Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 6
Capítulo 8




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790001/chapter/6

— Como isso aconteceu Murilo? Até sábado você não consegui lembrar nem do nosso nome. Então sábado você já se lembrava da gente. E agora tudo.

— Eu não sei como.

— Essa deve ter sido a recuperação mais rápida da história Mu. Estou tão feliz.

— Eu dormi ontem a tarde e acordei com tudo dentro da minha cabeça já. Eu precisei me controlar para não forçar minha mãe a ir busca-las na hora.

— E hoje você fez uma surpresa para nós duas. Mu a mulher que você viu durante sua crise você não chegou a conhecer, não é?

— Na verdade não mesmo. A última coisa que eu consigo lembrar daquele dia é eu e a Sophia amarrados, quando a louca da Joana decidiu jogar o tronco nela. Eu precisei intervir para salva-la. Como eu consegui sobreviver? O tronco era enorme.

— Você teoricamente não conseguiu.

— Como assim?

— Depois que você caiu a gente conseguiu prender a Joana. O Miguel encontrou o livro que você estava lendo na casa grande.

— Eu deixei lá quando a Joana nos sequestrou.

— Nós imaginamos isso, o Miguel então pegou a gaveta com as coisas da Joana e o livro. Depois que você “morreu” ele encontrou o que você havia escrito.

— O feitiço para ler o livro em branco?

— Sim, mas o único jeito disso acontecer foi com a ajuda das Deusas, portanto apenas quando eu as invoquei, mesmo sem saber que eu consegui ler o livro, e fazer a louca devolver seus poderes para mim, afinal ela roubou os poderes da minha mão sobre a influência do Jupi.

— Então a Roberta estava certa sobre isso.

— Sim. As Deusas revelaram que a minha mãe foi morta por eles para conseguirem usar seus poderes, o plano do Jupi sempre foi afastar as descendentes do caminho das Deusas, para assim elas perderem a força e sumirem.

— Mas o que isso tem a ver com minha morte e vida?

— Quando as Deusas estavam indo embora a Sophia fez uma troca com a Inaiê. A Deusa trouxe você de volta a vida, em troca a Sophia precisa descobrir onde estão os descendentes da terra.

— Você fez isso por mim?

— Claro Murilo, eu faria isso por qualquer um dos meus amigos – eu percebo que ele desvia o rosto com uma certa decepção, mas eu não quero ter essa conversa agora, espero estar sozinha com ele quando confessar meus sentimentos, e principalmente espero estar em outro local.

— E ontem eu, o mimado e a So começamos a buscar a linhagem da terra. A Roberta deixou nós pegarmos outros dicionários emprestados, e alguns livros.

— Eu vou ajudar também, eu acho que era sobre isso que a mulher estava falando durante a crise.

— Aliás essa mulher é a Inaiê, ela provavelmente estava falando mesmo sobre essa sua ajuda.

Ficamos um tempo ainda conversando, o hospital trouxe o almoço para o paciente e para nós acompanhantes, por isso comemos juntos enquanto continuamos a atualizar o Murilo.

— Então quer dizer que o seu pai é o João Almeida? O eunuco?

— Sim, eu estou conversando com ele pelo menos uma vez por semana. Ele é uma pessoa incrível, ele faz de tudo para me agradar sabe?

— Eu consigo imaginar. Além disso, sua avó é a Roberta, isso é demais. Vocês se deram bem desde o inicio, quase como se já soubessem do parentesco.

— Eu sentia algo especial por ela mesmo antes de tudo. Ela é uma pessoa ótima, e também está muito preocupada com você. Todos ficaram.

— Até seu namorado?

— Você pode não acreditar, mas até mesmo o mimado.

— Realmente só acredito vendo. Mas vocês já conseguiram descobrir alguma coisa lendo os livros.

— Murilo não viaja, por favor, nós não somos você. Começamos a ler ontem, o máximo que eu sei agora é a primeira página. É muito complexo traduzir algo apenas com um dicionário de apoio.

— Em outras línguas normalmente é mesmo. Mas a linguagem da tribo era fácil, eles escreviam e falavam o que viam, sem grandes simbolismos, vocês vão pegar o jeito.

— No final Mu, você não terminou o livro não é?

— Não, mas falta pouco. O primeiro livro eu terminei, ele basicamente foca nas Deusas, em como elas deram um pedaço de cada uma para tornar o espirito do Jupi existente, ele é como se fosse um filho de cada uma delas, acho que isso tornou a inveja dele pelos humanos ainda maior, principalmente quando elas engravidaram e demostraram todo o amor que sentiam pelos seus futuros filhos.

— Eu acho que o entendo, mas nada justifica todo esse ódio e sede de vingança que ele guarda, afinal foi ele que induziu a morte de um humano, e com isso foi punido com a expulsão de Umarama.

