O Destino Escondido no Relógio de Bolso escrita por Temy


Capítulo 2
CAPÍTULO 1 - O Garoto Errante




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CAPÍTULO 1

O Garoto Errante

 

Piscou algumas vezes tentando processar se o que ele tinha escutado era realmente o que ela tinha falado. Quando chegou à conclusão que sim, não se deu o trabalho de ter respeito pela “crença” da mulher, apenas gargalhou, com vontade.

Ele não era particularmente fã de góticos, mas no geral não tinha nada contra, contudo achava bastante graça dessas pessoas que realmente acreditavam na existência vampiros, lobisomens e bruxas. Sabia que esse tipo de louco existia, mas essa era a primeira vez que ele conversava com um, pelo menos que ele soubesse. Quando por fim se recuperou da crise de risos, voltou-se para a menina que o encarava inexpressiva esperando pacientemente que ele terminasse.

— Então você acredita ser uma bruxa? – Disse tentando segurar um novo acesso de riso.

A mulher, no entanto, não parecia se incomodar com a reação dele, talvez ela já estivesse acostumada a ter que presenciar esses acessos de risos, por isso ela apenas tombou a cabeça e deu mais um passo em direção ao rapaz.

Apesar de estar achando bastante graça da situação, todos os seus sentidos estavam em alertas e ele não admitiria mais nenhum passo de aproximação da parte dela, antes de vazar dali, mesmo que ela parecesse inofensiva.

— Sabe, Uzumaki, - ela falou em mesmo tom paciente espaçando poeticamente as sílabas – hoje está previsto para ser um lindo dia de sol, o único desse outono.

Um vento frio começou a varrer as folhas secas da rua, o vento foi ficando cada vez mais forte até que finalmente chegasse até eles, sentiu seus cabelos balançarem de forma descoordenada em sua cabeça, mas não ousou tirar os olhos dela e por isso, ele notou que o vento que o atingiu não pareceu passar pela menina a sua frente, parecia que ela estava protegida por uma barreira invisível, pois nem o chapéu, nem seus cabelos balançaram, nem mesmo suas roupas se mexeram.

Sentiu seu frio causado pela presença da menina aumentar gradualmente conforme percebia que ela parecia quente e confortável com os braços expostos enquanto o clima estava frio e cortante e estava piorando. Instintivamente, olhou para o céu e viu que nuvens cinzas escuras e densas estavam cobrindo os últimos raios de sol que seus olhos captaram. Engoliu em seco.

Não era possível que ela estivesse causando aquilo, simplesmente não era possível. Bruxaria, magia, nada disso existia, aquilo era apenas uma coincidência absurda.

— Agora, vamos lidar com isso da melhor forma possível, me devolva meu relógio e eu prometo que nunca mais irá me ver. Que tal? – Ela perguntou com um sorriso sedutor e ele sentiu que mesmo se não quisesse faria o que ela pedia.

— E-eu não posso.

O sorriso desapareceu do rosto dela.

— Você vai me dar, por bem ou por mal. – Ela falou decidida enquanto o dia se tornava ainda mais escuro.

— Eu não estou com ele, eu vendi para o antiquário da família Zane.

— Seu ladrãozinho imundo. – Ela vociferou em uma voz que não parecia ser possível sair daquele corpo. – Você tem noção do quanto vale um relógio daquele?

— 1200 dólares? É o valor que o sr. Zane está pedindo.

— Eu não irei pagar nada por uma coisa que me pertence, portanto, você que causou toda essa confusão irá consegui-lo para mim.

— Eu não tenho como...

— Não me interessa! – Ela gritou e ele notou que os cabelos negros que não se levantaram nem com o vento, subiram de forma estranha e misteriosa flutuando próximo ao rosto dela. – Você furtou de mim, você furta dele. – Deu mais um passo ficando cara a cara com o rapaz, que percebeu que eles estavam na mesma altura, então ela deveria ser bem mais baixa do que ele na realidade. – A meia noite, eu voltarei por ele, você não vai querer enfrentar a minha fúria caso não consiga. – Disse olhando sem seus olhos.

