Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 9
Algumas respostas


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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“Calma, você está indo bem.”

Murilo Narrando

Fiquei sabendo que hoje seria o dia que todos deixariam o abrigo. Meu pai exigiu que eu voltasse, já que eu não teria que ficar no mesmo lugar que Kevin mais, mas eu não queria. Caleb não deixaria de existir e ele me fazia tanto mal que eu preferia manter distância.

No fundo meu pai abriu o jogo comigo e disse que concordava e achava que o melhor era mesmo eu estar distante daquele psicopata. Mas havia a minha mãe. E ela me queria perto. Então ele faria de tudo para que eu voltasse. Só que a decisão estava tomada. Eu não voltaria.

Fiz a minha matrícula na escola junto de Gardan e como seriam apenas quatro meses até o fim desse ano e dos estudos, eu não procuraria um lugar pra ficar e sim continuaria no hotel.

De cara eu conheci o Adam e a Audrey, como eu falava a língua deles, mas não com a mesma rapidez e desconhecia várias gírias, isso gerou muita risada entre a gente.

— Como vocês dizem que a pessoa errou? – Audrey perguntou enquanto íamos para a próxima aula.

— Você é maior vacilão. – falei e ela riu.

— Va-ci-lon. – Adam tentou reproduzir falhando significativamente. – Meu pai que homem é esse. – ele olhou para o professor passando. Sim ele era gay. Esse foi um dos motivos de eu ter ficado aqui tão tranquilamente sem peso de estar fazendo a coisa errada. Parece que o destino queria assim. Tudo conspirava para isso. Eu e ele já conversamos um pouco, contei minha história por cima e disse que não me sentia atraído como ele e ele disse que certamente outro cara ainda vai mexer comigo, é questão de tempo. Bom... Não será ele. Já deixei claro que não havia chance alguma de rolar algo. Mesmo ele sendo bonito e gente boa. Mas não me chamava atenção em nada. Adam era totalmente afeminado e talvez esse fosse o charme dele. O jeitinho dele era especial. Já a Audrey lembrava muito a minha irmã. Ela tinha um namorado que morava no Japão e segundo ela eles se falavam todos os dias por vídeo. Poderia até ser assim entre eu e Kevin. Como meu pai sugeriu. Mas eu preferi cortar o mal pela raiz, principalmente depois de saber que ele deixou se levar e voltou a ser o escroto de sempre.

— Pronto. – atendi Arthur assim que sai do colégio.

— Não desiste dele. – fiquei em silêncio. – Ele não mudou Murilo, é o seu Kevin ainda. Ele está fingindo. Ele fez isso para que eu e Alice nos reconciliássemos.

— Por que está me contando isso Arthur?

— Porque para ele conseguir isso foi preciso se aliar ao pai dele... Você vai ver uma foto dele com o ex namorado. Mas eles não estão juntos. É uma chantagem.

— Como você descobriu isso tudo?

— Apenas não desisti. As pessoas que não desistem conseguem. Vou desligar, estamos indo pra casa. Você não volta mesmo Murilo?

— Não. Gostei de estar sozinho. É libertador.

— Está sendo egoísta. Sua mãe está ficando louca e sua irmã triste pra caralho.

— Acontece. Vai lá, flw. – desliguei. Não aguentava Arthur tentando me fazer mudar de ideia. De alguma forma eu me encontrei naquele lugar e era ali que eu iria ficar.

Almocei no hotel e parti para a sessão de terapia. Eu odiava. Muito mesmo. Mas era tão necessário quanto evitar bebidas e drogas.

— Murilo! – ela me chamou e entrei para a sala me sentando na poltrona que era muito confortável. Era a única parte boa. – Como se sente hoje?

— Normal. – ela deu aquele sorriso de chata dela.

— E quanto a sua decisão de terminar os estudos aqui, o que pensa a respeito?

— Eu já falei sobre isso. Muito inclusive.

— Sei disso. Mas pedi para refletir se isso não era uma fuga da sua realidade e dos problemas que estão dentro de você.

— Como se eu estou aqui mexendo neles?

— Você é impossível. – ela deu uma risadinha baixa.

— Suas frases estão cada vez mais parecidas com as da minha mãe. – nos olhamos.

— Vamos voltar ao assunto Kevin? – desviei os olhos. – Murilo, é indispensável. – fiquei em silêncio. – Da última vez você disse sobre o motivo do término. O pai dele. Com todas as informações que você me deu... – ela mexeu em sua prancheta e passou algumas folhas. – Tenho um diagnóstico para te dar sobre ele. Você tá preparado? É um pouco pesado.

— Eu preferia falar sobre os amigos novos que fiz na escola.

— Murilo. Combinamos que você iria parar com o método de fuga.

— Não, eu não estou preparado, mas você vai dizer mesmo assim.

— Vou sim. Mas é bom que saiba antes que não é uma coisa fácil de ouvir.

— Então diz logo.