— Exatamente Maria. O segundo livro que eu peguei focou muito mais na trajetória do Jupi, mas não é totalmente completa, depois que ele causou a morte do amado da Potira, a influencia dele sobre os humanos diminuiu consideravelmente, ele conseguia agir apenas de um em um, mas mesmo isso chamava a atenção das Deusas para ele. Muito provavelmente por isso ele ficou anos sem se manifestar, apenas ganhando aliados pequenos, para conseguir ser mais forte. Ele deve estar no auge do seu poder.

— Enquanto isso as Deusas estão sendo esquecidas, e ficando cada vez mais fracas.

— Eu vou terminar o livro do Jupi, e então vou pegar um livro sobre as Deusas e suas próximas gerações. Como já estou mais acostumado talvez eu consiga fazer a tradução mais rápido do que vocês.

— Metido.

— Sophia não vou nem responder, estou feliz demais por estar aqui com vocês.

— Você tem razão, sem brigas hoje, eu prometo. Murilo, você conversou com seus pais sobre o seu futuro?

— Um pouco, antes de eu me lembrar de tudo eu consegui falar com eles, mas depois minha cabeça ficou focada em todas essas lembranças.

— O que eles falaram, Mu?

— Eles não falaram muito na verdade. Foi basicamente um monologo meu.

— Sinto muito Mu.

— Tranquilo Maria. Eu acho que foi até melhor. Normalmente eles não me deixam nem falar. Pelo menos dessa vez eu consegui dizer que eu não quero medicina, que eu gosto de tocar, cantar, desenhar, até mesmo escrever. Eles ficaram em silencio durante todo o meu discurso.

Eu fico feliz por ele estar ao menos tentando decidir seu futuro, bem mais do que no passado, quando ele preferia fugir dos seus problemas a enfrenta-los.

— Eu acho que se estivesse totalmente recuperado, e em casa eles teriam começado um novo sermão sobre o quanto eu sou ingrato, não valorizo todo o esforço deles. Mas como eu acabei de sair de um coma eles estão evitando brigas. Meu pai acabou saindo do quarto quando eu parei de falar, minha mãe ainda ficou comigo, ela tentou mudar de assunto, mas acho que dessa vez ela vai pelo menos pensar sobre isso.

 – Espero do fundo do meu coração que sim, Mu, assim você teria o apoio dela.

— Eu posso estar engana, mas sua mãe mudou pelo menos um pouco depois de tudo que você passou. Ela tem me tratado melhor, ela evitava sair do seu lado.

— Eu espero que você tenha razão Sophia, porque eu acho que assim que eu sair desse hospital, meu pai vai voltar a ser o que era antes disso. Ele vai continuar me fazendo ter aulas particulares. Mas dessa vez vai ser diferente.

— Por que diferente? – ele fica em pé e anda até a janela do seu quarto olhando para a rua, e demora um pouco para me responder.

— Dessa vez eu não vou aceitar tão fácil assim. Pode ser que no final eu e meus pais acabemos mais distante do que já somos, mas eu não vou continuar aceitando ser o filhinho que somente sabe obedece-lo.

— Então você tem uma longa batalha pela frente.

— Vai mesmo, Mu. Mas você vai ter apoio dessa vez. Da sua mãe talvez. Mas meu, da So, e até mesmo do Miguel vai ter com certeza.

Hoje não ficamos com ele até muito tarde, porque amanhã vamos ter prova, e eu ainda nem estudei, a Maria não é a que tira as melhores notas do grupo, mas mesmo sem estudar ela normalmente consegue passar, eu por outro lado mesmo estudando não consigo chegar nem na média.

Entretanto dessa vez eu estou estudando bem menos do que costumo estudar, e olha que o meu basal já não é o melhor.

Quando eu chego em casa minha mãe ainda não havia chegado do trabalho, começo a estudar até dar 17 horas, então faço uma pausa para comer algo.

— Oi filha. Chegou mais cedo em casa hoje, pensei que você ficaria até escurecer lá.

— Eu tenho prova de português, voltei porque preciso estudar. Como foi seu dia?

— Muito melhor do que quando a louca vivia naquela casa. Mas me conta como o Murilinho está?

— Ele está recuperado mãe. Ele recuperou a memoria.

— Totalmente filha? Que maravilha. Até quando ele fica no hospital?

— Não sei, como é tudo muito recente talvez o médico queira mantê-lo no hospital em observação. Ainda mais ele sendo filho de alguém tão importante para a cidade.

— Mas logo ele estará em casa, agora é apenas questão de tempo, querida. E vocês vão começar a namorar quando?

— Mãe não começa, ainda nem conversamos sobre nada disso.

— Você é lerdinha igual ao seu pai, se não fosse por mim seu pai teria demorado anos para me pedir em namoro.

— Você que fez o pedido?

— Claro. Eu não vejo nenhum problema com isso.

— Eu também não mãe. Você é demais sabia? – eu dou um abraço rápido nela – Agora eu vou voltar a estudar, eu estou realmente atrasada na matéria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sobre a Terra Firme (Série elementos 2)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.