A Rosa indomável escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 13
A correntinha e a rosa domada




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Rose tinha guardado o presente de Scorpius no meio de um de seus livros preferidos. Não sabia o que deveria fazer ou pensar depois daquilo. E as palavras de Lily ainda rondavam sua cabeça. Quando suas amigas invadiram sua cabine de trem foram avidamente questionadas.

― Acham que eu só me importo comigo?

― Oi para você também Rose. – Chloe disse. – Como foram as festividades? Tudo bem. Que legal.

― Não tenho tempo para isso. – Rose afirmou e percebeu as meninas se entreolhando. – Meu Deus, essa frase responde a pergunta.

― Rose, você se importa com muitas causas. – Ellie começou. – E isso já é totalmente diferente de se importar só com você...

― Mas... Tem um mas né?

― Mas você às vezes não se importa como as outras pessoas estão se sentindo ou lidando com assuntos específicos. – Ellie completou.

― E também quer tudo do seu jeito. – Chloe desabafou. – Só que desde que está com Scorpius melhorou bastante.

Rose não podia acreditar. Que Lily estava certa e que as meninas estavam dizendo que Scorpius a fez melhorar. Ninguém sabia do fim do namoro, a ruiva tinha se isolado para evitar todo o drama, mas aparentemente o drama estava se aproximando porque o trem logo chegaria a Hogwarts.

xx

Hugo até tentou escapar do trem, mas não queria ter que enfrentar outro interrogatório da mãe. A carta que Lily lhe enviará estava guardada dentro da mochila, não tinha tido coragem de lê-la. Quando chegou à estação se despediu rápido antes que os primos aparecessem. Agora estava com Rose e as amigas dela fingindo que não existia e se mantendo calado a maior parte do tempo.

Infelizmente sua irmã tinha conquistado uma admiradora assídua e quando menos esperava Anne entrou pela porta pronta para planejar os próximos encontros e reuniões. Seu olhar atravessou o ruivo tão raivosamente quanto os olhares que Rose dava para as pessoas. Certamente a garota estava seguindo bem os passos do mestre.

― Hugo, quero falar com você. – Seu sorriso não enganava o garoto.

― Infelizmente preciso trocar minhas vestes... – ele foi saindo.

Mas deveria ter pressentido que Anne não o deixaria escapar facilmente. O colocou contra uma das portas de cabine em pleno corredor sem se importar com as pessoas que passavam por eles.

― Olha aqui... – Ela respirou profundamente. – apenas leia a maldita carta que Lily te mandou. Ficaram semanas e mais semanas trocando cartas através de outras pessoas e agora que têm a chance de trocar carta com a pessoa certa fica enrolando. Apenas leia a carta.

― Uau. – Hugo disse. – Você fez igualzinho a Rose.

― Sério?- Anne sorriu. – Jura?

― Juro.

Ela parecia muito orgulhosa e satisfeita.

― Apenas leia. Por favor. – Anne pediu.

― Vou ler. Prometo.

― Tudo bem. – Anne disse voltando a ser animada e sorridente. Voltou para a cabine de Rose deixando Hugo sozinho no corredor do trem.

Logo estariam em Hogwarts. E lá criaria a coragem de ler a carta de Lily. Somente lá.

xx

Rose entrou no castelo e notou que a entrada para o grande salão tinha duas filas. Intrigada entrou em uma delas e percebeu que uma mão entregava um panfleto. Não sabia por que ainda se surpreendeu ao descobrir que quem entregava esses panfletos era Scorpius.

― Apareçam sábado, vamos oferecer comidas e bebidas – ele dizia enquanto entregava os papéis.

A garota se manteve firme quando quebrou a distância entre eles. Scorpius Entregou o papel a Rose e reparou que era ela pela primeira vez.

― Precisamos conversar – ele disse exasperado.

A garota simplesmente virou o rosto para ele e seguiu seu caminho até a mesa da Grifinória. Scorpius puxou um primeiranista e mandou-o entregar os panfletos por ele.

― Rose, por favor, preciso falar com você – estava de frente a ela esperando que lhe desse atenção.

Mas a garota simplesmente o ignorou e começou a ler o panfleto que ele havia entregado.

“Venham sábado, às 14 horas , para a sala de história da magia, nos do Kahlo estamos juntando forças com o grupo de Nancy, temos assuntos em comum para o melhor de todos do castelo. Não percam!”

― O que significa isso?! – ela berrou raivosa olhando para ele. Queria ignora-lo, mas diante do panfleto era impossível.

Scorpius segurou um sorriso que quis sair. Sabia que Rose não ia deixar a informação passar sem ralhar com ele.

― Ela ficou aqui no natal como eu e começamos a conversar, ela tem...

― Você não tinha o direito! O Kahlo é meu, meu grupo! 

― Esqueceu quem pensou no nome do grupo e teve influência para chamar os membros? – ele estava conseguindo sua atenção. – Senão fosse por mim, não teria nada.

― Ah! Não me faça te azarar no meio do salão! – ela estava com tanta raiva, que tinha até esquecido a promessa que tinha feito a si mesma de nunca mais dirigir nenhuma palavra a ele.

Era a deixa que ele precisava para tentar ficar a sós com ela.

― Vamos para outro lugar, estão todos nos olhando – disse baixo chegando perto de Rose. Ela automaticamente se afastou dele, não queria sentir o garoto perto de si. Ele lhe fazia mal.

― Não vou a lugar nenhum com você!

Ele deu de ombros e começou a sair de perto dela. Rose olhou o panfleto nervosa, virou seu olhar para o lado e viu Nancy a encarando. Bufando nervosa resolveu seguir Scorpius.

― Vamos conversar no banheiro da Murta. – disse rápido começando a andar na frente dele.

xx

Hugo evitou encontrar Lily o caminho todo até chegar a Hogwarts. Decidiu que nem tomaria café. Foi direto para seu dormitório. Fechou as cortinas em volta da cama e pegou o envelope com as palavras.

