Sara olhava para suas malas dentro do carro, uma parte dela não queria sair dali, achava maluquice pegar a estrada sem rumo, deixar a brisa levá-la para algum lugar, seu lado racional tentava falar mais alto mas ela o minimizava. Fazia um check-list em sua mente, estava tudo em ordem, pronta para partir sem rumo, sempre achou uma loucura fazer isso mas lá estava ela, prestes a fazer. Terminava de trancar sua casa quando Gill apareceu, ele trazia algumas coisas em suas mãos.
— Olá — ele a cumprimentou — Eu trouxe algumas coisas para você — disse sem graça — São alguns livros sobre insetos, caso você ache algum interessante durante a viajem — ele sorriu lhe entregando.
Ela estava supresa por ele estar ali, depois da conversa de alguns dias há trás, não esperava que ele fosse aparecer para se despedir.
— Oi — ela sorriu — Eu adorei os livros, será muito útil — disse pegando de suas mãos — Estou feliz por você ter vindo se despedir.
— Eu não poderia deixar de vir — ele a olhou, precisava contar o que lhe incomodava, suspirou e tomou coragem — Você tem certeza do que está fazendo? Parece tão perigoso você sair vagando sem rumo, em busca de algo que não sabe onde está — desabafou — Não me entenda mal, mas é que sei lá ... O mundo não é tão seguro assim — estava preocupado.
Ela o compreendia, também estava com medo e seu lado racional naquele momento gritava para ela não ir — Griss, eu sei que você está preocupado — retribuía o olhar — Mas eu sei me cuidar também, não sou tão frágil quanto parece — sorriu — Eu te disse, preciso disso — ela mais do que ninguém sabia que o mundo não era tão seguro assim.
Um silêncio tomou conta, os dois queriam falar mas ao mesmo tempo não sabiam como dizer.
“É tão difícil partir com ele aqui” — ela pensou
— Eu sei — ele retomou a conversa — Me prometa que vai cumprir o trato, por favor — ele sabia como a convencer, era só usar o olhar de cachorrinho que caiu da mudança.
— Eu prometo — disse levantando a mão e erguendo o dedo mindinho — De dedinho — sorriu.
— De dedinho — entrelaçou o dedo dele com o dela — Eu vou sentir sua falta
— Eu vou voltar, sempre nos encontramos — sorriu — Prometo que não vou ficar longe por muito tempo.
Em um ato repentino Grissom a puxou pela cintura e iniciou um beijo apaixonado e com desejo, os corpos pediam um pelo outro, o mundo não girava, tudo em volta deles pararam, estavam na bolha que os mesmos criaram. Aos poucos os dois foram parando e trocando selinhos, Sara levou os olhos ao dele.
— Griss ... Eu — fez uma pausa, seria o melhor momento para pronunciar aquela frase? Chegou à conclusão que não — Preciso ir.
— Sara, eu sei o que você quer dizer e quero que saiba que sinto o mesmo — sorriu — Esperarei você se sentir à vontade — deu mais um selinho nela — Você precisa mesmo ir? Não pode esperar eu tirar férias, poderíamos ir juntos — ficou empolgado com a ideia.
Ela também se empolgou com a ideia, não podia negar, viajar ao lado dele era tudo o que queria mas não conseguiria esperar — Griss, eu adoraria isso mas não posso esperar ... Ah não ser que você possa ir agora, no mais tardar amanhã — ela sabia que ele diria não mas não podia perder as esperanças.
Ele ficou surpreso com a proposta, parou para pensar na possibilidades mas logo desanimou — Sah, eu não posso ir — parou — Eu adoraria mas não posso tirar férias agora — suspirou — E se eu te encontrasse mais para frente?
“Okay, agora ele me surpreendeu” — ela pensou surpresa
— Seria maravilhoso — ela sorriu
O silêncio voltou a reinar e sabiam que a hora dela partir havia chegado, o coração dos dois doíam, aquela sensação de que ela nunca mais iria voltar.
— Eu preciso ir ... — pode sentir seus olhos marejando — Vou entrar em contato.
— Irei te mandar mensagem todos dos dias — deu um último beijo nela — Se cuide, por favor
A morena se soltou dos braços dele e entrou no carro, deu partida e seguiu em frente, ficou observando a imagem do amado sumir pelo retrovisor, sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto e nem se importou em limpar, seu coração estava doendo mas aquela dor era necessária.
— Eu irei voltar Griss, eu sempre irei voltar para você — ela sorriu
Sua mente começou a vagar em busca de algum destino, o primeiro já estava decidido: San Francisco. Ela iria visitar sua mãe, fazia tanto tempo que não a via e sua consciência pesava, ainda mais depois daquele caso com o hospital psiquiátrico. Colocou uma playlist animada e focou na direção, deixou toda a magoa para aquela cidade.
