Resilience escrita por Aurora


Capítulo 8
Capítulo 8




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Lily nunca pode reclamar sobre sua mãe. Afrodite era presente, sempre lembrava do aniversário de cada filho, e renovava o guarda roupa deles anualmente, cada peça sob medida, e com o estilo de cada semideus, exceto quando a mãe não gostava do estilo do filho em questão, e adicionava algumas roupas que julgava que ficaria melhor – Lily sempre recebia algumas blusas mais decotadas e vestidos tão justos que pareciam uma segunda pele.

Mas depois que Afrodite percebeu o erro que fizera na vida de Lily, ela estava presente demais, como se tentasse compensar. Frequentemente Lily escutava a voz de sua mãe em momentos aleatórios do dia, com frases ainda mais aleatórias – “Não sei o que McLaggen viu em Hestia, você é tããão mais bonita”, “Ok, alguém precisa contar para sua amiguinha que ela está super fora de moda”, “Esse professor é um gato, eu consigo fazer ele se apaixonar por você, se quiser”.

Depois de semanas assim, Lily começou a pensar que iria surtar, e sua mãe pareceu perceber, pois parou de falar aleatoriamente durante o dia, contudo aparecia em seus sonhos toda semana, e todo dia Lilian dava de cara com um presente perfeitamente embrulhado em cima da mesa dos monitores – roupas de marca, perfumes caros, chocolates maravilhosos.

Lilian não reclamava – gostava de ser paparicada, e seus papos semanais com sua mãe estavam lhe fazendo bem. Era triste pensar em como alguns semideuses nem sabiam a aparência dos pais.

— Você arrumou algum namorado secreto? – James perguntou eventualmente, cansado de encontrar os presentes diários com a nota misteriosa: “Para Lily, com amor”.

Lily informou que eram da sua mãe, e James olhou com um interesse maior para o embrulho, mas não fez perguntas. Já havia feito perguntas demais sobre a vida de Lily.

— Que bom, porque se fosse de um garoto, eu teria minhas desconfianças – ele disse, brincando – Nenhum cara com respeito próprio imploraria tanto pela atenção de uma garota, ainda mais com essas notas cheias de coração e essa letra feminina.

— Você nunca namorou, não é? – Lily perguntou, sentando no sofá ao lado do maroto e entregando uma das xícaras que segurava para ele. Havia acabado de voltar das cozinhas com xícaras grandes de chocolate quente, numa tentativa de aquece-los – Estamos no nosso último ano, e até onde eu sei, eu fui seu primeiro beijo.

— Interessada, Evans? – James levantou a sobrancelha sugestivamente, claramente brincando.

Lily amava como o relacionamento deles havia melhorado – de irritação constante a bons amigos em um piscar de olhos –, mas ainda tinha essa vontade de esquecer a amizade e agarra-lo. Não era culpa da garota se James era tão lindo e beijava tão bem. Mais de uma vez, se perguntou o quão difícil e errado seria mexer um pouquinho com os sentimentos de Sirius para que ele a esquecesse completamente. Se não fosse filha de Afrodite, ele dificilmente teria sequer olhado para ela com interesse.

— Está tudo pronto para amanhã? – Lily perguntou, mudando de assunto antes que caísse em tentação.

— Meus pais não gostaram da ideia de passar o natal com uma garota que eles não conhecessem, mas acabaram aceitando – ele disse – Remus e Peter estão bem confusos com isso, e Sirius está um pouco irritado. Eu queria poder falar com eles.

— Eu sei que é difícil, mas eu não posso arriscar muita gente sabendo – Lily respondeu, quase acabando seu chocolate quente – Acho que nunca fez tão frio quanto esse ano.

— Eu coloquei todo tipo de roupa no meu malão, você diz que faz sol onde mora, mas eu prefiro me prevenir.

— Às vezes neva no natal, mas depende muito do nosso humor – Lily disse – É horrível para quem tem rinite lá, em um dia está nevando e no dia seguinte está tudo ensolarado...

— E no outro dia está a maior tempestade? – James perguntou, se divertindo.

— Nunca chove – Lily respondeu – A única vez que choveu, foi porque tivemos problemas de segurança e a chuva acabou entrando, mas isso foi a anos atrás.

Primeiro, Lily havia falado com sua mãe, perguntado se era uma boa ideia levar o maroto para conhecer sua casa – Afrodite havia concordado em um piscar de olhos, dizendo que ele seria ótimo para ajudar Lily a derrotar Voldemort, mas ela suspeitava que sua mãe só queria observar os dois, quem sabe se tornaria uma história de amor digna a qual ela havia perdido.

Lilian não sabia ainda se pediria ajuda, mas com o apoio da mãe, foi fácil convencer Quíron a deixa-la levar James. Estava realmente ansiosa para dividir o seu mundo com alguém.

No dia seguinte, ela esperava do lado de fora da Estação King’s Cross com James.

— Você tem certeza que tem alguém vindo? – ele perguntou, após menos de dez minutos esperando, já irritado.

— Você precisa ter mais paciência – Lily resmungou de volta, irritada com a irritação do maroto.

Ela não tinha um transporte fixo para busca-la – dificultava muito morar em outro país. Normalmente, Argos buscava os semideuses na escola ou na casa deles, mas atravessar o oceano exigia muito da van dele, então ele se recusava a buscar Lily, que era a única semideusa a morar em outro país.

