Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 14
Capítulo 17




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Chego em casa uns vinte minutos antes do almoço, recusei a oferta de comer com as duas porque não quero levantar nenhuma suspeita para minha mãe. Entro pela janela e coloco uma roupa de ficar em casa.

Minha mãe já estava na cozinha almoçando quando saio do quarto, mas ela não fala nem uma palavra. Ela não percebe meus sumiços porque eu costumo dormir até mais tarde no sábado. Antes minha mãe, entrava toda manhã para conversar comigo, mesmo eu estando dormindo ainda, agora o máximo de contato é quando sentamos juntas na mesa, para comer.

No fim, decido ficar o resto do fim de semana em casa, treinando o que aprendi com a Roberta, sem poder sair para ir ver o Murilo, que me chamou para ir até a sua casa, mas não fui para evitar mais atritos com minha mãe.

A semana iniciou como qualquer outra, segunda tive aulas normais, conversamos com o Murilo sobre o meu avanço na descoberta do meu dom, e ele me contou que continua lendo o livro sobre as descendentes das Deusas, terça e quarta feira me dediquei o máximo possível ao meu jardim, e comecei a aplicar a transferência de energia para as plantas, as que eu plantei começaram a crescer mais rapidamente,   nem parece que elas estão com apenas uma semana aqui, já as plantas que restaram vivas da época do meu pai estão voltando a florescer, descobri que muitas das flores que meu pai tinha são utilizadas em algumas poções.

— So, você trouxe a atividade de inglês?

— Já estou vendo pela sua cara que não, você esqueceu novamente amor.

— Eu fiquei ontem até a hora que minha mãe chegou cuidando do jardim, depois acabei dormindo, quase perdia hora hoje. Não lembrava nem que a professora havia pedido para fazer essas questões.

— Que bom que seu namorado é prevenido, e já deixou um trabalho feito para você.

— Sério?

— Sim, mas não se acostuma, só fiz isso porque você está mais concentrada na descoberta do seu dom, e também no tempo livre fica preocupada com sua mãe.

— Te amo.

— Vocês são tão fofos. Sua mãe continua estranha?

— Muito, ela não conversa mais comigo, nem me lembro quando foi a última vez que ouvi sua voz. Eu não sei muito bem o que está acontecendo, e como ajudar. Estou lendo o livro de rituais da Inaiê para ver se algo pode ajudar, mas nada até agora.

— Se precisar da minha ajuda só pedir. Vou começar a pesquisar também rituais da Yara.

— Obrigada. Falando em livros, você ainda não terminou o livro dos descendentes não é lindo?

— Ele é maior do que os que eu li anteriormente. Agora terminei já sobre a histórias dos ancestrais de cada elemento, mas ainda não terminei o livro. Ele está aprofundando em rituais antigos, que eles realizavam para acessar de forma mais ampla e profunda sua conexão com as Deusas, e com seus dons. Achei um dos rituais bem interessante, ele serve para unir dois ou mais elementos.

— Como assim? – a pergunta da minha amiga reflete a minha própria duvida.

— Eu acho que se descendentes de elementos diferentes realizarem juntas esse ritual elas vão ter uma conexão, pessoal, e até mesmo por meio da áurea. Pelo que eu entendi, esse é um ritual que permite que diferentes elementos unam seu dom para realizar outros rituais juntos. Mas ele não forma uma ligação permanente, ele dura apenas alguns meses, por isso os descendentes realizavam esse feitiço pelo menos uma vez por mês antigamente.

 – Lindo, eu preciso desse ritual, você pode trazer para mim amanha?

— Trago sim, por quê?

— Acho que esse é o ritual que vamos realizar no sábado. A Roberta falou que a gente iria descobrir durante a semana qual realizar.

— Acho que você está certa. Trás para mim e para a So, nós o estudamos amanhã à tarde e sábado fazemos juntas.

O Murilo me acompanhou até o ponto de ônibus, e ficou comigo até meu ônibus chegar.

— Eu queria muito ir para sua casa com você. Mas hoje tenho aula particular de física.