Abriu tirando um pedaço de pergaminho um pouco gasto. Reconheceu a letra, não era da prima. Era uma caligrafia um pouco falha, parecia que ainda estava aprendendo a escrever. E o papel estava todo colocado, vários recados um embaixo do outro numa sequência.

“Lily eu gosto de assistir desenhos de trouxas venha pra minha casa amanhã depois da minha aula na escola trouxa.”

“Lily você é muito chorona, eu sabia que você ia adorar filmes de princesas.”

“Eu não acredito que está ainda lembrando daquele cantor horroroso que tem o pôster no seu quarto. Você é muito iludida.”

“Também estou chateado que caímos em casas separadas. Mas ainda somos melhores amigos não é?”

“Dave é legal, mas dizer o quanto ele é bonito para mim não é tão legal assim.”

“Fiz um desenho seu: (ele reconheceu o desenho que tinha feito dela aos treze anos, tinha dado duro para colocar os detalhes da prima tão perfeitamente no papel).”

“Não precisa ficar se iludindo por causa de um cara, existem outros a sua volta, é só abrir os olhos.”

No bilhete colado abaixo a letra tinha mudado para a de Dave. Mas as palavras eram suas:

“Tudo o que mais quero, no entanto, é decorar outros trejeitos seus. Quando vai me permitir descobrir seus novos segredos?...”

A letra era dele novamente e seu coração disparou pelo conteúdo que estava ali, não era mais trecho de cartas, e sim a carta completa.

“Doce Anne,

Enquanto lia suas palavras conseguia lembrar-me de nosso beijo em Hogsmeade. Foi tão singular o jeito como me olhou ao terminar. Poderia trocar cartas contigo para sempre, como se fosse uma tradição nossa e de mais ninguém. Pense comigo o quão linda história poderemos contar aos nossos netos... Começamos a nos apaixonar apenas por palavras...

Muitos dizem que se uma rosa mudar de nome continuará com o mesmo perfume, pergunto-me se outra pessoa escrevesse nossas palavras estaríamos apaixonados pela pessoa ou pelas palavras? Mas trago em mim que mesmo sem palavras ainda seguiria apaixonado por você. Por seus olhos, por seu jeito, por seus beijos.

Uma verdade é certa, as palavras podem ser levadas e apagadas.

Meu amor por você será eterno.”

Nas últimas linhas a letra era da prima.

“Suas palavras não estão esquecidas ou apagadas. Sempre foi você. Precisamos conversar. Lily.”

xx

― Não gosto de garotos em meu banheiro! – era a fantasma gritando assim que viu Scorpius entrando com Rose no banheiro abandonado.

― Eu sei Murta. Mas preciso conversar com esse Trasgo e escolhi esse banheiro porque sei que você me ajudaria se eu precisasse – Rose explicou a Murta.

Scorpius estreitou os olhos para Rose, enfim tinha entendido porque ela tinha sugerido ir para o banheiro da fantasma chorona.

― Não vou fazer nada contra sua vontade. Só quero conversar – explicou calmo. – Além disso, quero dizer que meu pai sempre lembra o quanto desabafar com você era de grande ajuda...

Apesar de raramente falarem sobre a guerra e tudo que ocorrera durante aqueles anos, às vezes Draco contava sobre Hogwarts saudosista como todos os adultos que Scorpius conhecia. Aparentemente ser adulto e velho te transformava automaticamente em alguém saudoso.

Murta encarou o garoto, olhando mais de perto realmente tinha os traços de Draco Malfoy, só que o menino a sua frente não estava condenado como ela e como seu pai esteve.

Rose absorvia a informação.

― Não confio em você. – ela suspirou cansada.

― Sendo assim qualquer coisa é só gritar, mas considerarei o que o garoto disse o pai dele sofreu...  – Murta voou até um a privada se escondendo no banheiro. – Já o seu era um grosseiro. – a fantasma falou já escondida.

O cômodo ficou em absoluto silêncio. Um silêncio intimidador e torturante.

― Estava tentando me provocar unindo forças a Nancy? Saiba que não caio mais nesses seus joguinhos – disse com desdém.

― Quero falar sobre nós, não sobre isso – disse olhando nos olhos dela.

Rose virou suas costas para ele. Não aguentava encará-lo.

― Não existe nós. Nunca existiu – sussurrou para ele.

― Um dia, o dia mais feliz da minha vida, você disse que tinha sentimentos por mim. E é em nome desse sentimento que quero conversar – chegou mais perto dela. Rose podia sentir sua respiração em seu pescoço.

― Sentimento? – ela negou com a cabeça – Quando eu era pequena meu pai já me avisava, que os homens não prestavam, que era pra me manter bem longe deles. Nunca acreditar nas palavras deles – ela virou o encarando novamente, estavam tão perto um do outro, mas Rose não se importou e continuou a falar – Eu cresci e quanto mais estudava sobre a história das mulheres mais eu sabia que meu pai estava certo. Jurei que nunca ia namorar ou deixar um homem me tocar.

― Por isso sempre foi tão espinhenta, jogando seus espinhos para todos os lados – ele sorriu tentando chegar mais perto dela.

Rose desviou dele e começou a andar para o outro extremo do banheiro.

― Por que eu deixei meu coração se abrir pra você? Por quê? – o nó em sua garganta tinha voltado, sentiu seus olhos se encherem de lágrimas – Eu não queria, juro que não queria. Não queria sentir o calor dos seus beijos. Não queria sentir o aconchego dos seus abraços.

― Mas sentiu – ele disse chegando mais uma vez perto dela – sentiu.

Rose mais uma vez desviou da proximidade dele e foi para o outro canto do cômodo. Ela virou seu olhar para o dele. Precisava dizer tudo o que estava sufocando dentro de si durante todos esses dias.

― Eu me apaixonei por você – confessou – por você eu mudei, por você eu me tornei outra mulher, por você eu passei a não ser tão extremista, me tornei alguém que as outras garotas queriam se espelhar e não mais aquela que elas tinham medo. Quando eu soube daquele baile eu só pensei em você, que queria viver aquela noite com você, tinha esperança em meu coração, esperava a felicidade e quando você aceitou ir comigo sem empecilhos eu fiquei inundada de alegria.

