Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 2
Capítulo 2




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         Eu fui afastada do Murilo sem nem perceber, a mãe dele chegou antes que eu pudesse falar qualquer coisa, os médicos vieram ver quando a mãe dele começou a gritar. E mesmo sendo afastada não me importo muito com isso, afinal o que eu teria falado? Ele não se lembra de mim. Será essa uma punição por ele ter quase morrido por minha culpa?

         Eu fico esperando em frente ao quarto enquanto ele é examinado elo seu médico. Eu não fico sabendo de nada que está acontecendo lá dentro, não consigo escutar nada.

— Alo mãe – tento me concentrar na ligação da minha mãe apesar de toda a confusão que minha cabeça está.

— Oi filha, aonde você está? Você já deveria estar em casa.

— Mãe o Murilo acordou.

— Graças a Deus, minha filha. Como ele está?

— Ele não se lembra de mim mãe – eu sinto a garganta apertada, e engulo a força o choro que estava para sair.

— Deve ser efeito do trauma na cabeça. Ele já vai se lembrar de tudo meu amor, não fique desesperada. De um tempo para ele, vem para casa, amanhã você volta para o hospital, vai ver como amanhã ele estará melhor.

Mas eu não consigo ir embora sem receber qualquer outra notícia sobre ele. Fico esperando ainda mais meio hora, até a Isabel sair do quarto de seu filho.

— Você ainda está aqui? Você deve gostar mesmo dele. Vá para casa. Ele ainda não se lembra de tudo o que aconteceu, ele não lembra direito das pessoas, mas pelo menos ele está acordado. O Thiago está vindo para cá, para ver o Murilo. Descanse que amanhã a tarde você conversa com ele. Hoje o médico pediu para ele ficar o mais calmo possível, já está sendo estressante demais para meu filho acordar em um hospital sem saber o porquê. Mas amanhã ele vai precisar das suas amigas, para ele ir lembrando-se aos poucos de tudo.

— Eu entendo, vou indo então, qualquer coisa a senhora me ligue, por favor. Qualquer hora.

Eu não sou a pessoa que mais gosta de pegar ônibus, mas hoje nem me importei, o percurso serviu para eu me preparar, ficar forte para não desmoronar quando ver minha mãe. Serviu também para eu conseguir adquirir confiança novamente, ele acordou, não importa se ele não consegue saber quem eu sou, pelo menos ele está vivo. No final as lembranças eu posso colocar em sua cabeça novamente, podemos criar novas. Mas se ele tivesse morrido não haveria mais nada para o nosso trio viver. Na verdade quarteto, nos últimos meses o Miguel tem andado bastante com a gente, e eu estou até mesmo começando a gostar dele. Ele não é tão insuportável assim quando você se acostuma.

— Mãe, acabei de chegar.

— Que ótimo querida, deixei um pouco de comida no fogão come um pouco depois vem aqui na sala conversar comigo.

Eu não estou com fome, mas se eu não comer minha mãe vai perceber e vai ficar ainda mais preocupada. Quem vê de fora o jeito como minha mãe me trata, pensa que ela é um pouco super protetora, mas somente eu sei que na verdade ela é muito super protetora, eu tento andar sempre na linha para não atiçar a fera que existe dentro da Dona Marta. Eu ainda me lembro do dia em que eu quebrei o meu braço brincando no lago com meus amigos, depois disso demorou meses para ela me deixar voltar a sair de casa para brincar.

 – Como foi seu dia Dona Marta?

— É até feio dizer isso, mas desde que a Joana endoidou e foi presa pelo que aquela desgraçada fez com a Carla, trabalhar naquela casa ficou muito mais fácil. Eu tenho um pouco de pena do Miguel sabe, ele foi adotado pelo pior casal do mundo, o pai dele até que tem tentado agir como pai. Mas não sei quanto tempo o seu Luiz consegue ficar em casa sem sair para viajar para São Paulo, ele nunca gostou muito da vida nessa cidade. A sorte dele mesmo é a dona Roberta e o seu Marcel, os dois o estão mimando ainda mais desde o dia do seu sequestro.

— Mais ainda? Esse menino já é mimado o suficiente, ninguém vai aguenta-lo se ele ficar um pouquinho mais. Só a Maria é claro, ela está tão apaixonada que não percebe mais o quanto ele é mimadinho.

