Resilience escrita por Aurora


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Eu juntei o cap 6 e 7 aqui, então vai está maior que o normal. Boa leitura :D



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James Potter era o novo monitor-chefe.

Era uma honra enorme, é claro, mas não era algo que o garoto queria. Foi uma grande surpresa, considerando que ele nunca havia sido monitor, mas quando a carta chegou em sua casa, ele não pode evitar de sentir um certo orgulho.

Talvez ele fosse se sentir melhor com o título se McLaggen não fosse monitor também.

James o odiava. Odiava a forma como ele andava segurando a cintura de Lily, como se a garota fosse algum tipo de propriedade. Odiava quando ele piscava para James após beijar a garota, o provocando. E o que ele mais odiava era a forma como o corvino olhava Hestia Jones, quando tinha Lilian Evans do seu lado.

Era triste ver Lily conversando tão animada com McLaggen, os olhos brilhando enquanto, provavelmente, falava sobre alguns dos fatos completamente aleatórios que ela sabia – e seu namorado, que estava andando ao lado da garota, encarava Hestia andando na frente do casal. Quando a reunião dos monitores havia acabado, Jones estava esperando do lado de fora da cabine e disse para Lily que precisava conversar com McLaggen – foi então que James teve a certeza que Lily estava sendo traída.

Como um cara que tinha Lily sequer olhava para outra menina?

Evans era simplesmente linda, não tinha comparação com nenhuma outra garota. Ela tinha algo, como uma energia, que fazia ser tão difícil parar de olha-la. Quando ela pedia qualquer coisa, com aquela voz e aquele sorriso, era impossível negar. Ela deixava James na beira da loucura ao tentar resisti-la – e James não sabia por quanto tempo conseguiria continuar a resistindo.

Conferindo que ninguém estava olhando, James vestiu sua capa de invisibilidade e seguiu Hestia e McLaggen.

Eles estavam indo para o fundo do trem, onde ficavam as cabines mais vazias, e antes mesmo de fecharem a porta, já estavam aos beijos.

James sentiu uma mistura de nojo e tristeza ao ver a cena – ele pensou que talvez fosse sentir-se um tanto vitorioso, já que aquele seria o fim entre o casal que ele odiava tanto, mas só de pensar em como Lily iria se sentir ao descobrir fazia o coração de James se apertar de forma dolorosa.

No corredor vazio, o maroto tirou a capa rapidamente e abriu a porta recém fechada da cabine.

— Oh – ele disse, fingindo surpresa – Pensei que estaria vazio.

McLaggen foi o primeiro a pular longe de Hestia, deixando a surpresa e o medo transparecer em seu rosto por menos de um segundo, antes de fingir indiferença. Hestia estava surpresa também e um pouco corada, mas James viu claramente a satisfação da garota em ser pega – ela queria que Lily descobrisse.

— Sem problemas – McLaggen disse, a voz casual – Eu já estava saindo mesmo, Lily está me esperando.

Ele pensava que James não havia visto os dois se beijando, pensava que havia sido rápido o suficiente. Pensava que iria escapar tão fácil.

Quando tentou passar por James para sair da cabine, o maroto segurou o braço do seu rival, forçando-o a parar e olha-lo.

— Se você não terminar com ela, eu conto – a voz soou mais tranquila do que James pensou que soaria, mas seu rosto sério não deixava dúvidas de que ele estava falando sério.

James sabia que não era seu lugar, mas a curiosidade falava mais alto – esperou Hestia sair e voltou a colocar sua capa, ficando do lado de fora da cabine onde McLaggen havia acabado de entrar para conversar com Lily.

— Eu não quero te machucar, Lily – James o ouviu falando, a voz abafada pela porta fechada – Mas nós precisamos terminar, não está mais dando certo.

Houve um momento de silencio, e James sabia que Lily sentia que algo estava errado – ela tiraria a verdade do corvino.

— Me fala a verdade – ela pediu, a voz autoritária e, ao mesmo tempo, gentil.

Quando ela pedia algo, era impossível negar, e McLaggen contou sobre como estava a traindo com Hestia desde o natal passado – quase nove meses atrás.

— Ela não significada nada para mim, Linda – ele tentou se desculpar, mas James sabia que usar o apelido apenas a deixaria mais brava.

