Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 15
A noite do ímpeto


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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"A mudança está vindo em minha direção."

Alice Narrando

Cheguei à casa dos meus avós e todos me receberam preocupados. Parecia que eu havia ficado internada e em estado grave. Depois de responder algumas perguntas vieram as mais difíceis.

— O que você estava fazendo na rua sozinha àquela hora? – olhei para o meu pai.

— Nós duas discutimos. A culpa é toda minha. Vou deixar que ela fique aqui com você e os seus pais, já que parece ser um grande risco estar perto de mim.

 - Não. – o meu pai olhou sério para nós duas. – Pais e filhos brigam e não é saindo correndo que tudo se resolve. Alice também está errada. – respirei fundo. – Não é culpa sua.

— Por que de repente você ficou tão paciente e amável com ela?

— Não estou amável. Só estou sendo justo. Você vai continuar em casa, onde é o seu lugar. E respeite a sua mãe, independente de concordar com ela ou não.

Para piorar um pouquinho Arthur foi para a faculdade com raiva de mim. Ele me acha errada no posicionamento com os meus pais, mas mesmo achando isso ele tinha que aceitar e não brigar comigo dessa forma.

— Alice. – meu pai me chamou antes de eu entrar em casa. Estávamos na porta e ele olhou minha mãe subindo. – Tenta ter paciência com ela.

— Você não tem. Por que eu tenho que ter?

— Porque você é mais frágil que eu. E você a atinge mais que eu também. – ele estava realmente preocupado.

— Por que você não deixou que eu ficasse lá?

— Pensa o quanto ela ficaria sozinha e triste. Não quero que jogue isso na cara dela, que diga que eu não deixei por causa dela. Se você fizer isso eu vou saber e pode ter certeza que eu vou ter muito menos admiração por você.

— Não vou fazer.

— Vai ligar para o seu irmão e contar? A gente preferiu esperar você chegar.

— Não. O Murilo não tá preocupado comigo.

— Alice... – ele respirou fundo. – Você é igualzinha a ela, sabia?

— Tchau pai.

— Ligue para o seu irmão. – ele ordenou antes de sair.

Minha mãe perguntou se eu iria querer comer alguma coisa, mesmo sabendo que eu não estava com fome. Respirei fundo e tentei entender toda a preocupação dela.

— Quer ajuda para tomar banho?

— Não. São apenas uns cortes e algumas luxações. Não tem necessidade disso.

— Tudo bem. Se precisar pode me chamar. – antes de sair ela me olhou. – Se quiser eu convenço o seu pai a te deixar ficar na casa da sua vó.

— Não precisa. Aqui é a minha casa. – ela me lançou um olhar triste.

— Se mudar de ideia me fale. E se por acaso for ligar para o seu irmão, tome cuidado com a forma como contará os fatos, ele pode se preocupar muito e acabar dando outra crise.

— Vocês não podem poupar o Murilo de tudo porque ele tem um problema psicológico.

— Fizemos isso com você quando o seu problema era grave o suficiente. – suspirei. – Inclusive em seu laudo médico de hoje ele pede que te encaminhe a um neuro, com certeza viram a deformação em seu cérebro... A consulta é semana que vem, mas vou ver se por causa do acidente e você ter batido forte a cabeça, ela pode atender antes. – concordei e ela saiu. Tomei um banho doloroso e deitei, ligando para Murilo.

“Que corte é esse na sua testa?”— ele perguntou assim que me viu, antes mesmo de dizer um Oi.

— Que milagre você me atender de primeira né? – usei a voz mais irônica que conseguia.

“Pressenti que era sério. O que aconteceu?”

— Um acidente. Discuti com a mamãe, ela disse umas coisas horríveis e sai correndo, nessa rua debaixo veio um carro do nada e bateu em mim, me jogando para o canto, quase no meio do arbusto. – fiz uma pequena pausa. – Dei sorte que o Kevin estava passando na hora e viu tudo. Ele me levou para o hospital, porque o cara fugiu.

“Então ele me ouviu. Mas como você está?”

— Eu tô bem, não foi nada grave. Você acha que se ele não tivesse te ouvido ele não prestaria socorro a mim? – ele respirou fundo ao ouvir minha pergunta.

“Você já se esqueceu de como o Kevin era Alice?”

— Já. – sorri. – E você, como tá?

“Bem. Queria estar aí contigo.”

— Você poderia estar né Murilo? – acho que minha expressão mudou e eu involuntariamente fechei a cara.

