No dia seguinte depois de tudo que ouvi dos meus irmãos acordei cedo, o que se tratado de mim era um verdadeiro milagre. Em vez de tentar voltar a dormir um pouco mais, preferi me levantar e me arrumar para o trabalho, pois não queria encontrar com Daniel ou Theo, caso ele viesse dar um beijo de bom dia nos nossos pais.

Assim que desci as escadas para sair dei de cara com Daniel, já arrumado e com uma xicara de café nas mãos o que me surpreendeu, afinal ainda estava cedo demais para ele ir para o trabalho.

—Mel, será que poderíamos conversar? - meu irmão pediu suave e pela sua cara parecia que ele não havia dormido muito bem.

Ótimo, éramos dois.

—Preciso ir para o trabalho Daniel, tenho uma vídeo conferência muito importante e não posso chegar atrasada. - disse sem olhar para o meu irmão indo em direção a porta da frente.

—Por favor, Mel, prometo que será rápido e quando acabarmos de conversar, faço questão de leva-la até o conglomerado para que não se atrase. - ele implorou e apesar de estar magoada com o meu irmão, não podia lhe negar uma conversa.

—Tudo bem Daniel, tenho um tempinho para conversar. - disse voltando para perto dele enquanto me sentava no sofá da sala e ele fazia o mesmo.

—Só quero que saiba, que não concordo com nada do que o Theo disse ontem pra você...Não acredito que ele teve coragem de dizer tudo aquilo. - Daniel disse ainda sem acreditar em tudo que nosso irmão mais velho havia falado ontem.

—Do que adianta me dizer agora, que não concorda com o Theo? Você ficou calado enquanto ele colocava em dúvida a minha conduta pessoal e profissional, além de acusar de maneira leviana o meu namorado, um dos mais respeitados e reconhecidos farmacêuticos do país. - disse séria e meu irmão concordou envergonhado.

—Você tem razão. Não podia ter ficado calado enquanto nosso irmão lhe ofendia, só porque estava com ciúmes do seu namorado, ou melhor nós estamos. - ele disse sincero e pisquei confusa com a sua afirmação.

—Isso não é uma justificativa para que me ofendessem. -disse sem acreditar na desculpa do meu irmão. - Não acredito que estejam com ciúmes do Benjamin, isso não tem lógica.

—E nem quero que seja Mel, você não merecia ouvir nada do que dissemos ontem. Mel, você sempre foi a nossa garotinha e éramos os únicos homens que você admirava e amava. Você sempre foi tão doce e gentil que tínhamos medo de que fosse magoada por algum idiota, ainda mais depois do episódio do garoto do sorvete, por isso Theo e eu fizemos uma promessa de que a protegeríamos de qualquer outro idiota que quisesse se aproveitar de você. Com tanto cuidado e zelo, acabamos perdendo a noção do que era proteger e amar de uma maneira saudável, como resultado nos tornamos dois irmãos chatos e ciumentos, que não permitiram que você pudesse tomar as rédeas da sua própria vida. Sei que fui um péssimo irmão todos esses anos, mas não queria sair da casa dos nossos pais, para começar uma vida ao lado da mulher que amo brigado com a minha irmãzinha...Então, por favor, Mel, será que você poderia me perdoar por ter te protegido da maneira errada? - ele implorou olhando nos meus olhos e senti as minhas lágrimas molharem a minha face enquanto olhava para o meu irmão mais velho.

—Claro que sim Danny. - disse entre lágrimas e meu irmão respirou aliviado antes de começar a chorar e o abracei com carinho.

—Obrigado Melzinha, prometo que vou ser um irmão melhor para você a partir de agora. Eu te amo muito irmãzinha. - ele sussurrou com a voz embargada enquanto ainda me abraçava.

—Eu também te amo Danny. - disse emocionada enquanto abraçava meu irmão.

Ficamos abraçados por algum tempo até nos separarmos e meu irmão começou a perguntar sobre o meu relacionamento com Benjamin, o que me deixou confusa.