Linda Lily era o apelido que o professor Slughorn havia dado para sua aluna preferida. Era um apelido pouco original, mas não demorou para a escola o adotar, para a infelicidade de Lily, que havia o odiado, mas era muito gentil para admitir.

— Ela era só um meio de aliviar a pressão, entende? – McLaggen continuou – Você sabe como eu te amo.

— Então você me traiu porque eu não queria transar? – Lily perguntou e James pode ouvir claramente a raiva na voz da garota.

— Eu também tenho necessidades, Evans – ele disse, parecendo estar se irritando – Você vinha e me deixava com vontade e então ia embora, e isso me deixava louco! O que você esperava?

James ouviu o barulho abafado que, após tantos anos com os marotos, reconhecia bem como um soco bem dado. Tirou a capa de cima de si e entrou na cabine, a varinha em mãos, pronto para atacar McLaggen.

Mas o que acontecia não era o que James esperava – era McLaggen quem estava com a boca sangrando, a mão massageando o rosto recém atingido.

Presos no momento, nenhum dos dois havia visto James entrar. Lilian encarava o ex-namorado com desprezo e suas mãos tremiam.

— Você é louca – McLaggen disse alto e bravo, indo para cima de Lily.

Antes mesmo de James pensar em agir, Lily já havia segurado a mão que ele levava em direção ao seu pescoço, mas não o atacou de novo – apenas o segurou, o olhar tão firme quanto sua mão. Ambos garotos pareciam momentaneamente estupefatos com a força que ela tinha.

— Acho melhor você sair – James se pronunciou pela primeira vez desde que havia entrado, e só então perceberam que ele estava ali.

A contra gosto, o corvino saiu da cabine, dando de cara com o corredor congestionado de alunos que assistia a cena. Não demorou para abrirem espaço para ele, que sumiu rapidamente.

James fechou a porta e a cortina, e jogou um feitiço abafador para que ninguém escutasse nada.

— Por que você está aqui? – Lily perguntou, seus olhos brilhando com a ameaça de chorar a qualquer momento.

— Eu achei que ele havia te batido, então eu entrei – respondeu, como se isso explicasse.

Por que você está aqui? – ela repetiu a pergunta, sua voz aumentando – Por que você sempre está aqui?

E James entendeu o que ela estava perguntando. Por que ele estava sempre por perto quando ela estava mal? Como ele sabia quando aparecer? E, o que parecia ser a maior pergunta não dita: Por que ele se importava?

— Eu posso sair, se quiser – James respondeu, e pela forma que Lily abriu a boca para responder e a fechou em seguida, James soube que ela havia entendido o que ele realmente queria dizer.

Eu posso sair da sua vida, se quiser. Eu posso parar de me importar, se quiser. Eu posso te deixar em paz, se quiser.

Se quiser.

Mas Lily sentou e apoiou a cabeça em suas mãos, e James entendeu. Ela não havia o mandado embora, mas não havia dado qualquer abertura – estava esgotada demais para tomar qualquer decisão.

Eles ficaram sentados ali por boa parte da viagem, sem trocar qualquer palavra, até Lily dormir. Primeiro, a ruiva encostou no ombro de James, mas minutos depois sua cabeça repousava no colo do garoto, as pernas dobradas para encaixar no pequeno assento que a cabine oferecia.

Para James, Lilian era um livro aberto, fácil de ler as emoções que passavam pelo rosto da garota. Mas não era o suficiente, pois ela continua sendo um completo mistério. Desde o incidente no quarto ano, James não conseguia parar de pensar nos segredos que ela poderia estar escondendo. E no quinto, quando ela desabafou com o cervo sem saber que era James, o maroto não pode deixar de pensar em como nenhuma criatura os perturbou a noite inteira – era difícil passar minutos na Floresta Proibida sem serem atacados, a noite inteira parecia ser impossível.

James passou o dedo indicador pela bochecha de Lily, admirando as pequenas sardas que decoravam o seu rosto. Ela não roncava ou babava enquanto dormia, mas falava baixinho palavras aleatórias e emboladas de vez em quando, em seguida sorrindo ou fazendo um biquinho ou franzindo as sobrancelhas como se estivesse brava. Era tão linda que não parecia ser real. Como um ser humano poderia atingir tal nível de perfeição?

James só queria que ela se abrisse com ele, queria saber os segredos que ela escondia tão bem e queria protege-la de tudo. Mas por que ela deveria contar qualquer coisa para o maroto? Ele não era ninguém significativo para ela, além do responsável por ela perder seu melhor amigo.