“Alice...”

— Não Murilo. Por que nosso pai não faz algo com Caleb se é ele o seu problema?

“Não é simples assim. Seria uma briga das grandes. Você sabe o quanto o papai corre de desarmonias e atritos.”

— Eu estou muito magoada com você. A forma como decidiu anular sua cidade, família, amigos. Isso não foi justo.

“Aos poucos estou desfazendo esse comportamento. Ligo pra mamãe, te atendo, atendo os meninos, até ligo para eles e ligo sempre para o Arthur. Só preciso me recompor depois do Kevin.”

— Você está desfazendo esse comportamento por que já o superou né? O Arthur me contou que você se apaixonou. Que história é essa?

“Ele te conta tudo né?”

— Sim. Não escondemos absolutamente nada um do outro.

“O nome dele é Eliot. Ele trabalha no hotel e Gardan o colocou aqui no quarto para ficar comigo por causa do medo de caso eu tivesse alguma crise e não conseguisse comunicar a ninguém.”— ele sorriu. Sorriu. Um sorriso de felicidade. Fiquei absurdamente chocada.

— Nossa, que sorrisinho é esse?

“Sei lá. Ele é a única parte boa do meu dia.— ele sorriu mais ainda. – E por falar nele... Vem cá. – ele chamou alguém que devia ser o tal Eliot. – Ele acabou de chegar. – ele falou e depois olhou para o lado. - É a minha irmã, deita aqui.— ele deitou ao lado de Murilo me assustando completamente. Ele era bem mais velho que o meu irmão.”

— Ei. – falei sem graça.

“Oi.— ele deu um sorriso amigável. Sorri de volta. – Ele é a coisa mais fofa envergonhado.— meu irmão apertou o rosto dele e o beijou. – Tchau Alice. – ele se levantou. – Vou deixar vocês conversando. Meu pai mandou doces para você, vou guardar.— parecia que Murilo olhava pra ele. – Amo meu sogro.— arregalei os olhos com a fala dele. – Calma Alice. Estou só brincando.”

— Com você nunca dá pra saber Murilo.

“Por que essa voz de repreensão?”

— Não... Só acho que você tinha que... Você sabe.

“Kevin? Não mandei você superar Arthur quando se apaixonou por ele.”

— Será que ninguém nunca vai conseguir esquecer que eu e Kevin tivemos algo?

“A questão nem é essa. É só você não opinar sobre algo que sabe que não controlamos.”

— Tudo bem Murilo. Só vai devagar. Eu me preocupo com você, sabe disso.

“Não se preocupe.— ele sorriu. – Por falar nele Alice... Por acaso ele e Rafael estão tendo algo?”

— Por quê? – tentei não entregar que sim em minha voz.

“Ontem. Ele estava no colo dele e o jeito que eles riam e depois sempre estavam perto um do outro conversando e rindo. Lembro que Arthur me contou que no abrigo Fael quis ficar com ele.”

— Você liga e ele descobre que está se apaixonando por alguém. O que você acha? Kevin reage muito mal aos acontecimentos ruins. Sempre foi assim.

“Então eles estão juntos?”

— Não. Eles tiveram uma noite louca cheia de drogas e sexo e parece que isso os aproximou muito. – dei de ombros.

“Tinha mais alguém com eles?”

— O que o Arthur me contou é que eram apenas os dois. Por que tá tão interessado?

“Kevin vai fazer mal a ele.”

— Não se preocupe, pois Arthur já está de olho nisso. E devemos lembrar que Rafael não é nenhum santo? Por que as pessoas esquecem que aquele garoto é pervertido e imoral?

“Mas ele não tem a crueldade que o Kevin tem.”

— Por que você nunca teve medo dele? – ele ficou calado, certamente para não magoar o Eliot que devia estar presente. – Por que você entrou nessa busca de salvar o Kevin? Por que não deixou continuar como estava?

“Você sabe que foi por você. Ele fez você se apaixonar. Olha o quanto longe ele foi.”

— Tá Murilo e ele vai longe o bastante se sentir que te perdeu de verdade. Você salvar a alma dele estava condicionado a estarem juntos. Não tem mais jeito. Não adianta se preocupar agora. É inútil. Também fico mal porque o Arthur vai sofrer, e parece que muito. Mas não se culpe. A culpa e a responsabilidade não são suas. Foi lindo o que você conseguiu.

“Eu vou mantê-lo sob controle.”

