A Rosa indomável escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 12
Sentimentos sufocados




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A noite do baile não tinha acabado como Rose tinha planejado. Ela estava com o rosto péssimo e os olhos inchados de tanto chorar. Chorou tudo o que não tinha chorado nos últimos anos. Como se as lágrimas pudessem tirar de dentro de si a dor que sentia. Mas ao amanhecer as lágrimas tinham acabado e a dor continuava.

A garota estava em uma cabine sozinha. Não queria conversar com ninguém, já bastava ter tido que dividir a carruagem com pessoas felizes e radiantes enquanto ela só queria arrancar o sorriso da cara de cada um deles.

Evitou Chloe e Ellie o máximo possível e por sorte não foi obrigada a cruzar com Scorpius. Acreditava que se o visse não suportaria a dor e as lágrimas voltariam em cascatas.

― Eu fui uma tola. – Ela suspirou encostando a testa no vidro da janela, o frio ajudava na dor de cabeça que sentia por ter chorado tanto.

E apesar de querer ficar sozinha escutou batidas leves na porta da cabine e se submeteu a averiguar quem poderia estar a incomodando. Dependendo de quem fosse jogaria um feitiço leve e voltaria para sua paz.

― Posso falar com Hugo?

Era Lily. A prima também tinha uma cara péssima. Anne estava junto como se fosse a responsável por trazer a menina até ali.

― Não. – Rose respondeu secamente.

― Rose... – E a ruiva começou a chorar. Fazendo com que os olhos de Rose recuperasse todas as lágrimas que tinham secado.

― Ele não está aqui Lily. – Rose segurou as mãos da garota. Anne segurava os ombros. – Estou sozinha.

― Eu preciso falar com ele... Eu...

― Olha, não sei o que aconteceu, mas pela manhã a Mcgonagall me avisou que ele já tinha ido para casa. – Rose explicou para a prima.

Anne sorriu agradecida por Rose ter ficado mais suave ao falar com Lily.

― Provavelmente vai poder falar com ele no Natal em família. - Rose disse, mas não tinha certeza se qualquer um dos dois iriam querer comemorar o Natal Weasley como toda aquela alegria. – Ou esperar que retornemos, são poucos dias.

Lily parecia decepcionada. E voltou pelo caminho que tinha ido. Estava dividindo uma cabine com as garotas do grupo de Anne, as que foram juntas ao baile.

― Rose, posso falar com você? – Anne perguntou esperando levar uma negativa.

― É importante?

― Um pouco.

― Então fale logo. – Rose disse esperando pela próxima noticia ruim.

Anne procurou um pouco na sua boca e respirou tranquila quando finalmente conseguiu tirar algo de dentro.

― É para você. – Anne sorriu.

― Um presente?

― Quero agradecer por ter me ajudado a enxergar muitas coisas novas, por ter me proporcionada aprendizado sobre o mundo e as pessoas, por ter permitido que encontrasse amigos diferentes. Obrigada. – Anne a abraçou sem aviso.

Foi difícil para Rose não ficar emocionada.

― Um feliz Natal. A gente se vê na primeira reunião pós-recesso. – Anne sorriu. – Não sou boa com desenhos, seu irmão me ajudou, mas sou boa em comprar porta retratos bonitos. Até.

Rose fechou a porta da cabine e pode finalmente abrir o embrulho de Anne.

Era um desenho dos participantes do Kahlo. Rose estava ao centro com Chloe e Ellie ao lado esquerdo e com Scorpius ao lado direito. Vários centímetros mais alto que ela e os dois se olhavam.

Rose sentiu a dor novamente. Pensou como pode se enganar tanto. No final do desenho Anne tinha escrito com uma letra bonita. “Não vamos apenas mudar Hogwarts, vamos mudar o mundo.” As palavras diziam muito sobre o que Rose queria, ela guardou o presente e torceu para chegar o quanto antes em casa.

xx

Scorpius não tinha ido para casa. No último instante decidiu ficar no castelo. Seriam poucos dias de qualquer jeito e seus pais poderiam viajar para uma segunda lua de mel que a mãe sempre pedia. Na verdade o garoto estava tentando evitar Rose até saber como fazê-la acreditar nele e em seus sentimentos.

