Era um grande dia para mim. Não apenas levando em conta minha carreira como enfermeira, mas minha vida como um todo.
Terminei de ajustar a máscara em meu rosto e sorri, um ato que não se refletia no espelho, mas que chegava aos meus olhos. O brilho de felicidade estava ali. Pela primeira vez em muito tempo eu não sentia a ansiedade dominando meu corpo, apenas a alegria em sua forma mais pura.
— Grande dia — sussurrei, vendo o brilho em meus olhos castanhos virarem lágrimas. Então, ainda na frente do espelho, eu comecei a chorar, algo que vinha fazendo com muita frequência desde o começo daquela pandemia.
Tinha perdido tantos pacientes, tantos amigos e familiares. Meu avô faleceu para aquela doença, uma das minhas melhores amigas, vários colegas de trabalho. Vidas e vidas perdidas.
Quando tudo começou a esperança era pequena, foi quando a ansiedade me dominou. Eu temia que nunca conseguiríamos sair daquele lugar terrível que a Covid-19 nos colocou, não tinha um remédio, pessoas ainda duvidavam do vírus e eu via todos os dias vidas indo embora no hospital.
Mas, para alívio mundial, as vacinas vieram. Tudo graças a cientistas que deram o seu melhor para ajudar o mundo.
— Grande dia — repeti, sorri mais um pouco, conferi outra vez se minha máscara estava no lugar certo e deixei meu apartamento, levando documentos de identificação, chaves do carro e celular.
Durante o caminho fui escutando a mesma música sem parar, Here Comes The Sun dos Beatles. Não era um dia de Sol em minha cidade, mas eu me sentia animada como se fosse um dia de verão.
Ao chegar no estacionamento do hospital onde trabalhava já estava chorando novamente. Peguei meu celular e vi uma mensagem do meu namorado, entretanto não respondi, faria isso depois.