Ela deixou uma lágrima cair e Scorpius sorriu chegando perto dela novamente.

― Eu estava também muito feliz porque você estava deixando eu entrar pela primeira vez por inteiro em sua vida. E eu me apaixonei por você também e aprendi muitas coisas. Mudei muito te ouvindo e ouvindo as outras pessoas. Por você eu li um livro em espanhol, e conheci história de várias pessoas incríveis como você.

Rose percebeu que ele estava com os olhos marejados como o dela.

― E de que adianta tudo isso agora? Eu não passei de uma brincadeira pra você. Se mudou tanto assim poderia ter me contado a verdade.

― Eu quis esquecer essa aposta. Esquecer que ela existiu. Queria apagá-la.

― Mas ela existiu. E ainda está existindo aqui no meio da gente – parecia que estava se libertando dele cada vez mais – Estávamos construindo uma casinha dentro dos nossos corações, mas você destruiu todas as fundações.

Ele negou com a cabeça voltando a ficar perto dela. Frente a frente.

― As fundações e as paredes ainda estão inteiras, só precisamos reconstruir o telhado.

Scorpius quebrou a distância entre eles e segurou a cintura dela. Rose lhe empurrou com a maior força que conseguiu reunir.

― Some daqui! – ela gritou. – Some da minha frente!

Scorpius negou com a cabeça sentindo seu coração apertado. Permitiu chorar pela primeira vez na frente dela.

― Some da minha vida! – ela berrou voltando a chorar novamente por ele.

― SAIA DO MEU BANHEIRO! – Murta berrou nervosa na frente do rosto dele fazendo ele ir embora de vez. – nem todos os garotos estão condenados. – Ela disse apoiando Rose flutuando ao seu lado.

xx

Hugo ainda olhava para a carta em suas mãos. Talvez fosse mesmo o que estava imaginando e dessa vez não estivesse criando expectativas que depois seriam destruídas uma a uma. Poderia colocar em prática todas as dicas do livro que seu pai havia lhe mostrado.

Pegou um papel em branco. Qual a melhor maneira de conversar e consertar tudo o que tinham aprontado a não ser voltando ao início.

Então escreveu mais palavras expondo sua alma agora para a garota certa.

“Lily,

Não poderia imaginar que ainda tinha aqueles bilhetes da infância e nem mesmo poderia me lembrar dos meus garranchos tentando lhe dizer tudo nas entrelinhas.

Eu ainda gosto de desenhos trouxas e agora sei que além das princesas você também gosta das “garotas feias" que sofrem uma transformação no meio do filme e se transformam nas “garotas perfeitas" fazendo assim o popular se apaixonar por elas. Mas vou lhe contar um segredo. Você, minha prima, nunca foi à garota feia.

Rose deve ter lhe explicado o quanto esses filmes são usados para controlar a mente das garotas obrigando elas a mudarem por alguém e esperar pelo “príncipe encantado" sendo que na realidade não existem. Não deixe que controlem sua mente, porque você jamais será a garota errada. E nenhum garoto poderá ser como aqueles planejados pelos filmes.

Sinto muito por tudo que precisou passar. Agradeço pela carta. Precisamos mesmo conversar, porém eu ainda não estou preparado para encarar tal conversa.

Continuemos com as cartas. Voltemos para o início de tudo isso. E permitamos que as palavras de fato não sejam esquecidas ou apagadas, mas que ganhem ainda mais vida.

Ficarei esperando sua resposta. Torcendo por suas palavras.

H.W.”

O garoto sabia que Lily sonhava com um romance. E talvez ele conseguisse dar a ela o que sonhava, do jeito que ela merecia. Enquanto tomava coragem de encara-la sem uísque de fogo, sem olhos cobertos, sem a figura de outro o encobrindo. Apenas os dois. Frente a frente.

xx

Rose não estava se sentindo bem, mas prometeu a si mesma que não ia se deixar abalar novamente, passou o dia todo ralhando com Ellie e Chloe sobre a audácia do que Scorpius tinha feito de ter se juntado a Nancy.

― Eu já decidi, vamos montar nosso próprio grupo – as amigas olharam pra ela chocadas.

― Você só pode estar brincando Rose. – deixou escapar Chloe

― Nunca falei tão sério em toda minha vida – ela pegou um papel dentro de sua mochila e colocou na frente delas – Quero que pense em nomes. Nomes chamativos para a nossa causa.

― Rose você vai me desculpar, mas não vou fazer isso, é como dar murro em ponta de faca, já tentamos ir contra a Nancy antes e não deu certo -explicou Ellie corajosamente.

― Mas eu consegui ir contra ela!

― Com a ajuda do Malfoy – pontuou Chloe. – Sinceramente está voltando a ser a Rose de antes, a que não escuta ninguém e quer ser sempre a dona da razão.

― Belas amigas vocês são – disse ainda brava. Não conseguia controlar suas emoções.

Ellie e Chloe se entreolharam lembrando do início do ano quando Rose era exatamente como estava sendo agora, impulsiva, brava, não escutando a opinião dos outros. Porém antes delas tentarem explicar isso para ela. Uma figura parou atrás das duas.

― Rose quero conversar com você – era Nancy.

A garota olhou ela cansada. Seu dia estava longo cansativo, cheio de fantasmas do passado lhe atentando e fazendo sua dor de cabeça piorar.

― E não adianta negar, vou ficar até falar comigo – terminou a garota.

Rose cruzou os braços e revirou os olhos.

― Vamos deixar vocês se acertarem – disse Ellie.

― Se acertarem! – completou Chloe saindo de perto das duas com a amiga.

― Se não quiser um diálogo, pelo menos me escute. – Rose continuava a olhar para ela brava – Eu conversei com o Scorpius no natal realmente, e como nossas causas são as mesmas Rose não há razão para separamos.

