No final eu fiquei até depois da meia noite estudando, parei apenas quando as letras estavam se misturando em minha mente. Acordei na terça feira ainda cansada, provavelmente ainda mais do que antes de ir dormir. Dormir pouco as vezes cansa mais do que não dormir.

A prova foi na primeira aula, e não foi nem um pouco fácil. Mas eu consegui responder mais da metade dela, então talvez não tenha ido tão mal assim.

— Essa prova estava bem mais difícil que eu esperava.

— Ma se você está achando difícil eu acho que eu me ferrei.

— Você ficou estudando até tare ontem, eu cheguei em casa e nem consegui estudar direito.

— Por que?

— Eu não sou a pessoa que mais consegue se concentrar no mundo, você sabe disso, mas ontem estudei até umas 19 horas, minha tia chegou e fiquei conversando com ela.

— E sua tia ainda está toda estranha?

— Sim. Ela falou que vai sair esse fim de semana, segundo ela uma viagem de negócios para fazer um curso de gestão.

— Será que a Ana não está namorando alguém?

— Eu nunca a vi com nenhum homem, acho que não.

— Bem, acho que com o tempo vamos descobrir. Então você vai ficar o fim de semana sozinha em casa?

— Eu estava pensando que a gente poderia combinar de ficarmos na minha casa nós três, e se até lá o Murilo estiver de alta ele também pode dormir lá.

— Ótima ideia. Assim podemos pesquisar sobre a Inaiê.

— Podemos assistir alguns filmes também, comer algo.

— Perfeito, mas espero que o Murilo consiga ir.

— Apaixonada.

— Nada disso, só não quero ficar o fim de semana inteiro de vela. E você vai hoje no hospital né?

— Besta. Hoje não vou conseguir ir So, meu pai marcou de me levar até a casa dele depois da aula.

— Certo, você finalmente vai ir conhecer a casa misteriosa e reclusa do seu pai.

— Sem viagem, é provavelmente uma casa como outra qualquer.

— Eu sei, mas não tenho boas lembranças daquele lugar.

— A Joana fez alguma coisa ruim com vocês aquele dia? Antes de eu conseguir chegar?

— Não. Ela só nos amarrou e ficou falando sozinha, foi um pouco assustador, acho que ela já estava um pouco louca.

Com o fim da aula fui almoçar para então seguir em direção ao Murilo. A mãe dele ainda estava em seu quarto quando eu cheguei, por isso esperei um pouco para entrar, normalmente a Isabel gosta de privacidade para ficar com seu filho.

— Boa tarde, Sophia. Já almoçou?

— Já sim senhora. Eu parei para comer no caminho. Como ele está hoje?

— Bem melhor, ele me contou um pouco sobre o que a Joana fez com vocês. Eu só posso agradecer por aquela louca não ter conseguido fazer algo mais grave com ele, com você também. Obrigada por estar ao lado do meu filho.

— Você não precisa agradecer, ele é meu amigo.

— Amigo? Bem eu já vou indo, se cuida querida.

Acho que eu preciso conversar com o Murilo sobre meus sentimentos logo, afinal parece que todo mundo já percebeu. Ele precisa descobrir isso por mim, não por outras pessoas.

— Sophia, como você está? Minha mãe te contou?

— Estou bem. O que? Ela não me contou nada.

— O médico esteve aqui um pouco antes de você chegar. Ele falou que eu vou poder ir para casa amanhã.

— Sério?

— Totalmente sério. Ele ainda pediu para eu ficar sexta longe da escola, em repouso em casa, mas depois vida normal.

— Maravilhoso. Você acha que seus pais vão encrencar se você pedir para dormir fora de casa esse fim de semana?

— Dormir onde?

— A Ana vai viajar sexta a noite e volta apenas domingo, a Maria nos chamou para dormir na casa dela, assim podemos pesquisar, e ficarmos um tempo juntos.

— Não sei, talvez meu pai não goste muito dessa ideia.

— E se ele souber que você vai dormir na casa da neta do Marcel Almeida, e que o seu outro neto também vai estar lá?

— O Miguel vai dormir lá também? Acho que isso provavelmente vai facilitar minha vida. Eu vou convencê-lo, não vou te deixar sozinha com o casal.

— Obrigada Murilinho.

— E como você foi na prova?

— Nem começa a conversar sobre esse assunto.

— Tão mal assim?