Antes, Afrodite confiava Silena com sua carruagem mágica, puxada por cisnes, mas desde que sua irmã havia morrido, sua mãe não tinha confiado em nenhum outro filho, e Lily não a culpava. As vezes era Nico quem aparecia, e viajavam rapidamente nas sombras, mas talvez fosse ser uma viagem mais exaustiva com James junto. Uma vez, foi Will quem apareceu junto com seu pai, Apolo, e Lily pode até controlar a carruagem – Apolo a proibiu de fazer isso, depois da garota fazer nevar em uma cidade tropical.

James e Lily haviam aprendido a aparatar há poucas semanas, e nenhum dos dois confiavam na ruiva para leva-los até o Acampamento – se fosse no mesmo país, talvez Lily tentasse. Se treinasse o suficiente, talvez ela os levasse de volta quando acabasse o recesso de natal.

— Eu disse que alguém iria aparecer – Lily disse, segurando o impulso infantil de mostrar a língua para James.

Percy atraia muitos olhares por onde passava, não por ser bonito ou algo assim, mas pelo o que vestia – bermuda e regata, seu pé com chinelo afundando na camada de neve. Era algo tão típico do filho de Poseidon que fazia Lily querer abraça-lo. É claro que ele não lembraria que fora do Acampamento estava nevando.

Se apressando em direção ao garoto, que estava próximo a virar um picolé, Lily tirou a capa de seu uniforme de Hogwarts e seu cachecol de dentro da sua mochila e ajudou Percy a vestir.

— Você é incrível, Cabeça de Algas – Lily disse, rindo do amigo.

Magia sem varinha era algo um tanto natural para Lily, talvez por ter uma ligação mais direta com Hecate que a maioria dos bruxos, e a ruiva enfeitiçou sua capa e seu cachecol para ficarem mais quentinhos, aquecendo Percy completamente. Estava ridículo com bermuda, chinelo, e peças de roupa femininas, mas pelo menos não estava mais congelando.

— Eu não achei que estaria tão frio – ele disse, puxando Lily para um abraço – Eu me atrasei para vim te buscar, não pensei direito.

Lily duvidava que Percy já havia pensado direito em qualquer coisa em sua vida, mas preferiu não vocalizar seus pensamentos. Apresentou James para o semideus, e os dois apertaram as mãos rapidamente.

Percy explicou que havia vindo pelo Rio Tamisa, um rio conhecido que passava por dentro de Londres e desagua no mar do norte. Era um trajeto de vinte minutos de carro até o rio, mas Percy não sabia que a corrida de táxi seria tão cara e já havia gastado seu dinheiro mortal. Era perto, e Lily conhecia bem a Ponte de Londres, então foram para um beco vazio, onde aparataram no local, depois de encolherem os malões ao ponto de caberem no bolso – sabendo que isso poderia acontecer, Lily já havia mandado Thomas para o Acampamento alguns dias antes.

James estava extremamente quieto, apenas observando os amigos conversando, e guardando todas as perguntas que tinha para quando estivesse sozinho com a ruiva.

Lilian havia se aproximado muito de Percy nos últimos três anos. Eles constantemente conversavam por mensagens de Íris, as vezes Nico o levava para treinar com Lily também, e quando a garota estava de férias, passavam o verão juntos, e as vezes o natal também – ele preferia revezar para passar o feriado com a mãe também. Lily sabia que Annabeth estava terminando seu projeto de reformar o Olimpo, e era bem provável que quando acabasse, Lily não fosse ter mais tantos momentos com Percy – Lilian tentava não pensar muito nisso. Percy havia se tornado um amigo muito presente na vida dela.

Dois hipocampos enormes esperavam pelo trio na Ponte de Londres – os animais eram metade cavalo e metade peixe e eram incrivelmente lindos. Suas escamas reluzentes eram coloridas como um arco-íris e eles eram extremamente dóceis.

Os mortais em volta andavam como se não tivesse nada demais na água, provavelmente confundindo os hipocampos com barcos ou algo assim – a névoa era algo muito poderoso.

— São peixes-cavalo? – James perguntou, olhando fascinado para os animais.

— Hipocampos. Eu iria trazer três, mas como você é mortal, achei melhor deixar Lily conduzir – Percy corrigiu, um sorriso no rosto – Eu deveria te avisar que ela não é muito boa, talvez seja até mais seguro ir sozinho.

Lily riu, lembrando do último verão, onde Percy havia dado uma volta com ela nos hipocampos, e Lilian havia se divertido fazendo os animais nadarem mais rápido e darem cambalhotas inesperadas – Percy havia caído em uma dessas, para o prazer da amiga.

— Eu confio nela – James disse, e seu rosto estava fechado.

Talvez devesse estar se sentindo de fora, Lily pensou, então subiu em um dos hipocampos e estendeu a mão para ajudar James a subir também. Nenhum mortal parava para olhar a cena – eram apenas três crianças entrando em dois barcos. James não conseguia ver através da névoa, mas depois de descobrir a verdade ficava mais fácil, e Lily estava tentando o ensinar como ver claramente as coisas. Eles passavam horas no quarto dela, Lily modificando as coisas e James se esforçando para ver através da ilusão.  Por sorte, ele se tornou muito bom nisso rapidamente – se não tivesse, ela não teria o levado consigo, pois ele não iria conseguir enxergar o Acampamento.

— É melhor você segurar, são escorregadios – Lily disse para o maroto. Ela estava sentada mais próxima ao pescoço do animal, onde era parte cavalo, então conseguia se segurar melhor. Já James, havia ficado na parte escamosa e precisou segurar a cintura de Lilian para não cair.

Logo os animais entraram embaixo da água, viajando numa velocidade fora do normal. Percy havia criado uma grande bolha de oxigênio ao redor de Lily e James, permitindo que eles respirassem normalmente e não se molhassem. O filho de Poseidon ia na frente deles, liderando.

