Amor Perfeito XIV escrita por Lola


Capítulo 10
Uma noite e vários momentos


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura ♥



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 "É fácil sentir que não estamos no controle da nossa vida. É porque não estamos."

Murilo Narrando

Por mais que eu tentasse fugir do preto, lá estava eu colocando outra peça de roupa em um tom de cor preta. Escuro era mesmo a minha vibe na hora de me vestir e sem nem ter qualquer motivo. Só me atraia. Era igual a atração que sentia por Kevin, inexplicável. Comecei a rir do meu pensamento.

— Você sabe que demora mais que uma mulher para se arrumar né? – Eliot perguntou parecendo estar inconformado. – Ainda vou ter que passar lá em casa.

— Não entendo o motivo de não querer sair arrumado daqui. Aquele dia você saiu sem seu uniforme.

— Da recepção pra fora. E íamos ali e eu estava com a roupa que eu iria embora. Agora se os funcionários me veem todo arrumado andando pelo hotel não vai pegar nada bem pra mim.

— Que seja. Vamos. - o olhei quando entramos no elevador. – Esse lugar que você vai me levar não é uma merda né?

— Há uma chance de você achar. Mas não se preocupe, meus amigos são bem legais e vão fazer o lugar ficar maneiro.

— Ainda estou impressionado com o fato de você ter amigos.

— Não sou a pessoa mais popular do mundo, mas também não sou antissocial. – esperei ele pegar as coisas dele, quando saímos ele parou perto de sua moto.

— Você vai em sua moto e eu vou pedir um carro? Tem que me dar o seu endereço. – ele me olhou por um tempo.

— Você não gosta de andar de moto?

— Como assim? Não estou vendo dois capacetes. – ele parecia querer rir.

— Aqui não é obrigatório o uso de capacetes, eu uso por segurança.

— Que? Isso é loucura. – ele deu uma risadinha. – Não estou acreditando.

— Então vamos ficar aqui até uma moto passar.  – esperamos um tempinho e nada.

— Que se foda, vamos embora. Você é tão certinho que não faria algo tão errado.

— Acho que isso foi um elogio. Vamos. – assim que chegamos em frente a casa dele ele me olhou rindo.

— Você postou os vídeos que fez da gente andando de moto?

— Estou postando agora, por quê?

— Acho melhor não fazer isso. Você e Kevin então meio que... Incertos? E se ele achar que sou alguém que oferece algum risco?

— Então eu devo deixar de viver pensando no que o Kevin vai achar?

— Você o ama.

— Mas não estamos juntos. Postei. – mostrei meu celular. Ele abriu a porta do prédio.

— Se importa se me esperar na portaria? Juro que não demoro mais que quinze minutos. – sentei no sofá que estava atrás de mim. – Acho que não se importa. – estava tão entretido jogando que nem vi quando ele voltou, me assustei com seu rosto a centímetros do meu. Fiquei olhando pra ele.

— Parece uma criança na frente desse celular. Vem. – ele saiu andando e eu o segui. Quando chegamos ao bar, que era um pub escuro e bem animado, encontramos os amigos dele. – Esse é Phil e essa é Lorraine. – cumprimentei os dois e nos sentamos.

— Você não disse que ele era tão lindinho. – ela falou olhando para Eliot.

— Querida vamos ter que disputar. – olhei para o tal Phil. – Estou brincando. – ele falou e riu. – Faço para provocar o Eli, ele detesta.

— Ah é? – dei um sorriso. – Por quê?

— Ele diz algo como ser sem noção com os gays héteros se passarem por gays. Algo assim. – Kevin, o discurso dele. Boa maneira de começar a noite.

— Onde é o banheiro? – perguntei e eles me indicaram. Estava lavando o rosto e Eliot chegou.

— Ei, eles falaram alguma coisa que você não gostou? – discordei. – Sério, se tem alguma coisa de errado pode me falar.

— O que você imagina que tenha? – o olhei. E ele fez sinal que não sabia. – Phil disse algo que me lembrou quando Kevin assumiu que era gay.

— Ah, claro. – ele suspirou. – Ás vezes esqueço que você está nessa luta para supera-lo.

 - Isso nunca vai acontecer. Vamos lá, não quero estragar a noite. Seus amigos parecem muito legais.

