um calor e luminosidade mais do que bem-vindo, depois de uma noite difícil. Ela apreciava aquele leve calor solar em sua pele, enquanto se dirigia até o banco. Daisy sabia que o caminho do apartamento que alugou, até o seu destino final, era vigiado por um total de 1458 câmeras, desde as instaladas em lojas, postes e caixas de banco. Havia também as câmeras de celulares dos passantes. O programa que criara transmitia um determinado sinal, garantindo que ela não tivesse o seu rosto reconhecido a partir desses aparelhos de vigilância, ou quaisquer outros que se encontrassem na área. Daisy vestia uma roupa formal de jovem trabalhadora, simples, discreta, nenhum pouco chamativa. O seu objetivo era ficar na maior fila, garantindo-lhe a chance de olhar em volta, visualizar tudo o que lhe fosse útil. Mais importante, encontrar um lugar onde pudesse colocar o aparelho que lhe permitiria observar o banco, depois do horário de funcionamento.

Seu treinamento da S.H.I.E.L.D estava sendo muito útil. Observando cada espaço da agência, a rotina da segurança, os locais mais vigiados pelas câmeras, e seus respectivos pontos cegos. Tudo isso foi levado em conta na hora de escolher o melhor lugar para colocar o aparelho. Ela precisaria de todas as informações possíveis antes de entrar no banco. Era a sua melhor pista sobre as finanças dos Watchdogs, a melhor forma de acabar com grande parte da força deles. Era também a melhor chance de chegar aos chefes, àqueles que financiavam todas as suas ações. Essa pista que seguia agora foi descoberta de forma inesperada. Tudo começou durante uma missão, onde ela apenas esperava enfrentar um grupo de fanáticos. Em vez disso, acabou por se deparar com algo ainda mais perigoso.

 

CIDADE DE SUNBURY

TRÊS DIAS ANTES

 

Era uma noite sem lua, relativamente fria e numa área pouco movimentada. Daisy estacionou sua van num local discreto e saiu sob a cobertura da escuridão. Estava com a sua vestimenta típica de Tremor, a roupa escura ajudando ainda mais a se manter escondida. O local era uma ponte chamada Edison, a única nesta cidade. Ela viera aqui seguindo um palpite, após uma longa busca on-line, sobre as atividades dos Watchdogs. Havia uma estrutura embaixo da ponte, um terreno com um muro de madeira, dentro dele um barracão; nada muito chamativo, exatamente o que imaginaria da parte dos que desejavam ocultar suas atividades. Seu olhar de espiã, no entanto, lhe permitia ver os detalhes ocultos, tal como uma discreta câmera, colocada em local que era para não ser visível a olhos destreinados. Toda câmera, entretanto, tinha o seu ponto cego, ainda mais a noite. Ela precisou de alguns bons minutos, até conseguir encontrá-lo.

A jovem inumana pulou a cerca de madeira, apenas para perceber que havia outra câmera vigiando o lado interno. Acompanhando o seu movimento, ela se joga no chão, num ponto do terreno coberto de sombras noturnas. Havia uma distância razoável de onde estava para o barracão, e ela precisava cobri-la sem ser detectada pela segunda câmera. Nessa hora, era possível ouvir a voz de May em sua cabeça, na época de seus primeiros dias de treinamento, ensinando as melhores formas de burlar câmeras de vigilância numa infiltração. Daisy se lembra que na época chegou a sentir um pouco de raiva dela, por pegar tão pesado, ser tão rigorosa. Hoje é apenas a lembrança nostálgica de um tempo que, parece-lhe agora, tão inocente, despertando nela um sorriso de saudade.

 

ÁREA DE TREINAMENTO DA S.H.I.E.L.D

ANOS ATRÁS

 

As duas mulheres seguiam firmes por aqueles corredores estreitos e mal iluminados. Ambas procuravam agir de maneira bem furtiva, o que não as impediu de deixar vários corpos estendidos pelo caminho, até chegarem próximo a um local aberto. A mais jovem ia atrás, sempre atenta aos movimentos da mais velha, observando, aprendendo. Elas ficam algum tempo paradas, a mais jovem demonstrando um pouco de impaciência por não se moverem.

