Resilience escrita por Aurora


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Esse demorou um pouco mais para chegar, sorry sorry. Maaas está grandinho e bem esclarecedor. Boa leitura!



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Lilian precisou responder inúmeras perguntas sobre o suporto ataque.

Todo mundo queria saber – suas colegas de casa, seus colegas de outras casas, desconhecidos que Lily nem sabia o nome e até alguns professores tentaram extrair algumas informações além do que o professor Dumbledore havia dito para eles.

Dumbledore, é claro, estava ciente da verdade, e parecia ter reprovado a mentira da garota, mas não tinha nada que pudesse fazer, uma vez que ela já havia falado para os marotos. O diretor não queria assustar os alunos com notícias de ataque na escola, e Lily se arrependeu de não ter fingido que estava dormindo para poder pensar em uma mentira melhor.

As aulas estavam sendo um inferno. Lily, com o TDAH descontrolado, não conseguia se focar por mais de um minuto nas aulas – uma simples tosse a distraia, e ela não conseguia ler nada em seu livro de transfiguração. Por culpa da dislexia, as letras se embolavam, sem fazer sentido algum. Quando estava tomando remédio, Lily conseguia se focar para, com muito esforço, conseguir ler, mas na situação em que se encontrava, era simplesmente impossível. Os professores relacionavam a distração da garota com o ataque que afirmava ter sofrido, o que facilitava a vida de Lilian – eles perdoariam a distração e os deveres não entregues por tempo o suficiente para seu remédio voltar a fazer efeito.

Mais tarde, Lily estava sentada nas arquibancadas do campo de quadribol, assistindo o teste de quadribol – precisavam de um novo goleiro e apanhador.

Assistir os treinos era bom para Lily no estado em que se encontrava – o jogo era dinâmico, e seus reflexos aguçados permitiam que ela entendesse melhor cada jogada.

Sua amiga, Alice, estava sentada ao seu lado, segurando os feijõezinhos de todos os sabores que estavam dividindo. 

— Eles são horríveis – Alice resmungou – James vai ter trabalho para achar alguém com um pingo de habilidade.

— Você ama quadribol – Lily disse após engolir um feijão de caramelo – Por que não tenta para alguma posição?

— Eu tenho a coordenação motora de um bebê – a amiga respondeu, fazendo careta ao mastigar um feijão ruim – Eu provavelmente cairia da vassoura antes mesmo do jogo começar. E por que você não tenta?

— Eu morro de medo de altura.

Depois que todos já haviam tentado para goleiro, era a vez dos apanhadores.

— É doloroso assistir isso – Lily disse, após o quarto a tentar – Se não conseguirmos ninguém bom, vamos perder todos os jogos esse ano.

James parecia estar perdendo a esperança e a paciência. Soltou o pomo e mandou os sete concorrentes que restavam encontrar – quem pegasse o pomo primeiro, ganhava a vaga.

Poucos minutos depois, Lily viu claramente a pequena bola dourada se aproximando. Estendeu a mão e a pegou no ar, sem nem perceber bem o que estava fazendo.

— A Lily pegou! – Alice gritou, animada, e a ruiva percebeu o que havia feito.

— Ok, Lily é a nova apanhadora – James gritou do campo. Os sete alunos nas vassouras olharam para a garota, claramente irritados.

— Eu não posso ser apanhadora – Lily disse, meio perdida.

Todos estavam indo embora do campo de quadribol, como se a decisão fosse séria. Lilian levantou, correndo para alcançar James.

—Eu não posso ser apanhadora! – ela repetia para ele, sacudindo o pomo em sua mão, como se fosse um absurdo que estivesse o segurando.

James a ignorava, por mais que a garota estivesse gritando ao seu lado, e o pequeno sorriso em seu rosto era tudo que indicava que estava a escutando.

— Ninguém mandou você pegar o pomo – ele disse quando entraram no vestiário.

— Eu não fiz de propósito – ela disse, indignada – Ele veio na minha direção e eu peguei, foi reflexo.