Ele não conseguia se mexer, não queria que ela encostasse nele e ao mesmo tempo queria, não conseguia entender os próprios pensamentos, mas sabia que se ele continuasse parado como uma estátua, morreria de falta de ar. A mulher pegou a mão dele, murmurou algumas palavras que ele não compreendeu e fechou a mão deixando-a cair ao lado de seu corpo.

Naruto tinha absoluta certeza de que não tinha piscado, pois estava imóvel demais até para isso, mas mesmo sem nenhuma explicação plausível, ela sumiu da sua frente e só isso permitiu que ele voltasse a se mover. Soltou o ar que prendia em seus pulmões, voltando a respirar normalmente e piscou algumas vezes atordoado.

Tinha sido uma alucinação, era a única explicação, ele estava ficando louco. Levou a mão a testa, mas assim que a sua palma encostou na testa, ele soltou uma exclamação de dor. Viu que em sua mão estava gravando como se tivessem queimado em sua pele quatro linhas que passavam delicadamente umas sobre as outras formando um símbolo que ele nunca tinha visto. Sua pele queimava e por isso ele soltou uma careta de dor.

Olhou uma última vez para a rua deserta como se esperasse vê-la em alguma parte e resolveu cuidar do seu novo machucado ignorando momentaneamente o fato daquela queimadura significar que o encontro foi real e que provavelmente ela retornaria atrás do bem que lhe foi tirado.

 

 

Do outro lado da rua escondida na pequena brecha de corredor entre as casas, a mulher arfava de cansaço sentada na rua ao lado de uma menina de aparência bastante similar a sua, porém mais jovem.

— Acha que deu certo?

— Eu não sei, quero dizer, ele com certeza se sentiu intimidado, mas ele não estava exatamente com medo, pode ser que ele ignore. – Disse a mais nova encarando a casa em que o rapaz de cabelos loiros havia entrado. – Ele é uma gracinha, não é?

A mais velha revirou os olhos.

— Nunca vou entender essa queda que você tem por humanos. Não vi nada de gracinha nele, ele roubou minha relíquia e entregou ao sr. Zane. – Conforme ela ia falando a voz ia ficando cada vez mais descontrolada e ela sentia prestes a cair em lágrimas. – Ele nunca vai me entregar, nem se eu quiser comprar, ele nos odeia.

— Ele sente coisas, sabe que não somos humanos. Vamos voltar, tenho coisas para fazer antes da aula de astrologia. – Disse se levantando.

Mas a mais velha continuou no chão em uma batalha interna entre gritar de raiva ou chorar por horas.

— Hanabi, faz mini tortinhas de abóbora para mim? – Perguntou ainda no chão com a voz trêmula.

— Você que deveria cozinhar para mim, você é minha irmã mais velha.

— Você sabe que eu sou péssima cozinheira. – Disse se levantando e pegando nas mãos estendidas da menina.

— Sei. Sakhli.

Uma leve brisa movimentou as folhas das árvores mais próximas de onde as duas irmãs sumiram.

 

 

Para entender como duas jovens e privilegiadas bruxas de um importante e antigo coven chegaram a ponto de ameaçar um humano no meio de uma rua onde apenas moravam humanos temos que entender algumas coisas sobre elas.

As duas bruxas são as queridas filhas de Hiashi Hyuuga, um poderoso e respeitado feiticeiro que lidera não apenas o clã Hyuuga como também o Coven Kaguya, um dos covens primordiais da história dos bruxos. A família de Hiashi, no momento era composta por ele e suas duas filhas, Hinata e Hanabi Hyuuga.

Ambas meninas eram talentosas e queridas por toda a comunidade que habitavam, mas a primogênita foi o terceiro bebê a nascer da cabana da parteira naquela noite e por isso, ela carregava consigo um toque do azar.

A família e os amigos de Hinata já haviam se acostumado com sua personalidade emotiva cheia de inconstâncias, além do fato de ela ser esquecida, uma péssima cozinheira e desabençoada pelo fogo que sempre se recusava a cooperar com a morena.