— Por que ele não precisa dessa bolha para respirar? – James perguntou no ouvido de Lily, a proximidade causando arrepios na garota.

— Filho de Poseidon.

Depois disso, James não disse mais nada pelo resto da viagem. Lily percebeu o nervosismo dele toda vez que passavam perto de tubarões, serpentes marinhas ou qualquer outro predador, e segurou a mão dele, como uma forma de afirmar que estava tudo bem. Uma viagem que levava seis horas de avião foi completada em três horas com os hipocampos – com certeza tinha magia envolvida, possibilitando que eles pulassem alguns trechos.

Quando chegaram na praia do Acampamento, Lily prometeu a Percy que iria o compensar pelo trabalho – o garoto havia gastado seis horas apenas para busca-la.

— É esse amigo, Lily? – Quíron perguntou, esperando-os na praia.

— James Potter – o maroto se apresentou, sem saber se deveria estender a mão para cumprimentá-lo.

Quíron o olhava desconfiado, claramente não gostando de ter um mortal no Acampamento apenas por um capricho, mas não seria grosso. Pelo menos Lily esperava que não.

— Ele vai ficar no dez ou no onze? – Quíron perguntou, referindo-se ao chalé de Afrodite ou de Hermes.

Lily ainda não havia pensado naquilo. Fazia sentido ficar no de Afrodite, já que era um convidado de Lilian, mas suas irmãs não o deixariam em paz. O de Hermes, mesmo com a enorme quantidade de chalés construídos para os deuses menores, mesmo sendo natal, continuava cheio e seria desconfortável.

— Ele pode ficar comigo – Percy ofereceu, sorrindo para James, que parecia completamente desconfortável.

— Pelos deuses, Percy, você está ridículo – Quíron disse, olhando horrorizado para o campista.

Percy tirou rapidamente as roupas que Lily havia emprestado e as devolveu, o rosto um pouco corado.

Com o problema da localização de James resolvido, Quíron se afastou sem falar mais nada. Percy precisou ir procurar Annabeth, que aparentemente estava brava com ele a dias, e Lily levou James para conhecer os chalés.

— Você vai ficar aqui – Lily disse, parando em frente ao local – Chalé Três, Poseidon. Só Percy dorme aqui e raramente Tyson, é bem vazio.

James observava tudo, como se estivesse tentando gravar cada detalhe, e entraram no chalé, encontrando Annabeth sentada na cama de Percy.

A loira olhava para Lily de forma avaliativa, seus olhos cinzas tão inexpressivos quanto o de James.

Em Hogwarts, Lily evitava usar seus poderes, pois entendia como era injusto, por isso nunca tentava quebrar a máscara de James. Ela havia treinado muito para melhorar sua leitura emotiva, mas também para saber como desliga-la, o que as vezes era ainda mais difícil. Já no Acampamento, todos tinham poderes especiais, e Lily não hesitou em usar isso ao seu favor, descobrindo logo que por trás dos olhos glaciais de Annabeth, a filha de Atena estava consumida por raiva e... ciúmes?

— Percy está te procurando – Lily disse e Annabeth levantou em um pulo sob a menção do nome do namorado. Ela se aproximou de Lily, e como se sentisse a briga se aproximando, James se afastou, sentando na cama que usaria durante o feriado.

— E eu estava procurando-o – Annabeth respondeu – Mas, como sempre, você aparece para atrapalhar.

— Eu só vim trazer James – a ruiva se defendeu – Ele vai dormir aqui nesse...

— O que está acontecendo entre você e Percy? – Annabeth interrompeu, sua voz firme – Eu vi vocês dois se abraçando na praia.

Lily não conseguiu segurar o barulho frustrado que escapou por sua garganta.

— Você não é essas garotas, Annie – Lilian disse, revirando os olhos.

— Mas você é uma dessas garotas – Annabeth respondeu – Só tem amizade com garotos, sempre sozinha com eles, filha de...

— Esse é seu problema! – Lily interrompeu, sua voz aumentando com a antiga raiva que sentia – Você é uma hipócrita preconceituosa do caralho.

A loira abriu a boca indignada, claramente não esperando a reação da ruiva.

— Família, lembra? – Lily continuou – Você prometeu que seriamos uma família, eu, você, Luke, Thalia... Éramos nós quatro lutando para sobreviver até Grover nos encontrar e você prometeu que não importava o que acontecesse seriamos uma família. E você perdoou Luke pelos erros horríveis que ele cometeu, mas não consegue me perdoar por ser filha de Afrodite.

— Você está fora de si – Annabeth riu, a raiva finalmente transparecendo – Nós nos afastamos, acontece, e agora você quer se vingar indo atrás do meu namorado.

Ver Annabeth a olhando com tanta fúria fez toda a raiva que Lily sentia evaporar, deixando apenas tristeza e derrota no lugar. Não importava o que ela usasse para argumentar, Annabeth não iria entender – estava com saudade do namorado, sentia-se de lado e precisava jogar a culpa que era dela em outra pessoa. Quem melhor para culpar do que a nova amiga do namorado, logo uma filha de Afrodite? Era fácil demais.

— Percy começou a passar mais tempo com Nico, que estava sempre comigo, e agora somos amigos – Lily explicou, sentindo-se cada vez mais triste – Percy te ama e, como filha de Afrodite, eu te garanto que ele nunca pensou em mim como nada mais além de amiga. Eu não vou atrás de ninguém comprometido e independente do que você pensa sobre mim, eu nunca faria nada para te machucar. Eu levo minhas promessas a sério.