— Fantástico – James respondeu, feliz – Isso mostra talento natural.

Ele tirou a capa do uniforme de quadribol e depois a blusa, como se nem se importasse que a garota estivesse ali.

Lily se distraiu com o peitoral definido de James – era injusto o quão lindo ele era.

— Cuidado para não babar, Apanhadora Evans – ele brincou e foi o suficiente para Lily desviar o olhar de seu corpo, irritada.

— Você pode brincar o quanto quiser, mas não existe chance nenhuma de eu ser apanhadora! – ela disse, sacudindo o pomo enquanto falava, como se fosse uma arma – Eu não vou aparecer em nenhum treino e você está sonhando se acha que eu vou jogar.

Durante os próximos três dias, James frequentemente jogava coisas em Lily – bolas de papel, colheres, galhos, livros... tudo que estava ao alcance dele no momento e que não fosse perigoso, como uma faca. Em todas as ocasiões, Lily havia pegado o objeto com perfeição, as vezes sem nem olhar. O TDAH a deixava em constante alerta, e ela não conseguia evitar de pegar o objeto que estava se aproximando.

Até que James havia decidido jogar a concha que usavam para mexer as poções durante as aulas, e acertou Lily bem na testa. O material duro havia deixado uma marca roxa na pele branca da garota, que gritou de dor mais alto que o necessário. Finalmente, seu remédio havia voltado a controlar o TDAH, consequentemente a tirando do estado de alerta e diminuindo seus reflexos. Lily havia visto o objeto relativamente grande vindo em sua direção, mas não o pegou de propósito para que James a deixasse em paz.

— Por Merlin! – Slughorn gritou ao ver o que havia acontecido, se apressando em direção a garota – Linda Lily, você está bem?

O apelido a fez querer dar um tapa na testa do professor, indignada que alguém tão inteligente teria criado um apelido tão desprovido de criatividade.

— Potter jogou isso em mim – ela reclamou, e o professor colocou James de detenção por uma semana.

Quando a aula acabou, Sirius e James a alcançaram.

— Está aparecendo um galo enorme na sua testa – Sirius informou – Eu conheço alguns feitiços que podem ajudar.

— Não, Sirius, obrigada – Lily respondeu, olhando feio para James – Eu acho que vou deixar assim mesmo, para toda vez que Potter olhar para mim ele se sentir culpado.

— A culpa não é minha se você não conseguiu pegar – o maroto se defendeu, a máscara de indiferença tomando conta do seu rosto.

— Você passou dias jogando coisas nela, Prongs – Sirius disse, passando o braço pelos ombros da garota – Poderia ter apenas aceitado que ela não queria ter entrado no time.

Desconfortável com a proximidade de Sirius, Lily se afastou e foi para a Salão Comunal da Grifinória – estava vazio e a ruiva mal pode aproveitar o raro momento em silencio, pois logo James apareceu.

— Eu não vou te contar nada hoje – Lily disse, sabendo o porquê ele havia ido atrás dela.

— Nós temos um trato, você tem que contar.

Lily revirou os olhos e pensou em algo pouco comprometedor. Já havia dito que onde morava fazia sol todos os dias – James havia relutado em acreditar, até se lembrar que depois de todas as férias de natal, Lily voltava mais bronzeada. Sabendo que era inverno no hemisfério norte, James havia criado a teoria que Lily passava o feriado em algum país do hemisfério sul.

Ela também havia dito que morava em um lugar grande que abrigava mais de cem pessoas, e James perguntou se era um orfanato – Lily não respondeu.

— Até onde eu sei, eu tenho dezesseis meios-irmãos por parte de mãe, e uma meia-irmã por parte de pai.

E saiu, deixando-o de boca aberta atrás de si.

Naquela noite, Lily esperou Nico aparecer com uma corda em suas mãos.

— É o seguinte, Di Angelo – ela disse assim que o moreno apareceu – Ou você me explica o que está acontecendo ou eu ou te amarrar aqui pela noite inteira se for necessário.