— Para Murilo, se preocupe apenas com você. Vá ficar com o... Eliot né? Ele parece estar te fazendo bem.

Obrigado por conseguir ver isso. Te amo, mesmo que nem sempre demonstre.”

— Só tente ser mais presente. Já te pedi isso.

“Estou sendo e vou ser mais ainda. Fica bem e pare de brigar com a mamãe, sei o quanto ela é chata, mas... Ela não faz por mal.”

Nos despedimos e eu desliguei, indo dormir. No outro dia não fui a aula porque eu tinha que ficar de repouso. Minha mãe desmarcou o trabalho e trouxe café e almoço pra mim na cama, apesar da minha insistência de que não precisava de nada disso. De tarde todos vieram aqui e eu fiquei impressionado por ela ter dado espaço e ficado o tempo todo no quarto.

Ontem eu havia dormido sem mandar mensagem para Arthur e ele também não se manifestou, mas acordei com uma mensagem de bom dia. Ele disse que odiou dormir sem falar comigo, mas precisava me dar espaço e também se acalmar. Ainda bem que ele admitiu isso. Ele veio me ver na hora do almoço e eu contei sobre a minha ligação com Murilo e ele contou que meu irmão ligou para ele e contou que Kevin desligou o telefone na cara dele. Para isso acontecer sabíamos que ele havia concluído que Murilo estava querendo apenas se certificar de que ele não estivesse se perdendo. Pelo visto não havia chance de reconciliação para os dois. E agora lidar com Kevin seria um verdadeiro pesadelo.

Murilo Narrando

Após a ligação da Otávia, ao ver a forma como Kevin e Rafael estavam conectados eu pedi ao pai de Eliot para cozinhar alguma coisa com ele. Mas nem o alto astral dele estava me deixando melhor.

— A cozinha nos conecta com nossas memórias mais verdadeiras. Sabia? – ele disse e me olhou.

— Acho que instintivamente eu sabia. – respondi e sorri.

— Não sei o que está enfrentando. Mas lembre que vai passar.

— Está tão na cara assim que eu estou mal? – ele deu uma risada.

— Não. Você até conseguiu disfarçar. Mas... Eu entendo um pouco da alma de quem cozinha. – nos olhamos. – Os seus sorrisos não passam de uma cobertura.

— É. – respirei fundo. – Achei que saindo da minha cidade tudo iria se encaixar, resolver... Mas nada muda.

— Já ouviu falar que nossa mente é a nossa morada? Seja onde for que estivermos tudo o que temos é o que está aqui – ele apontou para a cabeça. – e aqui. – depois apontou para o coração.

— Parece mesmo ser a mais pura verdade.

— Não pensa nisso e vamos trabalhar. – acabei de ajudá-lo e fui para o meu quarto. A noite soube que Alice se acidentou e Kevin a salvou.  Eu o liguei e acabei estragando tudo.

— Como foi? – Eliot perguntou ao entrar. Ele havia saído para que, segundo ele, eu conversasse com mais privacidade. Eliot não existia.

— Péssimo. – suspirei. – Ele está com raiva.

— Por quê? – ele se deitou ao meu lado e fez carinho em meu rosto.

— Esquece isso. 

— Só se você me prometer esquecer primeiro. – dei uma risadinha.

— Como você consegue fazer tudo melhorar tão rápido?

— Não estou inserido no quadro dos seus problemas. Pelo menos não por enquanto.

— Nunca vai estar. O seu pai não é um psicopata.

— Não mesmo. – sorrimos juntos e ele selou nossos lábios.

— Tô doido para chegar o fim de semana e sairmos com o Phil de novo. E você conhecer o Adam.

— A Lôlo vai também. Parece que cancelaram a festa que ela iria.

— Que bom. É uma pena que a Audrey seja tão caseira. Ei, deita mais perto de mim.

— Murilo... Estamos nos apegando muito... Não sei como isso funciona na sua cabeça. Eu entendo que você ama outro cara e tá comigo só porque não pode tê-lo... – o cortei.

— Não é isso. Não estou com você por isso. Estar com alguém é o que eu menos queria. Sinto algo por você e você me faz bem.

— É... Não vamos fazer isso agora. Não é a hora ainda.

— Então chega mais perto!

— Assim tá bom? – ele grudou em mim me fazendo rir. Passamos mais uma noite cheia de carinhos e conversas. Eu quase esquecia tudo o que eu sentia.

....