Quando já estava escurecendo, James percebeu que ninguém havia ido a procurar.

Lilian dividia o dormitório com mais três garotas e tinha colegas em todos os anos, mas ainda assim nenhuma havia passado pelo menos para perguntar se ela estava bem. E não é como se elas não estivessem sabendo, considerando a quantidade de alunos que havia presenciado parte da briga.

Lily merecia ser tratada melhor – ela sempre ajudava as amigas quando precisavam, mas nenhuma aparecia por ela. Foi só então que James percebeu o quão sozinha ela realmente era.

Cedo demais, o trem parou, e James a balançou para que acordasse.

— Oh, me desculpa – ela murmurou ao perceber que havia dormido em seu colo.

Ela levantou e se espreguiçou.

— Você fala enquanto dorme – James informou, observando-a pegar sua mochila e puxar uma cartela estranha de dentro.

— Pelo menos eu não ronco – respondeu, tirando uma pílula da cartela e a engolindo. Percebendo que o garoto a observava, ela corou levemente, guardando a cartela – É remédio.

Quando ela não explicou para que servia o remédio, James achou melhor não perguntar. Pela expressão, ela não se sentia à vontade com o assunto.

— Sobre você ser o novo monitor-chefe... – Lily disse, parando na porta do compartimento – Parabéns.

Era a primeira a parabeniza-lo. Seus amigos haviam odiado a notícia, e todos os outros reagiam apenas com surpresa e choque.

Foi ali que James decidiu que a conquistaria.

Faziam quase três anos que Sirius havia ficado com ela, ele não poderia se irritar com o amigo por ir atrás da garota que sempre deveria ter sido de James – era assim que ele pensava, como se fossem destinados um para o outro. Tinham que ser, apenas isso explicaria o magnetismo que o puxava em direção a Lilian, a forma como ele nunca a superava, e Merlin sabe como ele havia tentado.

No fim daquele ano, eles estariam juntos, James tinha certeza.

— Você ouviu que Lily está solteira? – Sirius perguntou quando o encontrou saindo do trem – Nós vamos voltar esse ano, Prongs, eu tenho certeza.

Talvez James estivesse errado.

***

Nico estava atrasado.

Lily andava impaciente, girando sua adaga, enquanto esperava o filho de Hades. Eles haviam marcado de se encontrar meia noite, e Lily já estava o esperando por pelo menos trinta minutos.

Os encontros semanais com Di Angelo faziam parte do plano de sua mãe, que queria que ela estivesse em sua melhor forma para quando o momento chegasse.

Não era um plano muito elaborado, Lily admitia, mas havia gostado mesmo assim.

Era bem simples: Lilian mataria Lorde Voldemort.

Sua mãe havia explicado sobre as horcruxes do bruxo, e Lily sabia que teria que correr contra o tempo durante o recesso de natal para conseguir encontrar todas e as destruir – ela poderia deixar para fazer tudo após concluir Hogwarts, mas estava com pressa para fazer algo, e se conseguisse levar os objetos para serem destruídos na escola, saberia que seria mais seguro. Não existia lugar mais seguro para os bruxos que Hogwarts.

Como destruía horcruxes? Lily não sabia – sua mãe disse que não poderia simplesmente dar o passo a passo do que fazer para ela, o que a ruiva considerava um absurdo, já que era culpa dela que a garota se encontrava naquela posição.

Depois de destruí-las, Lily teria que ir atrás do bruxo e mata-lo.

Como o encontraria? Lily não fazia ideia.

Como o mataria? Lily tinha muitas ideias.

— Desculpa o atraso – Nico disse, após sair de dentro de uma sombra. Sua espada já estava em sua mão, e, sem perder tempo, o garoto deu uma investida contra Lily, que se defendeu a tempo – Eu estava ocupado.

— Da próxima vez, tenha a educação de avisar – Lily respondeu, se afastando para prender o cabelo. Ele a olhou irritado – O que? Eu posso esperar meia hora por você e você não pode esperar eu prender o cabelo?

Nico devia ter brigado com o pai ou algo do tipo, porque estava furioso. Assim que Lily gesticulou que estava pronta, ele a atacou sem misericórdia, e os dois duelaram pelo o que pareceram horas. Nico invocava esqueletos de bruxos que haviam morrido na Floresta para ajuda-lo e Lily usava a névoa para distorcer a realidade ao redor do garoto.