O garoto a olhou firmemente, os olhos negros a avaliando, até ele cruzar os braços.

— Você e Will Solace – ele disse – O que aconteceu entre vocês?

Lilian estava completamente confusa. De tudo que havia pensado que pudesse estar irritando Nico, Will nunca havia sido uma possibilidade.

— Ele é meu amigo – respondeu – Eu já estava no Acampamento quando ele chegou, e ele sempre mostrou habilidade com medicina, então ajudou Quíron a fazer meu remédio...

— Ok, mas vocês já namoraram, não é? – Nico interrompeu, levantando a sobrancelha.

— Não! – Lily respondeu na defensiva – Bom, nós nos beijamos algumas vezes, porque a gente nunca tinha beijado ninguém antes, mas isso faz anos.

Nico ainda a olhava desconfiado, e Lily finalmente entendeu o que Nico queria dizer, sentindo-se idiota por nunca ter percebido antes.

— Você não precisa se preocupar – a ruiva disse – Eu fui a única menina que ele beijou e não significou nada. Ele é super gay.

Ele revirou os olhos e sentou no chão, ainda um pouco emburrado.

Lily havia se conectado com Nico desde que ele entrou no Acampamento, e conhecia praticamente todos os lados do garoto. Era como se uma parte de Nico pertencesse a ela, e uma parte dela pertencesse a ele. Durante a guerra contra Cronos, quando uma coluna gigantesca caiu em cima de Lily, a prendendo ali sem mal conseguir respirar direito, seus amigos não lembraram dela – estavam todos ocupados dançando com os deuses, comemorando a vitória, e foi Nico quem sentiu o quão perto ela estava de morrer e foi atrás dela. Se não fosse por ele, se tivesse chegado apenas dois minutos depois, Lilian teria morrido. Mesmo com toda a história entre os dois, com todos os anos que passaram juntos, Lily nunca havia percebido o interesse do amigo por Will – sabia que ele gay, era um tanto óbvio, mas pensava que ele gostasse de Percy. E Lilian definitivamente não conhecia esse lado ciumento de Nico.

— Eu gosto bastante dele – Nico disse, e sua voz estava mais calma, um pouco envergonhada – Mas ele está sempre inventando motivos para manter em segredo, mal fala sobre namoro. Eu pensei que talvez ele ainda gostasse de você ou algo assim.

— A mãe dele não sabe sobre ele – Lily explicou, tomando cuidado para não falar mais do que deveria – Will é o tipo de cara que quer apresentar o namorado para a família, que quer ter cinco filhos ou mais e ter sua casa lotada no natal. Ele não vai namorar até conseguir se assumir para a mãe.

— Esse é o lado bom de eu não ter mãe – Nico disse em tom de brincadeira, mas não sorriu – Eu não gosto de ser mantido em segredo assim.

— Então deveria conversar com ele, não comigo.

Ele ficou em silencio, como se concordasse, mas Lily sabia que dificilmente Nico conversaria com Will. Ele simplesmente não sabia como conversar sobre família, e não era o tipo de garoto que as mães gostam, e não tinha nada que Lily pudesse falar para convence-lo a conversar com Will, o que era uma pena, pois o filho de Apolo iria gostar de saber o quão interessado Nico estava.

— Eu não devia ter descontado a raiva em você – ele disse.

Lily deu de ombros, não se importando muito.

— Um aluno... James – ela começou – Ele sabe algumas coisas sobre mim. Ele te viu quando veio me chamar para a guerra e escutou eu desabafando outra noite...

— E você quer contar para ele – Nico completou, a olhando de canto e então sorrindo – Hm, você quer pegar ele, não quer?

Ele riu quando o rosto dela corou, desviando o olhar.

— Antes tinha mais semideuses que eram bruxos – ele continuou, agora sério – Mas os bruxos mataram todos, simples assim. Não aceitavam alguém tão forte que não fosse puro-sangue e a maioria não era, então os sequestravam enquanto dormiam e queimavam, da mesma forma que a igreja queimava as bruxas.