...
Grissom voltou para o laboratório, seu coração doía por deixar ela partir, mas sabia que precisava de um tempo, os dois precisavam alias. Ele tinha certeza que ela era a mulher certa, podia ser ele mesmo em sua presença, ela não o julgava, pelo contrário, o compreendia. Enquanto caminhava para sua sala, se lembrou de um momento dos dois
~ flashback on ~
— Sara, querida — ele estava sem jeito — Queria te convidar para ir a um lugar comigo — falou baixo.
— Pode falar, Gill — ela sorriu, adorava ver ele daquele jeito.
— É .. Sabe, se não quiser, não precisa ir — olhou para ela — Eu vou entender — abaixou seu olhar — Prometa não rir ou ficar com nojo — pediu a ela.
— Olha Griss — pegou em sua mão — Se estiver me convidando para ir à fazenda de cadáveres, eu iria adorar — ela sorriu — Sempre quis ir lá, não pude participar do caso que aconteceu lá — disse triste.
— Não era isso, mas podemos planejar — ele sorriu — Eu nem sei como te falar isso, não é um convite romântico — disse sem graça
— Fala logo amor — a morena riu — O não você já tem, só falta a humilhação
— Não use a frase que incentivou o Greg comigo, mocinha — ele riu — Você aceita ir a corrida de baratas comigo? — disse sem graça, esperou alguma reação dela mas a mesma pediu para que ele continuasse — Vai acontecer em Los Angeles, só preciso confirmar o dia.
Ela soltou uma gargalhada
“Ah como eu sou apaixonado por essa gargalhada”— ele pensou.
— GRISS — ela disse rindo em voz alta — É claro que eu aceito — sorriu — E eu considero isso um passeio romântico — piscou para ele.
— Porque? Não envolve jantar à luz de velas e cinema — ele estava curioso.
— Querido, para ser romântico os dois tem que gostar — explicou ela — Eu sei que você adora isso e quero estar lá com você e eu realmente posso aprender algo lá — sorriu — Vai ser um máximo.
~ flashback off ~
Ele sorriu, foi naquele dia, no fim daquela conversa que ele soube que era ela. É com ela que ele quer passar o resto da sua vida, podia não acreditar em Deus mas acreditava no universo e sua ciência, acreditava que sua alma gêmea nasceu 16 anos depois dele mas cada minuto de espera valeu a pena.
— Grissom — ouviu a voz de Conrad o chamando — Pode vir a minha sala.
“Ótimo, era tudo o que eu precisava” — o supervisor pensou.
— Diga, Conrad — ele disse ao entrar na sala.
— Eu vi que você deu férias para a senhorita Sidle — fez uma observação — Acho que fez bem, aquela mulher é louca — olhou para ele — Sinceramente, acho que devemos demiti-la.
Grissom ficou irado ao ouvir aquilo, como ele poderia dizer isso da namorada dele?
— Ela se envolve muito nos casos, intimida os suspeitos e as vezes desrespeita até mesmo colegas de trabalho.
A raiva de Grissom crescia ainda mais, aquele maldito homem não calava a boca.
— E ela me chamou de careca, não respeita nem o chefe do seu chefe — disse indignado.
Era o momento de Grissom dar uma posição, ele não podia deixar Conrad falando aquelas coisas.
— Sara pode se envolver demais em alguns casos, mas sempre lutou para que a justiça seja feita e concluiu todos. Ela não tem medo de ninguém, intimida os suspeitos e até mesmo seus chefes, como você mesmo disse, mas isso é ótimo. Ela é uma mulher de personalidade forte e isso assusta homens frágeis, eu tenho orgulho de te-lá na minha equipe, aquela mulher tem um senso de justiça inigualável — ele olhou para Conrad — E ela não mentiu, você é careca mesmo — deu de ombros.
— Grissom, se você a quer na sua equipe, então a responsabilidade é toda sua. Aquela mulher é doida sim, porém não posso negar suas qualidades, ela só precisa aprender a se controlar.
— Já terminou? — o supervisor perguntou impaciente, não aguentava mais ouvir ele falando mal de sua amada.
— Não — ele respondeu — Aquela palestra que você foi convidado para participar, lembra? — ele perguntou e o entomologista respondeu que sim com a cabeça — Bom, ela foi adiada para daqui dois meses.
— Tudo bem, só isso? — o careca respondeu que sim com a cabeça — Eu vou indo, preciso me organizar.
O supervisor caminhou para sua sala, estava sem cabeça para o trabalho mas teria que fazer. Sua mente vagava para Sara, se perguntava onde ela estava e se estaria bem.
“Espero que ela realmente se cuide” — disse em seus pensamentos.