Lily virou-se para chamar James, mas não precisou – ele já havia feito seu malão voltar ao tamanho original e estava em pé a esperando. Ele sempre sabia o que Lily precisava, e quando saíram do chalé, ele segurou a mão da garota, que sempre procurava contato quando estava triste. Foram para o chalé de Afrodite, que estava vazio, e Lily soltou Thomas de sua caixa de transporte. Durante o verão, o chalé era cheio, mas no natal não costumava ir quase ninguém. Filhos de Afrodite não tinham muito problema com monstros, já que o cheiro além de ser fraco, era disfarçado com algum perfume natural – Lily tinha cheiro de morangos, Silena de jasmins. Sendo assim, nenhum deles passava o ano todo no Acampamento, e Lilian se sentia muito sozinha antes de entrar em Hogwarts.

— Ei, calma – Lily disse, quando o gatinho rosnou, as patinhas batendo repetitivamente no braço da dona, que tentava o afastar.

Desde que havia o comprado, Thomas cresceu rápido e era um pouco maior que a maioria dos gatos. Lily não entendia como ele se mantinha tão magro comendo tanto – provavelmente, a comida se transformava em ódio ao invés de gordura.

— Esses dias eu acordei com ele mordendo o meu pé – James disse, rindo do gato – Ele estava com fome e você tinha trancado seu quarto.

— Hum, eu lembro desse dia – Lily respondeu enquanto Thomas atacava seu sapato, o segurando com as quatro patas e o mordendo – Ele já havia comido várias vezes e continuava me acordando, aí eu tranquei meu quarto.

A ruiva encheu o potinho do gato com três sachês e ele a deixou em paz enquanto comia. Tirou a blusa de frio que usava e a calça, ficando apenas de regata e calcinha na frente do moreno, que já havia visto Lily assim várias vezes – a garota gostava de dormir com pouca roupa e Thomas gostava de ir morder James, então o garoto constantemente tinha que ir levar o gato para Lily, que precisava levantar para colocar a comida do animal e trancar seu quarto para deixar James em paz. Era uma rotina cansativa, que poderia ser evitada se Lily trancasse sua ferinha em seu quarto assim que fossem dormir, mas Thomas simplesmente sumia, como se gostasse de enfurecer os monitores-chefe.

Ela logo colocou uma saia curta e sentou perto de James, que havia tirado sua blusa de frio, mas continuava de calça. Lily se ajeitou na cama, sentada de frente para o garoto com as pernas cruzadas, colocando seu pequeno coração de pelúcia no colo, para garantir que sua saia não fosse mostrar nada demais.

— Você disse que conseguia influenciar os sentimentos alheios, né? – James perguntou, sem olha-la nos olhos – Que consegue ler o que as pessoas sentem?

— Eu consigo – Lily confirmou, odiando que precisava se explicar, mas entendendo o lado do garoto – Mas eu nunca fiz isso contigo. Eu vejo o quanto você se esforça para manter o rosto indiferente perto de mim, e eu respeito isso.

James assentiu e ficaram em silencio, mas não era o silencio confortável que costumava existir entre eles – ela sentia que ele ainda queria falar algo.

— Às vezes eu queria voltar no tempo – James disse depois de momentos em silencio e sua voz estava baixa, como quem conta um segredo – Queria voltar até o início do quarto ano e te chamar para sair.

Antes de Sirius. E então estaria tudo bem entre eles, James poderia ficar com Lily sem magoar o amigo.

Lily sabia o quanto queria tentar algo com James, e ela sabia que ele queria também. Desde o beijo que tiveram meses atrás, Lily constantemente se pegava querendo repetir o momento, e se envergonhava em admitir que as vezes se esforçava para tentar seduzi-lo e sempre falhava – nunca conseguia ser sexy, o que era ridículo. Ela não respondeu, apenas manteve o contato visual com o garoto, que sempre sabia bem demais o que ela pensava.

— Você pode usar seus poderes em mim, se quiser – James disse, virando para olhar a garota e Lily desejou que ele se aproximasse mais – Honestamente, Lily, você pode fazer o que quiser comigo.

Depois disso, a garota não tinha muita chance – puxou James pela blusa, o beijando de forma mais violenta que o usual, todo o desejo acumulado sendo liberado no beijo, que se aprofundava cada vez mais. James pressionou seu corpo no de Lily, a forçando a deitar e a garota soltou um gemido baixo ao sentir a pressão que a estrutura física de James fazia contra seu corpo pequeno.

Eles se beijaram de forma calorosa, os lábios de James eram firmes e lideravam naturalmente, e Lily passava suas mãos por dentro da blusa do maroto, sentindo cada músculo que desenhava suas costas, suas pernas abraçando a cintura de James, o segurando com força, como se ele fosse fugir a qualquer momento.

Irritado, James tirou o coração de pelúcia que havia ficado preso entre os dois, e Lily ofegou ao sentir como o garoto estava rígido pressionado contra as pernas abertas da ruiva.

Lily estava completamente molhada, de forma que ela nunca havia ficado com nenhum outro garoto, e ela já não se importava se alguém poderia entrar a qualquer momento, só queria sentir James completamente. Pegou a mão do garoto que segurava sua coxa e a puxou para sua virilha.

O maroto parou o beijo e afastou um pouco o rosto para observa-la e passou levemente seu indicador por cima da calcinha encharcada de Lily, que levantava seus quadris sugestivamente, mostrando que queria mais. Então James puxou a pequena peça para o lado, seu dedo alisando Lily de forma provocativa.

Com o rosto completamente corado e seu corpo ardendo com o desejo que só aumentava, Lily levou a mão até o cinto do garoto, e teria perdido a sua virgindade ali mesmo, se não fosse pelo rosnado alto e tão próximo que fez cócegas na bochecha de Lily.