― Eu não faço mais parte do Kahlo, faça o que bem entender e me deixe em paz – ela começou a levantar pra sair de perto dela, mas Nancy a puxou de volta.

― Nunca pensei que fosse desistir tão fácil.

― Eu desistir fácil? – Rose deu um murro na mesa nervosa – Vocês me traíram!

― Escute, não quero brigar – falou Nancy mais calma – Quero ser sua amiga novamente. Éramos tão unidas até o sexto ano. Sinto sua falta, sinto falta da minha melhor amiga.

― Já conversamos do por que não somos mais amigas – falou mais calma, mas ainda não dando o braço a torcer.

― Rose, você já experimentou o amor – ela revirou os olhos, odiava a palavra amor – Eu vi o quanto estava radiante no baile, feliz como nunca. Eu sinto muito que tudo deu errado. Mas eu sinto isso com o Alvo, o que você sentiu, eu sinto por ele e acho que entende que isso não significa traição ao movimento.

A ruiva suspirou cansada. Não queria brigar com mais ninguém, queria ficar com seus pensamentos em paz e ela não podia mentir a si mesma.

― Eu sei que não é – disse por fim. Nancy sorriu diante das palavras dela.

― E eu quero te pedir desculpas se briguei com você por motivos banais. Quero me unir ao seu grupo, não o de Scorpius, o seu para juntas conseguirmos fazer muito mais mudanças no castelo.

― É o grupo é meu – ela comentou baixinho.

― Sempre foi seu Rose. – ela segurou na mão dela – Eu preciso de você do meu lado. Não temos que brigar.

― Então por que se juntou ao... – ela não conseguia falar o nome dele.

― Ele me procurou. E acredite ou não me convenceu que estávamos erradas brigando sendo que tínhamos o mesmo objetivo e que isso só atrapalhava alcançar nossas metas. – Rose suspirou cansada – Ele é bom Rose. Eu vi esses dias que você estava fora. Sentamos e discutimos formas de fazer todos os alunos nos ouvirem e decidimos fazer a reunião no próximo sábado.

Ela sacudiu a cabeça ainda não querendo ser vencida.

― E precisamos de você – Nancy continuou. – sabemos que é a voz desse castelo. Você é parte fundamental de tudo que estamos fazendo. Não pode desistir agora.

― Eu não quero desistir. Você sabe disso.

― Então aceite essa união Rose. Por favor.

Ela pareceu pensar. Não tinha mais forças para brigar com ninguém.

― Me explique melhor o que querem nessa reunião.

― Ah Rose – Nancy exclamou feliz com a resposta dela e a abraçou forte. Ela não queria abraçar, mas parecia que esse abraço amigo  estava lhe fazendo mais falta do que ela imaginava. Quando viu estava retribuindo o abraço com a mesma intensidade da amiga.

― Eu senti sua falta – confessou.

― Eu também.

Às vezes o medo de perder uma pessoa é tão grande e tão forte que acaba-se a perdendo por isso. Amizades, amores, vitórias que se perdem em meio à falta de diálogos e medos tolos de perder o que mais lhe faz bem, quando tudo que era necessário seria aproveitar todos os momentos sem medo algum.

Talvez Rose fosse a garota mais corajosa do castelo quando os outros a viam, mas quem diria que os medos escondidos pudessem a afastar até mesmo dela mesmo. Mas quem sabe a reunião seja mais uma forma de mandar os medos embora. Rose descobriria.

xx

As aulas estavam sendo difíceis para Lily porque se sobressaltava a cada pessoa que passava pela porta. Aparentemente Hugo continuava fugindo dela mesmo depois de Anne ter conversado com ele. Então quando qualquer pessoa que tivesse cabelos que lembrassem o ruivo entrava ela sentia o coração bater tão rápido que às vezes quase o via saindo por sua boca e correndo pelo corredor batendo o nome do primo por todos os lados.

Estava tão ansiosa que não compreendeu o que era aquele papel que sua amiga estava lhe entregando.

― O que é isso? – Questionou antes de Anne virar o envelope e ela reconhecer a letra que tinha escrito Lily em preto.

― Sua correspondência. – A morena sorriu animada. – E não aceito que leia longe de mim.

― Meu Merlim... – Lily disse abrindo o mais rápido possível.

Seus olhos corriam pela folha rapidamente. E no final não sabia o que sentir. Levou o papel até o peito e fechou os olhos emocionada.

― O que? – Anne desesperou.- O QUE? – Gritou.

― Ele... - Lily sorria. – Quer trocar cartas comigo.

― O que? Já passaram por isso.

― Não. Nós não escrevemos por nós. – a ruiva disse já imaginando o que poderia escrever. – Ele quer voltar ao início de tudo.

― Por que não conversam apenas? – Anne questionou.

― Porque somos bons de mais com palavras para desperdiçar essa oportunidade.

― Ou porque são absurdamente românticos e apaixonados só que tímidos e cabeças duras. – Anne deduziu.

― Te entrego a resposta logo. – Lily disse correndo para responder a carta.

― Virei coruja correio... – A garota disse para o vento.

xx

Nancy explicou tudo a Rose, as ideias que tinham conversado e quais eram as ideias que queriam implantar e como era importante ela ser o centro de tudo aquilo. Porque agora de certa forma ela era influente sobre os estudantes.

― Nancy você não acredita – Disse Scorpius chegando perto da garota.

Já havia passado três dias que tinham voltado as aulas. Rose e Nancy não se desgrudavam mais. Quando Scorpius chegou perto da amiga de Rose para contar a novidade a ruiva estava ao lado, mas o sonserino fingiu que não tinha visto ela.

― A lista que estamos passando de quem irá a reunião já está quilométrica, precisamos mudar o local da reunião.

― É só ampliar magicamente a sala, minha mãe me... – quando viu Rose estava respondendo ele. Mas parou assim que percebeu o que estava fazendo.

― Você sabe fazer o feitiços Rose? – Nancy perguntou.

― Sei – ela confirmou tentando ignorar o olhar de Scorpius em cima de si.