Se cruzasse o caminho da garota poderia sofrer lesões irreversíveis e também não conseguia olha-la tamanho a vergonha que sentia. Pensou em pedir para sua mãe lhe ajudar num presente de natal para a garota, que ela não esqueceria e saberia que tinha pensado nela de coração. Talvez lhe enviasse.

― Pelo menos a coruja ela não agrediria. – Ele disse pensativo.

Precisava descobrir uma forma de pedir desculpas e se redimir, porque tudo que queria era passar mais noites olhando as estrelas com a garota ao seu lado. Sentindo seus cabelos perfumados e sonhando com um futuro melhor para todos.

― Só preciso da ideia perfeita.

xx

Hugo estava sentado na cozinha esperando os pais voltarem com Rose.

Antes do baile acabar, ele viu Lily e Dave se beijando e decidiu que talvez fosse melhor deixá-la ser feliz longe dos seus olhos. Não suportava observar a garota nos braços de outro e ainda por cima ruivo.

Encontrou a diretora Mcgonagall observando os alunos e pediu a ela a autorização para ir para casa usando a lareira e o pó de flu. No começo a diretora não estava aberta a conversar, mas Hugo usou a técnica mais antiga de todas. Fingir que estava se sentindo mal e como tinha realmente tido febre e até ficado na enfermaria a diretora pareceu compreender o pedido, além disso era amiga de sua mãe o que significava que sabia de todas as crises de convulsões que o garoto já havia sofrido.

O resultado foi Hugo dormindo em casa no seu quarto longe de olhares questionadores e de uma Lily radiante por finalmente ter beijado o garoto dos seus sonhos. Ele precisava desse tempo, agora só precisaria convencer os pais de mudar os planos para o Natal. Nada de família Weasley reunida esse ano.

― Rony sinceramente como consegue ser tão relapso!? – era sua mãe entrando pela porta – esqueceu de abastecer o carro?

― Achei que o seu feitiço de extensão no tanque faria durar mais o combustível.

Os três entraram na casa e Hugo reparou na irmã que estava com um semblante diferente do que esperava encontrar. Afinal sabia que ela tinha tornado o namoro real com Scorpius.

― É claro e ficamos parados mais de meia hora formando um trânsito enorme atrás - lembrou-se a mulher com vergonha.

― Mas deu tudo certo, conseguimos o combustível, pegamos Rose e estamos aqui sãos e salvos.

― Graças a mim.

Hugo nem reparava na discussão rotineira de seus pais, observava sua irmã atentamente, tinha suas pálpebras vermelhas. Ela não o encarava, pegou sua mochila e subiu para seu quarto. Algo havia acontecido.

― Mãe – Hugo chamou a atenção da mulher a sua frente – Eu queria passar um natal tipicamente trouxa esse ano.

Hermione parou de ralhar com Rony e olhou o filho pela primeira vez na sala.

― Mas todos os anos passamos com os Weasleys.

― Eu sei, mas é que... – ele não podia gaguejar, sua mãe era esperta demais perceberia algo errado – A professora de estudos dos trouxas, estava falando das tradições do natal que nós bruxos não vivenciamos, como ir a igreja, assistir a missa do galo, comer a ceia só depois da meia-noite. Queria vivenciar isso um pouco.

Ela estreitou seus olhos para o filho desconfiada.

― Não acho que seus avós irão para a missa do galo.

― De qualquer forma eu gostaria de ir – pediu esperançoso.

― Tudo bem, mandarei uma carta a eles – disse sendo vencida pela sagaz esperteza do filho. Hugo deu um sorriso de agradecimento à mãe, subiu a fim de conversar com Rose.

― Alguma coisa errada está acontecendo – comentou Hermione ao marido que a essa altura tinha se demandado para a cozinha procurando algo para comer.