— Seus pais continuam desejando que você seja um médico?

— Só meu pai. Minha mãe desde quando eu sai do coma não comenta mais sobre o meu futuro, ela prefere não contrariar meu pai, mas também não me força a fazer o que eu não quero.

— Mas por que você continua fazendo essas aulas, você não conversou com seu pai?

— Até tentei, mas meu pai não tem parado em casa. Faz uma semana que ele precisou viajar para a capital. Além disso, não ligo de fazer as aulas particulares, eu gosto de estudar, você sabe disso.

— Mas e suas músicas?

— Eu não desisti disso, eu só preciso esperar ter idade o suficiente para seguir meu sonho. Cansei de brigar.

— Não posso dizer que te entendo totalmente. Mas eu te apoio – dou um abraço apertado nele, e não posso deixar de pensar a respeito do meu futuro, o Murilo parece que percebe o que estou pensando.

— Quando eu fiquei te observando cuidar do seu jardim semana passada eu pensei que ali era o seu lugar.

— Eu me sinto livre quando estou cuidando das plantas, esqueço meus problemas, minhas brigas com minha mãe, o fato do Jupi ainda esta por ai livre. Além disso, sinto meu pai perto de mim.

— Acho que você já sabe o que quer fazer para o resto da vida.

— Como assim?

— Você acabou de descrever tudo o que eu sinto quando estou cantando, tocando, desenhando. Você nasceu para cuidar das plantas.

— Tipo jardineira?

— Pode ser. Existem diversos cursos sobre isso por ai. Mas você pode ser paisagista, pode ser bióloga, o que você quiser, mas sua vocação está nas plantas.

Eu sinto meu peito esquentando. Empolgação pura e verdade. O meu namorado está certo, isso é o que eu sei fazer de melhor, sem precisar me esforçar para fazer, o esforço é apenas para meu aprendizado, e não é de forma alguma algo que faço obrigada, é algo que eu desejo fazer sempre. Eu pulo no Murilo, pegando-o de surpresa, e o beijo.

— Você é o melhor.

— Você que é, amor. Agora vai que seu ônibus está chegando, e eu tenho uma aula ainda hoje, já estou meio atrasado.

Assim que chego em casa faço uma comida rápida para mim, sem conseguir conter minha alegria, e ansiedade para voltar a cuidar do jardim.

Ele está mais bonito ainda. A alfazema que está florida, depois de anos sem nenhum broto. Além disso, algumas outras já estão com um aspecto de que logo mais irá florescer.

— Acho melhor não... Não pode... É acho que vou.

Minha mãe me pega de surpresa, principalmente por não ser o horário que ela costuma sair do trabalho. Mas o que de fato me deixa assustado é ela não ter percebido minha presença no jardim, ela passou por mim sem nem ao menos olhar, e ainda está falando sozinha.

Eu decido parar de cuidar do jardim por hoje. Tomo um banho rápido ainda preocupada com o que minha ma~e estava falando quando chegou. O que poderia significar isso?

Eu entro lentamente na sala, sem minha mãe perceber minha presença. Ela está com a televisão desligada, com o olhar fixo.

— Ela não pode... Não pode mesmo.

— Mãe. Você está falando com quem?

— Ninguém sua mal educada. É feio ficar espionando as pessoas, você não sabe disso?

— Eu estou preocupada com você, mãe.

— Sério? Achei que você não lembrasse mais que tem uma mãe.

— Você que tem me ignorado – mas sinto uma leve culpa, porque sei que de fato tenho a evitado, evitado qualquer possível confronto com ela. Talvez essa não tenha sido a melhor opção – Mãe vamos comigo até o hospital.

— E por que eu iria ao hospital?

— Você não está bem ultimamente. Será que você não consegue perceber isso?

— Eu estou ótima, isso é tudo coisa da sua cabeça.

— Você estava falando sozinha mãe. Vamos por favor.

— Já sei. Você quer se livrar de mim, não é? Quer me colocar em um hospício, assim não vai ter mais uma mãe para te incomodar.