Ele não ia desistir dela. Mas se estava se sentindo mal perto dele, não ia forçar a nada. Talvez com o tempo ela lhe perdoasse.

― Hum-hum – pigarreou Nancy – É melhor você ir Scorpius, nos falamos mais tarde.

O garoto concordou com a cabeça em saiu de perto delas.

― Ele mudou Rose – comentou assim que viu ele longe.

Rose fingiu não escutar as palavras de Nancy e mudou de assunto. Ela estava aprendendo a fingir ultimamente, fingir que não se importava com ele, fingir que seu olhar sob ela não lhe causava nenhum efeito mais, fingir que estava ótima e já tinha superado tudo.

xx

Hugo tinha lido o livro que seu pai lhe deu inteiro e apesar de ser um livro completamente inútil no quesito conquistar garotas na opinião dele. Já que como sua irmã lhe ensinou, não se pode forçar nenhuma garota a gostar de alguém. Ele resolveu seguir as 12 dicas, a maioria na verdade ele já tinha feito durante esses anos todos e nem tinha percebido:

1 – Sua capacidade de conquistá-la. (Ele tinha conseguido fazer ela se apaixonar ainda mais por Dave com suas palavras). 2 – Reconhecer o quanto ela é importante em sua vida.( Isso ele já sabia há muito tempo e estava tentando ela se fazer perceber isso pela sua última carta mandada). 3 – Ser atento a ela. (sua atenção sempre era voltada para ela). 4 – Educação. (Tinha sido um pouco mal educado com ela na infância, esperava que Lily tivesse esquecido). 5 – Presença (tentava sempre estar presente em momentos da vida dela, alegres e tristes, mesmo que nos últimos dias estivesse fugindo dela).6 – Compreensão (mostrou ter compreensão quando aceitou os sentimentos dela por outro e não tentou impedi-la de ficar com ele).7 – oportunidade (aproveitou a oportunidade duas vezes, as duas vezes mentiu e não foi honesto).8 – Simplicidade (isso ela havia lhe mostrado ao enviar a carta com trechos de cartas e bilhetes dele, palavras simples cheias de significado que ela havia compreendido). 9 – Humildade (tentaria sempre fazer as coisas pensando no bem dela em primeiro lugar, já bastava vê-la sofrer por muito tempo pela culpa de um beijo errado).10 – Criatividade (estava tentando usar sua criatividade ao pedir para ela se comunicar por palavras com ele como sempre e desta vez ia tentar conquista-la sem máscaras)11 – Sinceridade (nunca mais camuflaria seus sentimentos) 12 – Coragem (não por acaso a última dica era essa, precisava ter a coragem de conversar pessoalmente e finalmente assumir seus sentimentos).

Quando recebeu a resposta dela sobre sua última carta, começou a colocar essas dicas para funcionar, mesmo que já estivesse fazendo isso sem perceber.

“H.W

Estranho te chamar assim. Discordo de você a respeito dos filmes, hoje aprendi a amar muito mais aqueles filmes em que o protagonista se ilude com algo que a vida toda queria alcançar para se sentir completo e quando isso acontece percebe que não era tudo aquilo que imaginou e que sua pedra preciosa estava do seu lado e nem tinha percebido.

Lily”

Ele sorriu.

Ser chamado de pedra preciosa certamente não era para todas as pessoas. Ele teria coragem. Mas antes disso, da coragem arrebatadora de olhar nos olhos de Lily e se permitir toca-la, continuaria com os outros 11 passos.

Escreveu a próxima carta.

“Lily,

Sua carta me fez pensar em um velho ditado que diz: cuidado com o que deseja porque pode se realizar. E nesse momento caímos de cabeça em outro eterno dilema: Não crie expectativas, crie porcos. Se nada der certo pelo menos temos bacon. Infelizmente, não gosto de bacon e amo expectativas. Devo eu desejar nosso encontro ansiosamente ou apenas seguir a vida entediante de quem observa de longe, de quem se afasta para se manter por perto, de quem ama mesmo sem nunca ter sido amado de volta? O que acha?

H.W.”

xx

Os dias estavam passando rápido. Sábado chegou e com ele a reunião. Todos os membros mais ativos do Kahlo e do grupo de Nancy estavam ajudando a arrumar a sala para o encontro às 14 horas. Rose ampliou o local com magia, havia vários petiscos que tinham conseguido nos mercados em Hogsmeade (já que não queriam que os elfos cozinhassem), vários tipos de sucos. Colocaram várias cadeiras no lugar e onde era a mesa do professor deixaram reservado o lugar para conversarem com o público. Na lousa Rose havia pregado um desenho de Frida Kahlo ampliado e as letras do nome do grupo estavam logo acima chamando a atenção.

― Rose você acha que temos cadeiras suficiente? – era Anne perguntando.

A garota tinha se empenhado bastante desde que tinha entrado no grupo, sabia que ela estava ajudando seu irmão. E pensou que quando saísse de Hogwarts no fim daquele ano deixaria o grupo em boas mãos.

As horas pareciam correr naquele dia até o horário da reunião.

As pessoas estavam começando a chegar. Rose estava nervosa, várias pessoas vinham cumprimenta-la, mas ela simplesmente não conseguia responder. Reparou em Scorpius, não queria olha-lo, mas era quase impossível não prestar atenção em suas atitudes. Tinha ajudado a semana toda a chamar pessoas, foi o primeiro a chegar à sala começando a arruma-la, agora cumprimentava a todos com sorrisos indicando o caminho para se sentarem.

― Ele está mesmo mudado – era Nancy em seu ouvido assim que reparou para onde os olhos da amiga de direcionavam.

Rose limitou-se a ignora-la.

― Anne cadê meu irmão? – Rose perguntou a garota ao seu lado reparando que Hugo ainda não tinha chegado.

― Ah Rose, ele sente muito, mas não vai poder vir. Ele tem um assunto inacabado para resolver – Anne soou misteriosa, mas ela havia entendido qual era esse assunto inacabado.