Essa característica nos leva a fria manhã de segunda-feira, ainda que o sol brilhasse forte lá em cima. Hinata sentou-se ao lado de Sasuke no exato momento em que o professor fechou a porta da sala.

— Muito bem, essa é a última aula que vocês têm para praticar antes do teste de sexta, sugiram que aproveitem bem a oportunidade. Podem começar.

A prática que eles estavam tendo desde a semana passada era tentar se comunicar com a pessoa sem falar, em outras palavras colocar as palavras que você gostaria de dizer na cabeça do outro.

— Por que chegou e cima da hora? – Perguntou Sasuke na cabeça da morena sem nem a olhar, enquanto ele adiantava um trabalho de poções que era absurdamente gigantesco.

Essa matéria era muito fácil para eles, que antes mesmo de terminarem o ensino básico da magia, já conseguiam fazer isso sem a menor dificuldade.

Sasuke Uchiha era o melhor amigo da Hyuuga. Além de serem vizinhos, eles faziam parte do mesmo coven. O clã Uchiha era responsável pela segurança da comunidade bruxa da região e Sasuke era o membro mais novo do clã até então. Desde pequenos, os dois eram fascinados por coisas intituladas como proibidas e por isso estavam sempre de cochichos pela vila. Quando souberam que havia uma forma de se comunicarem sem que outros conseguissem escutá-los, os dois logo trataram de aprender e talentosos como eram para feitiços mentais, não demorou mais do que três meses para que conseguissem colocar frases completas – ainda que curtas – na cabeça um do outro.

— Não conseguia escolher uma bota. - Tentou responder para o Uchiha, mas ela sabia que não tinha funcionado.

Tentou mais uma vez se esforçando como não esforçava a anos e nada. Sentia sua magia bloqueada. Arregalou os olhos assustada e tentou fazer um simples feitiço de levitação com a pena de Sasuke soltando um grito agudo quando não conseguiu. Sentiu todo seu corpo começar a tremer.

— Tudo bem, senhorita Hyuuga? – Perguntou o professor com curiosidade se aproximando dos amigos.

— Sim, sim. – Disse sorrindo sem graça.

Quando o professor se deu convencido e virou as costas, Sasuke tornou a falar em sua mente.

— O que foi? Por que não me responde?

Hinata olhou ao redor verificando se alguém prestava atenção neles dois, mas notou que os outros estudantes já tinham retornado a prática.

— Eu não consigo realizar feitiços.

Sasuke a encarou confuso.

— Por que não? Está com a sua relíquia?

Hinata apalpou os bolsos do vestido procurando pelo relógio e sentiu seu corpo inteiro gelar ao constatar que ela não estava com a relíquia.

Sasuke cerrou os olhos observando a menina. Esquecida como sempre.

— Não acredito que você esqueceu sua relíquia, melhor voltar para casa já que não pode realizar magia.

Hinata piscou algumas vezes encarando o amigo. Só tinha um problema, Hinata não se lembrava de ter visto sua relíquia desde o dia anterior quando a colocou no bolso do casaco antes de sair com as meninas para o festival da cidade. Sentiu seus olhos encherem de água. Sem sua relíquia, sequer poderia convocar o coração de pedra para ajudá-la a pensar melhor.

— Professor, - chamou levantando-se abruptamente – posso me ausentar? Não estou me sentindo bem.

O professor apenas assentiu, já que estava estampado no rosto da menina que tinha algo de errado com ela, parecia prestes a desabar ali mesmo.

Saiu da sala correndo, sem nem um último olhar ao amigo que a observou preocupado. Foi direto para o seu lar, ignorando todos no caminho enquanto corria o mais rápido que podia considerando sua falta de magia e o salto que usava. Ao chegar, seguiu para seu quarto e começou a revirar as coisas em busca do relógio. A cada lugar procurado em vão, seu coração se machucava ainda mais.

— O que está acontecendo? – Perguntou sua irmã mais nova com uma voz sonolenta na porta de seu quarto.

— Nada, nada. Volte a dormir. – Disse continuando a procurar.

