Kalel - Dança de Sangue escrita por Natan Pastore


Capítulo 9
Parte II


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo marca o começo de um segundo arco da história, espero que tenham apreciado a primeira parte.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788322/chapter/9

Parte II

A Vigília Eterna.

Como se fossem um imenso tecido bruxuleante, os fios avermelhados da magia infernal de Kag’moth subiam aos céus numa dança hipnotizante.

Eleyar percorreu o caminho que traçavam com os olhos. Os filetes lutavam contra a runa de selamento, procurando qualquer espaço livre para ascenderem, rumando à arcosfera, até as Linhas Arcanas. Muito acima do oceano, a Linha era impregnada pela magia infernal  e já começava a apodrecer, seu azul esbranquiçado assumindo uma tonalidade vermelha com pedaços cinzentos aqui e ali. 

O elfo voltou os olhos para os Portões. A cortina de vapor que se levantara deles parecia formar uma barreira, lutando para esconder a visão da luneta élfica. Ao redor das rochas eternamente quentes do Portão jaziam dezenas de peixes e animais marinhos. Mortos. O oceano borbulhava ao redor deles.

A água ferve, pensou. Em pouco tempo, toda a vida aquática estará morta. 

Eleyar afastou-se da luneta. Dias já haviam se passado e os Portões ainda não estavam completamente emergidos, mas estariam abertos em pouco tempo se nada fosse feito. A ideia de que ninguém mais havia notado o que acontecia no Oceano Além o preocupava. Teriam seus irmãos se afastado tanto para os outros cantos do mundo que o chamado sombrio de Kag’moth não mais os assustava?

Eu devo despertá-los uma vez mais, pensou Eleyar. Todos os reinos, tanto de elfos quanto de homens, devem saber da tempestade que se avizinha.

Seus dedos iluminaram-se com um brilho azulado e ele desenhou um portal no ar. O círculo incendiou-se e se expandiu, revelando seu destino. Eleyar o atravessou, ele estava nos degraus da entrada de Akatron. 

A torre, que se assemelhava fisicamente a um obelisco, permanecia imóvel contra o mar agitado que vinha de todas as direções. A brisa marítima carregada de água salgada não parecia atingir os tijolos bege de Akatron, que se mantinha seca. As ondas se chocavam violentamente contra a costa rochosa da ilha.

Ele percorreu um caminho de pedras douradas que serpenteava até a extremidade sul do rochedo. A Vigília Eterna, como chamava a sua ilha-casa, não passava de um pequeno pedaço de grama envolto por rochas e mais rochas perdido no meio do mar. Só havia ele, Akatron e seu destino: o Braseiro Élfico.

Eleyar parou à frente dele. Em cima de uma plataforma quadrada de tijolos negros repousava um braseiro do tamanho de uma pequena embarcação. Vários adornos púrpuras e dourados se enredavam sobre o aço élfico, que guardava as Cinzas de Venali, as últimas que restavam das árvores do Bosque Sagrado, destruído na Guerra.

“Eu jurei nunca queimar estas cinzas se não fosse necessário”, proclamou em voz alta. “Agora, as areias do tempo trouxeram o necessário.”

Ele se aproximou do braseiro. Conseguia sentir as magias envelhecidas nadando pelos tijolos da plataforma, subindo pelo aço do braseiro, cravando-se em meio às Cinzas. Aqueles filetes de magia eram diferentes dos que emanavam de Kag’moth: traziam recordações alegres de uma época remota em que vivia em paz junto dos outros elfos, muito antes dos céus tingirem-se de escarlate e a invasão infernal começar. Subitamente, Eleyar foi preenchido com nostalgia.

Tempos que nunca voltarão, refletiu. 

Ele levantou a mão direita e fez um gesto no ar. Uma faca materializou-se. Ele a usou para fazer um corte superficial na palma da mão esquerda. As gotas de sangue esbranquiçadas caíram nas Cinzas. 

Instantaneamente, o braseiro brilhou, irradiando uma luz alaranjada tão forte quanto o sol no céu. Eleyar abriu os braços, seus olhos lilás incendiaram-se e as mãos foram encobertas pela aura azulada. 

“Este é meu chamado!”, exclamou para o vento. “Que ele seja o corvo que vem antes da tempestade, alertando-nos sobre o perigo iminente!”

Os céus acima da Vigília fecharam-se em nuvens carregadas. Eleyar desceu os braços e, junto com seu movimento, um raio acertou o braseiro. Poderoso e momentâneo, aquele raio estava embebido pelo poder de uma das Linhas Arcanas acima da ilha. 

Após o clarão passar em alguns instantes, Eleyar pode ver as Cinzas se consumindo, transformando-os em um fogo alto, belo e imponente. Chamas de esperança.

Rezo para que não seja tarde demais.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kalel - Dança de Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.