A cada minuto que olhava a sala ela ia enchendo de mais pessoas. Estava cada vez mais nervosa, mas desejava muito que muitas pessoas a ouvissem.

xx

Lily havia recebido a carta de Hugo e ficou alguns dias pensando no que lhe responder. Tentou várias vezes lhe dar uma resposta a altura, quando na sexta-feira conseguiu lhe enviar a resposta:

“Hugo,

Eu adoro bacon, e devo confessar que odeio criar expectativas. Sempre viveríamos naquele mundo de faz de conta que dizíamos no começo. Não quero viver de imaginação. Como sua melhor amiga devo te dar um conselho. Deixe de observar de longe, deixe de viver de expectativas, está na hora de experimentar o bacon e tirar uma nova conclusão do sabor. Sei que dá medo, eu também estou. Mas sinto que nunca estive tão certa em toda minha vida.

Lily”

E ela recebeu a resposta no mesmo dia:

“Amanhã à tarde. Espere-me no mesmo lugar em que tive coragem suficiente de tocar em ti e descobrir o quão bonito pode ser sentir”.

xx

E ela está em pé em frente a todos que a observavam. Eram tantos rostos diferentes, crianças, jovens e até adultos que vieram de Hogsmeade, observou que os centauros (mesmo ainda muito reclusos) aceitaram ouvir o que ela tinha pra dizer, grande parte dos professores estava presente, Hagrid estava lá lhe dando um sorriso de orgulho, alguns elfos da cozinha estavam em outro canto. Até mesmo McGonagall estava lá para ouvi-la. Estava nervosa mais do que nunca, mas ao mesmo tempo muito decidida a fazer aquilo que sempre quis. Apontou a varinha para sua garganta e começou a falar.

E ela falou. Tudo que tinha estudado em toda sua vida. A história das minorias, o quanto achava retrógrado algumas regras e costumes que ainda perduravam. Falou dos preconceitos, do quanto às mulheres precisam lutar pra ter voz e vez em qualquer coisa que querem fazer. Citou a descriminação racial, corporal e sexual. Lembrou da segunda grande guerra que Voldemort queria acabar com os nascidos trouxas, querendo tirar a magia deles acusando-os de roubarem a magia dos bruxos. Falou dos elfos e contou a história de Dobby. Falou dos gigantes contando a história de Hagrid. Contou tudo aquilo que estava engasgado dentro de si por tanto tempo. Aquilo que queria dizer para o mundo todo. Agora ela estava começando a ter voz.

Quando ouviu aplausos no final de seu discurso seu coração estava cheio de orgulho.

― Posso ver você no futuro virando primeira ministra da magia. – Era Scorpius que dizia aos sussurros em seu ouvido.

Ela nem se incomodou da proximidade dele. Estava orgulhosa demais para se chatear.

― Preciso anunciar o primeiro passo dessa mudança – era Scorpius que dizia com a varinha agora apontada para sua garganta. – Começaremos por Hogwarts. Diretora a senhora pode vir até aqui?

Rose olhou intrigada para ele sem saber o que estava acontecendo. Quando fez o roteiro da reunião com Nancy não tinha nenhuma parte de discurso de McGonagall.

― Boa tarde a todos. – Minerva começou a falar – sou diretora dessa escola e por muito tempo tive muitas dores de cabeça por causa da senhorita Weasley e suas ideias transformadoras. Mas de certa forma, quando o grupo dela começou a mudar algumas coisas na escola e tudo começou a dar certo, vi que ela tinha razão em sua fala. Só precisava ser um pouco menos imperativa. Também me sinto uma feminista a frente de meu tempo, quando me casei anos atrás e não mudei meu sobrenome, sinto que as coisas devem sim mudar. – Rose olhava curiosa para ela querendo saber onde aquela conversa toda ia parar – Então, depois de muito pensar e ler suas ideias, decidi que sim. Teremos eleições para definir nossos monitores.

― O que? – Rose deixou escapar seu espanto.

― Senhor Malfoy explique como vai funcionar por favor. – McGonagall passou a fala para o garoto.

― Bom discutimos bastante alguns dias atrás e decidimos que o melhor jeito...

Scorpius começou a explicar que as eleições seriam de alunos a partir do quinto ano até o sétimo. Quem se interessasse pelo cargo teria que mandar um memorando explicando o que pretendia realizar se fosse eleito. Iria ser analisado por professores e a diretora que diria se o aluno poderia ou não se candidatar. Teriam três meses para fazerem propaganda do que melhorariam no colégio. Alguns dias antes de terminar as aulas seriam as eleições e a escolha para o ano seguinte já começarem com novos monitores, dois para cada casa anualmente.

Rose estava chocada ouvindo tudo aquilo. Eleições para monitores sempre foi o que ela mais quis mudar nas regras da escola e estar conseguindo aquilo de maneira tão justa era um privilégio.

Não conseguia tirar os olhos do garoto enquanto ele explicava. Tinha esquecido de que havia prometido nunca mais escutar suas palavras ou olhar para ele novamente.

― Ele realmente mudou Rose. Fez tudo isso sozinho pensando o quanto era importante para você – era Nancy sussurrando em seu ouvido enquanto Scorpius ainda explicava tudo a plateia – Todos merecem uma segunda chance. Até mesmo você merece ter uma segunda chance de ser feliz.

Rose suspirou. Queria dizer a ela que não mudaria, que não existia segunda chance coisa nenhuma. Mas só conseguia prestar a atenção nele e no quanto ele estava se mostrando uma ótima pessoa.

xx

O tempo ainda estava gelado, mas por sorte aquele dia o céu tinha aberto e o sol brilhava tentando vencer o ar gelado que o vento soprava contra as pessoas que resolviam passear. E exatamente por causa do frio a maioria estava dentro da casa de chá aproveitando o aconchego e a quentura.

Lily por outro lado permanecia sentada em um banco. Sentindo o vento cortar seu rosto, suas mãos revestidas de uma luva e a touca cobrindo seus cabelos laranjas. Sua cabeça tendo mil pensamentos por segundo e o coração indeciso entre parar ou bater mais forte.