Mas o tom utilizado ativou na irmã seu instinto protetor. Apesar de ser mais nova, Hanabi Hyuuga era a que agia de forma mais madura no lar dos Hyuugas, ela costumava ser a responsável por preparar as refeições e seus confeitos conquistavam a todos que a conheciam. Ela era extremamente cuidadosa e protetora com seu lar e as pessoas que a ele pertenciam, principalmente Hinata que era a mais trabalhosa e estava constantemente se metendo em encrencas.

— Hinata, você vai me dizer agora o que aconteceu. – Falou séria usando um pouco de magia para quebrar a irmã mais velha que tudo indicava que ia quebrar de qualquer forma.

— Eu a-acho, eu acho que perdi minha relíquia. – Disse levando a mão aos cabelos completamente nervosa.

— Você o quê?

— Eu perdi minha relíquia. – Disse se jogando na cama enquanto as lágrimas caiam. – Não a vejo desde ontem, quando saímos para aquele festival. – Disse enfiando a cara nos edredons.

— Calma. – Falou a mais nova com tranquilidade sentando-se ao lado da irmã e acariciando os cabelos. – Onde você colocou quando saímos?

— Ali. – Disse sem levantar o rosto apontando para cadeira de sua mesa onde havia um cardigã pendurado.

Hanabi levantou-se e pegou a peça de roupa com cuidado, como se tivesse medo de sujá-la ou infectá-la.

— Gamoavline sheni ts’arsuli, gamoavline sheni ts’arsuli, gamoavline sheni ts’arsuli.— Sussurrou a mais nova com os fechados e agarrada a roupa.

Abriu os olhos, que agora estavam brancos e Hinata soube que sua visão não estava ali. Quando os olhos da mais nova voltaram a serem azuis, ela piscou algumas vezes colocando o cardigã sobre a cadeira novamente.

— Você não perdeu, – disse a mais nova, - foi furtada.

— Furtada?! – Perguntou irritada.

— Sim, vamos chamar o Sasuke, ele deve conseguir fazer um feitiço de localização para achar o menino.

— Não, não quero envolvê-lo nisso, ele está sofrendo com um trabalho de poções no momento. Faz você. Ele te ensinou não foi?

A mais nova mordeu os lábios.

— Ainda estou aprendendo.

— Por favor, Hanabi, é da minha relíquia que estamos falando.

Hanabi procurou na gaveta da irmã por um mapa da cidade que ela sabia que estava ali porque ela havia roubado na semana passada e devolvido apenas ontem. Abriu o mapa colocando-o sobre o chão. Depois, voltou a pegar o cardigã, segurando onde o rapaz havia triscado com uma mão e com outra sobre o mapa.

— Dedamits’a, romelits gvak’urtkhebs tavisi ts’minda energiit, machvene sad aris.

Elas esperaram ansiosa e alguns segundos depois, a mão de Hanabi que estava sobre o mapa caiu sobre um ponto específico.

— A energia dele é mais forte aqui. Deve ser o seu lar.

— Vamos lá. – Hinata falou se levantando.

— Espera, precisamos de um plano. Não podemos simplesmente aparecer.

— Eu tenho um plano, nós assustamos ele, ele fica com medo, devolve minha relíquia e então eu o faço esquecer sobre nós.

— Hinata, eu não vou aparecer para um humano.

— Tudo bem, você se esconde.

— Sua magia está bloqueada, esqueceu?

Hinata mordeu os lábios.

— Já sei, você faz projeção no meu corpo e usa magia para assustá-lo. Como também sou bruxa, meu corpo deve aguentar.

— Isso é muito arriscado. – Disse a mais nova com uma expressão preocupada.

— Por favor, - implorou Hinata – estamos falando da minha relíquia, você sabe que eu jamais te colocaria em risco se conseguisse resolver sozinha. Eu faria o mesmo por você.

As irmãs se encararam por alguns minutos até que a menor cedeu soltando um suspiro cansado.

 

 

— Nós deveríamos pelo menos ter chamado o Sasuke. – Disse Hanabi se abraçando.

As duas estavam novamente no pequeno corredor, na rua em que o rapaz morava. Agora que estavam mais próximas de lidarem novamente com o humano, Hanabi estava ainda mais insegura da ideia.