— Eu acho que a Roberta está querendo compensar a ausência de uma mãe, ainda mais agora que ela tem dois netos para dividir a atenção... Mas mesmo com tudo que aconteceu a casa grande está muito mais alegre do que antes. Aquela Joana pesava o ambiente. Eu sempre a achei uma mulher ruim, mas agora depois ela fez com você e com o Murilo, se eu a vejo algum dia acho que sou capaz de mata-la. Ás vezes não parece rela que você foi sequestrada.

Eu sei bem que a ficha da minha mãe ainda não caiu, porque se ela estivesse em condições normais ela nunca me deixaria  sair de casa após um sequestro. Talvez o fato da maluca da Joana ter sido presa a esteja deixando com a sensação de que tudo foi resolvido. Infelizmente eu sei que não, afinal o mestre daquela vaca ainda está por ai, tramando alguma coisa para atingir minha amiga.

— E o Murilo como estava quando acordou?

— Não muito bem mãe, ele ainda não lembra da maioria das pessoas a Dona Isabel falou, o médico pediu para a gente manter distancia por hoje. Ele ficou um pouco agitado.

— Eu imagino a situação dele. Acordar em um hospital com uma pessoa que ele não lembra ao seu lado, sem saber direito como foi parar ali.

— Eu entendo tudo isso mãe, de verdade, mas ele não se lembrar de mim dói.

— Eu imagino o quanto querida. Vocês três são inseparáveis desde pequenos. Mas isso vai passar. Você só precisa ter fé em Deus.

Eu sei que quem ajudou ele foi uma Deusa, a Inaiê, e por isso assim que o Murilo estiver em casa, melhor vou ter uma missão a cumprir. Eu preciso pagar essa divida que tenho com a Deusa da terra. E no percurso vou acabar ajudando minha amiga a enfrentar o Jupi. Afinal quanto mais pessoas com o dom melhor para combater esse espirito.

— Eu vou ir dormir mãe, e amanhã depois da escola...

— Você vai direto para o hospital, eu já sei querida. Eu não gosto de você todo dia em um hospital, mas agora que ele acordou acho que em pouco tempo você não precisará mais frequentar o hospital.

— Assim eu espero. Boa noite mãe.

— Boa noite minha linda.

Eu sempre acordo cedo para me arrumar para ir para escola, mas ultimamente tenho andado tão cansada e tão sem animo para me arrumar que acordo uma hora depois do meu horário normal. Minha mãe já está na casa Almeida há pelo menos 2 horas, ela gosta de começar seu trabalho logo cedo, eu por outro lado se pudesse ficaria na cama até bem mais tarde.

É difícil me concentrar em aulas de matemática, português, inglês quando eu tenho que pensar em maneiras de ajudar o Murilo a recuperar a memoria.

—Como o Murilo ficou ontem depois que eu fui embora? – no meio de todo meu desespero eu esqueci totalmente de contar para a Maria.

— Ma desculpe eu acabei nem te contando, ele acordou.

— Que maravilhoso, ele falou alguma coisa? Ele está bem?

— Ele não lembrou de mim.

— Como assim não lembrou de você?

— Ele não me reconheceu, Maria – eu começo a chorar no meio da sala de aula, minha amiga me abraça e eu não consigo mais parar, eu tentei segurar tudo isso na frente da minha mãe, até mesmo quando estava sozinha, mas acho que não consigo mais aguentar isso sozinha – Você vai comigo no hospital hoje, não é Ma? Eu preciso saber como ajuda-lo, eu preciso ver que pelo menos de você ele lembra.

— Lógico que eu vou. Você nem precisava perguntar. Você está melhor? – aceno com a cabeça quando a professora de geografia entra na sala.

O resto da aula passou como um borrão, no final eu e Maria seguimos juntas em direção ao hospital, paramos apenas na sorveteria da Ana para comer algo antes. Eu como o mais rápido que consigo, não quero perder tempo aqui. A Isabel espera por mim na frente do quarto do Murilo, ela vai para casa agora descansar enquanto eu fico com ele, essa tem sido nossa rotina diária.

— Ele acabou de acordar, ele ainda não lembra de muita coisa, o médico acha melhor não forçar nada, ele falou que às memorias podem voltar naturalmente, só termos paciência.

— Pode deixar Dona Isabel, nós só vamos fazer companhia para ele – eu balanço a cabeça concordando com a minha amiga.

— Eu volto mais tarde então com o Thiago, qualquer coisa me ligue.

Eu entro no quarto e sinto um pouco de nervosismo, algo que nunca costumo sentir, eu normalmente sou a alegre, segura e independente. Hoje me sinto o oposto de tudo isso, queria entrar no quarto e encontra o meu amigo como ele era antes. Mas não é isso que eu encontro, infelizmente.


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