— Como sabe de tudo de isso?

— Hades fala bastante – respondeu, e então se ajeitou para sentar virado para ela – Olha, se você quer contar, tudo bem, só tenha certeza que ele não vai te queimar viva depois.

James nunca a machucaria, foi a primeira coisa que Lily pensou, mas não disse nada. Sentiu o chão estremecendo e olhou questionadora para Nico, achando que talvez ele estivesse tentando invocar algo grande ou algo assim.

— Não foi eu – respondeu, e fechou os olhos por um instante – Tem uns caras encapuzados atacando aqui. Tem muita gente morrendo.

Nico, como filho de Hades, conseguia saber fácil o que acontecia de noite – se tivesse sombras por perto, ele conseguia ver e ouvir ao se concentrar o suficiente. Lilian estava um pouco confusa, mas disse que se encontravam depois e correu até o campo de quadribol, onde James havia avisado que estaria planejando as jogadas do time. Ele sempre sabia o que estava acontecendo e como se meter bem no meio da confusão, e era isso que Lily precisava.

— James! – Lily gritou, o encontrando bem a tempo. Ele já estava com os outros três marotos e o olhar de determinação do quarteto dizia que ele já estava em seu caminho para a luta – Me leva contigo.

— Você precisa ficar com os alunos, Evans – James respondeu, e o uso do sobrenome da garota apenas a irritou.

— Você vai me levar contigo – ela disse, seu charme preenchendo cada palavra, e os marotos não tiveram escolha.

Eles andavam rápido, e Lily não teve tempo de prestar atenção no caminho que a levou para a Dedos de Mel.

— Ninguém se afasta, ok? – Sirius disse, antes que eles pudessem sair da loja – Vamos ficar perto um do outro, assim a gente pode se ajudar caso algo aconteça.

Os meninos concordaram rapidamente, e por mais corajosos que eles haviam sido ao fugir da escola para ajudar os moradores de Hogsmeade, Lilian percebeu como ficaram com medo ao chegar no local e ouvir os gritos. Com a varinha em uma mão e sua adaga na outra, Lily foi em direção a porta. Antes que pudesse abrir, um Comensal entrou na Dedos de Mel, sua identidade protegida pela máscara e capuz que usava. Instintivamente, Lily enterrou sua adaga no coração do Comensal. Era mais fácil matar quando não conseguia ver o rosto do inimigo.

Por mais que Lily quisesse, não tinha tempo para forçar os garotos a voltar ao castelo. O cheiro de pele carbonizada invadia a Dedos de Mel, e Lily sabia a diferença que conseguiria fazer na luta – ela não podia ser atingida, não podia ser machucada.

Com receio de olhar o rosto dos amigos e descobrir o que pensavam dela agora que sabiam a assassina que Lilian era, a garota apenas saiu da loja sem olhar para trás.

As ruas de Hogsmeade estavam cheias de corpos dos comerciantes locais, e Lily pode encontrar vários professores de Hogwarts lutando bravamente. Tudo estava em chamas, e o cheiro da morte tomava conta do local.

Era fácil lutar quando Lily sabia que eles não podiam machuca-las com feitiços. Ela conseguia estupora-los e petrifica-los, e enfiava sua adaga em seus pescoços, sem precisar desviar de feitiço nenhum.

Ela já não sabia onde os marotos estavam. Talvez estivessem perto dela, mas Lily não fazia ideia, não parava para tentar reconhecer rosto nenhum – se estava encapuzado, ela matava e era simples assim. Quanto mais Comensais Lilian matasse, mais fácil seria quando fosse atrás de Voldemort, e mais vidas ela salvava.

Uma explosão estremeceu o lugar, como um pequeno terremoto, e Lily instintivamente correu em direção a origem do barulho.

Em frente os portões devidamente fechados de Hogwarts, um único homem balançava sua varinha em direção a Hogwarts – seus feitiços açoitavam a barreira de proteção de Hogwarts, causando explosões que estremeciam o castelo.