Um tigre os encarava, tão grande que Lily poderia facilmente monta-lo. Seu coração batia rápido, e o casal se manteve imóvel, sabendo que qualquer movimento brusco poderia fazer o animal ataca-los. Sabia muito pouco sobre tigres, mas sabia que eles não gostavam de atacar quando a presa estava olhando – apreciavam o elemento surpresa.

Lilian não tinha nenhum outro plano além de ficar parada ali até o animal perder o interesse e ir embora, e então poderia tentar imobiliza-lo com algum feitiço e Quíron saberia o que fazer. Mas o tigre não tinha planos de ir embora – se aproximou da cama, o rosto a centímetros de Lily, que queria mais que tudo fugir, mas manteve-se imóvel. Foi provavelmente o momento mais difícil de sua vida. Sua varinha estava longe, a de James também, ela não conseguiria se livrar dele com sua adaga, que exigia proximidade para ser utilizada, e ela provavelmente teria a cabeça arrancada pelo tigre antes de conseguir atingi-lo. Se tentassem fugir, ele com certeza atacaria. A cada segundo que passava parada ali, seu medo aumentava, e conseguia sentir o coração de James batendo loucamente enquanto ele também pensava no que poderia fazer. Como diabos um tigre apareceu no Acampamento e entrou em seu chalé sem ser visto? Ele era enorme!

— Eu queria te avisar, mas você estava bem ocupada – Lily ouviu a voz de sua mãe e alivio percorreu todo seu corpo – Thomas, querido, pare de assustar sua dona.

Simples assim, o grande tigre diminuiu até voltar a ser seu gatinho genioso. Ainda em choque, Lily e James estavam petrificados na mesma posição e Afrodite sentou-se na beirada da cama – foi o que precisava para James pular de cima de Lily, ajeitando apressado seu cinto quase aberto, enquanto Lily sentava devagar, encarando seu gato, sem se importar com sua pequena saia amassada, provavelmente mostrando mais do que deveria.

Enquanto James olhava em completo choque para a deusa, Lily mal parecia lembrar que a mãe havia pegado os dois se agarrando.

— Thomas!? – a voz de Lily saiu mais fina que o normal, e o gato rolou no chão, sua barriga para cima pedindo carinho – Thomas é um tigre?

— É uma raça bem especial, essa – Afrodite disse, mas seus olhos estavam grudados em James – É um belo rapaz, Lily, um pouco alto demais, mas ninguém é perfeito, certo?

— Thomas é um tigre? – Lily repetiu, virando-se para olhar sua mãe e satisfeita em ver que ela mantinha a aparência habitual, porque se estivesse mudando constantemente poderia ser demais para James.

— Sim, Lily, seu gato pode se transformar em tigre – Afrodite respondeu, tirando os olhos de James – É um Toyger Prin, o último vivo, se não estou enganada. Ele começa a se transformar a partir dos dois anos e eu iria te avisar, mas você parecia estar se divertindo tanto que eu não poderia simplesmente interromper, não é? Que falta de educação a minha – ela se levantou e estendeu a mão para James – Eu sou Afrodite, mãe de Lilian.

— Han... James, eu... P-Potter – ele gaguejou incapaz de falar uma frase completa, ainda pior do que Peter quando tentava falar com uma garota bonita. Seu olhar estava tão perdido que ela realmente se sentiu mal por ele. Sua mãe sabia bem como impactar um homem.

— Thomas é muito bravo – Lily disse, ainda presa no assunto – Ele me arranha o tempo todo. Ele vai me matar.

— Claro que não vai – Afrodite disse, pegando o gato no colo – Toyger’s são animais muito leais, e, enquanto estiver como tigre, ele nunca vai te machucar. Mas vai fazer o que você mandar, até matar se precisar – a mãe a olhou séria – Ele só não atacou seu amigo porque poderia te machucar, então você precisa se conectar com ele logo.

— Como eu faço isso?

— Eu não sei, cada animal é diferente – Afrodite deu de ombros – Você vai saber se conseguiu quando conseguir conversar com ele.

Thomas pulou do colo da deusa para ir morder a mão da dona e Lily o olhou realmente assustada.

— Ele vai fazer isso quando estiver como tigre? – perguntou, referindo-se a como ele segurava a mão de Lily firmemente, seus dentinhos a mordendo com força.

— Você vai leva-lo contigo? – Afrodite perguntou, ignorando a questão da filha. Ela olhava para James e Lily estava começando a se irritar em como o maroto olhava fixamente para sua mãe.

Não era culpa dele, afinal, ela era a deusa da beleza, mas era desconcertante vê-lo de boca aberta por outra pessoa – ainda mais sendo sua mãe.

— Não – Lily respondeu.

— Você não vai conseguir sozinha – sua mãe respondeu com tanta simplicidade que incomodou Lily.

Ouviram barulho de pessoas se aproximando e Afrodite achou melhor ir embora, dizendo que só precisava avisar Lily sobre Thomas.

— Me levar onde? – James perguntou, finalmente se recuperando, e Lily não precisou responder. Alguns dos seus irmãos entraram no chalé.

Era apenas quatro e Lily não pode deixar de pensar em como todo ano menos semideuses voltavam para o natal. Depois da guerra, eles sentiam essa necessidade de estarem juntos e vinham em todos os feriados possíveis. Conforme os anos passavam, o sentimento passava também, e as brigas voltaram a acontecer na mesma intensidade de antes, e Lilian gostava disso. Trazia certo senso de normalidade.

— Lily – Drew cumprimentou, se aproximando.