—Você tem certeza que quer saber como está o meu namoro? -questionei desconfiada e ele sorriu.

—Claro que quero, afinal o tal do Benjamin Thompson é meu cunhado, é meu dever de irmão mais velho saber se ele está sendo legal com você. - Daniel explicou e o olhei desconfiada, tentando ver em seus olhos se ele estava tramando algo.

—Acho bom não estar planejando nada contra ele. Para a sua informação, meu namorado é faixa preta em jiu jitsu, já o acompanhei em uma aula e você não teria nenhuma chance contra ele, Danny.- disse me lembrando do final de semana em que Benjamin me levou para conhecer a academia em que treinava e fiquei impressionada em como ele era muito bom nesse esporte, além de ficar extremamente sexy naquele kimono.

—Seu namorado é faixa preta em jiu jitsu? Isso já me deixa mais tranquilo, porque ele vai saber te proteger muito bem. Mas o Benjamin é legal com você? Tem sido compreensível? Afinal, você nunca namorou ninguém antes dele.- meu irmão questionou preocupado e sorri concordando, comovida com a sua preocupação genuína sem nenhum outro interesse por trás.

—Pode ficar tranquilo Danny, contei a ele que nunca tive um namorado antes e o Benjamin é maravilhoso comigo. Muito carinhoso, atencioso, protetor e nunca me deixou desconfortável com nada.

—Que bom, isso já me deixa mais tranquilo para dormir à noite. - meu irmão segredou aliviado e sorri da sua afirmação. -Mel, você acha que ele te ama de verdade? Porque posso ver nos seus olhos, quando fala dele, que você o ama muito.

—Você já o conheceu Danny mesmo sem saber quem ele era e disse para Ben, que era perceptível o quanto ele era apaixonado pela namorada.- disse e meu irmão piscou surpreso, com certeza estava lembrando do dia em que ficou conversando com um desconhecido, na loja de arquitetura semana passada.

—Meu Deus, o Benjamin era o cara que estava comprando o kit de desenho artístico infantil?

—Sim, o mesmo pra quem você disse que a namorada estava enrolando-o...Para quem você também disse que deveria parti pra outra. - disse olhando feio para o meu irmão que corou sem graça.- Pra sua informação, não estava e nem estou enrolando meu namorado, só estava com medo de que ele desistisse de mim se conhecesse os homens da minha família, no momento errado.

—Eu vi os olhos dele quando perguntei se amava a namorada e minha irmã, esse homem é completamente apaixonado por você. Os olhos dele brilharam só de pensar em você e por experiência própria, um homem quando fica nesse estágio não há nada que o faça desistir da mulher que ama. Acho que em breve, haverá outro casamento nessa família. - Danny sugeriu e corei sem graça enquanto ele ria.

—Você acha que o Benjamin pode me pedir em casamento algum dia? -questionei com o coração acelerado e meu irmão se aproximou de mim, como se estivesse prestes a me contar um segredo.

—Eu tenho certeza, acho que ele ainda não fez isso porque está com medo de te assustar, afinal, além de você ser mais nova que ele os dois só estão namorando há algumas semanas.- ele explicou suave enquanto me olhava atentamente, como se estivesse em busca de algo.- Mas e você, Melissa, aceitaria o pedido de casamento se o Benjamin fizesse?

— Eu não sei Danny...Às vezes tenho medo de que tudo que estamos vivendo, acabe tão rápido como começou. Me pergunto o que o Benjamin viu em mim para se apaixonar tanto...Se você visse a ex-namorada dele, ela é praticamente uma modelo. - disse insegura e meu irmão segurou as minhas mãos enquanto me olhava nos olhos.

—Ele viu o seu coração, a sua empatia e doçura minha irmã, isso é muito melhor que qualquer modelo. E a minha Melzinha, é muito mais linda que qualquer ex-namorada que Benjamin Thompson possa ter tido.