Bebemos alguns shots e contamos sobre nossas vidas. Eles riram muito de mim, óbvio. Descobri que Phil era um péssimo conquistador e que as garotas geralmente corriam dele. Tentei dar algumas dicas, mas não sei se adiantou.

— Você bebeu apenas um shot no início e depois ficou na água. Falei que podia ficar tranquilo que eu iria te frear, mas nem precisou né?

— O médico disse que eu posso beber moderadamente, mas eu prefiro nem beber na real, só quero que esse tratamento acabe logo.

— E se for pra sempre? – o olhei assustado. – Não... É que... Não sei, conheço pessoas que se medicam há anos e tal.

— Não quero pensar nisso.

— Claro. E faz muito bem.

— Galera, eu vou indo. – Phil se despediu da gente, o lugar já estava começando a ficar vazio. Lorraine começou a falar algo sobre ela quando meu celular vibrou.

“Ela tá muito afim de você.”— era um número desconhecido. Dali. Lógico que era Eliot.

“Como você tem meu número?”— escrevi ainda olhando pra ela e disfarçando.

“Gardan me passou caso eu precisasse.”

Guardei o telefone e realmente prestei atenção nela. Ela era uma garota legal. E que estava apenas querendo um pouco de atenção, mas confesso que estava difícil. Bem difícil mesmo para falar a verdade.

— Vamos embora? – Eliot perguntou me fazendo comemorar por dentro.  Ficamos esperando o carro dela com ela na porta e depois iriamos voltar para o hotel. Iriamos.

— Não moro aqui, mas acho que o caminho não é esse.

— Quieto. – ele acelerou e eu só deixei que o vento batesse em meu rosto, sentindo pelo menos um pouco mais de liberdade. Estar em outro País não era sinal de estar livre, eu tinha várias amarras dentro de mim. E esse momento, esse milésimo de segundo, esse sim, parecia que era minha total liberdade.

— Por que está sorrindo? – ele perguntou quando paramos. – Você não sabe o que te aguarda. – depois que trancou a moto apontou para cima. – Duzentos e oitenta e quatro degraus.

— Nem fodendo. Tá achando que sou atleta? Tá me confundindo com o meu pai? Me chupa Eliot. Pode ir. Vai lá. Eu te espero aqui sentadinho.

— É torturante eu sei, mas eu prometo que a vista compensa.

— Que merda é essa? – tentei olhar o lugar, não dava pra ver nada.

— É um mirante.

— Ah tá. No mínimo tem drogados, estupradores, ladrões, prostitutas. Você tá brincando com a minha cara.

— Não estamos no seu País Murilo. – ele falou parecendo querer rir. – Sem ofensas.

— Vai se foder. Sabe qual é a chance de eu subir essa porra desses degraus?

— A mesma de você esquecer Kevin? – fiquei olhando pra ele.

— Você pegou no ponto fraco. Vamos subir essa desgraça. – comecei e ele veio atrás rindo. Dei uma corrida na metade do caminho e ele veio atrás rindo mais ainda.

— Se você cair duro e morrer, a culpa não é minha.

— É sim. Você vai preso. Filho da puta.

— Não fala mais isso. – ele pediu sério.

— Sua mãe não é puta Eliot, relaxa. É só um palavrão.

— Chegamos. – ele falou depois de um tempo passando a minha frente. Realmente era lindo, dava pra ver praticamente toda a cidade.

— É deslumbrante! – exclamei e certamente estava de boca aberta.

— Falei. Ninguém se arrepende.

— Já trouxe muitas pessoas aqui? – perguntei sem tirar os olhos de toda a vista.

— Não. Você é o primeiro na verdade. Eu venho sozinho quando preciso recarregar as energias. – me joguei no chão e deitei. Ele fez o mesmo.

— Por que não ficou com a Lorraine? – ele perguntou me olhando. – Ela é bem bonita.

— É sim.

— Achou chata? As vezes ela se excede.

— Não. É que... Não estou nesse momento. Eu brinquei com o lance do aplicativo, mas não vou conhecer ninguém e nem ficar com ninguém. Assim que vim pensei em entrar em uma jornada de autoconhecimento, essa crise e esse tratamento me mostraram que é o que tem que ser feito.

— Você pode se conhecer e dar uns beijos ou transar ao mesmo tempo. – ele falou e riu.

— Não quero distrações.

— Ok. Você quem sabe. – ele voltou a olhar para o céu, assim como eu estava fazendo.