Quando os dois estavam ofegantes e cobertos de suor, resolveram parar.

— Quer me contar o que aconteceu? – Lily perguntou, ainda recuperando o fôlego.

Nico revirou os olhos, cruzando os braços de forma defensiva.

— Não é nada, eu só estava atrasado – ele resmungou.

Lilian guardou sua adaga e deu um próximo mais perto do garoto, querendo conversar, mas assim que Nico percebeu que não seria deixado em paz, foi embora sem nem se despedir.

— Mal educado – resmungou, irritada com a fuga do amigo.

Respirando fundo, Lily voltou para o quarto dos monitores.

Uma das grandes vantagens de ser monitora-chefe, era que Lily tinha um Salão Comunal só para si. O nome não era esse, mas tinha tudo que o Salão Comunal da Grifinória tinha – a lareira, sofás e poltronas, escrivaninha, e ainda tinha um pátio com uma pequena piscina. Lily, assim como James, tinha um quarto só para si, mas eles precisavam dividir o banheiro, que tinha dois chuveiros separados com uma grande banheira entre eles e pia dupla, dificultando brigas por culpa do banheiro.

James já estava dormindo e Lily tomou cuidado para não fazer barulho e acorda-lo. Tomou seu banho e, ao sair, hesitou antes de se enrolar na toalha – o espelho chamava sua atenção e Lily parou para observar seu reflexo.

Seu cabelo acobreado sempre chamava atenção. Era mais brilhante que o normal, completamente hidratado, mesmo que Lily não passasse muito tempo cuidando dele. O cheiro de qualquer condicionador ficava em seu cabelo até a garota lavar novamente. Era o cabelo perfeito.

Sua pele era macia e suas sardas eram claras, só podendo ser vistas de pertinho, e Lily mal precisava usar perfume – sua pele tinha um cheiro natural de morangos, cortesia de Afrodite. Nunca havia dito uma espinha ou cravo sequer, sua pele nunca ressecava e nunca ficava oleosa. Era a pele perfeita.

Seus olhos eram um dos principais alvos de elogio – suas íris verdes costumavam variar a tonalidade. Silena sempre dizia como o verde ficava mais claro quando Lily estava feliz e como escurecia rapidamente quando a garota ficava brava. Eram perfeitos.

Seu corpo era magro e atlético, mas Lily não era musculosa. Tinha os seios razoavelmente grandes, seu quadril era perfeitamente proporcional, não tinha gordura alguma no corpo inteiro e Lily conseguia usar qualquer roupa com perfeição.

Então Lilian sabia que era bonita – era algo difícil de não saber, principalmente com a quantidade de elogios que recebia. Ela sabia que irradiava esse magnetismo que fazia os homens a enxergarem de forma exagerada, por ser filha de Afrodite, mas se a olhasse por tempo o suficiente, esse encanto passava.

Sem esse encanto, ela não era muito mais bonita que outras garotas de Hogwarts. Seus olhos eram expressivos demais, sua pele era manchada com sardas, seus lábios eram finos, seu rosto era redondo e sua altura não era nada invejável.

Hestia era alta. As madeixas castanhas traziam um ar mais maduro para o rosto fino, com as maçãs desenhadas e sem nenhuma pintinha sequer. Hestia era naturalmente bronzeada, tinha os lábios perfeitos e suas sobrancelhas a deixavam mais sexy.

Lilian nem se comparava com Hestia – a morena era mil vezes mais bonita, era uma ótima jogadora de quadribol, tinha um humor ácido e sempre sabia o que falar perto dos garotos. Quando parava para pensar, não era tão surpreendente que Theo houvesse preferido a morena.

Mesmo sendo filha da deusa da sexualidade, Lily duvidava que conseguiria ser sexy, não era algo que parecia combinar com seu rosto. Ela era bonita e fofa, mas não era tudo isso. Sem o encanto de Afrodite, Lily não tinha nada de especial.

Quem em sã consciência a escolheria?

Uma semana depois, Lily se encontrava novamente esperando Nico, que havia chegado ainda mais irritado e violento.

Não trocaram qualquer palavra, e Lilian precisou ficar na defensiva o tempo inteiro – Nico sempre vinha com força, toda sua raiva concentrada em casa estocada. Lily poderia usar isso contra ele, tentar virar o jogo, mas logo ficou claro que ele não estava lá para ajudá-la. Só queria desabafar e se não conseguia falar, Lily não tiraria aquela forma de alivio do amigo.