—Você nem viu a Sylvia para falar isso. -disse insegura e ele deu de ombros me fazendo rir.

—Se ela realmente fosse a mulher certa, Benjamin ainda estaria com ela, não é verdade?

—Verdade. - disse agradecida por meu irmão estar sendo tão compreensivo e gentil comigo naquele momento.

—Quem diria Melzinha, você foi fazer uma entrevista de emprego com o grande farmacêutico Benjamin Thompson, por quem tinha uma quedinha desde a faculdade, e a vida acabou juntando os dois, isso é que é destino, como diria a vovó. - Danny disse sorrindo e corei por me lembrar do que ele havia me falando meses atrás.

—Eu não tinha uma quedinha por ele, só admirava seu trabalho. - admiti vermelha e meu irmão riu como se não acreditasse no que havia falado.

Depois que terminei de conversar com meu irmão, ele fez questão de me deixar no laboratório e mal tive tempo de respirar quando pus os pés lá. Passei a manhã toda dentro da sala de reuniões trabalhando por vídeo conferência com os farmacêuticos assistentes da Oceania, continente pelo qual fiquei responsável mês passado depois que terminou meu período de adaptação ao cargo, assim que a reunião terminou estava exausta, mas com a sensação de dever cumprido.

Sorri assim que vi a foto que selecionei para o contato do meu namorado, a qual tirei no dia em que conheci a sua família, na tela do meu celular pessoal após o mesmo começar tocar.

—Oi amor. - disse com saudades assim que atendi e ele sorriu do outro lado da linha. - Estou com saudades, nem tive tempo de ir até a sua sala para lhe dar um beijo, me desculpe.

—Também estou morrendo de saudades, meu anjo. Não precisa pedir desculpas, eu mais do que ninguém, entendo a correria pela qual tem passado ultimamente. Você já terminou a sua reunião?

—Sim, só estava terminado de arrumar as minhas coisas antes de ir para a sua sala, para irmos almoçar juntos.

—Foi por isso que te liguei minha linda, tive que resolver um assunto fora do conglomerado e acabei passando a manhã toda longe do laboratório, você se incomodaria de vir me encontrar no restaurante? - ele questionou preocupado ao telefone e sorri negando.

—Claro que não amor, iria a qualquer lugar pra te ver, só me passa o endereço do restaurante. -disse pegando um caderno de notas, que sempre mantinha dentro da minha bolsa, anotando em seguida o endereço do restaurante.

Terminei de arrumar minhas coisas antes de me despedir de Ruth, a secretária que havia sido contratada para me auxiliar agora que estava responsável por uma parte dos laboratórios da rede, assim que cheguei na calçada do conglomerado, fiz sinal para um taxi e lhe dei o endereço do restaurante em que Benjamin estava me esperando.

Depois que paguei o taxi e desci fiquei surpresa por ver o meu namorado na porta do restaurante me esperando com um sorriso de tirar o fôlego. Naquele momento não pensei em mais em nada, tudo que queria era correr para os seus braços e foi exatamente o que fiz, minha atitude fez Benjamin sorrir surpreso.

—Isso tudo é saudades minhas meu anjo? - ele questionou sorrindo enquanto meus braços estavam em seu pescoço e os dele em volta da minha cintura.

—Sim, senti muito a sua falta. A cada dia se torna cada vez mais difícil ficar longe de você. - sussurrei suave olhando em seus olhos castanhos e Benjamin concordou antes de beijar a minha testa com carinho, me abraçando em seguida com força, como se estivesse com medo de me perder. E algo dentro de mim, me deu a sensação de que havia algo errado com ele.

—O que aconteceu amor? Você ainda está chateado pelo que meus irmãos falaram ontem? - questionei preocupada enquanto acariciava suas costas de leve, tentando espantar a preocupação dos seus olhos. - Não precisa se preocupar Ben, conversei com o Daniel hoje de manhã, ele me pediu desculpas e o desculpei. Então, por favor, vamos esquecer esse assunto.