Ao seu redor, trinta Comensais ou mais observavam seu mestre tentar quebrar a proteção que Hogwarts oferecia. Lily se escondeu atrás de uma arvore, pensando no que faria a seguir – havia uma distância de vinte metros ou mais entre ela e os Comensais. Assim que fosse avistada, tentariam matá-la com feitiços, mas em quanto tempo perceberiam que isso não iria funcionar nela? Quanto tempo demoraria para segura-la e tirar sua adaga? Lilian era uma ótima guerreira, mas não conseguiria ganhar de mais de trinta homens. Não de perto, pelo menos...

Lily tirou o anel que usava em seu anelar, que se transformou em um arco. Sentiu sua aljava cheia de flechas em seu ombro e pegou uma, mirando em um dos Comensais que estava mais próximo de si – com tantas cabeças a atrapalhando, não conseguiria uma boa mira de Voldemort, mas não tinha problema. Ela mataria um por um até chegar nele.

Soltou sua flecha e se escondeu atrás de outra arvore que contornava o local. Sua flecha atingiu a garganta do Comensal, que não conseguiu gritar e caiu do chão. Voldemort lançava outro feitiço e seus seguidores estavam muito impressionados para notar o colega caído.

Respirando fundo, Lily continuou soltando suas flechas. Quando o terceiro corpo caiu, perceberam que havia algo errado – um pequeno grupo entrou na fileira de arvores onde Lily se escondia. Eram apenas três Comensais que não teriam chance alguma contra a garota – assim que passaram pela arvore em que ela se escondia, Lily lançou três flechas, uma após a outra, acertando o alvo com precisão. O barulho dos corpos caindo nas folhas secas e galhos atraiu mais atenção, e dessa vez mais da metade do grupo se aproximava. Sentindo-se ousada, Lily subiu o mais discretamente que pode na arvore mais próxima e lançou sua flecha em direção a Voldemort. Lily não se surpreendeu quando o bruxo levantou a mão e sua flecha desacelerou, caindo inutilmente no chão – apenas controlou a névoa para que, se alguém olhasse em cima daquela arvore, não encontrasse nada além de folhas.

Contudo, ninguém tentou olhar.

Dumbledore havia aparecido, sua varinha balançando enquanto andava, reparando a barreira, deixando-a ainda mais forte do que já estava. Conforme o bruxo de aproximava, Voldemort parecia ficar mais inseguro. Dumbledore parecia furioso com o ataque, andando em passos largos, e Voldemort não teria muita chance contra a fúria do bruxo.

Demônios fogem quando um homem bom vai a guerra”, Lily se lembrou da frase que Quíron havia dito durante um de seus treinamentos, olhando Voldemort desaparecendo em uma nuvem de fumaça negra, sendo seguido por seus Comensais.

Lilian poderia tentar voltar para as ruas de Hogsmeade onde sabia que haveria várias pessoas feridas, mas a garota sabia que suas habilidades com feitiços de cura eram limitadas, seriam praticamente inúteis considerando o quão ferido os bruxos estavam. Lily atravessou os portões de Hogwarts sem nenhum problema, passando pela proteção que Voldemort havia se esforçado em tentar derrubar como se não existisse – se o bruxo também fosse semideus, já teria derrubado o castelo bloco por bloco.

— Você não deveria ter saído do castelo – Dumbledore disse quando viu a garota se aproximando.

Não tinha muita repreensão em seus olhos. Ele ainda não sabia que os feitiços a atingiam, mas sabia que Lily conseguia se defender muito melhor que qualquer outro aluno e que precisavam de ajuda em Hogsmeade.

— Eu fui útil – ela respondeu, como se isso justificasse tudo.

Lilian estava imunda com todo o sangue que havia a sujado, mas o diretor não pareceu notar, ou então não se importava, andando ao seu lado.

— Como conseguiu entrar? – ele perguntou – A barreira deveria ter te impedido.