— Tem algo vindo – Nico disse eventualmente, guardando sua espada e colocando a mão na cintura enquanto recuperava o fôlego.

Estava sangrando, mas não parecia notar, ou talvez não se importasse – parecia tão bravo que assustava Lily.

— Eu acho melhor você ir, então – Lily disse – Foi bom por hoje.

Sem nem se despedir, Nico se foi. O habito estava começando a irrita-la, e conversaria com ele na próxima semana, nem que tivesse que amarra-lo para isso.

Lily sentou no chão, suada e cansada. A intenção era ser um treinamento e não uma briga de verdade, mas Lily não se importou. Os dois pareciam precisar daquilo, uma forma de aliviar a raiva que sentiam – Nico por algo que a garota não sabia, e Lilian pela raiva que ainda sentia de McLaggen, pela raiva de ter deuses brincando com sua vida.

Ela havia sentido a espada de Nico a atingindo durante a luta, mas só então percebeu o quanto estava sangrando. Seus braços tinham pequenos cortes, onde Nico não havia conseguido aprofundar a espada, e vários arranhões dos esqueletos que a atacavam. Sua coxa esquerda tinha uma laceração grande e funda, e Lily mordeu o lábio para não gritar de dor. Conforme a adrenalina passava e ela tomava ciência de seus machucados, a dor começou a se fazer presente.

Sabendo que poderia se machucar sério, Lily havia levado ambrósia consigo. Quando estava prestes a dar uma mordida, Lilian sentiu uma presença se aproximando por entre as arvores – havia esquecido que alguém estava chegando.

Não alguém. Algo.

O grande lobisomem se aproximou da garota, cheirando o ferimento aberto.

— Você não faz ideia de como está doendo – Lily disse, olhando para o animal, que lambeu seu rosto em resposta – Ouch!

Lily levou a mão no rosto, que havia ardido com a lambida – não havia percebido os arranhões no local.

Pela segunda vez, foi interrompida ao tentar comer a ambrósia – dessa vez por um cachorro enorme, que empurrou o lobo para longe dela e fugiu, sendo seguido pelo lobisomem que agora estava enfurecido.

Lilian começou a se sentir tonta e sua visão estava começando a escurecer – estava perdendo muito sangue. Da próxima vez que encontrasse Nico, faria ele pagar.

Sentiu alguém a levantando, a ambrósia caindo de sua mão, e nem tentou forçar sua visão para descobrir quem era o intruso – com certeza, seria James. Era sempre James.

— Ele te mordeu? – Lily ouviu a pergunta, mas não conseguiu responder. Ele estava correndo com ela no colo, chacoalhando seus machucados, não permitindo que Lily emitisse qualquer som além dos gemidos de dor.

Lilian mal percebeu quando desmaiou, mas quando acordou estava na enfermaria.

— ... disse que estava tão machucada que não teve muito tempo para procurar marcas de mordida – Lily escutou uma voz masculina – Ela admitiu que talvez tenha passado despercebido.

— Eu não a culpo – outra voz disse, e Lily reconheceu como Sirius – A gente a acordou no meio da madrugada, e tinha tanto sangue que mal dava para ver nada.

— Então como vamos descobrir? – era Peter quem havia perguntado.

Lily teria que inventar uma desculpa para o acontecido – estava tão acostumada a mentir, que não demorou para pensar na mentira ideal.

— Ninguém me mordeu – disse, a voz fraca. Seus olhos estavam pesados, então Lily os manteve fechado.

— Lily? – James chamou – Você se lembra do que aconteceu?

— Hm... – a garota resmungou, se irritando com o esforço que precisava fazer para falar. Sua garganta estava seca e dolorida, e Lily desistiu de continuar conversando, se ajeitando confortavelmente na cama.

Se tivesse comido a ambrósia, teria melhorado na hora, voltado para seu dormitório e ninguém saberia de nada.

Ela ouviu Sirius a chamando, cutucando seu ombro. Estavam muito curiosos, não a deixariam em paz.

Juntando a força que tinha, Lily sentou e abriu os olhos. James segurava um copo de água para ela, que bebeu agradecida.

— Tinha um lobisomem lá – ela disse – Mas ele não me machucou, só chegou bem perto.