— Vamos logo com isso, já vai dar meia noite.

— Tá bom. – Respondeu a contragosto e começou a lançar feitiços de proteção selando o corredor. – Pronta? – Perguntou encarando Hinata que assentiu.

Elas deram as mãos e fecharam os olhos. Para qualquer pessoa que estivesse de fora pareceria uma simples meditação, mas se assustaria com o que veio em seguida. O corpo de Hanabi simplesmente pendeu como se ela tivesse desmaiado. Com cuidado, Hanabi – agora no corpo de Hinata – colocou seu próprio corpo desacordado no chão apoiada na cerca de madeira de uma casa de família humana.

Respirou fundo e encarou a casa do outro lado da rua, ela sabia que ele estava ali, conseguia sentir a presença dele e o selo que ela havia colocado sobre a mão. Ele não havia tentado fugir como o esperado e Hanabi não tinha um bom pressentimento quanto a isso, poderia ser do tipo “metido a corajoso” e acreditar que poderia derrotar uma bruxa sozinho e desinformado.

Fechou os olhos novamente e se concentrou por poucos segundos. Hinata, Sasuke, Tenten e ela costumavam usar esse feitiço com frequência quando o aprenderam alguns anos atrás e por isso, agora ela já tinha tanto domínio sobre sua prática que sentia conseguia fazer sem ser necessário dizer uma palavra.

Quando abriu os olhos novamente, sentiu-se tentada a observar o ambiente em que se encontrava – parecia se tratar do quarto do garoto – mas ela saberia que isso quebraria o papel de intimidação que ela precisava executar e por isso, ignorando todos os seus instintos olhou exclusivamente para frente, onde o Uzumaki e encarava assustado sentado na cama.

— Onde está? – Embora fosse uma pergunta o tom utilizado fez soar como uma ordem.

— Não fique irritada. – Disse o rapaz se levantando da cama e falando em um tom como se estivesse tentando acalmá-la. – Eu fui atrás, como você mandou, mas já foi vendido. Eu não consegui achar, até perguntei para quem foi vendido, mas o sr. Zane não quis dizer.

— Não me interessa ouvir as suas estúpidas... – parou de falar quando sentiu suas roupas e cabelos ensoparem – o que diabos? – Perguntou ainda mais irritada e incrédula com a situação.

Ele havia jogado uma bacia de água nela.

— Você não está queimando. – Ele constatou. – Por que você não está queimando?

Hanabi cheirou a roupa molhada.

— Por que eu estaria queimando? Você jogou água em mim.

— Água benta.

A garota piscou repetidamente e de repente, começou a sentir uma grande raiva crescendo dentro de si.

— Você queria me matar com água? Eu sou filha da Natureza, jamais poderia me matar com Natureza! – Disse raivosa e inconscientemente o ambiente ficou quente, precisamente, seu corpo ficou mais quente.

Naruto observou assustado enquanto as roupas que ela usava secavam-se sem que ela sequer precisasse olhar para si mesmo. Ele estava assustado, bastante assustado, mas acima de tudo estava fascinado. Como isso era possível? Nada fazia sentido, mas ainda assim estava bem ali na sua frente, a comprovação de que bruxas existiam e elas possuíam habilidades incríveis.

Hanabi sentia-se ofendida, insultada e pretendia assustá-lo definitivamente agora, mas antes que pudesse realizar seus planos sentiu uma perturbação e logo depois escutou a voz masculina, séria com a qual já estava acostumada de tanto escutar falando em tom bastante autoritário. Arregalou os olhos assustada.

— Hinata, temos um problema. – Falou sem se preocupar com o loiro a sua frente que agora estava completamente confuso. – Não volta! – Avisou a irmã.

E então Hinata caiu no chão ofegante como se tivesse acabado de correr metros e mais metros de distância.

— Hanabi? Hanabi? – Chamou olhando para as próprias mãos e depois olhou ao redor.