― E se ele não vir? – falou para o ar gélido da tarde.

― Ele seria um tolo. – Escutou a voz dele. Hugo estava parado contra o sol. Exatamente como da outra vez.

Em frente a ela. Com um anjo caído que viera a resgatar do topor que a bebida tinha lhe causado. Agora estava sóbria, se não levasse em conta tudo que a expectativa fazia com seus nervos.

Ela se ergueu para enxerga-lo direito.

Não sabia o que responder. O que esperar. Hugo também não parecia saber como agir. Eram melhores amigos. Do tipo que reconhece o humor por uma palavra, que conversa por olhares. E agora que troca cartas românticas.

― Você está muito bonita. – O garoto disse entre pequenos engasgos. Lily não sabia que o primo tinha gagueira nervosa.

Para ela era tão difícil aceitar que estava bonita. Ainda tinha dificuldade em se enxergar daquela maneira. Anne estava a ajudando a entender que nenhuma garota deve se comparar com as outras, que cada uma tem sua beleza e que isso faz do mundo melhor. Então sorriu entendendo que o brilho dos olhos dele significavam sim que ela estava bonita.

― Você também. – Hugo corou e coçou os cabelos bagunçando-os.

Permaneceram parados por mais alguns minutos. Será que acabariam como Anne e Dave sem palavras para trocar. Eles que tanto tinham falado, sonhado e esperado.

Hugo então estendeu sua mão.

― Uma última carta. – Ele falou entregando o papel para Lily.

A garota não esperava por aquilo, mas aceitou. Abriu e começou a ler.

“Lily,

Nós somos melhores amigos. Gosto de vê-la sonhando acordada e de quando esquece das pessoas em volta e começa a cantar. Gosto de quando morde o dedo mindinho enquanto pensa bobagens ou sente-se desconfortável. Gosto do seu sorriso quando termina de comer chocolate e da felicidade que sente comendo doces da Dedos de Mel. Gosto tanto de você que às vezes até chega a doer e por gostar tanto de você eu deixo aqui minhas palavras morrerem, para que dos meus lábios possa escutar o que preciso dizer. E peço que também deixe as suas escapar...”

― E que elas nunca morram em outros lábios que não sejam os meus. – Ele falou por fim.

E apesar das lágrimas que foram teimosas e escorreram por sua face Lily encurtou o espaço entre os dois.

A ruiva deixou suas palavras se afogarem nos lábios de Hugo. Seus dedos procurando a correntinha e se enganchado nela. Segurando- a com a força necessária para que o garoto nunca mais tentasse escapar dela.

Naquele lugar em que a história começou a desenrolar e ao mesmo tempo se enrolando intensamente estavam os dois. Lily nas pontas dos pés e Hugo a segurando contra si. Um beijo que tantos segredos tinha guardado se revelava como o melhor beijo que poderiam sentir.

Quando se afastaram Lily sorriu.

― Minhas palavras só aceitam se afogar se for nos seus lábios, nenhum outro seria capaz de cuidá-las tão bem e alimentá-las com tanta sede de novas palavras para se enrolarem.

O garoto voltou a beija-la agora de maneira suave. Se afastando para presentear a menina

― Como percebi que gosta tanto de minha...

Colocou com cuidado uma correntinha no pescoço da prima. Deixando o pingente cair com cuidado sobre a roupa, brilhando contra a luz do sol.

― Isso por acaso seria uma correntinha de compromisso?

― Por acaso seria.

Lily sorriu. E a voz de sua cabeça gritou sabendo que tinha perdido todo controle que tinha sobre a garota. Estava sendo despejada. Não teria mais nenhum lar, deixando em seu lugar borboletas que voavam deixando no ar um rastro de brilho e luz. Lily deu um adeus mental.

Os dois voltaram a se beijar. Porque já tinham conversado demais durante toda a vida, eram tempos de recuperar os beijos sem que Hugo os precisasse roubar.

As correntinhas enroladas entre as mãos muito próximas ao coração.

A carta esquecida sendo levada pelo vento. Quem a encontrasse teria a sorte de se inspirar com um final de ciclo e um inicio de romance.

Lily não precisava mais de cartas, tudo que precisava estava em suas mãos e ela nunca mais soltaria.

xx

Era noite, havia pensado muito desde o fim da reunião, até que decidiu parar de pensar. Estava se encaminhando para a torre de astronomia, tinha descoberto que o garoto estava lá. Ao chegar ao lugar que tinha um olhar privilegiado para as estrelas sorriu ao vê-lo fazendo justo aquilo. Estava olhando através de um telescópio as estrelas. Rose suspirou profundamente e decidida parou ao seu lado. Ele ainda não tinha notado a presença dela.

― Estou estudando as estrelas mais profundamente. Posso dar uma olhada?

Scorpius levantou o rosto a encarando assim que viu a garota ao seu lado. Não conseguiu deixar sorrir.

― Pode olhar – ele indicou o telescópio a ela. E Rose olhou. Viu as estrelas de perto. Tão perto que perdeu o encanto em vê-las dessa forma.

― Não gosto de vê-las dessa maneira – confessou, levantou seu rosto e encarou o garoto – Aprendi a amar as estrelas de longe.

― Dizem que existem oitenta e oito constelações. – Scorpius disse apontando o céu – Não dá pra ver todas de uma vez e mesmo assim gosto de uma que eu mesmo inventei.

Rose suspirou fechando os olhos.

― Você sabe que olhar as estrelas é olhar para o passado.

― O que eu mais amo é reviver o passado, você estava nele – ele confessou dessa vez a encarando.

― E se eu te disser que tenho uma proposta para te fazer? – ela se permitiu sorrir de lado. Tirou um papel do seu bolso da calça – É um contrato. E nele eu estou te convidando para ser meu namorado.

Scorpius sorriu e a questionou com o olhar.