Atrás dela estava Valentina Diaz, Eliza e Elena Hill todas um pouco ofegante, provavelmente estavam treinando.

Lily cumprimentou as meias-irmãs e apresentou James, que estava corando estranhamente fácil e gaguejou um pouco ao se apresentar.

Drew Tanaka era a mais alta entre as quatro, seu cabelo era ondulado, sua pele clara e seus olhos puxados. Ela gostava de usar muita maquiagem, principalmente seu delineador rosa, e com a personalidade que tinha, Lily duvidava que James fosse aguentar dois minutos de conversa, mesmo com toda a beleza.

Valentina Diaz era uma latina muito bonita, e mesmo aos seus treze anos, já era bem óbvio que teria um corpo invejável futuramente. Era uma garota animada, que gostava de cantar, sendo sempre a primeira a querer cantar perto da fogueira – era uma pena que sua voz não fosse bonita assim.

Eliza e Elena eram gêmeas idênticas, tinham longos cabelos castanhos, os olhos eram cor de mel, bem claros, e elas eram a alma de qualquer festa – dançavam melhor que qualquer campista e aguentavam beber surpreendentemente bem. Tinham sempre um sorriso no rosto, mas, infelizmente, eram extremamente fáceis de impressionar e manipular. Eram lideres de torcida na escola mortal que frequentavam, as clássicas meninas populares, bonitas e não muito espertas, mas Lilian gostava muito delas. Eram divertidas e não eram tão insuportáveis quando suas outras meias-irmãs.

 — Vou mostrar o Acampamento para ele – Lily disse assim que James terminou de se apresentar, ansiosa para tira-lo dali.

— Sabe o que eu percebi, Lily? – Drew perguntou, ignorando a tentativa de fuga da meia-irmã – Você ainda não fez nosso ritual.

Quando Silena faleceu, Drew foi escolhida como conselheira do chalé – Lily sabia que ela estava usando charme contra seus meios-irmãos, mas não se importou. Estava tão distraída em seu luto que não teria energia para querer ser conselheira.

O problema é que Drew estava ficando cada vez pior. Havia retomado o rito de passagem de Afrodite, onde precisavam fazer algum campista se apaixonar e depois quebrar o coração dele. Estava sempre punindo os moradores do chalé, sempre inventava novas regras sem sentido, e aquele maldito sapato da vergonha deixava os filhos de Afrodite aterrorizados – eram sapatos branco ortopédicos com sola grossa, e Lily concordava que eram horríveis e não combinavam com nada. Drew obrigava o campista que houvesse a irritado a usar os sapatos pelo tempo que mandasse, seu charme fazendo difícil que eles recusassem.

— E eu não vou fazer – Lily respondeu, sem dar muita importância.

— Sinto muito, então, irmã – Drew sorria como se estivesse se divertindo – Mas se você não vai fazer nosso ritual, vai ter que usar os sapatos da vergonha durante todo o feriado de natal.

Lily respirou fundo, revirando os olhos. Achava incrível como Drew realmente achava que podia mandar em alguém.

— Eu não vou usar – a ruiva respondeu com simplicidade – E você não consegue me obrigar.

Lily tentou passar novamente e Drew puxou seu braço. A asiática era tão previsível que irritava – Lilian tinha certeza que a irmã tentaria usar o charme contra ela, a forçando a usar os sapatos, e por mais que soubesse que o charme de Drew era fraco e não funcionaria nela, Lily segurou o braço que a garota havia usado para puxa-la, fazendo ela se aproximar. Drew era mais alta, mas Lilian era mais brava. Pensou em pegar sua adaga, mas o olhar alarmado de Drew mostrava que o movimento súbito já era mais que o suficiente para deixa-la assustada.

— Você é conselheira e não ditadora – Lily disse calmamente, vendo os olhos puxados de Drew com medo e raiva – Tenta mandar em mim de novo e eu te tiro da posição em um piscar de olhos.

Lily soltou a garota e saiu do chalé, James a seguindo.

— Aqui é sempre tão intenso? – o garoto perguntou e Lily não quis responder. Estava brava com ele.

Thomas o seguia, mas miava irritado e a dona o pegou no colo – o gato conseguia ser tão preguiçoso as vezes.

— Não vira um tigre no meu colo, ok? – Lily pediu, acariciando a cabeça do animal.

Andaram em frente até chegar ao pavilhão do refeitório.

— Nós comemos aqui – Lily disse e explicou rapidamente sobre o ritual de jogar parte de sua comida para os deuses e que, mesmo ele não sendo semideus, seria educado que oferecesse para algum deus também.

Apontou para sua direita, sem a energia para andar por todo o local.

— Depois do rio, tem a parede de escalada, onde você não deve ir, porque tem lava escorrendo por ela e você pode se machucar.

Lily começou a leva-lo em direção a arena de combate, mas antes de chegar, James colocou a mão em seu ombro, a fazendo parar.

— Você está brava comigo – ele afirmou.

— Você é tão observador – Lily respondeu irônica. Eles continuaram se olhando e a garota sabia que não seria deixada em paz – Você estava babando pela minha mãe e pelas minhas irmãs.

Ela se sentiu imediatamente estúpida pela cobrança. Eles não tinham nada, e quem poderia culpa-lo por babar pela deusa da beleza? E suas irmãs tinham o mesmo magnetismo que Lily possuía, as gêmeas Hill’s eram mais bonitas que ela e quando Valentina amadurecesse, perdendo os traços infantis que possuía, seria extremamente maravilhosa.