 

— Por que não avançamos de uma vez? – ela perguntou. A impaciência presente no seu tom de voz.

 

— É assim que você acha melhor proceder? Avançar por um terreno aberto sem avaliar em volta?

 

— É claro que não, eu...

 

— Olhe em volta com atenção e responda você mesmo à pergunta – o olhar da mais velha tinha aquele aspecto rígido de sempre, mas Skye já tinha aprendido que esta era parte de sua lição. Ela olhou em volta com toda a atenção possível, até notar algo quase imperceptível.

 

— Uma câmera de segurança – ela disse bem baixo, sorrindo como se tivesse tido uma grande sacada e esperasse um elogio por isso. O sorriso morreu no rosto dela, diante do rígido olhar de sua Oficial Superior.

 

— Como se burla uma câmera de segurança? – a pergunta veio rápida. Skye pensa por um breve momento, voltando a sorrir quando encontra a resposta.

 

— É preciso encontrar o ponto cego da câmera – ela mantém o sorriso, mesmo diante do olhar ainda rígido de May.

 

— O que está esperando para fazer isso?

 

— Eu...? – o olhar de May para ela manteve o ar rígido de sempre, como se a pergunta feita fosse simplesmente idiota – claro, tudo bem – Skye olhou o terreno e o movimento da câmera. Foi uma olhada rápida antes de se dirigir a sua Oficial Superior – encontrei o ponto cego – ela afirmou, uma expressão confiante no rosto sorridente.

 

— Tem certeza? – a pergunta veio rápida, bem como a resposta, um simples aceno de cabeça – então vá na frente.

 

— Hã...! Tudo bem – ela o fez, menos confiante do que estava um segundo antes. Foram só alguns passos que deu, quando três tiros a alvejaram com grande força, jogando-a contra a parede. A dor foi intensa, mas não sentiu seu corpo sendo perfurado por nada. As luzes acenderam fortes e ela viu um homem correndo em sua direção, um rifle em sua mão.

 

— Você está bem, Skye? – era Phil Coulson, com uma expressão preocupada no rosto.

 

— Você está brincando comigo, não é? É claro que eu não estou bem – ela gritou, se levantando – está doendo à beça. Eu não acredito que você atirou em mim com balas de borracha, Coulson.

 

— Foi exigência da May – ele respondeu – ela disse que não treinaria você se eu usasse balas de festim ou de tinta – Skye olha para sua Oficial Superior com uma expressão de incredulidade no rosto.

 

— A dor é uma ótima forma de aprendizado – May tinha a mesma expressão rígida de sempre – você olhou por alguns breves segundos e arrogantemente presumiu que tinha achado o ponto cego da câmera. Aprenda com a dor que está sentindo, porque em campo não serão balas de borracha que usarão contra você, se cometer esse erro quando estiver numa missão. Volte para a posição original, vamos repetir tudo até você acertar – Skye ainda olha para Phil em busca de apoio, mas tudo o que o vê fazer é dar de ombros. Resignada, ela obedece. Phil espera ela se afastar um pouco para se dirigir à Melinda.

 

— Que tal dar uma aliviada para ela? Tudo bem se eu usar balas de festim, ou de tinta, a partir de agora?

 

— Se você quer que eu a treine terá que confiar nos meus métodos, Phil – May se manteve rígida ao falar

 

— Eu não sei se você lembra, mas na academia da S.H.I.E.L.D não usavam balas de borracha nos treinamentos – Coulson tenta contrapor.

 

— Se ela estivesse na academia teria muito mais tempo, recursos e pessoal para treiná-la – May retruca – aqui ela só tem nós dois, sem o mesmo tempo e recursos – Coulson nota que a expressão dela se suaviza um pouco ao olhar para Skye, que a esperava mais a frente – o mundo lá fora está mais perigoso que na nossa época, Phil. Eu sei o que estou fazendo.

 

— Eu confio em você, é só que...

 

— Então deixe-me fazer o meu trabalho. Tem que ser desse jeito ou ela não estará pronta para o que virá – Phil Coulson sabia que ela não ia ceder e se deu por vencido; ainda assim, notou que a expressão no rosto dela ficou ainda mais suave – você tem que parar de mimá-la, Phil.