Rose chegou a seu quarto, pegou um de seus livros que não tinha levado para Hogwarts e começou a reler. Estava com tanta raiva, tristeza e arrependimento em seu coração que não conseguia nem desviar seus pensamentos para uma leitura que ela gostava muito. Lembrou-se de um outro livro e em como havia sido tola ao cair naquele conversa de Scorpius. Abriu sua mochila e pegou o livro de Frida Kahlo.

O livro raríssimo que sua mãe tinha arranjando em um sebo online na cidade do México, por isso estava em espanhol. Não pensou duas vezes e começou a rasgar página por página com tanta raiva. Pensou no quanto havia sido tola ao acreditar no amor como a própria Frida fez quando jovem.

Hugo olhou pela fresta aberta do quarto da irmã e reparou no que ela estava fazendo. Entrou sorrateiramente no quarto e fechou a porta atrás de si. Ela continuava a rasgar e não tinha reparado que ele estava no quarto.

― O que aconteceu?

Só então ela parou de rasgar e o olhou.

― Por que não me avisou que ia vir pra cá pelo pó de flu? – estava com raiva até do irmão por abandona-la no trem.

― Eu perguntei primeiro.

― Aconteceu o que acontece sempre – disse ainda muito brava – papai sempre esteve certo em relação aos homens.

Hugo olhou a irmã apreensivo, não sabia o que dizer.

― Achei que estavam se dando bem na festa.

― Eu também – e então ela se permitiu chorar mais uma vez – Mas ele me enganou aquele tempo todo. Era uma aposta e eu caí direitinho na conversa dele.

Hugo suspirou e chegou perto de Rose a abraçando.

― O que aconteceu com você? Por que está fugindo da Lily? Ela estava te procurando no trem – a irmã perguntou com a voz abafada ainda abraçando ele.

― Ela estava beijando o Dave na festa e, mesmo querendo a felicidade dela, acho que não conseguiria fingir que estava tudo bem comigo no trem.

― Ela queria falar com você e estava chorando – disse Rose saindo o pouco do abraço.

― Na certa descobriu que eu tinha enganado ela esse tempo todo com as cartas.

Ele abanou a cabeça tentando não pensar na prima, mesmo sendo impossível, ainda estava com o gosto do beijo dela em sua boca.

Ouviram a porta se abrir num baque a mãe de ambos os surpreendendo ainda abraçados.

― Vão me contar o que está acontecendo e é agora.

xx

Lily estava perturbada, não conseguia pensar em nada. Desde que Rose tinha lhe informado que Hugo não estava no trem. O havia procurado pela escola inteira e assim que seus pais chegaram para buscar ela e Alvo na estação quase inventou uma desculpa para ir pra casa de seus tios.

Não sabia o que estava sentindo. Ainda estava confusa, queria conversar com ele e entender o que ele tinha feito, o que sentia a respeito dela, a respeito das cartas trocadas, das palavras tão lindas que ele escrevia para ela. Pois agora sabia que eram para ela. Anne havia lhe explicado tudo.

― Hugo é um bom garoto Lily, precisa escuta-lo – ouvia a fala de sua melhor amiga em seus pensamentos.

Estava em seu quarto fazia meia hora olhando os pôsteres de cantores bruxos que ela costumava suspirar até dias atrás. Pensou no quanto havia sido tola, era tão fácil engana-la. Era como aqueles sorrisos dos pôsteres que a olhavam, era muito fácil iludi-la.

Foi quando ouviu batidas do bico de uma coruja na janela de seu quarto. Olhou a ave e sonhou por um instante que poderia ser a de seus tios.

Suspirou triste quando viu que não reconhecia a coruja.

Tirou um envelope das patas e deu um pouco de água a ela.

Quando abriu reconheceu a letra de Dave, seu coração começou a disparar.

“Lily, conversei muito com Anne, acho que ela está andando muito com sua prima, me disse que eu precisava te dizer partes da verdade que você ainda não tinha escutado ou parado para pensar.