— Não sei. Mas não gosto de falar sobre isso, você sabe. Isso só faz com que eu fique ainda mais ansiosa.

Eu mudei rapidamente de assunto. Nós ficamos a tarde toda conversando sobre diversas coisas, como no velho tempo, só que melhor.

Ontem foi o dia que o Murilo saiu do hospital, parece simplesmente um sonho se tornando realidade, afinal ele estava em um estado tão grave que ninguém imaginaria essa recuperação em questão de dias. Eu não pude o acompanhar na saída do hospital, porque ele teve alta logo cedo.

Após o almoço eu até pensei em ir visita-lo, mas ao ligar para Isabel ela me pediu para deixa-lo se adaptar novamente a sua casa. E combinou comigo de eu ir hoje visita-lo. Por isso hoje estou indo direto da escola para a casa dele, estou indo sozinha, a Maria marcou de encontrar com o mimadinho no lago.

A casa dele é grande, não maior do que a dos Almeidas, mas ainda assim bem maior que a minha. Uma empregada abre a porta para mim e me informa que os pais dele estão fora, mas que o Murilo está na beira da piscina tocando violão.

Quando estou perto consigo ouvi-lo, ele possui um dom incrível, hoje ele toca uma música que eu desconheço, mas que é simplesmente perfeita.

— Sophia, pode vir sentar aqui do meu lado, não fica me observando dai.

— Desculpe atrapalhar.

— Você nunca atrapalha. Mas por que você não veio me ver ontem?

— Eu e sua mãe conversamos e achamos melhor dar um tempo para você ficar sozinho.

— Entendo. E a Maria onde está?

— Ela deve estar com o Miguel no lago está hora. Que música é essa que você estava tocando?

— Eu compus ontem.

— Então até que seu dia ontem foi bem produtivo. Murilo, as vezes eu invejo o seu talento sabe?

— Por que?

— Você sempre soube o que queria fazer, ser. Eu por outro lado sou totalmente perdida, nem eu mesmo me entendo.

— Você vai descobrir o que te encanta. Quando você menos esperar vai saber o que quer.

— Murilo, eu já sei uma coisa que me encanta, uma coisa que eu gosto e quero.

— O que é?

— Para ser mais especifica é uma pessoa, eu acho que sempre gostei, mas só recentemente me dei conta disso.

— Você está apaixonada. Por quem? Eu conheço – ele mostra uma expressão de magoa para mim, mas tenta disfarçar com um sorriso.

— Acho que eu estou mais que apaixonada, eu estou amando – ele fica ainda mais emburrado, parando até mesmo de sorrir – Eu amo você, Murilo.

— O que? Repete por favor.

— Eu te amo.

— Eu não posso acreditar. E aquela história de que você nunca teria nada comigo?

— Eu acho que eu já gostava de você, só estava fugindo dos meus sentimentos, uma coisa que eu descobri que eu faço muito. Eu precisei quase perdê-lo para me dar conta desse amor.

Como ele está sem reação ainda eu tomo a iniciativa e dou um beijo nele. Meu primeiro beijo, e o melhor que eu poderia ter pedido, afinal é com o garoto que eu amo.

— Você ainda não falou para mim.

— Não falei o que? – ele fica com uma expressão de confuso que é tão ele que eu sinto ainda mais amor.

— Você me ama?

— Você ainda precisa perguntar Sophia? Todo mundo sabe disso.  O Miguel, a Maria, provavelmente até sua mãe. Eu amo você, na verdade eu te amo desde que eu consigo me lembrar, o amor que eu sentia por você de amigo foi se transformando sem eu conseguir perceber.

— Você é um fofo, sabia?

— E você é linda. Estamos namorando então?

— Estamos sim, Murilo. E não adianta tentar escapar de mim.

— Sophia eu nunca vou cometer uma loucura dessas.

Nós ficamos o resto da tarde nesse clima de amor, eu descobri que eu sou praticamente a musa inspiradora do meu artista. Em seu quarto encontrei diversos desenhos que ele fez de mim, ele me mostrou as músicas que compões pensando em mim.

Depois de um tempo os beijos ficaram mais intensos, eu queria ficar com ele naquele momento, mas precisei desacelerar um pouco, eu preciso ir com calma, não quero apresar nada entre nós dois, ele entendeu e acabamos vendo um filme até a hora de eu ir embora. O melhor dia da minha vida sem duvidas.