 

— Eu sei, mas é que eu não consigo, desculpe – ele dá um sorriso meio sem graça, fazendo com que May desse um suspiro resignado.

 

— É eu sei que você não consegue – ela se esforça ao máximo para não sorrir, e por muito pouco evita que isso ocorra – e isso só me obriga a ser mais rigorosa com ela. Volte para o seu lugar, e não se atreva a trocar as balas de borracha por festim ou tinta – apesar de ligeiramente longe, Skye pôde ouvir a conversa de ambos, um sorriso surgindo em seu rosto por conta disto.

 

*************************************

 

Daisy ainda mantinha o sorriso com essa lembrança, mas logo voltou a concentrar-se no seu objetivo. Com isso em mente, ela acompanhou o movimento da câmera, calculando os momentos certos para se mover e para ficar parada. Foi assim que conseguiu chegar até uma pequena janela. De onde estava, ela visualizou um estranho aparelho. Daisy logo notou que era sofisticado demais para estar naquele lugar. Da mesma forma, os quatro homens dentro do barracão, em nada lembravam trabalhadores de construção. Eram claramente mercenários, fortemente armados. Mais uma vez, as lembranças do passado vieram à sua mente.

 

SEDE DA S.H.I.E.L.D

ANOS ATRÁS

 

Fora uma tarde inteira de duro treinamento. Skye estava mais forte do que jamais estivera antes. Aprendera diversas formas de luta, embora May a tivesse especializado naquelas que melhor se adaptavam a seu tipo físico e gênero. Era o tipo de lutas que exigiam grande agilidade, facilidade de movimentação, além de permitir utilizar a força de seu oponente em seu favor. May se mostrava uma Oficial Superior extremamente exigente, sempre forçando Skye até o limite. Entretanto, depois de vários meses de treinamento, os resultados já eram muito claros. A jovem hacker sentia-se muito confiante, ansiosa em verdade, para se provar em campo, agora na condição oficial de agente. O treinamento desse dia terminou mais cedo do que o habitual. Por um breve segundo Skye se perguntou se May estaria amolecendo. Foi só um breve segundo, antes de notar a chegada de 5 sujeitos que ela sabia serem agentes de campo.

 

— Prepare-se para enfrentá-los – May se dirige a ela. Skye arregala os olhos para sua OS.

 

— Eu sozinha... contra aqueles 5 armários? Você está falando sério?

 

— Certamente é o que você encontrará em campo – disse May – se não puder dar conta deles aqui, com certeza não fará isso quando estiver realmente em ação. Prepare-se – Skye ainda viu quando sua OS se dirigiu aos cinco homens – se algum de vocês facilitar para ela, será comigo que irão treinar depois.

 

****************************

 

Skye estava ofegante após o fim do treino. Seu corpo tremia, sua respiração estava acelerada, o coração batendo forte, era possível ver alguns hematomas sobre sua pele. Ainda assim, ela se sentia feliz com o que conseguira. Os cinco agentes com quem treinara cumprimentaram May e se dirigiram à saída, passando por ela no caminho. Todos a cumprimentaram também, embora ela não se sentisse com fôlego suficiente para se levantar de onde estava para retribuir melhor o cumprimento deles. Foi só quando May se aproximou de Skye que esta encontrou fôlego, sabe-se lá onde, para se levantar. Foi quase um reflexo automático. Ela sorriu para sua OS, sentindo-se orgulhosa de si mesma.

 

— Boa luta hein? – o sorriso morreu ao notar a clara insatisfação de May – o que foi?

 

— Por que você acha que foi uma boa luta? Onde foi que você errou?

 

— Você está brincando comigo, não é?

 

— Onde foi que você errou, Skye?

 

— Eu enfrentei 5 caras enormes... sozinha – ela quase gritava agora.

 

— E no final eles dominaram você – May mantinha a mesma expressão ao perguntar – é até compreensível que não os tenha derrotado, mas você deveria ter resistido mais tempo. Onde foi que você errou, Skye?