Você sabe, eu sempre gostei da Anne, mas não sabia como conquista-la e sabia que garotas amavam cartas. Tentei escrever uma romântica e saiu um fiasco, foi quando pedi para o Hugo me ajudar.

Ele sempre foi muito bom em desenhos, você sabe e também descobri que ele era bom em responder suas cartas. Eu não sabia que era você que escrevia por Anne. Eu e ela estávamos usando vocês dois para benefício próprio e acho que entende porque eu e ela no fim não demos certo. Eu entendo isso agora. E também entendo que essa sua paixão por mim, na verdade não é por mim.

Ele sempre soube que era você que respondia as cartas. Ele sempre pensou em você para escrever. Sei disso agora e Anne me ajudou a enxergar.

Desta forma quero te dar um presente de natal adiantado. Essa foi à última carta que ele escreveu para eu entregar a Anne. Passei para minha letra e entreguei para ele, quando Hugo me questionou o porquê não tinha mandado a ainda, mas a original, com a letra dele eu guardei dentro de um livro e a achei agora e sei que ela te pertence.

Anne me fez refletir bastante e quero te pedir desculpas por todas besteiras que fiz e pelo beijo errado de demos no baile.

Espero ainda ser seu amigo depois de toda essa confusão passar.

Dave”

Terminou de ler e logo abriu o envelope de novo e achou o outro papel, estava mais gasto e um pouco manchado. Abriu reconhecendo a letra de Hugo.

xx

Hermione tinha feito os dois filhos sentarem na cama e se postou na frente cruzando os braços.

― Primeiro você – ela apontou o dedo para Hugo. O garoto engoliu em seco, sabia da onde sua irmã tinha puxado sua persuasão. – Por que pediu pra vir de flu?

― Estava me sentindo mal...

― Por que justamente depois do baile? Você não me engana Hugo. E essa história toda de passar o natal na casa de meus pais está muito estranha.

Rose virou o rosto para o irmão, percebeu que ele estava moldando suas feições para não parecer desesperado.

― Ok – ele suspirou tentando fazer seu cérebro raciocinar rápido – Eu vi a garota que gosto beijando outro.

― E...

― E... decidi que prefiro ver ela feliz com outro mesmo que isso custe um preço alto para eu pagar.

Hermione mudou sua feição ao analisar o filho. Parecia tanto com Ron que perceber que seus olhos estavam chateados por causa de uma garota fazia doer seu coração.

― Eduquei ele para tratar as mulheres com respeito muito bem não é? – disse Rose acariciando os ombros do irmão.

― Tudo bem, é uma atitude muito nobre, mas ainda não me convenceu...

― Eu preciso esquecê-la mãe – ele abaixou seus olhos reparando em suas mãos. – Preciso ir para um lugar que posso ficar tranquilo com meus pensamentos e evitei voltar no trem para não encontrá-la.

Não era mentira o que dizia, só tinha omitido o nome da garota.

― Ok... – ela suspirou triste para o filho, cortava seu coração vê-lo sofrer por amor e ao mesmo tempo estava orgulhosa de tão maduro que estava se mostrando. – Agora você.

Apontou para Rose e Hugo viu a oportunidade para fugir da mãe antes que ela ficasse curiosa de quem era a garota.

― Eu estou morto de fome – apontou para a porta e levantou. Rose lhe deu um olhar bravo como dizendo que ele a estava abandonando.

Ele saiu pela porta sem a objeção da mãe e desceu as escadas em direção a cozinha.

Abriu a geladeira que tinham na casa, ficou analisando o que queria comer. Logo seus pensamentos voltaram em Lily, será que ela sabia que ele escrevia as cartas? E se soubesse será que estava brava com ele? A angustia apertava seu peito e ele fechou os olhos suspirando ainda com a geladeira aberta a sua frente.

Rony estava na cozinha tomando um café, olhou o filho parado a frente da geladeira e imaginou o que estava acontecendo.

― Quem é ela? – perguntou ao filho.

Hugo ficou estático de repente e fechou a geladeira não pegando nenhum alimento.