— Então o que aconteceu? – Sirius perguntou – Você estava péssima, se James não tivesse te encontrado...

Ela teria comido a ambrósia e estaria ótima, Lily pensou e logo sentiu uma pontinha de culpa por ser tão egoísta. Eles estavam assustados e realmente acharam que Remus teria a transformado.

— Alguém me atacou e me deixou na Floresta – Lily mentiu, usando seu charme para convence-los – Eles estavam encapuzados e as vozes modificadas, então não faço ideia de quem era. Cadê o Remus?

A pergunta inocente fez os três garotos se olharem, os distraindo de fazerem mais perguntas sobre o acidente.

— Ele está doente – Sirius disse.

— É, precisou ir para casa – Peter completou.

— Vocês não contaram que ele quase me atacou, né? – ela perguntou, ignorando as desculpas – Porque eu estou bem, e ele não fez nada.

— Você sabe sobre Remus? – Peter perguntou, tão surpreso quanto seus amigos.

— É tão óbvio que eu não sei como o resto da escola não sabe.

— Você contou para alguém? – Sirius perguntou.

— Sim, para a escola inteira – Lily respondeu irônica, se irritando com a desconfiança – Vocês vão me responder ou não?

— Ele está descansando – James disse – Não sabe de nada.

Lily assentiu e tomou outro gole de água.

— Ele ia me morder, mas apareceu esse cachorro – Lily disse – Vocês podem falar que eu estou louca, mas parecia que ele estava afastando Remus de mim, me protegendo.

Eles se entreolharam, e Lily soube que tinha algum segredo ali.

— Você perdeu muito sangue, Linda – Peter disse, mas sua voz saiu nervosa. Peter era o pior mentiroso entre o quarteto.

— E como James sabia que eu estava na Floresta?

Lily observou com certo prazer a forma como eles pareciam perdidos – estavam tão ocupados pensando que ela havia sido mordida por Remus, que não pararam para pensar em alguma desculpa.

— Tudo bem – Lilian disse, sorrindo – Vocês podem manter seus segredinhos. Agora, se não se importam, eu queria conversar a sós com James.

Os dois marotos saíram, e quando Lily viu eles andando devagar e espiando ao redor que percebeu que estava de noite. Estavam de guarda, esperando-a acordar.

— Passou só um dia – James disse, como se soubesse o que ela estava pensando.

— Um dia?! – Lily perguntou alarmada – Eu não tomei meu remédio.

A garota respirou fundo, sabendo o problema que aquilo traria. Ela viu James a encarando e soube que ele estava se segurando para não perguntar.

— Eu tenho TDAH, sabe o que é? – Lily perguntou e o maroto balançou a cabeça, negando – Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Eu tomo esse remédio que ajuda a controlar os sintomas e um dia sem ele já é o suficiente pra me deixar mal por uns três dias ou mais.

Como todo semideus, Lily tinha o transtorno, mas o dela era mais forte que o normal. A maioria dos campistas precisavam trocar frequentemente de escola, devido aos ataques que sofriam, mas eles conseguiam passar de ano. Lily havia repetido a 1ª série duas vezes – enquanto as crianças de sua sala tinham seis anos, Lily tinha oito, e não sabia se teria conseguido passar eventualmente. Como seus pais haviam morrido, ela havia saído da escola. No Acampamento, os filhos de Atena a ensinaram a ler e escrever, em grego e inglês, tornando Lily apta para entrar em Hogwarts sem parecer atrasada.

Sua dislexia a atrasava em Hogwarts, mas ela conseguia dar um jeito – o real problema era o TDAH. Em sua escola trouxa, Lily não conseguia se concentrar em nada, era necessário chamar seu nome três, quatro vezes para conseguir sua atenção, ela não conseguia fazer os deveres que os professores passavam, não conseguia seguir nenhuma instrução, perdia seu material frequentemente, as vezes voltando para casa sem sua mochila.

Quíron havia explicado que o TDAH era consequência dos reflexos superiores que possuía e que a ajudaria muito durante batalhas, mas que ela precisava se livrar dele para conseguir se formar em Hogwarts. Então, com a ajuda de Will Solace, filho de Apolo, criaram esse remédio que inibia os sintomas do TDAH, mas, diferente dos remédios trouxas, não a deixavam sonolenta e permitia que seus reflexos continuassem melhor que o dos mortais. Lily o tomava de bom grado enquanto estava em Hogwarts, mas preferia não o tomar durante o verão – ela era muito mais rápida quando estava sem ele.