 

— Eu não sei! – ela grita, exasperada – me diz você. Onde eu errei? – ela volta a se sentar, cabisbaixa, tendo estranhos sentimentos. Está com raiva de May por ser tão rigorosa, ao mesmo tempo, está com raiva de si mesma, por sentir que a desapontava – parece que eu não faço nada certo para você – por estar cabisbaixa, Skye não nota o efeito que suas últimas palavras causam em May.

 

— Você sabe qual é a melhor coisa de se lutar contra adversários homens? – Skye nota que a voz dela tem um tom diferente e levanta a cabeça, apenas para se espantar quando sua OS se agacha para ficar na mesma altura dela.

 

— Qual é? – Skye pergunta. Ao mesmo tempo, ela percebe que a expressão de May está mais suave do que o normal.

 

— É que eles normalmente nos subestimam – Skye se espanta mais uma vez quando a mão de May toca suavemente o seu ombro. Ela nunca tinha feito isso antes – não importa o quanto você já tenha se provado em campo, não importa nem que você seja conhecida como “A Cavalaria” - Skye nota mais uma vez o quanto May não gosta do apelido pelo qual é conhecida – bem lá no fundo, eles normalmente sentem que podem nos vencer, pelo simples fato deles serem homens e nós sermos mulheres. Você sente isso também, não é?

 

— É, eu sinto sim – havia um tom de irritação na voz dela ao dizer.

 

— Isso te irrita, Skye?

 

— É claro que me irrita, não te irrita também?

 

— É claro que não – responde May – é um erro ficar irritada com isso. Você sabe por que é um erro, Skye? Porque isso é uma vantagem. Não temos que ficar irritadas com uma vantagem, temos é que tirar proveito dela. Você, por exemplo, poderia ter derrubado pelo menos dois deles se tivesse feito isso – May vê o franzir das sobrancelhas de Skye, mas não lhe dá tempo de falar – fale-me sobre o seu primeiro golpe.

 

— Ah, isso você tem que admitir que foi incrível, May – ela volta a sorrir com a lembrança – o agente Peterson nem viu de onde veio.

 

— Um belo golpe, sem dúvida, mas dado na pessoa errada – May volta a se levantar, a expressão no rosto retomando a sua habitual rigidez – seu primeiro golpe não deveria ter sido no agente Peterson – ao terminar de dizer isso, ela entrega um DVD para Skye.

 

— O que é isso?

 

— A luta foi toda gravada, trate de estudá-la com muita atenção. Eu quero um relatório detalhando todos os erros que você cometeu – a expressão no rosto de Skye era uma mistura de raiva e espanto – eu quero também que responda quem eram os dois que você poderia ter derrubado, e quem era o agente que deveria ter recebido o primeiro golpe no lugar do Peterson. Eu quero esse relatório ainda hoje, Skye.

 

— Ainda hoje? Vou ter que virar a noite para fazer tudo isso. Odeio você – ela se arrependeu de dizer aquilo no segundo seguinte. Já preparava um pedido de desculpa quando, em vez de uma expressão raivosa ou de mágoa, o que viu foi um leve sorriso surgir no rosto de May; o primeiro sorriso desde que começou a treiná-la.

 

— Pode me odiar a vontade, desde que me entregue o relatório... ainda hoje. Tenha uma boa noite – ela se vira para ir embora, deixando uma Skye desolada para trás. Esta vê que Coulson está parado junto à saída. Ele e May iniciam uma conversa.

 

— Você não devia estar numa dessas suas viagens de recrutamento, Phil?

 

— Adiei para amanhã cedo – ele respondeu sorridente – queria ver o novo teste que você a fez enfrentar

 

— Acha que eu peguei pesado demais?

 

— De modo nenhum – o sorriso se desmanchou enquanto ele olha para Skye, que lhe sorri de volta – não podemos mais adiar, May. Ela terá que se juntar às missões em campo imediatamente. Agora oficialmente como uma agente. Com todas os riscos e responsabilidades que isso implica.

 

— Eu sei disso – disse May – ela está pronta, Phil!

 

— Há um lado meu que está apavorado por ouvir você dizer isso – ele volta a olhar para Skye, que parece entretida com algo no seu armário.