― Do que está falando pai? – suas orelhas estavam vermelhas, Rony sabia bem o que estava acontecendo.

― Na sua idade eu era tão tapado que não percebi que sua mãe já gostava de mim.

Hugo sentou-se a mesa com o pai e começou a descascar uma banana.

― E então quem é ela? – voltou a perguntar olhando diretamente o filho.

― Não sei do que está falando – negou com a cabeça comendo a fruta.

― A sabe sim – ele levantou da onde estava sentado e foi para a pequena biblioteca que tinha na sala. Procurou um livro específico, voltou para a cozinha e colocou o livro na mesa de frente ao filho.

Hugo olhou o objeto e leu o título na capa: Frankenstein de Mary Shelley. Não entendeu o que o pai queria dizer com aquilo.

― Abra e leia a primeira página – Hugo obedeceu. Viu que o livro tinha outro título.

― Doze maneiras seguras de encantar bruxas? – olhou para o pai ainda sem entender.

― Ganhei de seus tios quando tinha dezessete anos e só fazia burrada no quesito conquistar garotas – explicou apontando uma dedicatória escrita a mão, a tinta estava bem fraca, mas dava para ler as palavras.

“Esperamos que finalmente deixe de ser lerdo com a Hermione” – Fred e George”.

Hugo não tinha conhecido seu tio Fred, mas sabia de várias histórias sobre ele, nas reuniões familiares adoravam relembrar do passado.

― No ano que ganhei esse livro, não estava sendo muito fácil, estávamos caçando horcrux e eu fiz algumas coisas bem erradas – Rony suspirou ao seu lado com lembranças de um período difícil – Mas acabei conquistando sua mãe nesse percurso todo.

Hugo abriu o livro e viu que era uma espécie de auto-ajuda para garotos que não conseguiam se dar bem com nenhuma garota. Entendeu da onde vinha seu azar no amor de adolescente.

― Posso ler? – perguntou ao pai.

― É seu! – deu dois tapinhas no ombro do filho.

― Mas uma dica pessoal que não está no livro: Mantenha jogadores de quadribol internacionais longe dela. Seja quem for. – Rony disse sentindo as orelhas queimarem por ainda se lembrar daquele baile de inverno.

― Anotado. – respondeu sem entender nada.

Hugo fechou o livro e olhou para o pai curioso.

― Por que tem outro título na capa?

― Você conhece sua mãe não é? Descobriria o livro e... – Rony coçou a cabeça não completando o pensamento.

Ele continuou a olhar para o filho que mantinha seu olhar perdido em lembranças.

― Fez alguma coisa errada? – perguntou curioso.

― Várias coisas erradas. Não acho que ela vai me perdoar, e além disso está com outro agora.

Naquele momento uma coruja entrou na cozinha e parou na janela esperando que alguém pegasse uma carta em seu bico.

― É a coruja do Harry, na certa problemas no trabalho – Rony suspirou cansado e olhou o envelope – Estranho é da Lily.

― O quê?! – exclamou algo demais e desesperado demais.

Ron virou o rosto desconfiado para o filho. Reparou que não só as orelhas, mas o rosto inteiro estava vermelho.

― Me dê a carta – pediu tentando fingir para o pai que não estava agoniado.

― Como sabe que é para você? Eu não disse.

― É... – Hugo coçou o cabelo tentando pensar em alguma desculpa, mas nada lhe veio à mente.

Rony entregou a ele o envelope que levantou da onde estava sentado e começou a sair da cozinha.

― Seu tio vai te matar! – Rony gritou pra ele que já estava quase chegando em seu quarto.

xx

― E então o que está acontecendo?

― Nada mãe – Rose negou com a cabeça.

― Tem certeza Rose?

A garota pensou um pouco e percebeu que talvez pudesse dar o que a mãe desejava. Contar algo importante sem ser a verdade absoluta.

― Preciso te contar algo legal. Tenho um grupo e estamos fazendo mudanças em Hogwarts, acredita que conseguimos fazer os elfos folgarem duas vezes na...