E se James gostasse de Lily apenas pelo encanto de Afrodite? E se, vendo suas irmãs, ele percebesse que Lily não era tudo aquilo e perdesse o interesse? McLaggen não precisou conhecer suas irmãs para perceber que Lilian não era tão especial quanto parecia.

Potter se aproximou como se fosse beija-la, mas Thomas miou de forma ameaçadora e James se afastou imediatamente.

— Elas são bonitas – James disse, sua mão segurando a cintura de Lily de forma que Thomas não conseguia ver – Mas você é linda, Lily. É um absurdo ficar insegura.

Lily sentiu suas bochechas esquentando, e levou ele para conhecer o resto do Acampamento.

Pelo resto da semana, James pode conhecer a real vida de Lily, que o deixava participar em praticamente tudo. Sempre o levava para treinar junto com ela, e tinha paciência com o jeito desajeitado do garoto, que tinha o orgulho machucado toda vez que algum campista recém chegado ia lutar com ele e ganhava. No início, ele ainda tentava justificar falando que a criança era muito boa, mas quando Lily iria lutar com o campista, James percebia o quão ruim o pequeno era e se envergonhava ainda mais por ser pior.

A ruiva sempre ria abertamente, e o som era tão lindo que James não se importava se era as custas dele. Mais tarde, ela iria cuidar dos pequenos machucados dele – que James mesmo teria causado, completamente desajeitado com a espada – e o garoto ganharia alguns beijos.

O único momento em que não estavam juntos, além do horário de dormir, era no início da manhã, onde Lily iria para o bosque ou para a praia e dizia estar tentando se conectar com seu gatinho extremamente perigoso. Lily não havia dito, mas James sabia que ela tinha escolhido treinar Thomas de manhã porque sabia que ele gostava de acordar mais tarde, então quando James acordava, ela já estava pronta para ficar com ele e James a amava por isso. As vezes ela iria até o Chalé de Poseidon e o acordaria com pequenos beijos, o deixando muito mal acostumado. Sempre havia sido apaixonado por ela e cada detalhe que descobria sobre a garota fazia ele se apaixonar ainda mais, e James podia ver como ela olhava com cada vez mais carinho para ele e não conseguia evitar o sentimento de esperança.

O único problema era Sirius, mas James não pensaria nele. Era o melhor natal de sua vida e não queria estragar sentindo-se culpado.

Era véspera de natal, e, pela primeira vez desde que havia chegado, estava nevando. Estavam sentados na neve que cobria a praia – era o lugar favorito de Lily no Acampamento, não importava se estava ensolarado ou não. Os campistas estavam festejando no pavilhão, e Lily queria ficar um pouco em silencio.

A garota olhava atentamente para as ondas, seu cabelo balançava com a brisa e James não conseguia deixar de pensar em como ela era a garota mais linda que já havia visto. Era incrível como ele podia ficar próximo dela, o braço repousado em seu ombro, a segurando perto de si, o cobertor em volta deles ajudando a mantê-los aquecido e Thomas dormindo calmamente no colo da dona. James queria parar no tempo, ficando ali com ela para sempre. Mas não poderia – no dia seguinte estaria indo para casa, enquanto não fazia ideia de onde Lily estaria indo.

— Você quer perguntar algo – Lily disse, sem precisar olha-lo.

Conforme James a conhecia cada vez mais, Lily também parecia entende-lo bem melhor, as vezes parecendo até que podia ler os pensamentos do garoto.

— Sua adaga sempre aparece do nada – James disse, mas os dois sabiam que não era aquilo que o garoto queria saber.

— Ela aparece sempre que eu quero – Lily respondeu, abrindo a mão da frente do garoto, onde a adaga se materializou – E depois some quando não preciso mais. E meu anel se transforma em arco e flecha.

— Sua mãe é bem generosa.

— Ela é, mas não me deu os dois – explicou – Ela me deu a adaga, que sempre foi minha arma preferida, mas o anel foi Thalia quem me deu. Ela o encontrou em uma de suas missões e achou que o anel era minha cara, então me deu.

James segurou a mão de Lily, seu dedo passando pelo anel dourado com uma flor de seis pétalas, o centro do anel com uma pequena esmeralda que imitava o tom dos olhos de Lilian. Era lindo e parecia ter sido feito para ela.

— Você disse que Hecate construiu o mundo bruxo – ele disse depois de um tempo – Então porque os filhos dela não são bruxos também?

— Porque ela não quer – Lily respondeu – O mundo bruxo é como se fosse um hobby dela, sabe? Era algo que não precisava existir, mas ela quis, então existe. A magia dos bruxos é muito fraca comparada com a dos filhos dela, não faria sentido coloca-los em Hogwarts... É como imaginar bruxos dez vezes mais poderosos que Dumbledore.

— E os nascidos trouxas? – ele perguntou.

— São mortais que ela escolhe – respondeu – Por isso não tem tantos assim. Conforme as famílias bruxas tem cada vez menos filhos, ela escolhe mortais aleatórios para nascerem bruxos.

— Parece algo errado... Brincar com as nossas vidas desse jeito. Criar um mundo tão complexo apenas por hobby.

Ela ficou em silencio durante um tempo e suspirou.

— Os deuses são assim – disse – Estão sempre brincando com nossas vidas, fazendo o que querem, e depois esperam que a gente lute por eles, que a gente morra por eles... E a gente faz isso, então o que isso diz sobre nós?

Lily encostou a cabeça no ombro de James, e a forma como os dedos pequenos começaram a brincar nervosamente com os dedos longos do garoto mostrava que ela queria falar algo.

James esperou até ela estar pronta, o que demorou alguns momentos.