— Quem é a pessoa mais importante da sua vida?

— Minha mãe. – imaginei essa resposta.

— O que você sacrificaria por ela?

— Tudo. – e eu já sabia disso. Olhei para ele.

— Você é feliz assim? – ele desviou o olhar. – Não acha que se anula?

— Tenho um emprego, tenho amigos... Se eu empenhar minha energia até consigo um relacionamento... Acho que não Murilo. Claro que eu poderia ter muito mais tempo pra mim, mas ela também poderia ter tido para ela a minha vida toda.

— Cara... Isso foi muito foda. – peguei meu celular.  Minha mãe atendeu no primeiro toque.

“Murilo, já está tarde, eu não dormi ainda, mas você tá acordado? Aconteceu alguma coisa? Você mal está falando comigo. Estou tão preocupada.”— ouvi sua voz embargada e meus olhos se encheram de água.

— Desculpa. Não está acontecendo nada, eu estou muito bem. Sai aqui hoje e estava voltando e resolvi ligar. Queria saber como está tudo.

“Bem. Estamos em casa né? Meu filho eu estou com tanta saudade, volta pra casa.”

— Daqui poucos meses mãe, vai passar rápido. Vou desligar, vai dormir. Te amo tá?

“Também te amo. Liga mais vezes.”

— Por que você não se dá bem com os seus pais?

— Minha mãe anda surtando ultimamente, já meu pai e eu... Sempre nos odiamos. Nunca fui como ele queria.  Ele meio que me apoiou agora com o Kevin e pediu perdão por alguns erros bem graves do passado... Mas um relacionamento difícil não se torna fácil de uma hora pra outra.

— Você parece frágil.

— Tá querendo dizer que estou fazendo drama?

— Não. Estou querendo dizer que é difícil encontrar alguém como você. Porque a maioria dos caras frágeis sempre vão fingir ser durões até o fim. Nunca dão o braço a torcer.

— Eu não sou bom em fingir as coisas. Nem pra mim mesmo.

— Sabe qual foi meu maior medo nessa noite?

— Que eu ficasse bêbado e desse trabalho?

— Não. Que você desse uma crise. – o olhei sem entender. – Sei lá. Música, barulho, pessoas estranhas, tudo isso poderia te deixar ansioso.

— Sabe qual foi meu maior medo essa noite? – ele me olhou. – Que os seus amigos não gostassem de mim. – ele deu uma risada.

— E eles gostaram. A Lorraine até demais.

— Eliot. – continuei olhando para o céu. – Obrigado por tudo que está fazendo por mim.

— Também tenho que te agradecer.

— Ainda não pedi ao Gardan... – ele me interrompeu.

— Não por isso. Hoje você me fez ter um momento que talvez eu não tivesse tão cedo... Minha mãe e meu pai estavam cozinhando quando cheguei em casa e eu me sentei e tomei um vinho enquanto os ouvia contar alguma história boba. Por mais que fosse apenas cinco minutos e seja algo tão pequeno... Foi um momento que... Não sei nem descrever. Foi importante pra mim.

— Acho que você também é frágil. – falei sorrindo observando seus olhos cheios de água.

— Somos dois frágeis bobos. – ele riu e me olhou.

— Queria muito conhecer os seus pais.

— Sério? – concordei. – Quem sabe um dia. O meu pai é mais fácil. É só ir na cozinha do hotel. O que está com o chapéu de chef é ele. Mas se você não souber, é o mais alto e o que fala mais besteira e está sempre rindo, geralmente as piadinhas acabam quando os pratos atrasam. – comecei a rir e depois a chorar, um choro contido e sentido. – Ah! Disse algo que lembra o Kevin?

— Não. Você fala com tanta admiração do seu pai e conta as qualidades dele. Quando eu falo do meu é só reclamando e exaltando os defeitos. Será que o problema tá comigo?

— Murilo! – ele chegou mais perto e fez carinho em mim. – Vamos embora. Esse lugar está te fazendo refletir demais. Você só precisa descansar e dormir.

O caminho de volta me pareceu mais rápido que a ida e eu só me lembro de pedir a Eliot para fazer carinho em meu cabelo e acho acabamos dormindo juntos.

 "Não podemos impedir que as coisas aconteçam. Só precisamos lidar com elas quando surgem."


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Notas finais do capítulo

This is complex! (hoje eu to bilíngue kkk)
Até amanhã ♥



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