― Eu sei. McGonagall me contou. – cortou a conversa da filha – Aliás ela me contou que você estava namorando.

Rose não podia acreditar que a diretora era uma fofoqueira de marca maior, toda discreta e contando os assuntos pessoais dos alunos.

― Ah. Estratégia mãe – Rose tentou manter um sorriso no rosto – Fingi que namorava para conseguir aliados. Digamos que não sou muito popular na escola.

― Justo o Malfoy? – Sua voz era quase como um sussurro, porém um sussurro muitíssimo bravo.

A cada pergunta que sua mãe fazia, Rose sabia que ela ia conseguir descobrir tudo o que estava acontecendo com ela.

― Ele é bastante popular – disse com a voz mais baixa, tentando não chorar novamente. Era tão fácil chorar só ouvindo o nome dele em voz alta.

― Rose, sou sua mãe – Hermione sentou-se do lado da filha na cama – Pode me contar, não vou te julgar. E nem contar para seu pai.

Ela encarou a mãe triste e sentiu seus olhos se encherem de água de novo. Talvez o pai devesse saber e se vingar de Scorpius lhe arrancando as entranhas, mas a quem Rose queria enganar a garota não queria que o carrapato asqueroso se machucasse de verdade.

― Eu fui uma tola. – Ela suspirou controlando as lágrimas. – Acreditei... Nele... – não se permitiria dizer o nome em voz alta, lhe doía dolorosamente. – E ele me enganou, papai sempre esteve certo, homens não prestam.

― Ah Rose, seu pai é ciumento com você e além do mais ele também é homem e não era o melhor cavalheiro na escola. Chorei muito por causa das besteiras que ele fazia – disse sinceramente.

― O amor dói sempre? – perguntou triste sem encarar a mulher a sua frente.

― Dói porque você se importa com ele. Dói porque ele entrou em seu coração. Dói porque mesmo com raiva ainda pensa nele. – Hermione suspirou triste vendo a filha sofrer – Dói porque nem sempre podemos controlar tudo e no amor não podemos controlar nada.

― Sofreu tudo isso com papai e ainda ficou com ele? – Rose questionou sinceramente curiosa.

― Vou contar uma parte da nossa história. - Hermione segurou as mãos da filha enquanto sorria docemente. - Na guerra, durante um tempo, seu pai me abandonou.

Rose encarou a mãe, ela nunca contava sobre o período dolorido da guerra de seu tio Harry com Voldemort, ela sabia muitas histórias por livros ou pela fala de seus familiares, nunca pela mãe.

― Ele estava com ciúmes, achando que eu... Bom é uma história complicada e grande, ele achava que eu tinha escolhido de certa forma seu tio Harry e foi embora. Aqueles tempos eram tão difíceis, então eu chorei muito, chorei por muitos dias, chorei pensando que ele poderia ter morrido, chorei imaginando coisas horríveis acontecendo com ele. E um dia ele voltou. E eu estava com tanta raiva, que não conseguia perdoa-lo. E depois eu percebi que ele gostava realmente de mim, percebi que durante aquele tempo todo eu tinha mudado um pouco ele e ele tinha me mudado também. 

Rose escutava tudo atenta. Ela havia mudado Scorpius, mas não sabia se nada daquelas mudanças eram reais. Ele teve todo tempo para assumir que era uma aposta, para dizer a verdade, ela até poderia tê-lo ajudado apenas para fazer o insuportável de Markus passar vergonha na frente de todos. Mas Scorpius mentiu sobre a aposta, porque não mentiria sobre tudo.

― Mãe o que ele fez... Não é um erro... Ele me enganou, eu era só uma aposta.

― Rose não sei o que ele fez, mas assim que te vi descendo aquele trem eu percebi que algo estava errado. Você se importa com ele, senão não estaria sofrendo tanto. Além do mais o tempo que passaram juntos acha que ele fingiu esse tempo todo?

― Não sei... Porque agora não sei o que era verdade e o que era apenas para me enganar e vencer a aposta.