—Não posso esquecer esse assunto Melissa. Por isso tive uma conversa definitiva com seus irmãos, eles não podem falar o que bem entendem pra você, sem medir as consequências de seus atos. Não vou mais tolerar o que aconteceu ontem, essa foi a primeira e a ultima vez que eles farão isso, porque que acontecer de novo, não vou responder por meus atos. - ele disse severo e me afastei dele em choque.

Não podia acreditar, que ele havia me traído daquela forma.

De todas as pessoas do mundo, ele deveria ser o único que não podia passar por cima de um pedido meu.

—Benjamin, você me prometeu. - sussurrei com lágrimas nos olhos, me sentindo enganada.

—Eu sei meu amor, você não sabe o quanto me dói saber que quebrei uma promessa que lhe fiz, mas o Theo e o Daniel não podem mais trata-la como uma boneca de porcelana, que não possui vontade ou voz. - ele disse torturado por ter quebrado a sua palavra.

—Você não tinha o direito de interferir na discussão que tive com os meus irmãos. - disse com a voz embargada sentido meus olhos arderem com a ameaça das lágrimas, que iriam cair a qualquer momento.

—Claro que tinha Melissa, você é a minha namorada é meu dever protegê-la e defendê-la de qualquer um.

—Dispenso a sua proteção e a sua defesa. Você está agindo igualzinho aos meus irmãos, achando que não posso cuidar de mim mesma. -disse magoada por ele pensar isso de mim, enquanto sentia as lágrimas molharem o meu rosto.

—Isso não é verdade meu anjo, jamais te magoaria como eles fizeram. Por favor, Mel, não chora. - Ben pediu com dor por me ver chorando.

—Mais foi exatamente o que você fez. Passou por cima de um pedido que lhe fiz, porque achou que seria o melhor pra mim, você não respeitou a minha escolha e não quero ficar com alguém que faz isso comigo, já basta os meus irmãos. -disse com dor e ele me olhou assustado, como se não acreditasse no que havia ouvido.

—Você está terminando comigo Melissa, é isso? -Benjamin questionou entre lágrimas enquanto me olhava com dor.

E pensar em ficar longe dele também me causava dor, mas precisava ficar sozinha agora não tinha condições de olhar nos olhos de Benjamin naquele momento.

—Eu não sei...Só preciso ficar sozinha agora. - sussurrei com dor enquanto me afastava de Benjamin e ele negou antes de segurar meus braços com cuidado, como se assim me impedisse de ir embora.

—Por favor, não faz isso conosco...Sei que errei e fui precipitado, mas só queria te proteger...Melissa, por favor, não me deixa...Eu te amo, querida...Não me deixa sozinho, por favor. - ele implorou entre lágrimas enquanto olhava em meus olhos, mas não podia ficar perto dele agora, precisava ficar sozinha para acalmar a minha mente.

—Por favor, se você me ama de verdade precisa me deixar ir. - implorei entre lágrimas enquanto olhava em seus olhos e Benjamin soluçou alto antes de me soltar.

Sem dizer uma palavra me afastei de Benjamin antes de lhe dar as costas, um ato que nunca pensei que seria tão difícil naquele momento, e atravessar a rua sem prestar atenção direito, pois as minhas lágrimas e a dor, de ter perdido a confiança no homem que amava, me cegavam. Então aconteceu...

Foi tudo tão rápido...

Enquanto atravessava a rua sem prestar atenção, ouvi uma buzina de carro e virei em sua direção, ficando de frente para uma luz muito forte que me cegou por um minuto, mas tudo ficou em segundo plano, quando ouvi a voz de Benjamin gritando meu nome de forma desesperada.

Sem entender o que estava acontecendo, simplesmente fechei os olhos e pedi a Deus que ficasse ao lado de todas as pessoas que me amavam, principalmente do meu Benjamin, enquanto esperava o impacto do que provavelmente estava prestes a me atingir.