— Eu só entrei – ela respondeu, sem querer realmente parar para explicar, e o diretor aceitou a resposta.

Eventualmente, cada um foi para uma direção e Lily achou melhor usar a névoa para se camuflar toda vez que um professor aparecia. Encontrou os marotos recebendo uma bronca da professora de astrologia, e eles estavam bem, sem nenhum arranhão. Provavelmente receberiam detenção por fugir do castelo, mas estavam tão acostumados a receberem detenções, que Lily sabia que eles não se importariam.

Em seu quarto, Lily tomou um banho longo, tirando todo sangue, toda a sujeira, todo o estresse, e então se enrolou em uma toalha e estava indo para seu quarto quando alguém abriu a porta do banheiro.

James parou de andar quando a viu, os olhos castanhos contornados com raiva. Lilian não sabia o que havia feito de errado para receber aquele olhar.

— Você estava matando – James disse, sua voz cheia de indignação.

Lilian abraçou a toalha contra seu corpo, sentindo-se extremamente exposta. Sem responder, Lily passou por James, indo para seu quarto. O maroto a seguiu.

— Você nem hesitava! – ele disse – Você já fez isso antes?

Ela não entendia a reação. Percy havia reagido da mesma forma quando ela contou sobre quantos semideuses precisou matar na guerra contra Cronos. O que eles esperavam, afinal? Mas quando olhava para trás, se lembrava do quão horrorizada havia ficado consigo mesma e como demorou para conseguir aceitar que estava tudo bem, que fez o que precisava.

— O que você queria, James? – Lily perguntou, virando-se para o moreno. Não tinha raiva em sua voz, apenas pura curiosidade – Me diz, o que eu deveria fazer quando um Comensal da Morte vem tentar me atacar?

— Você os estupora, você os petrifica, você não mata, Lilian! – James passou a mão nervosamente por seu cabelo – Você não pode se igualar a eles.

— Nada disso é permanente – ela respondeu – Enquanto você está estuporando, eles estão matando nossos amigos. O efeito dos seus feitiços passa e eles voltam para nos atacar de novo e de novo, enquanto a gente só morre.

Percy havia ficado tão indignado quanto James, e Lily não culpava nenhum dos dois. Antes de se ver obrigada a matar pela primeira vez, ela também dizia que nunca cometeria tal atrocidade. Até Lily ver aquele semideus enorme decapitar Lara em um único golpe – a pequena era filha de Hermes e tinha apenas doze anos, mal sabia lutar direito. A cabeça de Lara mal havia caído no chão e o semideus já estava indo em direção a sua próxima vítima, outra criança. Lily correu para proteger o pequeno filho de Demeter, e tentou de verdade apenas nocauteá-lo para o prender em algum lugar, mas no fim não teve muita escolha – era assim durante guerras, matar ou ser morto. Depois dele, Lilian tirou a vida de mais onze semideuses, e em todas as ocasiões, não tinha outra escolha.

James abriu e fechou a boca algumas vezes, pensando em como fazer Lily entender o que ele sentia. A ruiva pegou um vestido e o vestiu por cima da toalha, a puxando por baixo em seguida, e sentou em sua cama, gesticulando para que James sentasse ao seu lado. Devagar, ele fez o que ela havia pedido. Thomas se aproximou para se esfregar nas pernas da dona.

— Quando eu era pequena, eu brincava todos os dias com Petúnia no parque perto de casa – Lily disse, suas mãos brincando com a barra de seu vestido – Nós passávamos a tarde inteira lá, do horário do almoço até nosso pai ir nos chamar para jantar. Um dia depois do meu aniversário de oito anos, ninguém foi nos chamar quando escureceu. Nós fomos para casa e estava em chamas, James, com a marca dele no céu. Meus pais morreram no incêndio.

O maroto segurou a mão de Lily, que agora torcia nervosamente o tecido fino de seu vestido. Thomas mordia seu calcanhar, extremamente ofendido por ela ter mexido o pé.