Eliot me chamou para almoçar em sua casa nessa quarta, então fui pra lá da escola mesmo. Fui recebido por sua mãe com um sorriso grande. Enquanto conversávamos perguntei se ela saia muito e ela disse que não por causa da super proteção do filho, era mais o marido que gostava que ela saísse e a levava com ele para os lugares. Pois eu exigi que no domingo a gente desse um passeio e ela ficou ainda mais feliz.

— Não gostei do que você fez. – ele falou sério quando entrou em meu quarto.

— Querer que sua mãe se divirta um pouco?

— Você não sabe o desgaste que é sair com ela e o medo que tenho dela se machucar.

— Não viu o quanto ela ficou feliz?  Eu vou te ajudar com ela e não precisa ter medo.

— Esqueceu que eu não arrisco? – ele amansou a voz e parecia visivelmente arrependido do show que começou a dar. Coloquei meu moletom.

— Vem, vamos lá em cima.

— A ultima vez que estivemos aqui não foi muito legal.

— Não esquenta. Não vou dar outra crise. Ainda bem que não está ventando muito. – ele me olhou assustado. Assim que acabei de preparar o cigarro o olhei. – Não me recrimine, eu já não estava mais conseguindo ficar sem isso. – ele o pegou da minha mão e acendeu dando um trago. Fiquei olhando certamente de boca aberta.

— Eu nunca disse que era santo e nem perfeito.

— Estou cada dia mais gostando de você.

— Isso é porque você ainda nem transou comigo. – dei uma risada alta. – Essa é forte. Onde você arrumou isso?

— Com o Adam. Aquela bicha é uma comédia. Ele disse que tem um namoradinho maconheiro. Ele nem gosta, mas pega os cigarros com ele só pra sentir que tá tirando algo dele. - rimos juntos.

— Você é desse tipo? – nos olhamos. – Quer sentir que está levando vantagem.

— Não. E você?

— O cara que eu estou apaixonado nem mesmo esqueceu o ex ainda. O que você acha? – mordi a minha boca. – É a segunda vez que eu digo indiretamente que estou apaixonado por você.

— Quando foi que você se apaixonou por mim?

— Depois de você. – dei uma risada.

— Estou falando sério.

— Não sei se foi quando disse que pediria a Gardan para trocar meu horário ou quando te vi chorar por seu ex.

— Duas situações totalmente diferentes.

— Na primeira achei que você era um cara foda e na segunda tive certeza. 

— Sou foda por chorar por meu ex?

— Sim, foi ali que eu vi que você era único. Sentimentos hoje em dia são recicláveis. Pra você não.

— Pra você são?

— Não me apaixono já tem muito tempo. Pode ter certeza que se eu estou sentindo isso é porque não é temporário.

— E o que você pensa disso tudo, sobre o meu relacionamento passado.

— Já te disse. – ele desviou o olhar. – Você não vai esquecê-lo. Não totalmente. Mas pode sim viver sem ele e com o tempo vai se tornar uma lembrança marcante. Se eu ficasse na sua vida eu saberia lidar com isso.

— Por que ficasse? – ficamos nos olhando.

— Você vai embora Murilo. Odeio pensar nisso, mas vai acabar. Na verdade nem devíamos estar fazendo isso...

— Trabalhando todos os dias comigo você consegue uns sete dias de folga no natal?

— Talvez. Por quê?

— Você iria comigo pra minha casa? – ele ficou me olhando.

— Acho que você já fumou demais!

— Estou falando sério.

— Como se eu fosse o seu namorado? E depois a gente mantem um relacionamento a distância? – dei um sorriso.

— Primeiro a viagem. Mas... É mais ou menos isso.

— Quem disse que eu sou seu namorado? – pensei em brincar com a situação, mas resolvi levar a sério.

— Eu achei que... Ah, desculpa. Foi mal mesmo. Entendi tudo errado.

— Olha só, agora eu tenho namorado. E ele é um gato. - sorri e o beijei, agradecendo por não ter câmeras ali. Era um grande passo. Bem arriscado. E que por enquanto eu preferia não contar a ninguém. Mas no fundo algo me dizia que eu estava fazendo a coisa certa.

"Porque tudo começa por alguma coisa."


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Notas finais do capítulo

Se já seria um pesadelo lidar com Kevin só por ele achar que Murilo não quer nada com ele, imagina sabendo que ele está namorando?! Um pouquinho de medo apenas.
Até amanhã ♥



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