— De acordo com as informações que me passou, ele é sim um psicopata, psicologicamente falando. Deixa eu te explicar agora o que isso significa. O psicopata nasce assim e morre dessa forma. Ele não tem sentimentos de culpa, remorso ou arrependimento. E esses são os nossos freios morais, da maioria das pessoas. Temos escrúpulos, eles não. Esse sadismo pode ser direcionado a qualquer outra pessoa. Ele direcionou ao Kevin. Ele fez tortura psicológica, física e emocional a vida toda dele. Imagina agora o que é conviver com isso, com uma pessoa assim. – lógico que meus olhos se encheram de água. – O que você pensa sobre isso?

— Deve ser horrível. – enxuguei uma lágrima que caiu.

— Não é só horrível. É trágico. Sei que o ama muito, eu vejo isso. Mas pelo que você contou, as sequelas emocionais por conviver com um ser como esse pai são absurdas. E eu digo mais, você chegou aqui querendo respostas pelo seu quadro, não posso dar respostas conclusivas ainda, mas me parece muito que essa relação doentia dos dois gerou muita ansiedade em você. E não é pra menos. Muito normal. Esperado eu diria. Mesmo se você não tivesse esse quadro quando criança certamente você desenvolveria o transtorno nesse nível. Você PRECISA ficar distante desse garoto e do pai dele, não para esquecê-lo, mas porque te faz muito mal.

— Mas e se eu não conseguir esquecer daqui quatro meses? Se eu voltar e acabar ficando com ele? Vou acabar parando no hospital? Vai voltar tudo de novo?

— Talvez de forma reduzida por causa dos medicamentos e você vai continuar com o tratamento psicoterápico lá. Mas... O ideal era não estar com ele Murilo. Olha... – ela respirou fundo. – Se te conforta, todo mundo tem um amor da sua vida e um amor para a sua vida. Ele pode ter sido seu primeiro amor e consequentemente muito marcante, mas pode não ser aquele que se encaixa em suas necessidades e vai estar ao seu lado. Você nem sabe por que ficou com ele se nem gosta de garotos. Já parou pra pensar nisso? Pode haver muito mais emoções camufladas aí, vamos parar pra analisar isso.

— Chega por hoje. Por favor. – pedi e ela aceitou, terminando a sessão mais cedo. Voltei para o hotel com a cabeça doendo. A minha esperança era que a noite iria sair com Eliot, só isso em animava.

Alice Narrando

Estava morta de cansaço, mas estava em casa. Dormimos a noite para poder descansar e de manhã já era hora de despedir de Arthur. Aquilo me deixou muito mal. Parece que todas as pessoas que eu amava de certa forma estavam indo embora.

— Odeio te ver assim. – ele falou quando nos separamos do nosso abraço. – Odeio mais ainda o seu pai estar tão perto e eu não poder te beijar.

— Vai logo, antes que fique pior que já é. – respirei fundo e andei até Fabiana.

— Vou sentir muita saudade. – ela fez aquele bico dela. – Você é muito especial e eu amei te conhecer Alice.

— Não fala como se nunca mais fossemos nos ver. – reclamei. – Vocês vão voltar aqui ainda e eu posso ir lá também.

— Vamos ver né. – ela resmungou e eu dei um tchau tímido para Alícia.

— Não o faça sofrer. Ele te ama de verdade. – Rafael me falou baixo e de uma forma bem séria. Não entendi muito bem.  – Só saiba que ele iria até o fim do mundo por você, é um lembrete, você pode ter se esquecido.

— Não esqueci. – respondi. – Boa viagem. – ele nem sorriu.

— Não esquenta com ele. – Arthur chegou perto de mim novamente. – Te amo. – olhei eles saírem e entrei de volta pra casa dos meus avós.

— Vou sentir saudade da casa cheia. – minha vó reclamou se sentando no sofá.

— Vai ser bem melhor assim, você tem que descansar agora do abrigo.

— Tá achando que eu tenho quantos anos Vinicius? Oitenta? Eu não te tive com quarenta anos e sim bem nova, você me poupe desse seu discurso de idosa pro meu lado. – comecei a rir dos dois.

— Já vão começar. – tio Gu falou e deu um sorriso. – Eu amo essa família. Mas agora vou pra casa. Só vim mesmo pra me despedir do Arthur.

— Cadê o pai dele? – meu avô Mark perguntou olhando para a minha tia Luna.

— Eles não estão se falando de vez. Acho que o Arthur tem ciúme do pai e o Kevin. E agora que ele e o irmão são amigos isso piorou.

— Você só pode ser louca né? – meu pai perguntou parecendo estar indignado. – O seu filho não gosta do seu ex marido porque ele é um ser desprezível.

— Não vou discutir isso com você Vinicius.

— Claro, porque você sabe muito bem que eu tenho razão!

— Qual a novidade? Você é dono da razão. Quantas vezes você vai me fazer me sentir mal pelos meus erros do passado? Casar com Caleb só foi bom por ter dado os meus filhos, fora isso eu queria apagar tudo! E você está sempre insistindo em lembrar!

— Você dá muita sorte que o Arthur e Yuri foram criados aqui nessa casa e eles têm caráter e mais um monte de qualidades e não foram afetados pelo pai. Sinto muita pena do Kevin.

— E do seu filho, você não sente? – ele a olhou assustado e todos que já estavam em silêncio ficaram mais ainda, exceto por uma pessoa.