— Não foi sua culpa.

Lily sorriu para ele, agradecida pela tentativa de consolo.

— Eu sei que não foi – disse – Eles não sabiam que eu era bruxa, e eu só fui fazer a conexão com Voldemort três anos depois. Foi só um ataque aleatório em uma residência trouxa. Eles morreram por nada. Petúnia se tornou órfã por nada. Eles tiraram nosso lar e eu precisei morar na rua por uns meses, tudo sem motivo algum. Só para eles mostrarem que podiam nos matar, que os bruxos eram superiores. Por isso eu não hesito em mata-los. Eles nunca hesitariam se fosse ao contrário.

— Mas você já matou antes – a voz estava mais calma, incentivando Lily a continuar falando.

— Já, mas não eram Comensais – ela disse – Eram adolescentes, pessoas da minha idade ou pouco mais velhas. Alguns eu conhecia e esses foram os mais difíceis. Eu não sei o nome de todos, mas eu sempre vou lembrar o rosto de cada um.

Lilian olhou para James e o rosto do amigo não mostrava emoção alguma. Era diferente da máscara que ele costumava usar – era como se ele realmente não soubesse o que sentir diante das revelações.

— Eu fui treinada para ser uma guerreira, James, e isso vai além de lutar contra vilões muito malvados e ser honrosa o tempo todo – Lily balançou a cabeça, pensando no quanto James conseguia ser parecido com Percy as vezes, e quando voltou a falar, parecia estar conversando mais consigo mesma do que com o maroto ao seu lado – Vocês romantizam o que um guerreiro realmente é, como se fosse aquele cara legal que tem princípios fortes e nunca faria nada de errado. Como se o mundo fosse dividido em pessoas boas e ruins, preto e branco, e as pessoas boas nunca podem fazer nada de errado. Eu fui treinada para matar, me ensinaram como atingir os pontos certos para que a pessoa morresse rápido e sem muita dor. Me ensinaram como respeitar a morte e olhar nos olhos o tempo inteiro, para que a pessoa não se sentisse sozinha no final. Me ensinaram como evitar o assassinato, mas também como reconhecer quando for a única opção.

— Você não parecia pensar tanto assim hoje – James disse de forma julgadora, mas pela forma que ele apertou o maxilar em seguida, Lily soube que não era algo que ele queria ter falado, apenas escapou.

— É muito mais fácil matar quando eles usam máscara – ela disse, não se importando com a reação do maroto – Você não consegue ver a expressão que eles fazem, e eventualmente você acaba esquecendo que são indivíduos, sabe? Todos usando a mesma roupa, a mesma máscara, o mesmo capuz... Essa extração da individualidade facilita muito. Sem contar que não tem um bom motivo para eles estarem ali, é puro preconceito. Não tem história triste por trás que faz você pensar no lado deles e sentir aquele remorso, e tentar ajudar. Eles matam e torturam apenas porque podem, para mostrar como são superiores. Todos os Comensais que você poupou hoje vão matar pessoas inocentes. Talvez seja a varinha de um deles que vai matar algum dos seus amigos, algum dos parentes. Você não pode me julgar por mata-los, sendo que cada Comensal morto significa dezenas de vidas salvas.

Eles ficaram em silencio, e Lily soube que James a entendia. Enquanto protegidos dentro de Hogwarts, acabava sendo difícil lembrar o quão cruel o mundo fora do castelo poderia ser. James ainda não havia perdido ninguém nessa guerra, e Lilian torcia para que ele conhecesse tal dor. Quase três anos haviam se passado, e Lily ainda chorava de noite ao lembrar de Silena.

Sua perna estava sangrando e ela pegou seu gato no colo, segurando as patinhas para que ele não arranhasse seu rosto – nunca havia conhecido um gato com tanto ódio.

— Quando você vai me contar? – James perguntou, e Lily sabia bem ao que ele estava se referindo.

Quando ela contaria seu segredo? Honestamente, Lily poderia contar ali mesmo para ele. Já havia decidido que contaria de qualquer forma e nunca haveria momento certo.