Engoliu em seco ao concluir que estava sozinha com um humano no quarto dele que até onde sabia era perigoso considerando que a razão de ela o conhecer é o evento que ele havia furtado sua preciosa relíquia e o pior, ela não tinha como usar magia.

Colocou-se em pé tentando recompor sua dignidade o máximo possível pensando o que teria acontecido para Hanabi ter lhe abandonado ali. Provavelmente nada muito sério considerando o tom dela, mas definitivamente alguém descobriu que ela não estava no corpo dela. Provavelmente Sasuke.

O jovem Uzumaki a encarava assustado e acuado sentado na própria cama e apoiado na parede. Embora ele parecesse levemente assustado, ele a observava atentamente com mais curiosidade do que medo.

Hinata ainda ofegava quando deu um passo para trás com medo.

— Você está bem? – Ele perguntou baixinho pegando a Hyuuga desprevenida.

— Claro. – Respondeu automaticamente, embora sentisse seu coração batalhar contra seu próprio peito.

Observou o rapaz que usava um moletom amarelo que talvez fosse maior do que o necessário para ele e uma calça preta com linhas brancas. No rosto, ele tinha cortes como se tivesse sido agredido recentemente e provavelmente foi o que aconteceu considerando que ele não estava com o corte durante o dia.

Decidiu não parecer fraca, Hanabi já tinha feito várias demonstrações de magia, ela não precisaria mais usar se fosse cuidadosa o suficiente para manter a imagem que ela criou.

— E-Eu preciso do meu relógio. – Falou decidida com os olhos presos aos dele.

Ela percebeu na mesma hora que terminou de falar que a imagem que sua irmã mais nova tinha criado na cabeça do menino a grande custo havia se quebrado. Ele tinha aquele sorriso de canto que tinha quando eles se encontraram durante o dia, ele nunca ficou realmente com medo dela e a demonstração de fraqueza foi o que ele precisava para sumir com o resto da pose.

Engoliu em seco com medo observando ele levantar-se e vir na direção dela. A cada passo que ele dava em sua direção, ela dava um para trás e cada vez que isso acontecia, o sorriso dele aumentava. A cena se repetiu até que a morena se deparasse com uma estante as suas costas e ele parou a menos de um passo de distância.

— Você não parece tão assustadora agora, Hanabi ou seria Hinata?

— Quem lhe deu intimidade para me chamar pelo meu nome pessoal? Para você é Hyuuga.

— Hyuuga? – Ele cerrou os olhos. – Já escutei esse nome antes.

— Não é relevante. Eu preciso da minha relíquia.

— Relíquia? – Perguntou confuso.

— O relógio, eu preciso do relógio. – Disse impaciente com a voz alterada.

— Que barulheira é essa? – Perguntou um homem de meia idade abrindo a porta do quarto repentinamente e observando os dois jovens com curiosidade.

Hinata observou assustada um sorriso, no mínimo nojento, se formar no rosto do homem e notou incomodada que o olhar dele logo foi parar em suas pernas que o vestido preto deixava expostas, embora mais uma vez ela usasse botas de cano alto, no entanto essas apenas atraiam mais atenção para aquela parte do seu corpo. Ela sentiu-se incomodada e exposta como nunca antes havia se sentido. Sentiu-se bastante grata quando o Uzumaki se colocou a sua frente, atrapalhando a visão do homem.

— Nada, estamos só conversando. – Disse sério. – Desculpa, vamos controlar melhor o volume.

O senhor desviou-se do rapaz para dirigir a menina mais um último olhar.

— Tudo bem, usem camisinha. – Falou antes de fechar a porta.

Hinata respirou aliviada nesse momento e Naruto a observou com a expressão fechada.

— Uma dica, se continuar me visitando, não use esse tipo de roupa. Uma dica ainda melhor, não me visite. – O garoto falou enquanto fazia o caminho para a cama e logo depois se jogou sobre o colchão.

Tranquilo, como se Hinata fosse uma parente que ele não quisesse dar atenção agora e com a qual ele já estava acostumado a presença, ao invés de uma menina que já havia lhe provado que tinha poderes mágicos impensáveis e que também era a responsável por lhe deixar uma marca que ainda estava bastante vermelha e ardendo, Naruto pegou um livro e começou a ler.