― Se prestar atenção nos detalhes, minha querida. É nos detalhes que temos as respostas.

― Eu tentei não me enganar eu tentei, eu não queria, nunca quis, mas... – Rose deixou que uma lágrima caísse – Eu nunca tinha sentido aquilo que sentia por ele dentro de mim e... Eu acreditei nele mãe, mas era tudo mentira.

― Rose, às vezes uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade. – Hermione abraçou a filha.

E Rose se permitiu sofrer, mas protegida nos braços da mãe.

xx

Hugo fechou a porta do seu quarto. Não achou que seu pai fosse mais esperto que sua mãe para entender tudo tão rápido. Estava tremendo segurando o envelope em sua mão. Queria abri-lo desesperadamente, mas não sabia se iria piorar seu estado ou de certa forma aliviar.

Decidiu guardar o envelope consigo e só abrir quando estivesse melhor consigo mesmo. Olhou o livro que seu pai tinha lhe dado e resolveu começar a lê-lo.

xx

A noite de natal não estava como as outras que Rose guardava em sua memória. Era sempre tudo tão divertido, sua avó ainda ouvia Celestina Warbeck, seu tio George ainda fazia truques em que todos riam, seus primos aprontavam por todos os cantos e corriam pelos jardins, a casa ainda cheirava a comida saborosa e abundante. Mas algo dentro dela não estava bem. Tudo ao redor não fazia sentido.

― Rose seu irmão foi... – era Lily ao seu lado. Parecia tão angustiada quanto ela.

― Está fugindo de você – interrompeu a fala dela.

Lily suspirou triste. Ela havia lhe mandado a carta, achava que ele depois que lesse ia pelo menos responder alguma coisa.

― Sabe se ele leu a carta?

― Não sei de carta nenhuma, não conversei mais com ele – Lily limitou-se a virar e sair de perto da prima sem se despedir.

Mas parou no meio do caminho e voltou apenas para falar algo que a estava incomodando.

― Você vai estranhar isso um pouco. – Lily respirou fundo. – Mas você não é a única que tem problemas. Não é a única que sente-se triste. E com toda certeza não é a única que não esta animada com essa festa.

Deu as costas novamente e saiu cabisbaixa.

Rose não se importou com as palavras dela, estava acostumando a fingir até para si mesma, permaneceu nos jardins, estava frio, mas não nevava. Olhava as estrelas em cima de sua cabeça. Parecia que elas brilhavam mais naquela noite. Era impossível olhar as estrelas e não lembrar dele. A garota viu uma coruja voar no céu carregando alguma coisa, pensou quem seria capaz de fazer o animal voar uma hora dessas no frio. Mas saberia a resposta já que a coruja pousou ao seu lado.

Assim que desgrudou o envelope da coruja viu que era a pessoa que seria capaz de fazer uma coruja trabalhar numa noite fria.

― Scorpius Malfoy – ela sussurrou balançando a cabeça. – Além de apostas agora também maltrata animais.

Não queria abrir, tentou amassar o envelope, mas tinha uma coisa dentro que estava impedindo ela de realizar tal ato. Ficou curiosa e acabou abrindo.

Era uma foto, emoldurada em um pedaço de vidro. Rose percebeu que era uma foto do céu cheio de estrelas.

Viu uma carta presa embaixo e resolveu ler:

“O céu aqui é o mesmo que vê aí. O mesmo da foto.

Decidi ter uma licença poética e criei uma constelação para mim, egoísta como sou dei seu nome a ela. Achei que iria querer ver. Diga seu nome para a foto que a magia acontecerá.

Me perdoe”

Rose pegou o pedaço de vidro e sussurrou seu nome.

― Rose.

Vários pontos entre as estrelas começaram a se interligar formando uma rosa. Ao lado pode ver que a constelação que originou o nome de Scorpius também se iluminou.

Ela e Scorpius marcados nas estrelas.


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Notas finais do capítulo

Último capítulo é o próximo, sexta que vem postamos, continuem com a gente ♥



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