Mas como falaria? Como o faria acreditar? “Eu sou filha de Afrodite” parecia uma frase meio ridícula, e Lily se orgulhava de verdade da mãe que tinha, e sabia o quão poderosa ela era, mas no fundo era difícil não se envergonhar – qualquer um que visitasse o chalé de Afrodite entenderia o sentimento de Lilian. Seus irmãos eram horríveis, tão superficiais que a assustava.

Quando Quíron contou para Lily sobre os deuses, a garota tinha apenas oito anos e sabia que tinha algo de errado em sua vida, então foi muito mais fácil acreditar. James logo completaria dezessete anos, e, puro sangue, julgava já conhecer o mundo como realmente era.

Então Lily começou devagar. Falou sobre a mitologia grega, perguntou o quanto ele acreditava nos mitos, e disse sobre como os deuses ainda existiam, como eles se relacionavam com mortais. Contou tudo da forma mais resumida possível, mas com detalhes o suficiente para ele acreditar. Precisou tomar cuidado para não usar o charme em momento algum – ela queria que ele acreditasse de verdade, e não que fosse obrigado a acreditar.

Quando terminou, James passou a mão pelo cabelo, tentando fazer sentido de tudo que havia escutado. Lily sabia o quanto ele era bom em ler o que a garota sentia, e Lily torceu para que James enxergasse em seu rosto como ela estava falando a verdade.

— E você é filha de um deus? – James perguntou.

— De uma deusa – Lily corrigiu, mordendo nervosamente o lábio inferior – Eu sou filha de Afrodite.

Lilian viu muito bem o olhar de James diante da revelação. Aquele olhar de “é claro que você é”, como se tudo fizesse sentido, e Lily sentiu o coração apertar ao pensar em ser padronizada por James também.

— A deusa da beleza, é claro – ele disse, balançando a cabeça – É muita coisa para acreditar. Seu poder é o que, ser bonita?

Lily cruzou os braços, desviando o olhar, e Thomas pulou de seu colo, saindo do quarto. Não era culpa de James, mas Lily se irritava mesmo assim. Ele já não sabia que ela era muito mais que bonita? Que era esperta e habilidosa, que sempre dava tudo de si no que fazia?

— Eu consigo saber exatamente o que qualquer um sente, se eu quiser, e eu consigo influenciar qualquer sentimento de amor ou desejo – Lily disse – Eu consigo te convencer a fazer o que eu quero só com minha voz. Eu consigo alterar sua percepção da realidade, te fazer ver coisas que não existem.

Para provar o que dizia, Lily respirou fundo, se concentrando no garoto ao seu lado. A névoa era cada vez mais fácil de manipular, e tudo que Lily precisou fazer foi imaginar as paredes do quarto derretendo rapidamente, virando lava, que se aproximava em ondas borbulhantes da cama que estavam sentados.

James ofegou, olhando impressionado para o quarto e se Lily não tivesse avisado sobre seu poder, ela tinha certeza que o garoto estaria em completo desespero.

Quando a lava iria atingir a cama, Lily imaginou todo o liquido se transformando em flores, e uma grande rosa crescia rapidamente em frente a James. Quando ele levantou a mão para pegar a rosa, Lily resolveu parar e em um segundo o quarto estava de volta ao normal, como se fosse apenas uma alucinação que havia passado. Esse poder não era proveniente da sua mãe, e sim da ligação forte que tinha com Hecate, mas era dela de qualquer forma.

James a olhava maravilhado e Lily sabia que sua mensagem havia sido passada: “Eu sou bonita, mas sou muito mais que isso”.

— Eu quero conhecer o Acampamento – James pediu, os olhos brilhando.

Era como se ele tivesse usado charme nela, pois Lily não conseguia dizer que ele não poderia. Como falaria não quando ele a olhava com tanta empolgação, os olhos cintilando de uma forma que Lily nunca havia visto?

Então ela prometeu que iria tentar.


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