Como o verão havia acabado recentemente, o remédio ainda não estava funcionando perfeitamente e apenas um dia sem ele era o suficiente para passar dias com seus sintomas atacados.

— Não tem alguma poção que possa te ajudar? – James perguntou.

Lily negou e tentou se distrair – quanto mais pensasse nas complicações pela falta do remédio, mais cedo seus sintomas chegariam.

— O que aconteceu contigo? – Lily perguntou, finalmente chegando no assunto que queria quando pediu que ele ficasse – Nós éramos colegas no quarto ano, mas você mudou tão rápido.

O rosto do garoto mudou rapidamente enquanto ele inclinava o corpo para trás, encostando-se em sua cadeira. Lily quase se arrependeu de tocar no assunto, mas a garota estava cansada de lidar com a inconsistência dele, uma hora a tratando como se nem a conhecesse, mas quando Lily estava mal, James era o primeiro – e, muitas vezes, o único – a aparecer para a ajudar.

Ele tinha que se decidir.

— Você sumiu – James disse, depois do que pareceu horas em silencio. A voz do garoto que era sempre indiferente mostrava tanta vulnerabilidade que assustou Lily – Você sumiu com aquele garoto, para algum lugar que poderia te matar, e eu fiquei aqui te esperando por semanas.

— Como você sabe disso? – Lily perguntou, sua voz saindo baixa, sendo pega totalmente desprevenida.

— Eu estava lá! – James gritou, algo dentro dele explodindo. Ele acenou com a varinha para as cortinas que rodeava a cama de Lily, lançando um feitiço silenciador para ninguém escutar e expulsa-lo do local. Voltou-se para a garota, que de repente sentia-se exposta demais – Eu ouvi toda a conversa e eu vi vocês desaparecendo dentro daquela arvore. Eu tentei falar com Dumbledore, que me ameaçou para que eu não contasse nada para ninguém, e eu passei semanas checando o obituário do Profeta Diário, rezando para que seu nome não estivesse lá! E aí você volta depois do natal, como se nada tivesse acontecido, sustentando a mentira de que sua mãe estava doente, sendo que sua mãe está morta, e o que você queria de mim?

— Você não estava lá – Lily murmurou, tentando encaixas as peças do quebra cabeça – Não tinha ninguém lá.

James revirou os olhos e voltou a sentar em sua cadeira. Parecia melhor depois da pequena explosão.

— Eu era o cervo – ele disse – Eu sou um animago.

Os olhos de Lily arregalaram-se com a revelação e a garota não conseguiu evitar a ponta de irritação que crescia em seu peito.

— O cervo? O mesmo cervo que passou a noite comigo na Floresta Proibida?

James assentiu, como se fosse algo óbvio, e Lily, sentindo cada vez mais raiva e indignação, tirou o cobertor de cima de si, e levantou-se em um pulo.

Apenas para quase cair por culpa da fraqueza, e James levantou rápido para segura-la e ajudá-la a sentar na beira da cama. Lily respirou fundo, sentindo-se um pouco envergonhada e esquecendo sua raiva. Afinal, nem tinha muito direito de estar irritada com o maroto.

— O seu tratamento faz sentido agora – Lily disse por fim, sua voz distante e educada.

James sentou do seu lado, a olhando com expectativa. Ele queria que ela contasse seu segredo, obviamente. Quando Lily manteve-se em segredo, ele balançou a cabeça, parecendo estar indignado.

— É isso? Sua pergunta foi respondida, então tudo bem? Você não precisa explicar nada?

— Não – Lily respondeu, dando de ombros – É meu segredo.

Ele a olhava como se ela tivesse perdido a cabeça, procurando em seu rosto alguma indicação de que estava brincando.

— Eu passei anos me preocupando contigo e nunca falei nada para respeitar sua privacidade – ele disse, como se fosse o suficiente para Lily contar.

A garota estava surpresa em como não estava se importando com as informações que o maroto tinha. Ela deveria estar aterrorizada, não deveria? Ele havia descoberto algumas coisas preocupantes. Mas Lily estava se divertindo. Afinal, o que aconteceria se não contasse? Nenhuma das informações era realmente comprometedora.

— Eu estou morrendo de fome – Lily disse, sentindo o estômago roncar – Você acha que consegue ir na cozinha me trazer algo?