— Minha mãe me deu uma missão – Lily disse baixinho, o som das ondas quase cobrindo suas palavras – Não é uma profecia porque não envolve esse mundo, mas é meio perigoso... envolve o destino de muitas pessoas.

— Você precisa de ajuda? – James perguntou, lembrando do que Afrodite havia dito quando apareceu no primeiro dia do recesso – Se precisar, eu estou aqui.

— Você está sempre aqui – ela disse, levantando a cabeça para olha-lo e James assentiu, segurando seu rosto gelado com uma mão.

A garota sorriu ao sentir a mão quente de James, que respirou fundo, pensando em como nunca se cansaria daquele sorriso.

— Eu não consigo evitar – ele confessou – Eu sou seu.

As íris esverdeadas de Lily clarearam levemente e James sentiu-se aliviado em saber que não estava a assustando. Não queria que ela pensasse que estava indo rápido demais, e ele realmente não estava. Era como se estivesse apaixonado por ela desde que havia nascido, como se o único propósito da sua vida era estar com Lilian Evans, e não aguentava mais fugir.

— Sirius... – ela tentou falar e ele balançou a cabeça, fazendo-a parar de falar.

— É meu melhor amigo – ele disse – E ele pode ter dificuldade no início, mas vai entender. Ele tem que entender.

Ele esperava que fosse assim, pelo menos, e pelo beijo intenso e lento que recebeu, James soube que Lily torcia pelo mesmo.

James amava a beijar. Ela tinha os lábios mais macios e doces e colocava tudo que sentia em cada beijo.

Quando se separaram, Lily sorriu para ele e se levantou com Thomas no colo, que miou irritado por estarem se mexendo. Deixaram o gato e o cobertor no chalé de Afrodite e foram se sentar perto da fogueira, onde aproveitaram as últimas horas da véspera de natal com os outros campistas. Ela não falou mais sobre a tal missão, mas James entendia que não era porque não queria que ele a ajudasse, só queria aproveitar o resto da noite sem falar sobre nada ruim.

Lily cantava animada as músicas que James não reconhecia, a maioria em grego antigo, e por mais que o garoto fosse um total intruso, Lily não deixava ele se sentir assim em momento algum – estava sempre segurando a mão dele, o apresentando para vários campistas, sempre se assegurando que James estava fazendo amizades.

Na hora de trocar os presentes, Lily havia dado perfumes para Elza e Elena, que pareciam ser as irmãs que ela mais tinha contato – e ainda assim, não era muito. Ela tinha quatro embrulhos nas mãos quando foi até James e o maroto se desesperou por um momento, achando que eram todos para ele.

— Eu comprei algo para Nico e Will, mas nenhum deles vieram – ela explicou quando viu o olhar de James – E tem algo para Percy, mas acho que talvez seja melhor não entregar mais.

Lily o abraçou e deu o embrulho de James, que abriu rapidamente. Era uma blusa laranja do Acampamento Meio-Sangue.

Ele sorriu e abraçou a garota novamente, realmente grato pelo presente. Todos os campistas usavam uma, e James havia pensado mais de uma vez em compra-la, mas não sabia se deveria. Ele não tinha uma gota dourada sequer em seu sangue, não faria sentido usar a blusa, era como se fosse um trouxa usando o uniforme de Hogwarts. Mas Lily entendia que ele queria de recordação, e James estava extremamente grato.

Desde havia decido passar o natal com a garota, James comprou um presente e entregou o pequeno embrulho para ela, que abriu animada, encontrando um colar de ouro com um coração de esmeralda que combinava com seu anel. Era pequeno e delicado, da forma como ele sabia que Lily gostava.

Alcançando a caixinha da mão dela, James pegou o colar e Lily tirou o cabelo da frente para ele conseguir colocar a joia.

— Não vira nenhum tipo de arma, mas espero que goste mesmo assim – ele disse, e ao invés de abraça-lo ou agradecer, Lily o puxou para um beijo, que precisou acabar rápido demais, já que estavam em público.

— Lily?

Se afastando um pouco de James, Lily virou para ver quem havia a chamado.

Annabeth a olhava com as bochechas coradas e um presente mal embrulhado em suas mãos.

— Feliz natal – a loira desejou, entregando o presente.

James observou as duas se encarando por um tempo e parecia haver milhões de palavras não ditas na forma como se olhavam.

— Eu não devia ter te tradado tão mal – Annabeth disse quando Lily continuou a encarando, segurando o presente sem a intenção de abrir – Eu tinha muitos preconceitos quando era pequena e...

— E você é horrível se desculpando – Lily interrompeu, fazendo Annabeth se sentir ainda mais desconfortável.

Mas não importava se estava em Hogwarts ou no Acampamento, Lilian Evans dificilmente guardava rancor, e abraçou a antiga amiga, se desculpando por não ter um presente.

James não se lembrava da última vez que havia visto Lily tão feliz. Ela estava radiante, sentada entre James e Annabeth e logo Percy se aproximou e ela pode dar o presente – um kit da Zonko’s que com certeza irritaria os outros campistas, o que apenas deixou Percy mais instigado. Lily conversava animada e sorria abertamente, dando beijinhos rápidos em James quando Quíron não estava olhando, e ainda assim tinha algo faltando. James ainda conseguia ver certa tristeza no olhar da garota e não fazia ideia do que poderia fazer para ajudar.


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Notas finais do capítulo

Cap foi um pouco maior que o normal, espero que n se importem. No próximo (que eu espero postar em breve) muita coisa vai mudar na história, uma personagem super importante vai ser introduzida e depois disso vai ter um clima um pouco mais pesado.
Muito obrigada por estarem comentando e espero que tenham gostado :D



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