— Você nunca me incomoda. Eu só est...

— Está nada. Eu vou para o meu quarto. Não quero mais conversar com você. Não me incomode mais.

Ela passa por mim, trombando na lateral do meu corpo, e bate a porta de seu quarto, eu escuto ela trancando-se dentro do seu quarto.

Assim como no último sábado acordei mais cedo, dessa vez ainda mais cedo, para não ter a mínima chance de encontrar minha mãe. Porém aparentemente ela não dormiu durante o dia, e já estava na cozinha, andando de um lado para o outro, totalmente agitada.

— O que você está fazendo em pé? – minha mãe fala sem parar de se movimentar pela sala.

— Eu só acordei mais cedo hoje.

— Mas você está arrumada.

— Eu marquei de ir estudar com meus amigos.

— Estudar? Você acha que me engana. Eu não sou idiota, você está me escondendo alguma coisa – ela começa a andar violentamente em minha direção, gerando em mim uma sensação de medo que nunca esperei sentir pela minha mãe.

— Eu preciso ir, por favor.

— Acho melhor você me obedecer dessa vez, não quero ter que fazer algo com você Sophia.

Eu percebo um tom de voz totalmente diferente do da minha mãe, e receio corro para meu quarto me trancando.

Eu espero duas horas, até ouvir a porta do quarto da minha mãe fechar para poder sair pela janela. Por esse motivo chego atrasada na casa dos Almeidas. A Maria e a Roberta já estão na beira do lago.

— Você demorou hoje.

— Eu tive um problema na hora de sair, depois te conto. Você já contou sobre o feitiço que o Murilo achou?

— Estava esperando você.

Eu tiro da minha bolsa um papel que ontem o Murilo deu para mim na escola, nele está anotado o ritual.

— Roberta, o Murilo encontrou isso no livro dos descendentes, acho que devemos realizar juntas.

— O ritual de união. Fazia anos que não o via, afinal nunca antes tive a oportunidade de realiza-lo. Sempre tive curiosidade sobre o efeito dele, agora com uma descendente de outra Deusa presente podemos fazer.

Iniciamos como sempre com nossa meditação, que serviu para fortalecer ainda mais meu contato com a minha Deusa, com meu dom.

— Acho importante cada um ficar posicionado em um local, formando um semicírculo.

— Roberta... Eu acho que o mais correto é cada uma ficar na posição de cada elemento em Umaram – sigo minha intuição, interrompendo a Roberta.

— Como assim?

— Não sei se cheguei a comentar com vocês, mas quando fui em Umarama pude perceber que cada elemento tem a sua direção correta. Roberta e Maria, o lugar da água é ao oeste – a Roberta se posiciona primeiro no local correto, seguida pela minha amiga, enquanto isso eu vou na direção oposta – Eu como a terra fico ao leste.

O Murilo deu três copias do ritual, uma para cada uma de nós, por isso sabíamos exatamente o que falar, e juntas iniciamos.

— Nós, filhas de duas Deusas

Filhas da mãe Yara

Filha da mãe Inaiê

Desejamos uni-las

Unirmos nós três em um dom

Em um poder

Para com isso mudar e transformar

Que assim seja

Com o fim das nossas palavras, eu vejo minha áurea saindo de mim, e indo em direção as duas, não consigo ver a energia verde da água, mas imagino que o mesmo esteja acontecendo.

— Acho que deu certo, minhas queridas, nossa áurea está envolvendo a Sophia. O mesmo está acontecendo com a sua?

— Sim. Vocês estão cheias de energia da terra. O Murilo falou que isso dura pouco tempo, provavelmente apenas um mês, mas sinto que será útil.

— Acho que sim.

— Vou embora então, minha mãe logo vai estranhar minha ausência.

— Sophia, algo me diz que está na hora de você começar a fazer algumas poções. Siga as instruções dos livros, e se necessário compre ingredientes, mas faça.

— Acho que você está certa. Obrigada Roberta.


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