 

— Eu imagino bem que lado seu é esse – May dá um leve sorriso, correspondido por Phil.

 

— Você estava certa em ter sido tão dura com ela nos treinamentos. É um mundo cada vez mais perigoso lá fora, May. Muito mais perigoso do que na nossa época de novatos. Skye precisa estar preparada para isso.

 

— Fico feliz que estejamos de acordo nesse ponto – May responde, ainda com um leve sorriso – mas ela precisa completar a última tarefa que eu dei, antes de liberá-la para ser uma agente de campo. Ela sozinha, Phil.

 

— Eu não vou ajudá-la com a tarefa que você deu – ele finge indignação – mas eu vou preparar um lanche bem gostoso e levar para ela – ele sorria ao dizer isso, fazendo May alargar ainda mais o seu próprio sorriso.

 

— É claro que você vai! Você a mima demais, Phil!

 

— Podemos fazer isso nós dois, juntos, se você quiser – May ainda sorria quando tocou levemente no ombro dele.

 

— Está tudo bem, esta é a sua parte do trabalho – ambos seguiram caminhos diferentes, sem notar que Skye ouvira toda a conversa enquanto fingia arrumar o seu armário. Ela tinha uma expressão emocionada em seu rosto sorridente.

 

PONTE EDISON

CIDADE DE SUNBURY

 

Ela precisava agir rápido, e com total precisão, pois não podia abusar de seu poder. Calculou bem o posicionamento de cada um daqueles homens dentro do barracão e tratou de agir. Os quatro homens mal tiveram tempo de assimilar o golpe, quando o que lhes pareceu uma violenta rajada de vento, arrancou bruscamente a porta, atingindo um deles com muita força. Os outros três tiveram um breve momento de hesitação, ao ver uma figura pequena entrando logo a seguir. Um deles chegou a sorrir para os outros. Era tudo o que Daisy precisava. Foram só alguns breves segundos; tempo suficiente para escolher quem atacar primeiro. O líder, ela calculou, foi aquele que primeiro sacou sua arma. Ela o atingiu com o seu poder, jogando-o violentamente contra a parede. Os outros dois só foram reagir quando ela já estava em cima deles. May tinha razão, mesmo depois de sua demonstração de poder, esses homens ainda a subestimavam numa luta corpo a corpo. Eles eram mercenários, não teriam problema em espancar uma mulher, só não estavam acostumados a uma que sabia se defender deles. Daisy não teve grande dificuldade em derrotá-los.

O barracão estava em silêncio agora. Os quatro mercenários ainda inconscientes. Daisy voltou a sua atenção para o aparelho. Nessas horas é que sentia falta de Fitz-Simmons para dizer o que era aquilo. Ela espantou logo esse pensamento; se lembrar dos amigos era a última coisa que precisava. Em vez disso, Daisy pegou uma câmera de seu cinto e tirou algumas fotos. Aquele não era um aparelho comum. Ela precisava saber o que era, e por alguma razão, sentia que era possível arrancar algumas respostas dos homens que estavam caídos aos seus pés. Daisy vasculhou o local e logo se apoderou de todas as armas, provavelmente iria precisar delas.

 

***************************

 

— Que bom terem acordado – Daisy falou com um dos homens, aquele que devia ser o líder do grupo – preciso de algumas respostas de vocês.

 

— Não terá nada de nós, vadia inumana – disse aquele que ela achava ser o líder.

 

— Eu sou uma “vadia inumana” armada, não se esqueça disso – as duas mãos de Daisy tinham armas apontadas para os quatro homens. Um deles deu um sorriso em direção aos outros, antes de se dirigir a ela.

 

— Eu tomaria cuidado com essas armas, queridinha – ele disse isso com um sorriso sarcástico no rosto, os outros o acompanharam rindo – você pode se machucar.

 

Daisy não conseguia evitar de se impressionar. Depois de tudo o que aconteceu eles ainda a subestimavam. Era impossível não sentir uma certa raiva, mas May tinha razão, sentir raiva era bobagem, o melhor era tirar proveito disso. Calmamente, ela deu um tiro no ombro do homem que se dirigira a ela, e outro tiro, na coxa do homem que ela acreditava ser o líder do grupo. Os outros dois pararam de rir imediatamente, enquanto os que levaram os tiros se contorciam de dor.