— Eu não tenho lhe feito visitas! – Rebateu indignada se aproximando dele. – Eu preciso do meu relógio e você vai ter que me entregar ou coisas graves vão acontecer a você.

O garoto dirigiu um breve olhar sobre o livro e depois voltou a ler como se ela não estivesse ali fazendo com que Hinata chegasse ao ponto de lhe arrancar o livro e depositá-lo com cuidado – a Hyuuga presava muito pelo cuidado e atenção com livros – sobre uma mesa em frente à janela, voltando para encará-lo em seguida com os braços cruzados.

A ousadia do rapaz em ignorá-la a tinha feito esquecer que até poucos minutos atrás achava que ele fosse perigoso. Sentia-se desprezada e subestimada demais para se preocupar com sua segurança diante as atitudes tão infantis do loiro.

Naruto suspirou e sentou-se na cama.

— Olha, princesa...

— Eu não sou filha de um rei. Não temos reis em nossa cultura. – Disse em tom de superioridade.

Naruto apenas a encarou com a boca levemente aberta como se não acreditasse no que estava vendo e ouvindo. Depois sacudiu a cabeça como se dissesse a si mesmo que haviam coisas mais importantes do que explicar a uma adolescente que princesa era uma forma carinhosa de se referir a uma bela jovem como ela.

— Como eu ia dizendo, eu fiz por você tudo que eu pude. Fui no cara para quem eu vendi, mas ele já vendeu para outra pessoa e sinceramente, você tem mais chances de conseguir saber para quem ele vendeu do que eu. Não nos damos muito bem, entende? – Ele se levantou novamente e foi na direção dela. – Então eu sugiro que você vá no antiquário Zane e use seus truques mentais para entrar na cabeça dele e conseguir a informação que você quer.

— É incrivelmente mal-educado entrar na mente de uma pessoa, além de uma verdadeira falha de caráter. – Falou determinada. – Assim como também roubar coisas que não lhe pertencem.

— Se me pertencessem, eu não teria roubado. – Disse encarando no fundo dos olhos azuis. – E eu não roubei nada, eu furtei e sinceramente, me arrependo de ter pegado seu relógio, dá para ver que era importante para você, mas não tem mais nada que eu possa fazer.

— Claro que tem, você pode se responsabilizar pela a sua atitude e arranjar uma forma de conseguir meu relógio de volta.

— Eu tentei, eu fui até lá. Não posso fazer mais do que isso. – Disse pegando o livro que estava atrás da menina.

— O senhor Zane não gosta da minha família, ele nunca irá me dizer nada. – Falou desesperada.

— Somos dois. – Naruto falou com simplicidade.

— Por que ele não gosta de você? Você é humano.

Naruto pareceu refletir sobre como responder à pergunta por alguns minutos.

— Ele não aprova minha maneira de conseguir itens. – Disse sorrindo.

— Você quer dizer que ele não aprova que você roube.

— Furte. – Corrigiu rapidamente como se houvesse uma grande e importante diferença entre as duas palavras.

— Por que você faz isso? – Perguntou curiosa sobre o rapaz pela primeira vez desde que havia se deparado com ele. – Você tem uma boa moradia, em um bom bairro, se veste bem...

— Obrigado. – Disse com um malicioso sorriso de canto que não durou muito. – Essa casa é tudo que meu tio tem e se as coisas continuarem como estão, em breve, ele perderá até a casa. – Disse olhando para a capa do livro para evitar o olhar da menina. – Ele gasta toda a aposentadoria em bebida e mulheres. Não coloca nem comida aqui dentro.

— E onde estão seus pais?

— Minha mãe está no Santa Monica.

— Santa Monica? O cemitério?

Ele não respondeu.

— Meu pai fugiu quando soube que ela estava grávida.

Hinata soltou uma exclamação de horror que assustou Naruto ao ponto de fazê-lo olhar para ela. Agora os olhos azuis da menina estavam marejados e suas mãos cobriam a boca.

— Essa é a coisa mais horrível que já ouvi. – Disse com a voz entrecortada como se estivesse prestes a cair no choro.