― Posso te dizer quais as regras do namoro? – ela perguntou abrindo o papel. Ele assentiu com a cabeça e ela prosseguiu – primeiro: quero ser tratada como mereço, com carinho, respeito e admiração.

― Será tratada como uma rainha – respondeu se lembrando do que tinha falado anteriormente.

― Será um perfeito cavalheiro comigo. – ela continuou fingindo que estava lendo o papel.

― Jogarei pétalas por onde passar.

― Sempre concordará com tudo o que eu disser.

― Sua palavra para mim é lei.

― Ótimo – ela sorriu – Por fim, o último e mais importante.

― Diga, pode ser o que quiser que eu... – ela colocou o dedo sob os lábios dele pedindo para parar de falar.

― Esse é realmente importante. – ele concordou com a cabeça – Seremos sempre sinceros um com o outro.

Scorpius suspirou olhando ela profundamente.

― Você está me dando uma segunda chance? – perguntou quase não acreditando.

― E então? – não respondeu a pergunta dele – Quer namorar comigo ou não?

Ele negou com a cabeça não acreditando no que ela estava lhe falando.

― Nunca mais vou te magoar novamente.

― Sim ou não? – ela perguntou ainda ignorando suas respostas.

― Sim! Claro que sim! – respondeu emocionado – Onde assino?

Era a deixa que ela esperava. Soltou o papel no chão, abraçou o pescoço dele e o beijou. Beijou sem saber o quanto estava sentindo falta daquilo e o quanto ele lhe fazia falta. Scorpius retribuiu sorrindo. Não acreditava que estava tendo a oportunidade de tê-la em seus braços novamente. O beijo que selava o seu compromisso com ela novamente tinha gosto de felicidade. Pela primeira vez na vida estava sentindo que estava fazendo tudo certo e ela era a única responsável.

― Rose – ele sussurrou quando separaram seus lábios. A abraçou fortemente, levantando os pés da garota do chão – Isso significa o que acho que significa?

― Significa que agora faremos dar certo e que também não nos esconderemos atrás de apostas ou em contratos com castigos.

― Sem nenhum parênteses nesse contrato de namoro? – ele não conseguia parar de sorrir.

― Na verdade tem um – ela respondeu com ideia passando em sua cabeça.

― Qual? – ele separou um pouco dela a fim de olha-la nos olhos.

― Na verdade é uma vingança. Uma vingança em nome de todas as mulheres iludidas por homens escrotos.

― E eu estou?... – começou a perguntar receoso sabendo que ele tinha sido muito escroto com as mulheres durante muito tempo.

― Não você. – cortou a fala dele. – Markus. Ele cumpriu o castigo da aposta?

― Não gosto nem de pensar nessa aposta.

― Mas agora eu gosto. Você conseguiu que eu te beijasse não foi?

Eles ainda estavam abraçados depois do beijo, os braços dela ainda estavam sob seus ombros. Os braços dele ainda envolviam ela por toda costas.

― Quero fazer ele cumprir a aposta e vingar em nome de todas as mulheres.

― Farei ele cumprir – ele sorriu voltando a beija-la.

E ela retribuiu. Parecia que estava sonhando, nunca imaginou que fosse sentir o que sentia por Rose por alguém. Ela era intensa, então tudo era demais. Espinhos demais, braveza demais, ensinamentos demais, beijos demais, sorrisos demais.

― Eu amo você – ela disse todas as letras que sabia serem as mais sinceras já entregadas a alguém.

― Ah Rose! – ele sorriu ainda mais acariciando o rosto dela. Passava o dedo suavemente pelas sardas do rosto dela – Você não faz ideia do quanto eu te amo.

Ela estava feliz, mas ainda era Rose.

― Na próxima vez que apostar lembre-se que tem um namorada um tanto competitiva e que por sorte sempre te fará ganhar. Exceto quando apostar contra mim.

Scorpius começou a rir. Não poderia negar que o gênio de sua namorada era de fato indomável, mas talvez os sentimentos conseguiriam ser domesticados com a dose certa de beijos e carinhos.

Algumas pessoas reclamam da segunda por ser o dia de voltar a rotina, outras detestam as quartas por motivos pessoais, existem aquelas que comemoram a sexta. Porém o sábado tem toda a magia necessária para encantar rosas, enrolar correntinhas e olhar as estrelas.

Foi o dia que se libertaram das amarras. Afinal ninguém se esconde para sempre atrás de palavras bonitas em cartas. Ou veste sua carapaça de raivosa por toda vida, nem pode vencer apostas para sempre. Existem sempre as pessoas que se dizem oito ou oitenta, mas nem imaginam que conseguir encontrar o meio termo pode ser o melhor do mundo. No meio termo podem encontrar beijos roubados em bibliotecas ou em bailes de máscaras. No meio termo você consegue recuperar amizades perdidas e fazer novas. No meio termo você passa a noite de sábado conhecendo estrelas e beijando embaixo delas. No meio termo você consegue se encontrar e permite que o outro também se encontre.

Viver não é uma briga intensa ou um sono profundo, é tudo que fazemos entre esses dois momentos. Rose estava começando a entender porque Frida Kahlo viveu tão intensamente e virou símbolo de uma luta. Ela se permitiu amar. E que aventura poderia ser mais complicada do que essa? Nenhuma.


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Notas finais do capítulo

Obrigada porcada palavrinha nessa fic, foi algo que amamos escrever e que precisavamos postar. Estamos a muito tempo sem escrever nada e isso foi como voltarmos de certa forma a ativa das escritas e com um assunto bem importante a ser explorado. Esperamos que tenham gostado do final. Mas ainda temos um pequeno capítulo de bonus e se quiserem postaremos, só pedirem um certo Markus cumprindo o castigo que postaremos.
Obrigada por tudo novamente.
Anny e eu a partir de hoje estamos postando uma nova fic scorose "Um eterno deja-vu" para um projeto muito legal desse mês Junho scorose, se puderem ler ela está bem legal também.
Obrigada novamente e nos vemos no capítulo bônus se quiserem.



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