 

— Sua vadia – gritou o que se dirigira a ela.

 

— O que foi? É só um tiro no ombro e outro na coxa, nada fatal – agora era Daisy quem sorria – é impressionante como a maioria dos homens viram bebezinhos quando se trata de alguma dor – três dos homens voltaram seus olhares para o sujeito com o tiro na coxa, confirmando o que Daisy pensava dele – parece que é mesmo com você que eu tenho de falar.

 

— Não vou te dizer nada, vadia inumana - Daisy sorriu, abrindo a gaveta de uma mesa próxima, colocando as armas dentro, para espanto do grupo – uma vez eu matei um homem, esmagando o cérebro dele de dentro para fora. Deixe eu mostrar como foi.

 

Daisy apontou seus braços em direção aos quatro homens e deu vazão ao seu poder. Ela estava ligeiramente preocupada com a sua demonstração. Quando matou Malick, era só contra ele que dirigiu o seu poder, em vez dos quatro homens encostados na parede. Ela temia não ser capaz de fazer a demonstração que desejava, temia hesitar diante da lembrança do que fez, mais ainda, do porquê fizera aquilo com Malick. Tudo o que desejava era que suas dúvidas não transparecessem através de seu rosto, ou então que a fraca luz do barracão ocultasse isso daqueles homens. Em poucos segundos, as faces deles se contorciam em dor, os seus gritos fazendo-a lembrar-se dos gritos de Malick.

Os gritos deles despertavam lembranças nela que não eram agradáveis. De uma época que ainda lhe causa dor, embaraço e tristeza. Ela tratou de esvaziar sua mente dessas lembranças, tal como May ensinara. A jovem inumana precisava focar no seu objetivo, e o fez completamente. Ela torcia desesperadamente para que pelo menos um deles cedesse. Temia não ser capaz de ir até o fim, pois sabia muito bem o que ceder significaria para esses homens. Eles voltariam a vê-la como fraca, o que seria um desastre. Daisy manteve-se focada no seu objetivo. Era o que ela fazia, embora estivesse implorando em seus pensamentos, para que algum desses homens cedesse logo. Felizmente um deles o fez.

 

— Para, por favor, para, eu conto, eu conto – Daisy tentou ao máximo ocultar o alívio em seu rosto. Foi uma tentativa vã. No olhar do líder, ela se deu conta de que este percebera.

 

— Cale a boca idiota – disse o líder – ela não vai ter coragem de ir até o fim, eu vi nos olh... – uma rajada atinge a cabeça dele, fazendo-a bater contra a parede. Com o líder inconsciente, Daisy se volta para o mercenário que cedeu.

 

— Fale – ela tentou ao máximo emular o tom mais intimidador de May – fale – ela grita, e agora sim, Daisy vê o medo nos olhos daqueles homens. Ela não consegue evitar um sorriso presunçoso, diante dessa constatação.

 

— Tudo o que nos disseram é que esse aparelho cria ondas sísmicas, como em um terremoto – disse o mercenário – era para ligá-lo amanhã, no horário de pico da ponte.

 

— Vocês pretendiam usar o aparelho para derrubar essa ponte? – uma ideia perturbadora surge na mente de Daisy – por que vocês derrubariam a ponte desse modo, e não com explosivos?

 

— Para culpar você, vadia inumana, o que acha? – o outro mercenário respondeu – imagine as manchetes: “Tremor, a inumana que derrubou uma ponte e matou muitas pessoas”.

 

Daisy viu no olhar daqueles homens que eles se divertiam com a ideia, momentaneamente esquecidos da situação em que se encontravam. Ela consegue imaginar sim, as manchetes, assim como os muitos corpos que resultariam deste atentado. Mais ainda, ela vislumbrava o que isso poderia fazer com a vida de inumanos por todo o país, transformando-as num inferno. Ela imaginava tudo isso, e a ideia deixou-a apavorada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo. No próximo domingo tem o capítulo 3. Aguardem.



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