A boca do maroto se abriu em um perfeito “O”. Quando a garota fez um biquinho infantil acompanhado por um “Por favor”, James não aguentou e começou a rir.

— Eu busco algo se você me contar seu segredo.

— Eu conto se você trazer algo muito gostoso.

— Por que eu tenho a impressão que você está mentindo?

— Porque eu estou, obviamente.

Os dois riram, e o ar parecia estar mais leve entre eles, como se tivessem resolvido alguma briga antiga. Mas James ainda estava no escuro, e queria conhecer Lily de verdade.

— Lily, eu preciso saber.

— Eu sei, mas é difícil contar – a garota respondeu – Vamos fazer assim, eu te conto um pouquinho por dia, até me sentir pronta para falar a verdade. Combinado?

— Não gostei disso, só vai me deixar mais curioso.

— Bom, é isso ou nada.

James soltou um barulho baixo em protesto que mais parecia um rosnado.

— Combinado – ele concordou – O que vai querer comer?

Lily disse o que queria, e antes que ele pudesse levantar para buscar, a garota segurou o pulso de James, fazendo-o ficar. Quando ele abriu a boca para perguntar o que ela queria, Lily se aproximou e o beijou levemente nos lábios.

Foi um beijo carinhoso, que James não hesitou em corresponder. Lily levou as mãos ao cabelo naturalmente bagunçado de James, e o garoto segurou o rosto de Lilian em suas mãos.

Mais cedo do que ambos gostariam, Lily se afastou.

— Eu só queria saber como seria – ela disse baixinho.

Seu rosto ainda próximo do de James, que deu um pequeno sorriso ao ouvir a confissão, e se inclinou para mais um beijo.

— Não esquece de trazer sobremesa – Lily disse sorrindo abertamente ao desviar dos lábios do maroto.

Quando ele saiu, o coração de Lily ainda batia rápido em seu peito, e a garota tinha certeza que estava corada. Beijar James era mil vezes melhor do que a garota havia imaginado – ele tinha lábios firmes, que tomavam o controle de forma natural, e Lily sabia que se não tivesse o afastado, lhe entregaria sua virgindade de bom grado na enfermaria.

James ascendia essa chama dentro dela que ninguém mais era capaz de ascender. Ele a enfurecia e a fazia rir como ninguém mais conseguia. Talvez, quem sabe, ele fosse o grande amor que sua mãe havia falado. Não que Lily estivesse apaixonada, mas ela duvidava que se apaixonar por James fosse ser algo difícil.

Alguns momentos depois, a cortina de sua cama se abriu, mas ninguém entrou. A garota alcançou sua varinha na cômoda ao lado, em alerta.

— Não precisa ter medo – era a voz de James, mas ela não o via em lugar algum.

A cortina fechou, e o maroto apareceu, uma capa em sua mão esquerda e um pequeno pote em sua mão direita.

— Capa de invisibilidade – ele explicou, um olhar arrependido em seu rosto – Eu deveria ter tirado antes, não sei como fui esquecer que você foi atacada.

Lily sorriu, considerando aquele momento perfeito para compartilhar um pouquinho da verdade que havia prometido.

— Lembra do nosso combinado? – perguntou e James assentiu rápido, animado para finalmente descobrir algo – Eu não fui atacada de verdade, eu estava apenas treinando na Floresta com um amigo. Se você não tivesse aparecido, eu teria me curado sozinha e ninguém descobriria.

Lily pegou o pote da mão de James, tirando alguns sanduíches de dentro e dois pedaços de cheesecake, enquanto o maroto processava a informação.

— Então você...

— Sem perguntas – Lily interrompeu – Se eu ficar respondendo, você vai descobrir rápido demais.

— E como eu vou descobrir se você me falar tão pouco por dia?

Lily deu de ombros, mastigando seu sanduíche. Eles comeram em silencio durante um tempo, mas Lily sentia que ele queria falar algo.

— Sirius ainda gosta de você – ele disse, finalmente, e Lily entendeu tudo. Sirius ainda gostava dela, então eles não tinham chances.

— Nós somos amigos – ela respondeu e se envergonhou de como sua voz entregou a decepção que sentia.

Havia acabado de pensar em como eles poderiam ser bons juntos, quando seria impossível serem mais que amigos sem magoar Sirius. E magoa-lo era a última coisa que James faria.


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