— Luna! – meu tio Gu quase gritou.

— Até quando ele vai esconder da esposa que o filho está tomando remédios controlados e fazendo terapia? – minha mãe parecia imóvel e eu não sabia como reagir nem o que pensar.

— Se existia alguma chance de ficarmos juntos, ela acabou aqui e agora. – minha mãe avisou e tentou sair pegando a chave do carro no bolso dele.

— Raíssa você não pode dirigir assim, tá muito nervosa. – meu pai disse pegando em seu braço.

— Eu a levo em casa. – meu avô se levantou e olhou para o meu pai. – Eu espero que você tenha um bom motivo pra essa palhaçada. E Luna cuidado, me parece que está convivendo demais com o seu ex marido. Ah... – ele ia sair, mas se virou. – Já entendi que foi você que contou a ela Gustavo. Sei que todos vocês devem estar preocupados com Murilo, eu também estou desde que vi o jeito que ele agiu no abrigo querendo sair de lá a qualquer custo, mas não somos os pais dele. Eles que decidem o que é melhor para o garoto. – ele saiu e fui atrás dele para poder ir embora pra casa com a minha mãe.

— Alice. – meu pai me chamou antes que eu passasse pela porta.

— Você não tinha o direito de esconder isso da gente. – ele sabia que eu estava certa e então deixou que eu fosse embora.

O caminho até a casa foi silencioso. Como imaginei que seria. O meu avô era muito discreto, achei até improvável ele dizer todas aquelas coisas.

— Se precisar de qualquer coisa ligue Raíssa. Mantenha a calma, Murilo vai ficar bem.

— Tudo bem. – nos despedimos e entramos. Vi que minha mãe chorava e a abracei.

— Mãe, não fica assim. – tentei ser forte por nós duas.

— Sempre fomos muito duros com ele. Isso tudo é culpa minha e do Vinicius.

— Para de falar besteira. Murilo é agitado desde que nasceu! Tem pessoas que são assim e vocês não nenhuma interferência nisso.

— A gente tem que marcar a sua consulta. – ela enxugou os olhos. – Você ficou muito tempo no abrigo sem nenhum tipo de controle. Estou com medo de você ter de alguma forma regredido e eu não quero ser desatenta com isso.

— Vocês sempre se preocuparam demais comigo. Agora é o Murilo que precisa de atenção.

Ela me olhou por um tempo e pareceu concordar, pelo menos um pouco. Fui para o meu quarto e deitei em minha cama. Onde fiquei a tarde toda. Ouvi uma conversa alta lá embaixo e fui ver o que era, claro, os meus pais brigando.

— Você estava tão preocupada com o fato de ele ter tido uma nova crise que eu achei por bem não dizer nada. Depois que você falou com ele você ficou tranquila, viu que ele estava melhor.

— Não tem explicação. Para de tentar.

— Eu te amo muito Raíssa, jamais mentiria pra você. Eu iria contar assim que chegássemos em casa e com tudo mais calmo.

— Quando o meu filho vai voltar?

— Não podemos obriga-lo a voltar, o Murilo não é mais uma criança.

— Eu não me importo. Sou a mãe dele e o quero ao meu lado.

— Se quiser mesmo, o deixe voltar quando sentir vontade.

— Eu quero que você vá pra casa dos seus pais.

— Você não pode estar falando sério.

— A separação sempre foi algo a ser cogitado.

— A gente não tem nenhum problema entre nós dois, nossas brigas sempre foram por causa dos nossos filhos.

— É aí que tá... Os meus filhos são tudo pra mim. Se pra você não são, não posso fazer nada.

— Eles são sim. Só que eu os fiz com você, sem nós dois juntos eles não existiriam e eu tenho certeza que se nosso amor ainda existe e eu sei que ele existe, não deve haver separação.

— Podem ser lindas as coisas que você me diz, mas não vão me fazer mudar de ideia. Pelo menos vamos ficar distantes esse período. Eu não aguento mais as nossas divergências na criação dos nossos filhos.

— Muitas das vezes eu vou contra você porque penso na felicidade deles.

— Pensa? Você abomina a ideia de Alice ter um namorado, eu acho que Arthur seria o cara perfeito pra ela!

— Ela ainda não tem idade pra isso. Ela é muito nova. E é uma garota especial.

— Você outro dia veio dizer que se Kevin e Murilo algum dia ficassem juntos você apoiaria. O KEVIN!

— A gente não consegue conversar Raíssa. Vou subir e pegar algumas roupas e ir, assim como você quer.

— Ótimo!

— Ah... Lembra quando o seu pai quebrou o seu braço e você escondeu de mim por medo da minha reação? – eles ficaram um tempo em silêncio. – Então... Acho que eu ainda não perdi toda essa consideração que tínhamos um com o outro.

Sai do topo da escada e voltei para o meu quarto. Fiquei bem mais triste do que eu já estava. Nada era tão ruim que não podia piorar.

 “A vida tem se provado não muito melhor que isso”


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Notas finais do capítulo

Vinicius sendo fofo há décadas. ♥
Até amanhã ♥



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