Naruto não soube explicar o porquê, mas sentiu-se incomodado não pelo seu passado, mas sim pela expressão de tristeza que agora ela tinha estampada, isso sem mencionar a vontade inexplicável que ele tinha de abraçá-la e consolá-la sendo que ele nem tinha certeza de qual era o nome dela.

— Tá tudo bem. – Falou baixo. – Já faz muito tempo. – Disse sorrindo na esperança de que ela não deixasse as lágrimas caírem, mas parecia ainda mais que ela ia chorar. – Olha, - disse se aproximando dela novamente e colocando o livro sobre a mesma mesa que ela tinha colocado – que tal isso? Amanhã podemos tentar recuperar seu relógio juntos.

Antes mesmo de terminar a fala, Naruto estava se perguntando o porquê de estar fazendo isso. Ele mal a conhecia.

Hinata, de repente, lembrou-se porque estava ali. Lembrou-se da relíquia que não estava mais sobre o seu domínio e lembrou-se de que o Uzumaki era responsável por isso.

— Promete não me roubar?

— Prometo.

— Que tal nos encontrarmos na Nina’s? Sabe onde é?

— A cafeteria? Sim.

— Ótimo.

— Ok.

Os dois ficaram em silêncio encarando um ao outro por tanto tempo que começou a ficar desconfortável.

— Então, você não vai embora? – Ele perguntou receoso.

— Vou! Claro que vou. – Ela disse indo em direção a porta.

— Hã... Uzumaki. – Falou virando-se para olhar o rapaz. – Eu não sei como sair daqui.

— Ué, você não teleportou para cá? Teleporta de volta.

— Não funciona assim. – Disse ainda incerta sobre contar que ela não podia usar magia. – Eu vim por causa da marca. – Respondeu apontando para a mão do rapaz.

— Hn. – Disse encarando a marca em sua própria mão. – Quando isso vai sumir?

— Quando você me devolver meu relógio.

— Ok.

O rapaz abriu a porta e guiou a menina pelo corredor, até a escada e então até a porta de saída.

Para a infelicidade de Hinata, eles passaram próximo a sala de estar onde o homem – que Hinata deduziu ser o tio de Naruto – estava assistindo televisão enquanto bebia algo. Ele virou-se rapidamente quando escutou o barulho na escada e dirigiu aquele mesmo olhar a ela. Instintivamente, Hinata escondeu-se atrás de Naruto e isso não passou percebido pelo rapaz que apesar de não ter demonstrado sentiu-se repentinamente nervoso e quente quando o braço dela encostou no dele.

— Espero te ver de novo, gatinha. – Escutou o senhor falar ainda que não pudesse vê-lo.

Naruto abriu a porta e a menina praticamente correu para fora.

— Então nos vemos amanhã. – Disse rapidamente já descendo os degraus da sacada.

— Sim. – Ele tinha uma expressão que parecia pedir desculpas. – Afinal, qual o seu nome?

— Hinata Hyuuga.

— Certo. Sou Naruto Uzumaki, pode me chamar de Naruto.

Hinata assentiu e seguiu para o lado oposto e só quando ela já havia sumido de sua vista que ele pensou que talvez devesse ter se oferecido para levá-la, afinal já passava da meia noite. Esperava que ela estivesse bem.

Assim que Hinata chegou no corredor deu de cara com Sasuke de braços cruzados encarando-a severamente. Sua irmã tinha expressão de aflição e estava logo atrás do Uchiha parecendo tentar ser ainda menor do que era.

— Eu posso explicar. – Disse Hinata com um sorriso amarelo.

Mas ela sabia pela expressão no rosto do amigo que não haveria explicação que ele aceitasse. Sasuke estava irritado demais e não havia forma alguma de acalmá-lo que não fosse deixá-lo falar até que esgotasse suas reclamações.

Suspirou se aproximando do amigo e da irmã sabendo que ainda teria uma longa noite pela frente.


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Notas finais do capítulo

Quem deu uma chance, comentem o que acharam, por favor, estou muito insegura com essa fanfic



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